O comité da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura), reunido em Baku, no Azerbaijão, de 30 de junho a 10 de
julho, anunciou hoje, dia 7 de julho, a aprovação de dois bens portugueses para
integrarem a lista de Património Mundial. São eles o Santuário do Bom Jesus, em Braga, e o conjunto
composto pelo Palácio, Basílica, Convento, Jardim do Cerco e Tapada de Mafra.
Os dois monumentos
portugueses integram a lista das 36 indicações para inscrição na Lista do
Património Mundial”, que estão a ser avaliadas na 43.ª Sessão do Comité do
Património da UNESCO, a decorrer em Baku.
Segundo o
que refere a imprensa, a candidatura do Santuário do Bom Jesus suscitou algumas
questões por parte do ICOMOS (Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios), que faz a apreciação das candidaturas provenientes
de todo o mundo, no respeitante à autenticidade e integridade do monumento, bem
como à preservação e prevenção de acidentes, como possíveis incêndios à volta
do complexo religioso, mas a proposta acabou por ser aprovada.
Foi o Brasil,
que faz parte do comité, quem abriu a discussão e sustentou que o Santuário do
Bom Jesus de Braga cumpre todos os critérios para ser integrado na lista de
monumentos e serviu de inspiração para o complexo do Bom Jesus de Congonhas, no
Brasil, que já consta da lista do Património Mundial da UNESCO.
Por seu
turno, a representação de Portugal esclareceu que todas as dúvidas sobre o
monumento bracarense já estavam esclarecidas no dossiê entregue em devido tempo
e que as recomendações do ICOMOS já estão a ser seguidas no Santuário. Por
outro lado, afirmou que o monumento também já está inscrito como património
nacional.
No atinente
ao conjunto de Mafra, houve uma pequena discussão dentro do Comité, com o ICOMOS
a levantar algumas dúvidas face a esta candidatura, sustentando a sua
representante que tiveram muitas discussões sobre este sítio pelo facto de a
Tapada, elemento crucial deste conjunto, não estar suficientemente documentada,
pelo que, sem haver mais informações, não fazia sentido “recomendar este lugar
como Património Cultural Mundial”.
Não obstante,
a aprovação do monumento aconteceu com apoio do Brasil, da Tunísia e da China,
tal como de outros Estados que fazem parte deste comité, como Angola ou
Indonésia, embora tenham apoiado as recomendações para a conservação e um
estudo cartográfico deste complexo monumental.
A este
respeito, a representação de Portugal, ao defender esta candidatura, esclareceu:
“Mafra reúne todas as condições para ser
reconhecido. Desejamos inscrever um edifício de valor extraordinário que tem
também um jardim e uma tapada e não o inverso, como indica o ICOMOS.”.
Na verdade,
não se percebe como o ICOMOS considerava a Tapada como elemento crucial, quando
a grandiosidade do património edificado fala por si.
Portugal foi
o único país a inscrever mais que um monumento nesta lista, o que traz ao país
uma responsabilidade acrescida.
Ao lado de
Sampaio da Nóvoa, embaixador de Portugal na UNESCO, durante ta votação,
estiveram várias figuras que se têm batido pela inscrição deste dois sítios
como o presidente da Câmara Municipal de Mafra ou o presidente da Confraria do
Bom Jesus, algo que intensificou o momento vivido esta manhã no Azerbaijão.
A Lista do
Património Mundial da UNESCO integra atualmente 1.092 sítios em 167 países.
Portugal
conta com agora 17 locais classificados em território nacional, havendo ainda
11 que constituem património mundial de origem portuguesa no mundo.
O Centro
Histórico de Angra do Heroísmo, o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém, em
Lisboa, num conjunto de proximidade, o Mosteiro da Batalha e o Convento de
Cristo, em Tomar, foram os primeiros classificados, em 1983.
***
As reações
em Portugal não se fizeram esperar.
Assim, em
nota da Presidência, o Presidente da República declara congratular-se com as distinções conferidas pela UNESCO, sendo
“a inscrição do Palácio Nacional de Mafra e do Santuário do Bom Jesus em
Braga na Lista do Património Mundial” motivo de “grande regozijo para o
Presidente da Republica e para todos os portugueses”. E prossegue o Presidente:
“Com esta decisão, o Comité do Património
Mundial acrescentou dois bens culturais portugueses a uma lista de dezena e
meia de paisagens e monumentos nacionais, do Mosteiro dos Jerónimos do Convento
de Cristo ao Alto Douro Vinhateiro e à Floresta ou Laurissilva, reconhecendo,
em cada caso, o valor excecional, a integridade, a autenticidade e a capacidade
de preservação de um património que não é apenas local mas pertence à
Humanidade.
“Saúdo vivamente os promotores destas
candidaturas, os autarcas, os diplomatas, as autoridades civis e eclesiásticas,
e todos aqueles que, também na sociedade civil, ajudam a levar mais longe o
património português físico, histórico, artístico, religioso ou intelectual.”.
Em nota de felicitação aos bracarenses pela classificação do Santuário do
Bom Jesus, refere:
“Felicito, nas pessoas do Senhor Dom Jorge
Ortiga, Arcebispo de Braga, do Senhor Presidente da Câmara Municipal de Braga,
Dr. Ricardo Rio, e do Dr. Varico Pereira, Vice-presidente da Confraria do Bom
Jesus, todos os bracarenses pela distinção agora conferida pela UNESCO.
“O Santuário do Bom Jesus do Monte em Braga
constitui um conjunto arquitetónico e paisagístico construído e reconstruído a
partir do século XVI, no qual se evidenciam os estilos barroco, rococó e
neoclássico. Compõe-se de um Sacro Monte, de um longo percurso de via-sacra atravessando
a mata, de capelas que abrigam conjuntos escultóricos evocativos da morte e
ressurreição de Cristo, fontes e estátuas alegóricas, da Basílica, culminando
no Terreiro dos Evangelistas.
“Sendo um dos ícones do Portugal católico, o
Bom Jesus é também um ex libris da cidade de Braga, cidade
milenar, anterior à nacionalidade, cidade romana, portuguesa e universal.
“O Presidente da República conta estar
presente na cerimónia que se realiza em Braga no próximo dia 6 de setembro.”.
E, em nota
aos mafrenses, exprime-se nos termos seguintes:
“Felicito, nas pessoas do Senhor Presidente da Câmara
Municipal de Mafra, Eng. Hélder Sousa Silva, e do diretor do Palácio Nacional
de Mafra, Dr. Mário Pereira, todos os mafrenses pela distinção agora conferida
pela UNESCO.
“O conjunto monumental do Palácio Nacional
de Mafra inclui o Palácio, que integra a Basílica, cujo frontispício une os
aposentos do Rei e da Rainha, o Convento, o Jardim do Cerco e a Tapada, sendo
uma das mais emblemáticas e magnificentes obras do Rei Dom João V.
“Uma obra invulgarmente exuberante,
profundamente ligada à nossa cultura ao longo dos séculos, da música erudita ao
romance contemporâneo, e que certamente merecerá um renovado interesse
internacional.”.
Também o
Primeiro-Ministro se congratulou com a inscrição do Palácio Nacional de Mafra e
do Santuário do Bom Jesus na lista do Património Mundial da UNESCO, referindo
tratar-se de “mais um motivo de grande orgulho” para Portugal. Escreveu Costa,
na sua página do Twitter:
“A UNESCO classificou o Palácio, Basílica,
Convento, Jardim do Cerco e Tapada de Mafra e o Santuário do Bom Jesus, em
Braga, como Património Cultural Mundial. Mais um motivo de orgulho para
Portugal. Parabéns a todos os que contribuíram para tal reconhecimento.”.
Por sua vez,
o Ministério dos Negócios Estrangeiros assinalou, em comunicado, as novas
inscrições portuguesas na lista do Património Mundial da UNESCO, destacando que
Portugal passa a dispor de 17 bens inscritos na prestigiada lista. Lembra que o
conjunto monumental do Palácio Nacional de Mafra inclui o Palácio propriamente
dito, que integra a Basílica, cujo frontispício une os aposentos do Rei e da
Rainha, o Convento, o Jardim do Cerco e a Tapada, tratando-se de “uma das mais
emblemáticas e magnificentes obras do Rei Dom João V”. E assinala que o
Santuário do Bom Jesus do Monte em Braga constitui um conjunto arquitetónico e
paisagístico construído e reconstruído a partir do século XVI, no qual se
evidenciam os estilos barroco, rococó e neoclássico. Compõe-se dum “Sacro Monte”,
dum longo percurso de via-sacra atravessando a mata, de capelas que abrigam
conjuntos escultóricos evocativos da morte e ressurreição de Cristo, fontes e
estátuas alegóricas, da Basílica, culminando no “Terreiro dos Evangelistas”. Fica
assim “bem assinalado” o 40.º aniversário da adesão de Portugal à Convenção
para a Proteção do Património Mundial, Cultural e Natural em Portugal, aprovada
pelo Decreto n.º 49/79 de 6 de junho, refere Santos Silva.
E a Ministra da Cultura Graça Fonseca considera que as distinções da UNESCO reconhecem
diversidade de dois “magníficos monumentos”. A este respeito, escreveu no
Twitter:
“Ministra da Cultura sublinha a importância
destas distinções, que reconhecem a diversidade de dois magníficos monumentos
portugueses, testemunhos vivos da nossa história, #património e cultura.
Parabéns a todos os que trabalharam para esta distinção, parabéns a Portugal!”.
O presidente
da Câmara Municipal de Braga congratulou-se este domingo pela classificação do
Santuário do Bom Jesus como Património Cultural Mundial da UNESCO, salientando
que vem, com a distinção, também uma grande responsabilidade e orgulho”. E Ricardo
Rio afirmou:
“Isto é um momento de felicidade, de orgulho
para a cidade e para toda a equipa que trabalhou para que esta classificação
fosse possível, mas também coloca sobre a cidade uma grande responsabilidade
que é a de tudo fazer para que o local continue à altura desta distinção”.
O autarca
transmitiu ainda as felicitações do Presidente da República, Marcelo Rebelo de
Sousa:
“Acabei de falar também com a embaixadora
Ana Martim, que nos deu conta dos parabéns do Presidente da República”.
Por seu
turno, o presidente da Câmara Municipal de Mafra disse que a classificação do
Palácio, Basílica, Convento, Jardim do Cerco e Tapada de Mafra como Património
Cultural Mundial da UNESCO “peca por tardia”. Disse Hélder Sousa Silva:
“É um dia histórico para Mafra e para
Portugal, porque esta candidatura preparada há 10 anos foi hoje aprovada e só
peca por tardia, porque já devia ter sido classificada há muito tempo”.
Para o
autarca, a inscrição de Mafra na lista do Património Mundial da UNESCO “não é
um ponto de chegada, mas um ponto de partida e traz responsabilidades
acrescidas para a manutenção [do monumento] a curto prazo”. “Espero que haja
uma Mafra antes da classificação e uma Mafra depois da classificação, virada
para a recuperação do património”, enfatizou.
E o diretor
do Palácio Nacional de Mafra, Mário Pereira, citado numa nota de imprensa
enviada pela autarquia, observou:
“A inevitabilidade de um reconhecimento não
poderia, nem deveria ser protelada, porque Mafra e o seu monumento há muito que
mereciam esta inscrição”.
Também a
Escola das Armas e o Exército, a direção da Tapada Nacional e a Paróquia de
Mafra, outros parceiros da candidatura, se regozijaram com a classificação
deste conjunto.
Datado do
século XVIII, o Palácio Nacional de Mafra, mandado construir por Dom João V,
com a riqueza resultante do ouro vindo do Brasil, é um dos mais importantes
monumentos representativos do barroco em Portugal, sendo, por isso, um exemplo
de afirmação do poder real. Possui importantes coleções de escultura italiana,
de pintura italiana e portuguesa, uma biblioteca única, bem como dois
carrilhões, seis órgãos históricos e um hospital do século XVIII. Foi
classificado em 1910 como Monumento Nacional, mas a classificação abrangia só o
palácio, a basílica e o convento. Por isso, em junho deste ano, a Direção-Geral
do Património Cultural propôs o alargamento dessa classificação de Monumento
Nacional também à Tapada Nacional e ao Jardim do Cerco.
***
O embaixador
de Portugal na UNESCO disse que inscrição do Palácio de Mafra e do Bom Jesus de
Braga foi uma “grande emoção” que significa também “uma responsabilidade
acrescida” de Portugal em relação ao seu património cultural. António Sampaio
da Nóvoa, em declarações à agência Lusa esta
manhã, explicou:
“A reunião correu muito bem, foram
levantadas questões justificadas, mas houve um apoio praticamente consensual à
inscrição destes dois bens. Há uma grande emoção da nossa parte, em estarmos
aqui quase do outro lado do mundo, numa reunião deste comité e podermos
inscrever dois bens com significado histórico e cultural.”.
Considerando
que Portugal foi o único país a inscrever dois monumentos nesta lista, algo que
traz uma responsabilidade acrescida ao país, o embaixador português e também antigo
reitor da Universidade de Lisboa, declarou:
“É uma responsabilidade acrescida de
Portugal em relação ao património cultural. Mais importante do que inscrever os
bens, é termos capacidade de os preservar, proteger, conseguir que esta
dimensão patrimonial esteja ligada à nossa vida. Compreender que o património
não é passado, é o presente e é o futuro. Não é uma coisa histórica, é a nossa
realidade e, se não soubermos preservar o nosso património, não temos futuro.”.
E referiu o
embaixador:
“A emoção é muito forte porque estiveram
aqui as pessoas do Bom Jesus, as pessoas de Mafra, incluindo o presidente da
câmara. Os nossos bens foram praticamente os últimos a ser discutidos e estamos
aqui há dois dias a assistir a deliberações, em que vai aumentando a emoção,
uma certa expectativa, a ansiedade, vamos fazendo contactos e explicando as
coisas. O momento final em que o presidente bate o martelo, há uma emoção que
percorre o corpo.”.
Nóvoa
enalteceu o papel do Brasil e de Espanha, bem como de outros membros do Comité
do Património da UNESCO, que foram essenciais para a aprovação destes dois
monumentos.
***
Estava a
finalizar a escrita deste texto, quando deparei com a informação, via JN,
Expresso e Observador, de que o Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra, foi integrado
na área classificada pela UNESCO como Património Mundial da Universidade de
Coimbra, Alta e Sofia, segundo referiu a diretora do Museu, Ana Alcoforado.
O Museu Nacional Machado de Castro (MNMC) não fora incluído na área classificada
em 2013 por se encontrar em trabalhos de restauro e remodelação aquando da apresentação
da candidatura (mas, quando a Alta universitária
e Rua da Sofia foram classificadas como Património da Humanidade, os trabalhos
no museu já estavam concluídos).
Monumento nacional desde 1910, o museu (que guarda inúmeros
objetos e testemunhos arquitetónicos de muitos espaços universitários
desaparecidos com a construção da Cidade Universitária) foi centro administrativo,
político e religioso na época romana, foi templo cristão, pelo menos desde o século
XI e paço episcopal a partir da segunda metade do século XII (sobretudo de bispos que acumularam o cargo de reitor da
Universidade).
Alfredo Dias (presidente
da Associação RUAS – Recriar a Univer(s)cidade e vice-reitor da Universidade de
Coimbra para o Património, Edificado e Infraestruturas) diz tratar-se de
“um momento da maior importância para o património classificado”, para a Universidade
e o MNMC. É momento de grande relevância, grande significado e grande
contentamento”, explica em comunicado em que deixou um agradecimento a todas as
entidades envolvidas.
Para celebrar a integração do MNMC no Património Mundial da
Humanidade, a Universidade de Coimbra e o Museu promovem “um brinde”, pelas 16,30
horas de hoje, no Museu Machado de Castro, aberto aos interessados. E as
visitas ao Museu hoje também são gratuitas.
***
São de saudar as decisões do Comité pelo
reconhecimento deste património. E apetece-me dizer como diriam os meus
conterrâneos antigos: “Deus seja louvado”!
2019.07.07 – Louro de Carvalho
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