sábado, 6 de julho de 2019

Mais um santo português: São Bartolomeu dos Mártires


O Boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé, de hoje, 6 de julho, sob o título “Promulgação de Decretos da Congregação para as Causas dos Santos”, noticia:

A 5 de julho de 2019, o Santo Padre Francisco recebeu em audiência Sua Eminência Reverendíssima o Senhor Cardeal Angelo Becciu, Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos. Durante a audiência, o Sumo Pontífice aprovou os votos favoráveis dos Eminentíssimos e Excelentíssimos Membros da Congregação e estendeu à Igreja Universal o culto litúrgico em honra do Beato Bartolomeu dos Mártires (no século: Bartolomeu Fernandes), da Ordem dos Frades Pregadores, que nasceu em Lisboa (Portugal) a 3 de maio de 1514 e faleceu em Viana do Castelo (Portugal) a 16 de julho de 1590, inscrevendo-o no catálogo dos Santos (canonização equipolente).”.
Segundo o mesmo Boletim, cujo texto o Vatican News traduz, na mesma Audiência, o Papa autorizou a Congregação das Causas dos Santos a promulgar o Decreto concernente ao milagre, atribuído à intercessão do Venerável Servo de Deus, Fulton Sheen, norte-americano, Arcebispo de Newport, Bispo emérito de Rochester, nascido a 8 de maio de 1895, em El Paso, Illinois, e falecido a 9 de dezembro de 1979, em Nova Iorque – bem como a promulgação dos seguintes Decretos concernentes às virtudes heroicas de sete Servos de Deus:
- Elias Hoyek, libanês, Patriarca de Antioquia dos Maronitas, fundador da Congregação das Irmãs Maronitas da Sagrada Família, nascido em Helta (Líbano), a 4 de dezembro de 1843, e falecido em Bkerké (Líbano), a 24 de dezembro de 1931;
- João Vitório Ferro, italiano, da Ordem dos Clérigos Regulares Somascos, Arcebispo de Régio Calábria-Bova, nascido em Costigliole de Asti (Itália), a 13 de novembro de 1901, e falecido em Régio Calábria (Itália), a 18 de abril de 1992;
- Ângelo Riesco Carbajo, espanhol, Bispo de Limisa e Auxiliar do Administrador Apostólico de Tudela, fundador do Instituto das Missionárias da Caridade, nascido em Bercianos de Vidriales (Espanha), a 9 de julho de 1902, e falecido em La Bañeza (Espanha), a 2 de julho de 1972;
- Ladislau Korniłowicz, sacerdote diocesano polaco, nascido em Varsóvia (Polónia), a 5 de agosto de 1884, e falecido em Laski (Polónia), a 26 de setembro de 1946;
- Angélico Lipani (no século: Vicenzo), sacerdote professo italiano da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, fundador da Congregação das Irmãs Franciscanas do Senhor, nascido em Caltanissetta (Itália), a 28 de dezembro de 1842, e ali falecido a 9 de julho de 1920;
- Francisca do Espírito Santo (no século: Francisca de Fontes), filipina, fundadora da Congregação das Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena, nascida em Intramuros (Filipinas), em 1647, e falecida na capital, Manila (Filipinas), a 24 de agosto de 1711; e
- Estêvão Pedro Morlanne, leigo francês, fundador da Congregação das Irmãs da Caridade Materna, nascido em Metz (França), a 22 de maio de 1772, e ali falecido a 7 de janeiro de 1862.”.
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O Vatican News releva o Decreto concernente ao Servo de Deus Fulton Sheen. É assim que é a portada do seu texto, logo a seguir ao título “Papa aprova Decretos das Causas dos Santos”:
O Papa Francisco aprovou Decretos de virtudes heroicas de 7 Servos de Deus e culto litúrgico do Beato Bartolomeu dos Mártires, de Portugal. Além disso, o Pontífice autorizou a promulgar o Decreto concernente ao milagre atribuído à intercessão do Venerável Servo de Deus, o estadunidense Fulton Sheen.”.
Na verdade, poucos homens da história recente da Igreja exerceram tamanha influência espiritual nas almas como Fulton Sheen, autor de inúmeros livros e pioneiro na evangelização pela TV, cujas aulas e pregações mudaram a vida de milhões de pessoas em todo o mundo.
Foi a oração que fez esse homem de Deus tão especial, além da sua inteligência penetrante e da sua profunda humildade. Dizia que o segredo para o seu sucesso em ganhar almas para Cristo era que todos os dias reservava uma hora para adoração diante do Santíssimo Sacramento – a “Hora Santa” – inspirado pelo amor duma menina chinesa de 9 anos à Eucaristia.
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Porém, as reações portuguesas em torno do nosso novo santo não se fizeram esperar. Por exemplo, o Expresso e o Observador referem que “o Papa Francisco decidiu canonizar o frade e beato português Bartolomeu dos Mártires, anunciou o Vaticano, na sua página oficial na Internet”. O JN diz que “O Papa Francisco anunciou, este sábado, que o Beato Bartolomeu dos Mártires já faz parte do catálogo de Santos da Igreja católica”. O DN escreve que “o Vaticano anunciou que Portugal rem um novo santo” e que “a canonização do beato nascido em 1514 está marcada apara 10 de novembro”.
É de esclarecer que Bartolomeu já é oficialmente santo, não estando marcada qualquer cerimónia de canonização presidida, como é do direito, pelo Papa (que tem a reserva das celebrações canonizatórias, ao invés das beatificações, que Bento XVI passou a delegar) dado tratar-se de canonização equipolente. O que está previsto é a cerimónia para a leitura solene do decreto de canonização provavelmente na Sé primacial de Braga (o que não impede, antes estimulará, outras manifestações litúrgicas).
Na canonização equipolente, instituída alternativamente à usual por Bento XIV, deve ter-se em conta três requisitos: 1) a prova do culto antigo ao candidato; 2) o atestado histórico incontestável da fé católica e das virtudes do candidato; e 3) a fama ininterrupta de milagres intermediados pelo candidato. L’Osservatore Romano, de 12 de maio de 2012, esclarece:
Na sua obra De Servorum Dei beatificatione et de Beatorum canonizatione, Bento XIV formulou a doutrina sobre a canonização equipolente; realiza-se quando o Papa alarga a toda a Igreja o preceito do culto de um servo de Deus que ainda não foi canonizado, mediante a inserção da sua festa, com missa e ofício, no Calendário da Igreja universal.
Neste ato pontifício – escreve Fabijan Veraja no livro Le cause di canonizzazione dei santi (Libreria Editrice Vaticana, 1992) – Bento XIV identifica os elementos duma canonização verdadeira, isto é de uma sentença definitiva do Papa sobre a santidade do servo de Deus. Esta sentença, contudo, não é expressa com a fórmula de canonização habitual, mas através dum decreto obrigante a Igreja inteira à veneração daquele servo de Deus com o culto reservado aos santos canonizados. Muitos exemplos desta forma de canonização remontam ao pontificado de Bento XIV, como os santos Romualdo (canonizado 439 anos depois da sua morte), Norberto, Bruno, Pedro Nolasco, Raimundo Nonato, João da Mata, Félix de Valois, a rainha Margarida da Escócia, o rei Estêvão da Hungria, o duque Venceslau da Boémia e o Papa Gregório VII.”.
Francisco já usou deste instrumento para a canonização de Angela Foligno, Pedro Fabro, José de Anchieta e José Vaz, bem como os 30 mártires de Cunhaú e Uruaçu, no Rio Grande do Norte (os padres André de Soveral e Ambrósio Francisco Ferro, com Mateus Moreira e outros 27 leigos).
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Como refere a Ecclesia, foi em janeiro de 2016 que Francisco autorizara a canonização de Frei Bartolomeu dos Mártires sem a necessidade de novo milagre atribuído à intercessão do santo.
Frei Bartolomeu dos Mártires, de seu nome Bartolomeu Fernandes, que nasceu em Lisboa a 3 de  maio de 1514, é recordado como um modelo de benevolência e figura ímpar na dedicação à Igreja Católica. O bispo, que se afirmou como uma das vozes de referência no Concílio de Trento (1543 – 1563), momento decisivo na história da Igreja Católica na altura confrontada com a Reforma Protestante, destacou-se pela sua missão pastoral à frente das comunidades católicas do Minho e de Trás-os-Montes, com especial relevo para o gosto pelas visitas pastorais às populações, a que dedicava grande parte do seu tempo.
Ao longo do seu percurso, Dom Frei Bartolomeu dos Mártires ficou também célebre pela sua preocupação com a estruturação da Igreja Católica local, do clero às comunidades católicas, e pelo seu empenho nas causas sociais, de modo particular junto dos mais pobres e doentes,
Depois de resignar em 1582, por motivos de idade, Frei Bartolomeu dos Mártires viria a falecer em 1590, no Convento de Santa Cruz, em Viana do Castelo. Foi declarado venerável a 23 de março de 1845, por Gregório XVI, e beatificado a 4 de novembro de 2001, por João Paulo II.
Na sequência da decisão papal não haverá cerimónia de canonização, mas apenas a da leitura solene do Decreto que inscreve Frei Bartolomeu dos Mártires no Livro dos Santos. A cerimónia deverá ter lugar na Arquidiocese de Braga, a 10 de novembro (início da Semana dos Seminários).
A Diocese de Viana do Castelo reagiu hoje com “profunda emoção e gratidão” ao anúncio da promulgação do decreto, por parte de Francisco, da canonização de Dom Frei Bartolomeu dos Mártires, antigo bispo daquele território. Em comunicado, Dom Anacleto Oliveira, Bispo diocesano, fala duma ocasião de “graça” que deve motivar uma maior “responsabilidade” da parte das comunidades católicas da região e de todo o país, no sentido de “se sentirem motivadas a seguir o seu exemplo a a se deixarem inspirar pela sua intercessão”.
O prelado quinhentista, que foi responsável pelo território que hoje compreende as dioceses de Braga, Bragança-Miranda e Vila Real, está sepultado na Diocese de Viana do Castelo.
Ao ser tornada pública a notícia da canonização de Bartolomeu dos Mártires, Dom Anacleto sublinhou a sua alegria  e o contentamento de toda a diocese vianense, por ver “concretizado algo que os cristãos do Alto Minho há muito esperavam e desejavam”. E fez votos por que este facto seja potenciado no âmbito das comemorações dos 40 anos da Diocese, “uma oportunidade que deve ser aproveitada”, referindo que mais à frente “serão dadas informações mais precisas sobre as celebrações que serão organizadas para assinalar a canonização.
Para já, Dom Anacleto Oliveira convida todas as comunidades e paróquias da Diocese de Viana do Castelo a marcarem presença na Eucaristia a que irá presidir, no dia 18 de julho, Memória de Bartolomeu dos Mártires, na igreja do Convento de São Domingos (Paróquia de Monserrate), onde o santo está sepultado, uma celebração com início marcado para as 18,30 horas.
Por sua vez, o Padre Vasco Gonçalves, pároco de Monserrate e Vigário Episcopal para a Evangelização, Catequese e Doutrina da Fé, na Diocese, adiantou que São Bartolomeu dos Mártires vai ser declarado como “padroeiro de todos quantos se dedicam à Catequese” no território. Com efeito, o Santo mostrou o seu empenho pelo melhoramento do setor da educação cristã, designadamente através do “Catecismo que escreveu”. E o sacerdote declarou:
Os santos inspiram-nos sempre a seguir os caminhos de Deus. Num Ano Pastoral em que, na nossa Diocese, nos detemos sobre a evangelização, penso que Bartolomeu dos Mártires nos pode estimular a vivermos em estado permanente de missão.”.
O presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo já reagiu ao anúncio da canonização de Frei Bartolomeu dos Mártires, considerando este sábado “um grande dia para a Igreja, para a Igreja Católica Portuguesa e em particular para a Diocese de Viana do Castelo”. Na verdade, como sustenta José Maria Costa, em declaração divulgada esta manhã, “Dom Frei Bartolomeu dos Mártires amou profundamente Viana e quis ficar sepultado aqui”, pelo que “hoje o povo de Viana e da nossa ribeira estão em festa pois tem uma enorme devoção e carinho por este novo Santo que, para eles, já o era há muitos anos”.
O Arcebispo de Braga realçou a sua alegria e o júbilo de toda a Arquidiocese pelo anúncio da canonização de Bartolomeu dos Mártires, figura que regeu os destinos da comunidade católica deste território no século XVI. Em carta pastoral dedicada ao momento, publicada na página online da Arquidiocese, Dom Jorge Ortiga saúda a decisão de Francisco, depois dum longo processo, e destaca Bartolomeu dos Mártires como alguém que irá, como santo, continuar a apelar “a uma vida de coerência evangélica” – aspeto que o Arcebispo considera fundamental quando a Igreja enfrenta vários desafios e carece de nova “reforma”. Assim, declarou:
A crise entrou na Igreja. Bartolomeu dos Mártires viveu um período idêntico e soube, como poucos, ler e ouvir os sinais dos tempos, empenhando-se na procura de respostas adequadas”.
E, recordando o caráter firme e íntegro do bispo que orientou os destinos da região que integra a Arquidiocese de Braga e as dioceses de Viana do Castelo, Bragança-Miranda e Vila Real, vinca:
O seu compromisso com a mudança na Igreja não foi teórico nem retórico. Deu exemplo e exigiu, no seu ministério apostólico, um novo estilo de ser Igreja e um novo modo de encarar o quotidiano cristão. Foi um autêntico reformador. Creio que, nele, encontraremos a confirmação de que a renovação da Igreja não só apenas necessária mas possível e urgente.”.
De acordo com a Arquidiocese, a leitura solene do decreto através do qual Francisco promulgou a canonização de Frei Bartolomeu dos Mártires deverá acontecer no dia 10 de novembro, no início da Semana dos Seminários. O evento será presidido por um Delegado Pontifício (representante do Papa) e terá lugar na Arquidiocese minhota. E o Arcebispo exorta:
Coloquemos a vida e a obra do nosso novo santo no coração das nossas vidas, das comunidades paroquiais, das dioceses que serviu e de todo o país”.
E a CEP (Conferência Episcopal Portuguesa) saudou com “enorme alegria” o anúncio do Vaticano relacionado com a aprovação da canonização de Dom Frei Bartolomeu dos Mártires.
Em nota assinada pelo Padre Manuel Barbosa, porta-voz da CEP, os bispos portugueses destacam Dom Frei Bartolomeu dos Mártires como um “grande modelo para a renovação da Igreja”. Os líderes católicos recordam, a propósito, a nota pastoral que a CEP publicou a 1 de maio de 2014, por ocasião dos 500 anos do nascimento (1514-1590) do antigo bispo da região que compreendia as atuais dioceses de Bragança-Miranda, Braga, Viana do Castelo e Vila Real.
No documento, os bispos realçavam que Dom Frei Bartolomeu dos Mártires, “tendo vivido em tempos de uma enorme crise epocal, dentro e fora da Igreja, pode e deve ser visto como testemunha” para se acreditar que “a evangelização e as reformas na Igreja não só são necessárias como possíveis”. E, referindo que “a sua vida e obra transpiram aquele dinamismo missionário sem fronteiras”, sublinhavam que o novo santo português integra o grupo de pessoas “que, pelos princípios e valores que pautaram as suas vidas, são permanentes modelos de referência de todos os tempos”.
Agora, a CEP retoma a referida nota pastoral como algo que “vale a pena reler”, a par de uma outra nota pastoral dedicada à beatificação do antigo bispo, em 2001 – dois textos que “remetem para a vida e o vasto trabalho pastoral de Bartolomeu dos Mártires e para os seus preciosos escritos que, pela sua permanente atualidade, contribuem para a renovação da pastoral evangelizadora da Igreja hoje, em particular neste Ano Missionário que está a ser celebrado em Portugal”. E, refere que, no próximo dia 18 de julho, se celebra a memória litúrgica do agora São Frei Bartolomeu dos Mártires – ocasião que se espera que seja “propícia para uma grande ação de graças em todas as comunidades cristãs pelo anúncio da sua canonização”.
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Enfim, mais um luzeiro e exemplo totalmente reconhecido pela autoridade da Igreja. Oxalá que inspire a permanente e necessária reforma da Igreja, mormente em Portugal. Ele que, segundo o Bispo de Bragança e Miranda, “encarnou o perfil de bispo ideal” que defendeu “no Concílio de Trento” e quando “escreveu entre tantas obras um livro intitulado Estímulo dos Pastores” – obra tornada peça de “referência” para a ação pastoral da Igreja Católica, a corporizar o ideal de pastor que Bartolomeu cumpriu à risca.
É um programa que abre à coragem da esperança e sublinha no coração do bispo: a caridade, a sabedora, a retidão e a justiça”, frisa Dom José Cordeiro, que destaca as visitas pastorais que o santo empreendeu em espírito de autêntica peregrinação. Será, pois, como “luz que arde do Evangelho para os pastores e todo o povo de Deus, especialmente para o primado da Palavra de Deus, a oração, e a misericórdia com os mais pobres”, diz o prelado do Nordeste transmontano.
2019.07.06 – Louro de Carvalho

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