quarta-feira, 10 de julho de 2019

Não há umas vidas mais valiosas do que outras


Sabem-no aqueles e aquelas que apostam em preservar a vida e promover o reconhecimento do seu valor. Sabem-no todos os profissionais de saúde – médicos, paramédicos, enfermeiros, maqueiros, socorristas, farmacêuticos – os bombeiros, os nadadores-salvadores, os homens-rãs, os psicólogos, os gerontologistas, os cientistas que tentam encontrar e validar todos os apoios à vida e à vida de qualidade. Sabem-no, sentem-no e vivem-no sobretudo os que que fizeram o juramento de Hipócrates, os paladinos da Cruz Vermelha ou os do Crescente Vermelho, os sacerdotes, religiosos e missionários e todos aqueles e aquelas para quem a vida humana é o valor supremo pelo qual tudo vale a pena arriscar. Sabem-nos os verdadeiros pais, educadores e professores. E o Senhor da Vida deu a vida para que todos tenham a vida e a tenham em abundância (cf Jo 10,10).
A cada passo se ouvem ou leem notícias de atentados à vida humana ou à sua dignidade e respeitabilidade. É o tráfico de pessoas, a perseguição por motivos políticos, religiosos e étnicos; é a violação e violência sexual; é o assalto, o sequestro, o rapto; é o engano, o dolo, a trapacice; é o mexerico, a insídia, a cilada; é a mutilação, o assassinato, o genocídio; é a repressão, a exploração, o burnout laboral; é escravização, a servilização, a exploração, carnalização e comercialização do corpo humano; é a escravização, a violência doméstica, a violência conjugal, a violência no namoro; é a migração forçada, a guerra, a fome, a dependência da droga; é o tráfico de estupefacientes e de órgãos humanos; é o assédio sexual, o assédio moral, o assédio laboral, a chantagem; é o fanatismo religioso, político e desportivo. Tudo isto faz parecer que a perversidade humana e a falta  de respeito não têm fim.
É pouco dizer que é repugnante. É mais que repugnante ver, ouvir e ler sobre as condições a que seres humanos são forçados por pessoas que não entendem o valor da vida. Essas más pessoas não têm ideia de que cada um de nós tem o mesmo valor perante os olhos de Deus. Na verdade, Deus não tem um sistema de classes. Para Ele, os pobres que dormem em cima  de  papelões são iguais aos que dormem em realezas nos melhores colchões. Entretanto, há seres humanos com necessidade extrema, gente que dorme no chão, na selva, gente que dorme em celas minúsculas e sujas ou em esteiras exíguas e ásperas, pessoas enterradas em tumbas sem nome, mortas em cativeiros. Todas elas  deixaram de ter poder sobre a sua própria vida.  Encontram-se à mercê de quem lhes provoca mal-estar e até doenças, de quem exerce sobre elas poder iníquo tipo de poder prescrito sobre eles.  E, muitas vezes, as pessoas de quem  deviam receber ajuda são corruptas ou, pelo menos, servem-se da posição que têm para se governarem. A polícia e a justiça nem sempre funcionam com equidade, eficácia e brevidade.
O mundo não tem um recheio determinista. Há biliões de pessoas e Deus tem um amor pessoal por cada uma. Quer que prosperemos (Jr 29,11). Cada um de nós tem os fios dos seus cabelos contados (Mt 10,30). E os de uns não são mais bem monitorados que os da cabeça de outros.
Quem nasceu num mundo onde se sente seguro e amado, não pode deixar de se sentir responsável pelo sofrimento que os demais devem suportar, mas deve desinstalar-se e tentar fazer tudo o que pode para erradicar ou, ao mesmo, minorar esse sofrimento alheio. Alinhar na preocupação de Deus, que é amor (1Jo 4,8) e justo (Gn 18,25). Não podemos duvidar disso sob pena de estarmos a duvidar da nossa própria existência. Ora, quando vemos os muitos e imensos dramas humanos que se disseminam e engrossam pelo mundo, não podemos atribui-los a Deus, mas a fatores humanos pecaminosos e a estruturas políticas, sociais e económicas de pecado. Têm origem em pessoas impelidas pelo poder, prestígio e dinheiro, que tratam os outros como animais, levadas pelo egoísmo e pelo desamor. Deus não controla ninguém; cada ação nossa decorre da nossa própria vontade. As pessoas de rédeas soltas dão expressão às suas paixões e desejos, deixando-se guiar por Satanás para infligirem pesados sofrimentos aos inocentes.
Deus está mais consternado do que nós sobre o que acontece no mundo, e não vai deixar que essas condições continuem para sempre. Deu-nos a sua palavra em seu Filho Jesus para nos mostrar o modo de vivermos sem pecado, na justiça do Reino, na misericórdia, no amor. Através de Jesus e da Igreja, o pecado será completamente derrotado e o julgamento final mostrará como Satanás é o insidioso espírito do mal e pai da mentira. Será definitivamente cumprida a vontade de Deus. Deus destruirá o velho mundo e criará “um mundo outro”, completamente novo e livre de pecado. Ninguém pensará oprimir outrem e ninguém se lembrará da miséria e  do sofrimento.
Como podemos considerar uma pessoa menos valiosa do que nós, uma vida humana menos valiosa que a nossa?
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Miguel Duarte, voluntário português que participou, em 2016, em 4 missões de resgate de pessoas no mar Mediterrâneo (cerca de 3 semanas cada, num ano), a bordo do navio ‘Iuventa’ falou a Lígia Silveira, da agência Ecclesia, dos 84 dias que lhe mudaram a vida e que o levam a enfrentar 20 anos de prisão supostamente por auxílio à imigração ilegal, segundo a nova lei italiana. Não obstante, afirma-se um privilegiado porque, ao invés das 14 mil pessoas que ele e a tripulação conseguiram salvar, não esquece as pessoas anónimas às quais, diz, chegaram tarde.
Quanto a imagens sobre os refugiados, referiu que, em 2015 e 2016, quem na Europa lesse as notícias ficava completamente a par da situação e do sofrimento das pessoas nas fronteiras da Europa, tanto no Mediterrâneo como nos campos de refugiados. E, em termos pessoais, vincou:
O que senti na altura foi provavelmente indignação por viver num continente, numa União Europeia (UE) que pregava certos valores de direitos humanos e que nada parecia estar a fazer que efetivamente resultasse na preservação dos direitos destas pessoas. Víamos sofrimento que parecia não acabar e milhares e milhares de pessoas que tinham de seguir viagem para chegar à Europa”.
No atinente à autoperceção da responsabilidade pessoal, confessou:
Um jovem europeu, de certa forma privilegiado, sem grandes responsabilidades, sem filhos para cuidar, por aí adiante, tinha alguma responsabilidade de fazer alguma coisa, contribuir com o pouco que pudesse. E, portanto, foi nesse sentido. Foi com isso em mente que comecei à procura de projetos onde pudesse ser útil.”.
Já tinha participado em projetos sociais em Portugal, mas nada propriamente humanitário: integrou associação “Gambozinhos”, foi animador nos campos de férias, trabalho em que participou no trabalho ao longo do ano. Porém, a missão em setembro de 2016 mudou-lhe a vida. E ele explica:
Não há nada propriamente que nos prepare para o que vamos ver ali, para a emoção, para o sofrimento humano e para as situações que encontramos de facto quando nos vemos frente a frente com essas pessoas. Uma coisa é ver os vídeos e ler as notícias, outra é estar ali e ser propriamente a ponte que liga estas pessoas à vida. Para muita gente, infelizmente ou felizmente, depende do ponto de vista, nós fomos a única barreira entre eles e a morte, isso é uma responsabilidade enorme e penso que me mudou a vida pelo sentimento de utilidade que tive. Acho que foram as duas semanas, até aquele momento, mais úteis da minha vida. E, muito embora tenhamos perdido pessoas (houve pessoas para quem chegamos tarde), conseguimos de qualquer forma salvar muita gente e isso não tem preço.”.
E mais do que as pessoas que salvou, ficam-lhe na retina da memória as que perdeu, sem dúvida, pois fala alto o sentimento da responsabilidade no sentido de que “ficamos sempre a pensar que podíamos ter sido mais rápidos”, que, “podíamos ter feito mais”. E, mais do que a emoção, Miguel Duarte insiste na responsabilidade que reparte por várias entidades: Estados europeus, Governos nacionais e sociedade civil:
É uma responsabilidade moral dos europeus fazer alguma coisa em relação a isto. Primeiramente é uma responsabilidade dos Estados Europeus, tem de haver resgate marítimo. Resgate marítimo é uma responsabilidade legal dos Estados Europeus, e, portanto, a responsabilidade moral é primeiramente dos governos porque têm os meios para fazer isso. [E], perante a inação governamental, a responsabilidade recai sobre a sociedade civil, que tem de fazer alguma coisa e tem de se indignar pelo facto de os Estados não estarem a fazer anda.”.
E este cidadão do mundo, que não estabelece ordens de prioridades entre nacionais de vários países e continentes – porque “não há vidas mais valiosas do que outras”, sendo “isso que temos de ter em mente quando falamos de migrações” – sentiu que não podia, com a sua idade, experiência e oportunidades, calar o que sabe e que “o pouco que pudesse dar tinha de contribuir para que esta injustiça toda diminuísse ligeiramente”
Sobre a organização alemã que o acolheu para participar nas ações de resgate, revelou:
Há muitas coisas que nos ligam, mas a coisa mais abrangente e que liga toda a gente que ali está é um respeito enorme pela vida. Estamos ali porque damos um valor sem preço à vida humana, queremos salvar vida. Acaba por ser o primeiro e mais fundamental objetivo das pessoas que fazem o resgate marítimo ou qualquer tipo de trabalho humanitário. O objetivo é salvar pessoas. Depois, muitas outras coisas nos ligam, acabamos por viver situações muito tristes e situações muito felizes juntas, são situações de emoções muito fortes, são situações muito intensas, e inevitavelmente isso liga-nos.”.
Questionado se o número de 423 pessoas salvas em duas semanas significa uma esperança que se lhe renova interiormente, disse com simplicidade e realismo:
Nós resgatamos muitas pessoas ao longo desse ano, a tripulação do ‘Iuventa’ participou no resgate de 14 mil pessoas ao longo de um ano. Vejo esse número com mais indignação do que esperança, na verdade. Se uma equipa de 15 voluntários de cada vez consegue resgatar 14 mil pessoas ao longo de um ano alguma coisa está fundamentalmente errada no que está a ser feito para que estas pessoas não percam a vida.”.
Embora considere coisa muito boa o número de pessoas resgatadas, acha-o “sintomático de um problema fundamental que não está a ser abordado como devia”. E, ante uma geração a crescer com a crise dos refugiados, frisa o dever de encarar esta crise humanitária por parte de cada um de nós e de lutar para que ela seja debelada e não venha a repetir-se, desenvolvendo:
Esta crise humanitária é a crise da nossa geração. Se os nossos avós nos anos 70 tiveram de lutar pela liberdade, nós temos de lutar por isto. Sinto que é a grande crise, é isto que vai aparecer nos livros de História, estão neste momento a acontecer grandes acontecimentos que dependem da nossa inação ou da nossa ação. (…) Vamos ter de explicar aos nossos netos como é que deixamos morrer dezenas de milhares de pessoas ao longo de 5, 6 ou 7 anos e eu sei de que lado é que quero estar. E acho que é uma responsabilidade que cada um de nós tem de aceitar e cada um de nós tem de encontrar a melhor forma de contribuir pessoalmente para que isto não se volte a passar, que esta catástrofe tenha um fim.”.
No atinente à sua situação de porta-voz de tudo isto, esclarece-a pela urgência ditada injustiça da criminalização da ajuda humanitária e a atitude hostil por parte de vários governos da UE:
Nós queríamos fazer resgate marítimo, não queríamos fazer comunicação. O que sabemos fazer é tirar pessoas de dentro e água, é muito simples e foi isso que fizemos. As circunstâncias, esta injustiça da criminalização da ajuda humanitária e a atitude hostil por parte de vários governos da União Europeia, em relação à solidariedade demonstrada pela sociedade civil, é que nos [puseram] nesta situação em que somos obrigados a ser o porta-voz e temos que aprender a fazer este tipo de trabalho que é completamente diferente daquilo que fazíamos antigamente.”.
Preferiam continuar a fazer o que faziam em 2016 ou 2017, porque isso é preciso e importante: “é preciso tirar as pessoas de uma situação de perigo porque elas continuam a vir”. Mas, como estão impossibilitados de o fazer porque não têm navio, sente a responsabilidade pessoal de passar a palavra, de “ser um bocadinho mais uma voz a falar por estas pessoas”. E, sobre o caso legal da criminalização expressa na nova lei italiana, esclarece:
Quando nós falamos sobre este caso legal e esta injustiça, não estamos só a tentar garantir a nossa liberdade pessoal, mas a falar pelos verdadeiros desprivilegiados nesta situação. Estamos a falar de milhares que pessoas que morrem afogados no Mediterrâneo sem voz e que depois vão parar a listas anónimas de estatísticas de mortes no mediterrâneo.”.
Aquele mar traz-lhe muitas recordações e fá-lo sentir que ali viveu “o melhor e o pior da vida”:
[Es]tive muito em contacto com o desespero das pessoas, mas também com a esperança e entreajuda e vi atos de heroísmo que não pensei que fossem possíveis. Vi pessoas a pôr em risco a sua própria vida para salvar outras e isso já ninguém me tira.” – diz .
Relativamente ao que dizia às pessoas quando as puxava para o navio, narra:
O que tentávamos fazer era acalmá-las. Em geral as pessoas vêm numa situação de pânico, só querem segurança para si e para os seus filhos. E o que é preciso dizer nesse momento é: ‘está tudo bem, somos uma equipa de resgate e o nosso objetivo é tirar-vos desta situação e pôr-vos em segurança’. É esse o nosso papel, é ser a primeira plataforma onde as pessoas podem descansar numa situação de meses e meses, ou anos a fio, em tenção constante.”.
Em relação às críticas contra o local aonde faziam aportar as pessoas, responde com clareza:
Quando se resgatam pessoas em águas internacionais, para já somos obrigados por lei a resgatá-las e por lei a levá-las a um porto seguro. A Líbia, não é preciso argumentar, não é um porto seguro. Podia-se argumentar que se poderiam trazer as pessoas para a Tunísia, que não assinou a convenção de Genebra nos anos 50, em que se definia refugiado e, como se sabe, as pessoas que foram no passado entregues à Tunísia foram depois devolvidas pelas autoridades à Líbia. E isso constitui uma violação da lei internacional e não podemos deixar que isso aconteça. (…) Todo o nosso trabalho era feito em coordenação com as autoridades italianas e, na esmagadora maioria dos casos que atendemos, as pessoas eram passadas para bordo de navios italianos, que os levavam depois a terra italiana. Não éramos nós que fazíamos essa decisão, a decisão era das autoridades italianas que tinham a responsabilidade de coordenar o resgate marítimo.”.
Assim, a ação judicial de que é objeto foi uma surpresa. Com efeito, sabiam da existência de vozes influentes que não gostavam do que eles faziam e representavam, mas nunca pensaram na possibilidade da utilização de meios legais “para criminalizar a ajuda humanitária que é não só protegida por lei como é um direito fundamental das pessoas”.
Não sabendo o que se vai passar a seguir, adverte que “é muito importante que haja este tipo de resposta por parte da sociedade civil” (Portugal e o resto da Europa). E considera:
Em Portugal houve uma resposta muito consensual sobre este problema e isso é muito importante, ter tanta gente a proferir declarações de apoio, tão diretamente em relação a nós e ao nosso trabalho. Mas não pode ficar por aí. Já houve várias instituições governamentais, e não só, que declararam publicamente o apoio à nossa causa, isso é importante, mas é o mínimo que se espera de um estado democrático, que se espera de um pais que respeita da declaração universal dos direitos humanos, mas é preciso fazer mais.”.
E explana, quanto ao absurdo de pretenderem fazer regressar os migrantes à Líbia:
O problema está muito além de nós próprios, o problema das migrações e das mortes no mediterrâneo vai continuar a acontecer. As autoridades líbias, se é que podemos chamar de tal coisa, põem em risco a vida de milhares de pessoas, com a conivência e o apoio explícito da UE e dos estados membros e é contra isso que precisamos lutar. não podemos lutar pelas duas coisas. Dizer que respeitamos os direitos humanos e, por outro lado, apoiar quem viola os direitos humanos, quem acaba por intercetar estes barcos e levá-lo de volta à Líbia em condições horrorosas em que estas pessoas vivem nos campos de detenção.”.
Sobre uma hipotética intervenção da comunidade internacional nos países de origem com vista a uma estabilização para as pessoas não terem de fugir, diz que é “problema que está longe de ser simples”, não havendo “uma medida que resolva o problema”, mas sendo preciso um conjunto de medidas coordenadas. E indica medidas no momento e medidas a montante:
São precisos resgates marítimos, sistemas de acolhimento eficiente, mais humanitários que consigam trazer estas pessoas de forma segura para a Europa sem terem de se pôr em barcos sem condições nenhumas e pouca probabilidade de sobreviver, só para chegar à Europa e pedir asilo. O ideal é que não haja resgate marítimo, não haja necessidade de resgate, o ideal é que as pessoas não tenham de sair dos países; e aqui, se calhar, é mais urgente do que uma intervenção de estabilização de qualquer situação que se passe nos países de origem, eu diria que é preciso moderar alguma intervenção que os países ditos ocidentais têm tido. Os maiores exportadores de armas no mundo são os EUA e vários estados membros europeus.”.
Ora, antes das “ajudas para o desenvolvimento”, é preciso pôr em causa “a venda de armas em situações de conflito”, pois os migrantes “estão a fugir das bombas que são criadas em solo europeu”, pelo que não podemos “fechar-lhes as portas quando estão a fugir de armas produzidas por nós”. A este respeito e no atinente ao que se pode fazer em Portugal Miguel Duarte não deixa de dizer:
O que é preciso fazer neste momento, na minha opinião, é continuar a indignar-se, informar-se criticamente sobre esta situação, sobre as migrações. E não só. E é preciso fazer pressão sobre as entidades que têm poder para fazer alguma coisa em relação a isto. É preciso garantir que os nossos representantes sabem que estamos atentos e que a forma como a UE está a tratar os migrantes e refugiados não é aceitável, e nós não aceitamos isso num estado democrático.”.
Sobre o andamento do processo judicial em que está envolvido, referiu:
Fomos constituídos arguidos há um ano e estamos à espera de uma acusação formal ou que o caso seja arquivado. Qualquer um pode acontecer e neste momento não conseguimos prever.”.
Voltaria ao Mediterrâneo “amanhã se pudesse” e, sobre a sua atual ocupação, conta:
Neste momento, o trabalho que tenho feito é maioritariamente este trabalho de comunicação, de dar voz a este problema, trazer atenção para isto, nunca esquecendo que o foco é num problema muito maior, nunca esquecendo que nós, que enfrentamos uma possibilidade de 20 anos na prisão por ajuda humanitária, ainda conseguimos ser os privilegiados no meio desta situação, porque há pessoas que todos os dias arriscam a vida simplesmente à procura de segurança e é nessas pessoas e situação que temos de focar. E é com isso que temos de nos indignar mais.”.
Considerando que um processo judicial “mexe com vidas mas não com princípios”, clarifica:
O processo legal aumenta a nossa indignação, [mas] não nos faz questionar no que acreditamos. Acreditamos que a vida humana tem um valor incalculável e é isso que tentamos defender e vai ser isso que vamos continuar a defender. Se a nossa luta é a comunicação e não o resgate marítimo, então vamos lutar.”.
Por fim, o voluntário português diz sonhar “com uma Europa mais humana que permita que as pessoas vivam com dignidade, todas as pessoas, não só os europeus”.
***
Esta é uma excelente forma de martírio, segundo o sentido originário das palavras gregas “martyría, as” (testemunho, depoimento duma testemunha), “mártys, ros” (testemunha, mártir) e “mártyros, ou” (testemunha, protetor). Ainda há muitos mártires “no bom sentido”, como disse o Arcebispo Primaz na homilia da missa da festa de São Torcato, no passado dia 7 de julho.
2019.07.09 – Louro de Carvalho

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