É esta a marca da forte experiência peregrinacional, segundo o Cardeal Dom António Marto, bispo da diocese de
Leiria-Fátima, que deu boas vindas aos
peregrinos presentes na Capelinha das Aparições, na tarde do dia 12, para a Peregrinação
Internacional Aniversária de julho.
Na
tradicional abertura da Peregrinação, o purpurado considerou que
chegar ali “é um momento privilegiado
para estar com a Mãe da ternura, da misericórdia, da consolação, que a todos
acolhe com sorriso materno e por todos intercede junto de Deus”. Sublinhando
que “uma peregrinação é muito mais que
fazer turismo, desporto ou viver uma aventura”, observou:
“É uma viagem que empreende quem se põe
a caminho fazendo caminho interior, é mais que uma viagem física em direção à
parte mais profunda de cada um de nós, ao fundo do nosso próprio coração, onde
cada um se encontra com o mistério de Deus amor”.
E, apresentando
o peregrinar como forte “experiência espiritual” e momento privilegiado
para o exercício da “busca de luz e verdade, de pureza de coração e
reconciliação”, disse:
“Com o Seu imaculado coração, [a Mãe] convida
cada um a deixar-se envolver pelo amor de Deus pelo mundo e, assim curar as
feridas, aquecer os corações desanimados e reavivar a nossa fé”.
Depois,
convidou os peregrinos à oração pelas intenções do Santo Padre, pela paz
no mundo, por todos os que sofrem e, de modo particular, oração pelos cristãos
perseguidos pelo testemunho da sua fé.
No encerramento da peregrinação, a 13 de julho (hoje), o
prelado de Leiria-Fátima recordou o essencial da mensagem do segredo de Fátima
e afirmou aos peregrinos:
“Quem acredita em Deus não pode ficar cego nem insensível à dor do
mundo”
Dom António
Marto recuperou, no âmbito do essencial do segredo, as palavras do Papa São
João Paulo II a propósito da importância e da atualidade da mensagem de Fátima:
“Foi a dor da Mãe que a fez falar porque
estava em jogo a sorte dos seus filhos, como quem nos diz: quem acredita em
Deus não pode ficar cego nem insensível à dor do mundo”.
Concluindo
que, em Fátima Nossa Senhora se apresentou “como a Mãe da consolação”, disse:
“Cada peregrinação tem o seu tom e o tema
próprio e, na de julho, recordamos o chamado segredo de Fátima que consistiu
numa séria advertência trazida por Nossa Senhora à humanidade ameaçada de
destruição pelas guerras”.
E Sua
Eminência recordou que foi nesta aparição que Nossa Senhora deixou a “certeza
inabalável” que é a “promessa da vitória
da misericórdia e do amor de Deus sobre o mal, o pecado e a miséria humana”.
Por fim,
agradeceu ao Presidente da Peregrinação, Dom Daniel Henriques, Bispo auxiliar
de Lisboa por “nos ter iluminado” trazendo “esta mensagem de consolação a
todos”.
É digno de
nota que participaram nas celebrações de Fátima, nesta peregrinação de julho,
72 grupos de peregrinos, oriundos de: Portugal, Espanha, França, Itália,
Polónia, Alemanha, Reino Unido, Bélgica, Áustria, Hungria, Malta, Brasil,
Colômbia, Estados Unidos da América, Líbano, Costa do Marfim, Ilhas Maurícias,
Coreia do Sul e Filipinas. Além dos grupos inscritos, participou nesta
celebração de sábado um grupo de cerca de 100 tripulantes do Navio Amerigo
Vespucci da Marinha Italiana, acompanhados pelo capelão do navio, Dom
Pietro Folino Gallo.
***
Dom Daniel
Batalha Henriques, presidente da Peregrinação Internacional Aniversária de
julho, presente na sobredita cerimónia de abertura, considerou-se um peregrino no meio dos peregrinos, a
celebrar o aniversário da terceira aparição de Nossa Senhora aos três
pastorinhos. A este respeito, agradecendo à Virgem Maria o longo caminho
percorrido em segurança por muitos dos peregrinos ali presentes, disse:
“Chegar a Fátima é unir-se em oração, como
uma grande família e faz nos exclamar ‘que bom é estar aqui’. (…) Chegamos aqui
de alma cheia de sentimentos profundos de gratidão e súplica, trazemos a nossa
história, o nosso passado e presente, com alegria e provações, e sobretudo com
tantas memórias que nos tocam.”.
O prelado
lembrou os peregrinos, que toda vida caminharam até Fátima e que hoje, pela
idade ou pela enfermidade, não podem estar presentes, pedindo orações pelas
intenções de cada um desses irmãos. O recém-ordenado bispo disse também que
recebeu o convite de Dom António Marto para presidir à peregrinação
como um “sinal a consagrar” o seu ministério episcopal.
***
Na homilia da Missa da noite de 12 de julho, Dom Daniel Henriques pediu
união em oração pelos cristãos perseguidos por causa da sua fé. Depois, desafiou os fiéis presentes a interpretar a terceira
parte do segredo de Fátima à luz das perseguições religiosas feitas a muitos
cristãos. E, ao definir a oração como lugar de abertura ao próximo, este Bispo
auxiliar de Lisboa pediu união em oração pelos cristãos perseguidos, alertando
para o perigo do silêncio e do comodismo das sociedades ocidentais perante este
drama.
Depois de
lembrar as intenções de cada um dos presentes na vinda à Cova da Iria, começou
por apresentar a fraternidade e a oração como a essência que deve guiar aqueles
que vêm a Fátima. E, apresentando, à luz do pensamento do Papa Francisco, a
oração como um lugar que se projeta no próximo e onde “não há espaço para o individualismo”, disse:
“Ser peregrino de Fátima é aceitar alargar o
coração, recusando mantê-lo fechado na individualidade de cada um ou no círculo
restrito da família e dos amigos. É aceitar reaprender a arte de rezar na
escola de Jesus e de Maria, mesmo que rezar nos pareça já algo tão familiar e
definitivamente assimilado”.
Com base na
1.ª leitura, que relatava a situação dramática do Povo de Israel no cativeiro
da Babilónia, o prelado pediu união em oração pelos cristãos perseguidos por
causa da fé, alertando para o comodismo que carateriza as sociedades
ocidentais. E, sublinhando a atitude ativa que o Santo Padre tem vindo a
assumir no sentido de envolver a Igreja numa corrente de oração e de empenho
continuado por esta causa, observou:
“Estes cristãos, compreensivelmente, não
entendem o silêncio que parece prevalecer sobre o seu drama nos países ditos
desenvolvidos, que tão orgulhosamente defendem a sua supremacia no que diz
respeito à defesa dos direitos humanos. Nem tão pouco entendem o silêncio acomodado
de tantos cristãos desses países, acomodados e entretidos com as suas rotinas
quotidianas, onde o que importa é salvaguardar uma vida tranquila e sem
sobressaltos.”.
Na
conclusão, o Presidente desta Peregrinação Internacional Aniversária evocou a
aparição de 13 de julho de 1917, centrando-se na última parte da visão que
Nossa Senhora deu a contemplar aos Pastorinhos e que ficou conhecida como o “terceiro segredo de Fátima”, sobre o
qual desafiou os peregrinos a uma interpretação à luz da perseguição que
atualmente é feita a muitos cristãos, tal como desde os primórdios. E declarou:
“Na sua linguagem profética, quase em estilo
bíblico, [a terceira parte do Segredo de Fátima] relata a parte sangrenta e
dramática da história da Igreja no século XX, no que aos mártires da fé diz
respeito. Mas podemos ver também nele o caminho da Igreja ao longo da História,
desde o martírio de Santo Estêvão, o primeiro mártir ou de São Pedro, o
primeiro Papa até aos anos já decorridos depois do ano 2000, em que foi
revelado o Segredo.”.
Assumindo
que “o caminho de Jerusalém e o caminho do Calvário serão sempre o caminho da
Igreja”, apontou para a vida dos “mártires de hoje e de sempre” como exemplos
de santidade que inspiram a uma vida mais próxima de Deus.
A
Peregrinação Internacional Aniversária de julho, que evoca a 3.ª aparição de
Nossa Senhora aos videntes Lúcia, Francisco e Jacinta, a 13 de julho de 1917,
na Cova da iria, continuou pela madrugada, com uma vigília de oração, animada
pelos jovens da diocese de Leiria-Fátima. E o dia 13 começou com a procissão
eucarística, às 7 horas, seguida da recitação do Rosário, na Capelinha das
Aparições, de onde, às 10 horas, partiu a procissão com a imagem de Nossa Senhora
para o altar do Recinto de Oração, onde foi celebrada a Missa Internacional
Aniversária, concelebrada por um cardeal, 7 bispos e 110 sacerdotes e que terminou
com a Bênção aos Doentes e ao Povo e com a com Procissão do Adeus.
***
Na homilia da Missa do Adeus, o Bispo
auxiliar de Lisboa Dom Daniel Henriques desafiou os peregrinos presentes no
Recinto do Santuário de Fátima a serem “instrumentos” do amor “consolador” de
Deus junto dos mais próximos.
Evocando a
memória da 3.ª aparição da Virgem, a 13 de julho de 1917, o prelado afirmou que,
face ao “vazio asfixiante”, ao “frenesim alienante” e à “aridez estéril de
tantos dos nossos dias, consumidos em trabalho e lutas sem fim”, os cristãos
devem deixar-se contagiar pelo amor de Deus e levá-lo aos mais próximos,
tornando-se “fonte de consolação”. E garantiu:
“As consolações de Deus não se esgotam em nós
próprios. É a própria consolação de Deus que, através de nós, deve iluminar e
confortar o coração de quantos se encontram atribulados.”.
Na verdade, segundo
o relato da vidente Lúcia, Nossa Senhora, na sua 3.ª aparição, fez aos pastorinhos
o pedido insistente de oração, penitência e conversão em ordem à Paz no mundo e
ofereceu-lhes o Seu Imaculado Coração como refúgio e caminho para Deus.
A partir da
liturgia do dia, o Presidente da Peregrinação citou São Paulo para afirmar a
certeza da presença permanente do amor de Deus, mesmo nos momentos das maiores
tribulações da vida e, interrogando, adiantou:
“Quem não experimentou já as sombrias horas
de tribulação e de angústia?! Quem não sentiu já o seu coração envolto em
tristeza e ansiedade? É esta a nossa condição humana: se vivemos momentos de
serenos de tranquilidade, recordamos que nem sempre assim estivemos e bem
sabemos que uma cortina negra como breu pode cair, repentina, sobre a nossa
vida e de quantos nos são próximos.”.
Prosseguindo,
observou:
“Nesses momentos, sem sabermos como,
sentimo-nos habitados por uma paz que tem a sua origem, não na supressão dos
problemas nem em qualquer discernimento racional, mas numa presença consoladora
e inefável, que nos fez sentir como uma criança ao colo da mãe”.
A garantir
que “este conforto nos vem, na medida em
que nos soubermos associar aos sofrimentos de Cristo”, uma vez que “participar nos seus sofrimentos é
participar das suas consolações”, exortou:
“Associemo-nos aos sofrimentos de Cristo no
seu Corpo, que é a Igreja, no sofrimento que Ele padece nos seus membros.
Acolhamos a consolação da parte de Deus que nos vem por esta entrega. Assim
consolados, tornemo-nos nós também consoladores, em palavras e gestos concretos
carregados de ternura e compaixão.”.
E concluiu
deixando uma garantia:
“O Senhor promete-nos uma vida feliz,
bem-aventurada, se soubermos abraçar como missão e vocação tanto daquilo que o
mundo rejeita como infortúnio e maldição, se soubermos acolher os contextos
penosos e difíceis, abraçando-os e vivendo-os com amor”.
***
Nesta
celebração foi, ainda, dirigida uma palavra aos doentes participantes na
Eucaristia, não pelo Presidente da Peregrinação (não é a primeira vez que isto acontece), mas, desta vez, pela médica missionária Patrícia
Bernardino, que, lembrando a singular importância de cada um, que se encontra
numa situação de fragilidade, disse ter a certeza do amor de Deus “que a todos
oferece consolo e ternura” e advertiu:
“Mesmo nos tempos de maior fragilidade e sem
aparente sentido, se descobrimos que somos amados e cuidados pessoalmente por
Jesus, a esperança e a paz podem renascer no silêncio do nosso coração (…) Quando aceitamos o convite a permanecer
com Ele, as nossas vidas podem ser verdadeiramente livres, profundamente
alegres, cheias de sentido e valor, como dão testemunho as vidas dos
Pastorinhos.”.
Na verdade, “Jesus
ama-nos também a nós até́ à totalidade do que somos, ama-nos como somos, na
inteireza da nossa natureza frágil, imperfeita e sempre incompleta” esclareceu
a comunicadora, lembrando que, tal como no dia 13 de julho de 1917, Nossa
Senhora revelou aos pastorinhos “como
Deus olha e se compadece do nosso mundo ferido e renova o convite da entrega
total da vida a Deus, como caminho do Coração que repara e colabora na
transformação orante da realidade”, também hoje sabemos que “somos introduzidos na mesma missão de
Jesus, somos amados para amar, para consolar a Deus e fazer nosso o Seu olhar
compadecido para com todos os nossos irmãos”.
***
Pelo exposto
se vê que Fátima corresponde à identidade do Santuário como “lugar
sagrado onde a proclamação da Palavra de Deus, a celebração dos Sacramentos, em
particular da Reconciliação e da Eucaristia, e o testemunho da caridade
exprimem o grande compromisso da Igreja para com a evangelização”, desde “o primeiro anúncio até́ à celebração dos mistérios sagrados” e “se torna manifesto o poder da ação com a
qual a misericórdia de Deus age na vida das pessoas”. A sua identidade
específica “decorre da natureza própria dos santuários cristãos” e “está indelevelmente
modelada pelos traços fundamentais da mensagem associada às aparições de Nossa
Senhora e à experiência espiritual que viveram os três videntes”:
“A afirmação do primado de Deus com o convite a adorar o mistério do seu
amor trinitário; o anúncio da misericórdia divina que se inclina sobre os
sofrimentos da humanidade; a denúncia do mal e o apelo à conversão dos corações
a Deus; a oração, particularmente pela paz no mundo; a reparação como
chamamento à solidariedade e à corresponsabilização no amor pela salvação do
mundo; a apresentação do Coração Imaculado de Maria como sinal e expressão da
bondade de Deus; e o amor à figura do Papa, garante da unidade das igrejas
particulares”.
E o
Santuário “é, na sua essência, um local
de peregrinação surgido do acontecimento fundante das mariofanias em 1917, que
deu origem a um dinamismo espiritual ligado à devoção a Nossa Senhora do
Rosário de Fátima e que se desenvolve de forma atenta aos sinais dos tempos, iluminado
nomeadamente pela vida dos Santos Francisco e Jacinta” (cf
art.º 7.º dos Estatutos).
E está
claro que, no âmbito das opções pastorais, o Santuário
-
Coloca especial empenho no acolhimento dos peregrinos e na preparação das peregrinações
comunitárias; acolhe, com especial solicitude e cuidado, os peregrinos doentes,
os portadores de deficiência e os que apresentam especiais fragilidades; e socorre
os pobres, atendendo às suas necessidades, e acolhe os marginalizados.
-
Enquanto lugar de evangelização, privilegia a proclamação da Palavra de Deus e
a celebração dos sacramentos, em particular da Reconciliação e da Eucaristia; e,
tendo em conta a dimensão eucarística da Mensagem de Fátima, dá especial relevo
ao culto eucarístico, nomeadamente à adoração eucarística.
-
Favorece a expressão da piedade popular no quadro das tradições de oração,
devoção e entrega à misericórdia de Deus inculturadas na vida de cada povo.
-
Sabendo que o santuário pode ser verdadeiro refúgio para cada um se redescobrir
a si mesmo e reencontrar a força necessária para a própria conversão, proporciona
condições de descanso, silêncio e contemplação; e, enquanto memória viva e
eficaz da obra de Deus na história humana, preserva a memória dos
acontecimentos fundantes, aprofundando o seu significado, e documenta a história
deste lugar, como testemunho de fé dos que aqui peregrinam.
-
Na sua ação pastoral de evangelização e catequese, põe em relevo a mensagem
ligada ao acontecimento que está na origem deste Santuário, explicitando a
atualidade da mensagem, e desenvolve linhas de espiritualidade específicas do
seu carisma próprio; e, em sintonia com a secular tradição da Igreja, recorre a
iniciativas culturais e artísticas de qualidade, que são instrumentos de
inculturação da mensagem evangélica, segundo a via pulchritudinis como modalidade peculiar da evangelização da
Igreja. (cf art.º 19.º dos Estatutos).
Enfim, que
Fátima se evangelize sempre e evangelize fazendo de Cristo a sua referência e
faça com que os peregrinos entrem no âmago do “coração da vida”, como quer Dom José
Tolentino Mendonça.
2019.07.13 –
Louro de Carvalho
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