sábado, 13 de julho de 2019

Busca de luz e verdade, de pureza de coração e reconciliação


É esta a marca da forte experiência peregrinacional, segundo o Cardeal Dom António Marto, bispo da diocese de Leiria-Fátima, que deu boas vindas aos peregrinos presentes na Capelinha das Aparições, na tarde do dia 12, para a Peregrinação Internacional Aniversária de julho.
Na tradicional abertura da Peregrinação, o purpurado considerou que chegar ali “é um momento privilegiado para estar com a Mãe da ternura, da misericórdia, da consolação, que a todos acolhe com sorriso materno e por todos intercede junto de Deus”. Sublinhando que “uma peregrinação é muito mais que fazer turismo, desporto ou viver uma aventura”, observou:
É uma viagem que empreende quem se põe a caminho fazendo caminho interior, é mais que uma viagem física em direção à parte mais profunda de cada um de nós, ao fundo do nosso próprio coração, onde cada um se encontra com o mistério de Deus amor”.
E, apresentando o peregrinar como forte “experiência espiritual” e momento privilegiado para o exercício da “busca de luz e verdade, de pureza de coração e reconciliação”, disse:
Com o Seu imaculado coração, [a Mãe] convida cada um a deixar-se envolver pelo amor de Deus pelo mundo e, assim curar as feridas, aquecer os corações desanimados e reavivar a nossa fé”.
Depois, convidou os peregrinos à oração pelas intenções do Santo Padre, pela paz no mundo, por todos os que sofrem e, de modo particular, oração pelos cristãos perseguidos pelo testemunho da sua fé.
No encerramento da peregrinação, a 13 de julho (hoje), o prelado de Leiria-Fátima recordou o essencial da mensagem do segredo de Fátima e afirmou aos peregrinos:
Quem acredita em Deus não pode ficar cego nem insensível à dor do mundo
Dom António Marto recuperou, no âmbito do essencial do segredo, as palavras do Papa São João Paulo II a propósito da importância e da atualidade da mensagem de Fátima:
Foi a dor da Mãe que a fez falar porque estava em jogo a sorte dos seus filhos, como quem nos diz: quem acredita em Deus não pode ficar cego nem insensível à dor do mundo”.
Concluindo que, em Fátima Nossa Senhora se apresentou “como a Mãe da consolação”, disse:
Cada peregrinação tem o seu tom e o tema próprio e, na de julho, recordamos o chamado segredo de Fátima que consistiu numa séria advertência trazida por Nossa Senhora à humanidade ameaçada de destruição pelas guerras”.
E Sua Eminência recordou que foi nesta aparição que Nossa Senhora deixou a “certeza inabalável” que é a “promessa da vitória da misericórdia e do amor de Deus sobre o mal, o pecado e a miséria humana”.
Por fim, agradeceu ao Presidente da Peregrinação, Dom Daniel Henriques, Bispo auxiliar de Lisboa por “nos ter iluminado” trazendo “esta mensagem de consolação a todos”.
É digno de nota que participaram nas celebrações de Fátima, nesta peregrinação de julho, 72 grupos de peregrinos, oriundos de: Portugal, Espanha, França, Itália, Polónia, Alemanha, Reino Unido, Bélgica, Áustria, Hungria, Malta, Brasil, Colômbia, Estados Unidos da América, Líbano, Costa do Marfim, Ilhas Maurícias, Coreia do Sul e Filipinas. Além dos grupos inscritos, participou nesta celebração de sábado um grupo de cerca de 100 tripulantes do Navio Amerigo Vespucci da Marinha Italiana, acompanhados pelo capelão do navio, Dom Pietro Folino Gallo.
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Dom Daniel Batalha Henriques, presidente da Peregrinação Internacional Aniversária de julho, presente na sobredita cerimónia de abertura, considerou-se um peregrino no meio dos peregrinos, a celebrar o aniversário da terceira aparição de Nossa Senhora aos três pastorinhos. A este respeito, agradecendo à Virgem Maria o longo caminho percorrido em segurança por muitos dos peregrinos ali presentes, disse:
Chegar a Fátima é unir-se em oração, como uma grande família e faz nos exclamar ‘que bom é estar aqui’. (…) Chegamos aqui de alma cheia de sentimentos profundos de gratidão e súplica, trazemos a nossa história, o nosso passado e presente, com alegria e provações, e sobretudo com tantas memórias que nos tocam.”.
O prelado lembrou os peregrinos, que toda vida caminharam até Fátima e que hoje, pela idade ou pela enfermidade, não podem estar presentes, pedindo orações pelas intenções de cada um desses irmãos. O recém-ordenado bispo disse também que recebeu o convite de Dom António Marto para presidir à peregrinação como um “sinal a consagrar” o seu ministério episcopal.
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Na homilia da Missa da noite de 12 de julho, Dom Daniel Henriques pediu união em oração pelos cristãos perseguidos por causa da sua fé. Depois, desafiou os fiéis presentes a interpretar a terceira parte do segredo de Fátima à luz das perseguições religiosas feitas a muitos cristãos. E, ao definir a oração como lugar de abertura ao próximo, este Bispo auxiliar de Lisboa pediu união em oração pelos cristãos perseguidos, alertando para o perigo do silêncio e do comodismo das sociedades ocidentais perante este drama.
Depois de lembrar as intenções de cada um dos presentes na vinda à Cova da Iria, começou por apresentar a fraternidade e a oração como a essência que deve guiar aqueles que vêm a Fátima. E, apresentando, à luz do pensamento do Papa Francisco, a oração como um lugar que se projeta no próximo e onde “não há espaço para o individualismo”, disse:
Ser peregrino de Fátima é aceitar alargar o coração, recusando mantê-lo fechado na individualidade de cada um ou no círculo restrito da família e dos amigos. É aceitar reaprender a arte de rezar na escola de Jesus e de Maria, mesmo que rezar nos pareça já algo tão familiar e definitivamente assimilado”.
Com base na 1.ª leitura, que relatava a situação dramática do Povo de Israel no cativeiro da Babilónia, o prelado pediu união em oração pelos cristãos perseguidos por causa da fé, alertando para o comodismo que carateriza as sociedades ocidentais. E, sublinhando a atitude ativa que o Santo Padre tem vindo a assumir no sentido de envolver a Igreja numa corrente de oração e de empenho continuado por esta causa, observou:
Estes cristãos, compreensivelmente, não entendem o silêncio que parece prevalecer sobre o seu drama nos países ditos desenvolvidos, que tão orgulhosamente defendem a sua supremacia no que diz respeito à defesa dos direitos humanos. Nem tão pouco entendem o silêncio acomodado de tantos cristãos desses países, acomodados e entretidos com as suas rotinas quotidianas, onde o que importa é salvaguardar uma vida tranquila e sem sobressaltos.”.
Na conclusão, o Presidente desta Peregrinação Internacional Aniversária evocou a aparição de 13 de julho de 1917, centrando-se na última parte da visão que Nossa Senhora deu a contemplar aos Pastorinhos e que ficou conhecida como o “terceiro segredo de Fátima”, sobre o qual desafiou os peregrinos a uma interpretação à luz da perseguição que atualmente é feita a muitos cristãos, tal como desde os primórdios. E declarou:
Na sua linguagem profética, quase em estilo bíblico, [a terceira parte do Segredo de Fátima] relata a parte sangrenta e dramática da história da Igreja no século XX, no que aos mártires da fé diz respeito. Mas podemos ver também nele o caminho da Igreja ao longo da História, desde o martírio de Santo Estêvão, o primeiro mártir ou de São Pedro, o primeiro Papa até aos anos já decorridos depois do ano 2000, em que foi revelado o Segredo.”.
Assumindo que “o caminho de Jerusalém e o caminho do Calvário serão sempre o caminho da Igreja”, apontou para a vida dos “mártires de hoje e de sempre” como exemplos de santidade que inspiram a uma vida mais próxima de Deus.
A Peregrinação Internacional Aniversária de julho, que evoca a 3.ª aparição de Nossa Senhora aos videntes Lúcia, Francisco e Jacinta, a 13 de julho de 1917, na Cova da iria, continuou pela madrugada, com uma vigília de oração, animada pelos jovens da diocese de Leiria-Fátima. E o dia 13 começou com a procissão eucarística, às 7 horas, seguida da recitação do Rosário, na Capelinha das Aparições, de onde, às 10 horas, partiu a procissão com a imagem de Nossa Senhora para o altar do Recinto de Oração, onde foi celebrada a Missa Internacional Aniversária, concelebrada por um cardeal, 7 bispos e 110 sacerdotes e que terminou com a Bênção aos Doentes e ao Povo e com a com Procissão do Adeus.
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Na homilia da Missa do Adeus, o Bispo auxiliar de Lisboa Dom Daniel Henriques desafiou os peregrinos presentes no Recinto do Santuário de Fátima a serem “instrumentos” do amor “consolador” de Deus junto dos mais próximos.
Evocando a memória da 3.ª aparição da Virgem, a 13 de julho de 1917, o prelado afirmou que, face ao “vazio asfixiante”, ao “frenesim alienante” e à “aridez estéril de tantos dos nossos dias, consumidos em trabalho e lutas sem fim”, os cristãos devem deixar-se contagiar pelo amor de Deus e levá-lo aos mais próximos, tornando-se “fonte de consolação”. E garantiu:
As consolações de Deus não se esgotam em nós próprios. É a própria consolação de Deus que, através de nós, deve iluminar e confortar o coração de quantos se encontram atribulados.”.
Na verdade, segundo o relato da vidente Lúcia, Nossa Senhora, na sua 3.ª aparição, fez aos pastorinhos o pedido insistente de oração, penitência e conversão em ordem à Paz no mundo e ofereceu-lhes o Seu Imaculado Coração como refúgio e caminho para Deus.
A partir da liturgia do dia, o Presidente da Peregrinação citou São Paulo para afirmar a certeza da presença permanente do amor de Deus, mesmo nos momentos das maiores tribulações da vida e, interrogando, adiantou:
Quem não experimentou já as sombrias horas de tribulação e de angústia?! Quem não sentiu já o seu coração envolto em tristeza e ansiedade? É esta a nossa condição humana: se vivemos momentos de serenos de tranquilidade, recordamos que nem sempre assim estivemos e bem sabemos que uma cortina negra como breu pode cair, repentina, sobre a nossa vida e de quantos nos são próximos.”.
Prosseguindo, observou:
Nesses momentos, sem sabermos como, sentimo-nos habitados por uma paz que tem a sua origem, não na supressão dos problemas nem em qualquer discernimento racional, mas numa presença consoladora e inefável, que nos fez sentir como uma criança ao colo da mãe”.
A garantir que “este conforto nos vem, na medida em que nos soubermos associar aos sofrimentos de Cristo”, uma vez que “participar nos seus sofrimentos é participar das suas consolações”, exortou:
Associemo-nos aos sofrimentos de Cristo no seu Corpo, que é a Igreja, no sofrimento que Ele padece nos seus membros. Acolhamos a consolação da parte de Deus que nos vem por esta entrega. Assim consolados, tornemo-nos nós também consoladores, em palavras e gestos concretos carregados de ternura e compaixão.”.
E concluiu deixando uma garantia:
O Senhor promete-nos uma vida feliz, bem-aventurada, se soubermos abraçar como missão e vocação tanto daquilo que o mundo rejeita como infortúnio e maldição, se soubermos acolher os contextos penosos e difíceis, abraçando-os e vivendo-os com amor”.
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Nesta celebração foi, ainda, dirigida uma palavra aos doentes participantes na Eucaristia, não pelo Presidente da Peregrinação (não é a primeira vez que isto acontece), mas, desta vez, pela médica missionária Patrícia Bernardino, que, lembrando a singular importância de cada um, que se encontra numa situação de fragilidade, disse ter a certeza do amor de Deus “que a todos oferece consolo e ternura” e advertiu:
Mesmo nos tempos de maior fragilidade e sem aparente sentido, se descobrimos que somos amados e cuidados pessoalmente por Jesus, a esperança e a paz podem renascer no silêncio do nosso coração (…) Quando aceitamos o convite a permanecer com Ele, as nossas vidas podem ser verdadeiramente livres, profundamente alegres, cheias de sentido e valor, como dão testemunho as vidas dos Pastorinhos.”.
Na verdade, “Jesus ama-nos também a nós até́ à totalidade do que somos, ama-nos como somos, na inteireza da nossa natureza frágil, imperfeita e sempre incompleta” esclareceu a comunicadora, lembrando que, tal como no dia 13 de julho de 1917, Nossa Senhora revelou aos pastorinhos “como Deus olha e se compadece do nosso mundo ferido e renova o convite da entrega total da vida a Deus, como caminho do Coração que repara e colabora na transformação orante da realidade”, também hoje sabemos que “somos introduzidos na mesma missão de Jesus, somos amados para amar, para consolar a Deus e fazer nosso o Seu olhar compadecido para com todos os nossos irmãos”.
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Pelo exposto se vê que Fátima corresponde à identidade do Santuário como “lugar sagrado onde a proclamação da Palavra de Deus, a celebração dos Sacramentos, em particular da Reconciliação e da Eucaristia, e o testemunho da caridade exprimem o grande compromisso da Igreja para com a evangelização”, desde “o primeiro anúncio até́ à celebração dos mistérios sagrados” e “se torna manifesto o poder da ação com a qual a misericórdia de Deus age na vida das pessoas”. A sua identidade específica “decorre da natureza própria dos santuários cristãos” e “está indelevelmente modelada pelos traços fundamentais da mensagem associada às aparições de Nossa Senhora e à experiência espiritual que viveram os três videntes”:
A afirmação do primado de Deus com o convite a adorar o mistério do seu amor trinitário; o anúncio da misericórdia divina que se inclina sobre os sofrimentos da humanidade; a denúncia do mal e o apelo à conversão dos corações a Deus; a oração, particularmente pela paz no mundo; a reparação como chamamento à solidariedade e à corresponsabilização no amor pela salvação do mundo; a apresentação do Coração Imaculado de Maria como sinal e expressão da bondade de Deus; e o amor à figura do Papa, garante da unidade das igrejas particulares”.
E o Santuário “é, na sua essência, um local de peregrinação surgido do acontecimento fundante das mariofanias em 1917, que deu origem a um dinamismo espiritual ligado à devoção a Nossa Senhora do Rosário de Fátima e que se desenvolve de forma atenta aos sinais dos tempos, iluminado nomeadamente pela vida dos Santos Francisco e Jacinta” (cf art.º 7.º dos Estatutos).
E está claro que, no âmbito das opções pastorais, o Santuário
- Coloca especial empenho no acolhimento dos peregrinos e na preparação das peregrinações comunitárias; acolhe, com especial solicitude e cuidado, os peregrinos doentes, os portadores de deficiência e os que apresentam especiais fragilidades; e socorre os pobres, atendendo às suas necessidades, e acolhe os marginalizados.
- Enquanto lugar de evangelização, privilegia a proclamação da Palavra de Deus e a celebração dos sacramentos, em particular da Reconciliação e da Eucaristia; e, tendo em conta a dimensão eucarística da Mensagem de Fátima, dá especial relevo ao culto eucarístico, nomeadamente à adoração eucarística.
- Favorece a expressão da piedade popular no quadro das tradições de oração, devoção e entrega à misericórdia de Deus inculturadas na vida de cada povo.
- Sabendo que o santuário pode ser verdadeiro refúgio para cada um se redescobrir a si mesmo e reencontrar a força necessária para a própria conversão, proporciona condições de descanso, silêncio e contemplação; e, enquanto memória viva e eficaz da obra de Deus na história humana, preserva a memória dos acontecimentos fundantes, aprofundando o seu significado, e documenta a história deste lugar, como testemunho de fé dos que aqui peregrinam.
- Na sua ação pastoral de evangelização e catequese, põe em relevo a mensagem ligada ao acontecimento que está na origem deste Santuário, explicitando a atualidade da mensagem, e desenvolve linhas de espiritualidade específicas do seu carisma próprio; e, em sintonia com a secular tradição da Igreja, recorre a iniciativas culturais e artísticas de qualidade, que são instrumentos de inculturação da mensagem evangélica, segundo a via pulchritudinis como modalidade peculiar da evangelização da Igreja. (cf art.º 19.º dos Estatutos).
Enfim, que Fátima se evangelize sempre e evangelize fazendo de Cristo a sua referência e faça com que os peregrinos entrem no âmago do “coração da vida”, como quer Dom José Tolentino Mendonça.
2019.07.13 – Louro de Carvalho

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