sábado, 26 de agosto de 2023

Preocupante o despejo de água radioativa no mar no Japão

A Comissão para o Meio Ambiente e Ecologia e a Comissão de Justiça e Paz da Conferência Episcopal Católica da Coreia do Sul reafirmaram, a 24 de agosto, a sua firme oposição ao despejo de água tratada radioativa no mar, autorizada pelo governo japonês.

Os dois órgãos eclesiais, com mais 42 organizações diocesanas do país, manifestaram a “extrema preocupação” com tal decisão do governo, apesar da opinião contrária de grupos ambientalistas, cientistas e comunidades de pescadores, assinalou o portal “Vatican News”.

Os grupos católicos, a partir das convicções de cientistas, de académicos e dos pescadores, rejeitam as asserções do governo de que “a contaminação causada pelo derrame radioativo está a diminuir e [de que] a área de Fukushima é segura”.

A declaração conjunta cita o ‘Relatório de Análise sobre Contaminação Radioativa de Produtos Agrícolas e Pecuários Japoneses’, divulgado pelo Centro de Monitoramento de Radiação Cidadã e pela Federação Coreana para Movimentos Ambientais, em abril de 2023, que alerta para “uma ampla gama de contaminações radioativas em produtos alimentícios”: 5,3% de produtos marinhos, 21,1% de produtos agrícolas e 2,6% de produtos de origem animal – dados que levam à adoção do princípio de prudência e de cautela relativamente à saúde humana e ao ecossistema, que ainda necessita de ser aplicado.

Como informou a agência de notícias Kyodo, a 24 de agosto, o Japão começou a despejar mais de um milhão de toneladas de água radioativa, no Oceano Pacífico, da central nuclear de Fukushima Daiichi, destruída no terramoto e no tsunami, de março de 2011.

A Tokyo Electric Power Company (TEPCO), operadora da central nuclear, “bombeou uma pequena quantidade de água”, dois dias depois de o governo japonês ter aprovado a operação, o que gerou indignação, nos países vizinhos, e preocupação, especialmente entre os pescadores, angustiados com o colapso da reputação e, portanto, do consumo, dos seus produtos.

Já em 2021, os bispos coreanos e japoneses publicaram uma declaração conjunta em que se manifestavam contra o despejo de água da central de Fukushima no mar, assinalando que a saúde da humanidade e a vida da Criação são os bens a proteger, lembra o portal “Vatican News”. E já a 25 de novembro de 2019, o Papa se encontrara com um grupo de vítimas do “triplo desastre” de 2011 – terramoto, tsunami e acidente nuclear –, no Bellesalle Hanzomon, um centro de convenções de Tóquio, pedindo a abolição das centrais nucleares.

O debate político que se desencadeou, no país, tem sido particularmente acirrado, com o governo do presidente Yoon Suk-yeol no centro de fortes críticas à aprovação de Tóquio. “Pretendemos responsabilizar o governo pelo não cumprimento dos seus deveres”, disse Lee Jae-myung, líder do Partido Democrata, qualificando o plano do Japão de despejar água da central de Fukushima de “um ato de terror”. E grupos ambientalistas, conselhos estudantis, organizações da sociedade civil manifestaram-se no Japão e, especialmente, na Coreia do Sul, onde a Federação Coreana para Movimentos Ambientalistas denunciou a medida de Tóquio, que “ameaça os produtos da pesca e põe em risco a segurança dos países do Pacífico”. E, nos últimos dias, a Federação promoveu marchas de rua e manifestações noturnas silenciosas, à luz de velas, com uma marcha pacífica em direção ao gabinete presidencial, afirmando que “o Japão está a provocar uma calamidade irreversível para a Coreia do Sul e [para] os países do Pacífico”, e definindo o despejo no mar da água de Fukushima como “um ato lento e silencioso de terrorismo nuclear”.

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A 11 de março de 2011, o Japão viveu o seu pior terramoto registado. Com magnitude 9,1 graus na escala de Richter, o sismo gerou tsunamis e o pior acidente nuclear desde Chernobyl, em 1986. O terramoto de Fukushima ou Grande Terramoto de Tohoku, na Região Nordeste do Japão, foi o mais intenso registado na História do país e um dos maiores do Mundo.

A causa foi uma movimentação na zona de falha na zona de subducção onde se forma Fossa do Japão, com epicentro a 130 quilómetros (km) da costa japonesa e hipocentro a cerca de 25 km de profundidade. O tremor ocasionou grandes ondas no litoral, entre elas o tsunami de Fukushima, que desencadeou um dos piores acidentes nucleares da História.

As ilhas que formam o país distribuem-se sobre quatro placas tectónicas: a do Pacífico, a das Filipinas, a Eurasiática e a de Okhotsk (microplaca que integra a placa Norte-Americana). A placa do Pacífico desloca-se horizontalmente na direção oeste em relação à placa Norte-Americana, mergulhando sob a segunda placa e causando soerguimento de parte dessa estrutura. A velocidade do movimento da placa do Pacífico é de aproximadamente 83 milímetros (mm) por ano. Estima-se que o movimento na zona de falha que gerou rutura e o tremor foi de 50 a 60 metros, em cerca de seis minutos, o que pesquisadores consideram o maior do tipo. O processo estendeu-se por uma faixa de 400 km de comprimento e 150 km de largura, na direção do mergulho de uma placa sob a outra). A energia total libertada equivale a 600 bombas atómicas como a de Hiroxima.

Dois dias antes, foi sentida, a cerca de 40 km do epicentro do terremoto de 11 de março, uma série de tremores com mais de 6 graus na escala Richter – o maior com 7,4.

O ponto da superfície terrestre em que o terramoto teve origem fica a 130 km da Península de Oshika, na Costa Leste da principal ilha do Japão, Honshu, onde fica a província de Fukushima. O hipocentro do sismo (local de origem no interior da crosta terrestre) estava à profundidade de 25 km, considerada rasa. Após o sismo principal, foram sentidas, em outras regiões, centenas de réplicas de magnitude variando de alta a moderada. A cidade de Sendai, a mais próxima do epicentro, foi uma das mais devastadas pelo terramoto e pelo tsunami, que sucedeu aos tremores.

O sismo foi responsável pelo deslocamento da costa do Japão e pela alteração entre 10 e 25 centímetros (cm) no eixo de rotação Terra, encurtando os dias em 1,8 microssegundos.

Além dos reflexos na estrutura do arquipélago e na tectónica da área, os abalos sísmicos de 2011 foram avassaladores para a população. Foi o sismo que ocasionou o maior número de vítimas no país, deixando 18.428 mortos e desaparecidos. A sequência terramoto, tsunami e acidente nuclear deixou enorme rasto de devastação. Os estragos incluem incêndios, explosões, danos na rede elétrica e interrupção do fornecimento de energia e destruição ou obstrução de estradas e vias. E uma das mais graves consequências do sismo foi a sequência de tsunamis que produziu na costa japonesa, atingindo ainda outros países do Pacífico. As maiores ondas superaram os 10 metros (m) de altura, e as águas adentraram dezenas de quilómetros pelo território japonês. A província de Fukushima foi atingida por uma onda de cerca de 14 m, e o avanço das águas prejudicou os geradores de apoio que estavam a ser usados para o resfriamento dos reatores da Central Nuclear de Fukushima I (Daiichi), levando ao derretimento de três.

Os desdobramentos do tsunami causaram o derretimento de três reatores da central a, levando à retirada de 300 mil moradores dos arredores. No dia seguinte, 12 de março, ocorreu a primeira de três explosões, tendo as outras ocorrido nos dias posteriores (14 e 15 de março), libertando altos índices de radiação no ambiente. A área evacuada, inicialmente, foi de 20 km. No entanto, tanto os solos da região como a água do mar foram atingidos, e ambos passam, ainda, pelo processo de descontaminação. Ao todo, foi evacuada a área de 1150 quilómetros quadrados (km²), dos quais 330 km² estão vazios e mais de 40 mil pessoas continuam longe das suas antigas residências.

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Em julho deste ano, em comunicado, a “Comissão para o Meio Ambiente e Ecologia” e a “Comissão de Justiça e Paz” da Conferência Episcopal Católica de Coreia do Sul, que, juntamente com 45 organizações diocesanas e da sociedade civil coreana, propõem a busca de alternativas ao despejo de água radioativa de Fukushima no oceano, referiam: “Na era da crise climática, neste momento em que estamos a contemplar e a trabalhar juntos para a transição rumo a um Mundo sustentável, o despejo de água radioativa de Fukushima no oceano é uma ameaça ao ecossistema da nossa Casa comum, a Terra.”  

Doze anos após o acidente na central nuclear decorrente do terramoto de 9,1 graus de magnitude, estimada como a contaminação radioativa mais grave da História da Humanidade, a central estava (em julho) a fazer os últimos preparativos para o lançamento de mais de um milhão de toneladas de águas residuais radioativas no Oceano Pacífico.

A TEPCO dizia ter concluído o processo para diluir as águas residuais, contendo o isótopo radioativo trítio com água do mar. O governo japonês, que contratou a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) para garantir a segurança dos procedimentos de descarga, ia definir uma data de libertação para as águas. Naqueles dias, Rafael Mariano Grossi, diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (IAEA) ou Agência Nuclear das Nações Unidas, estava no Japão, para se encontrar com líderes do governo e para os auxiliar nos preparativos finais para o lançamento de águas residuais radioativas no mar.

A água radioativa tratada, armazenada em cerca de mil tanques com capacidade aproximada de 1,37 milhões de toneladas, deve ser libertada para permitir que a central nuclear seja desativada. Segundo o governo, a água tratada após a diluição é inofensiva para as pessoas e para a vida marinha, mas a libertação planeada continua a dividir a comunidade internacional, preocupando as empresas locais, em Fukushima, e alimentando temores na indústria pesqueira do Japão.

Entre os inúmeros pareceres negativos e alarmes das últimas semanas, a nível nacional e internacional, o governo chinês pediu a suspensão do plano, por ser extremamente irresponsável, instando o Japão a levar a sério as preocupações internacionais e internas.

Também foram manifestadas preocupações pela Coreia do Sul, que não pretende remover as restrições à importação de produtos pesqueiros de Fukushima e de outras oito províncias japonesas. Em abril passado, o “Centro de Monitoramento de Radiação” e a “Federação Coreana de Movimentos Ambientais” divulgaram um relatório, após a realização de inspeções de produtos agrícolas e pecuários, a confirmar a extensa contaminação radioativa em vários tipos de produtos alimentícios, como produtos marinhos, produtos agrícolas, produtos de origem animal, alimentos processados. E, como se disse, dois organismos da Conferência Episcopal Católica de Coreia do Sul que, juntamente com um grupo de mais de 45 organizações diocesanas e da sociedade civil coreana, propõem a busca ativa de “caminhos alternativos ideais”, consideram o despejo de água radioativa de Fukushima no oceano como uma ameaça ao ecossistema da nossa Casa comum, a Terra, e uma rutura da ordem do Mundo, criado por Deus.

A sociedade civil pede ao Japão que “divulgue todos os dados, de forma transparente”, e que “faça o melhor possível para resolver o problema, reunindo sabedoria e força de países vizinhos amantes da paz e de pessoas de todo o Mundo”, em “atitude mais aberta”. Com efeito, o acidente da central nuclear de Fukushima está a espalhar poluição ambiental na Terra. Portanto, a fim de eliminar o risco de acidente e o risco de lixo nuclear em nível elevado, a Coreia e o Mundo devem-se empenhar, ativamente, na transição para energias renováveis ​​amigas do ambiente.

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Resta encontrar a alternativa (que ninguém especifica) ao escoamento das águas radioativas no Pacífico. Nos mares, contaminam as águas; em aterros contaminam o solo, as culturas ou a vegetação selvagem, podendo chegar aos lençóis freáticos; e, a céu aberto, contaminam os solos e o ar. E estamos perante um acidente provocado por causas naturais, quando também são graves (gravíssimos) os acidentes ecológicos provocados por guerras e por sabotagens terroristas, de que resultam inúmeras vítimas.

2023.08.26 – Louro de Carvalho 

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