quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Aumentaram as queixas contra entidades prestadoras de serviços

 

As reclamações dos munícipes contra as autarquias aumentaram 21% para 1528, entre janeiro e agosto deste ano, face a igual período de 2022, que registou 1261 denúncias, conforme dados do Portal da Queixa, de 29 de agosto. São mais 267 contestações. E, quanto ao volume mensal de reclamações mensal, no 1.º semestre, cada mês gerou perto de 200 queixas, tendo julho e agosto superado as 220 reclamações, com 255 e 221, respetivamente.

Pedro Lourenço, fundador do Portal da Queixa, pensa que a nova realidade digital potencia maior intervenção cívica dos munícipes na identificação de falhas, problemas e melhorias, passando “a capacidade de resposta e de resolução das autarquias” a ser “um forte barómetro da satisfação e da confiança dos cidadãos, face ao poder local”. Esta realidade exerce pressão acrescida ao trabalho dos candidatos eleitos, obrigando-os à atenção ao índice de satisfação dos munícipes, sob pena de penalização na reeleição, mercê do aumento do poder da opinião pública.

A câmara municipal (CM) de Lisboa, a de Almada e a de Loures estão no topo. O município da capital, com o volume de reclamações de 23,6%, equivalente à subida de 25%, face a 2022, lidera o ranking. Segue-se a CM de Almada, a acolher 12,8% das denúncias, um aumento de 14% em relação ao 2022. Em terceiro lugar e a absorver 5,2% das ocorrências, está a CM de Loures, com o crescimento de mais de 70% das reclamações. Na quarta posição, está a CM de Vila Nova de Gaia, alvo de 4,3% das queixas nos primeiros oitos meses do ano. Depois, vem a CM do Porto, com 3,8% das reclamações, tendo sido o município que registou o maior crescimento de reclamações: mais 107%, face ao período homólogo de 2022.

A falta de limpeza é a principal reclamação dos munícipes de Lisboa: 16,7% das ocorrências dizem-lhe respeito. Já no Porto, 41,6% das queixas têm a ver com a iluminação pública.

Quanto à performance das autarquias na resposta e na resolução dos problemas reportados, com os três melhores índices de satisfação (IS) estão a CM da Nazaré, com uma pontuação atribuída pelos consumidores de 90,8%; a CM de Sesimbra (89,6%) e a CM de Lagos (73,8%).

Relativamente às queixas por distrito, no topo continua a posicionar-se a CM de Lisboa, a recolher 63% das reclamações. Seguem-se a do Porto (10,1%) a de Braga (3,1%), a de Coimbra (3%) e a de Faro (2,8%). Contudo, este município algarvio foi o único que registou uma descida do número de queixas, face a 2022 (-20%).

Entre os cinco principais motivos de reclamação estão problemas relacionados com a falta de limpeza (22%), nomeadamente sobre falha de recolha de lixo e de limpeza de terrenos, motivo que cresceu 35%, em relação a 2022. Geram 15,8% das reclamações as obras mal executadas, a que se juntam demora, danos causados e trânsito condicionado pela intervenção – tema que sobe 12,9%. Provoca 7,2% das ocorrências a iluminação pública, sobretudo nos constrangimentos pela falta ou pela demora nas reparações, o que aumentou 10%, face a 2022. O barulho ocupa a fatia de 6,3% das queixas, denunciando os munícipes situações de ruído fora do horário legal. O tema cresce 8,5%, em comparação com 2022. Há 5,3% das queixas por falta de lugar para estacionar, por viaturas em lugar indevido ou por multa, superando em 25% o volume de 2022.

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Porém, não são as autarquias as únicas entidades que são objeto de queixa. Outras as acompanham neste panorama de insatisfação. Por exemplo, as reclamações dos utentes contra a Carris e contra a Carris Metropolitana aumentaram 150%, entre janeiro e 15 de agosto de 2023, face ao período homólogo de 2022, sendo a maioria das queixas relacionadas com atrasos. E, de acordo com o Portal da Queixa, alterações de carreiras e má conduta dos motoristas estão também entre os principais motivos que levaram os utentes a reclamar.

As queixas dos utentes da Carris e da Carris Metropolitana dispararam, sendo a carreira 3710 (entre Costa da Caparica (Terminal) – Lisboa (Areeiro) a mais apontada. Neste ano, já foram registadas na plataforma 1229 reclamações contra as duas, um aumento de 150%, em comparação com o período homólogo, que registou 492 queixas. A soma dá o total de 2183 ocorrências, tendo a Carris Metropolitana (iniciou a atividade em junho de 2022) 80% deste volume.

Entre janeiro e agosto de 2022, a Carris foi alvo de 382 queixas e, neste ano, somou 1009, verificando-se a subida de 164%. Já a Carris Metropolitana duplicou o número de reclamações: foram 110 as registadas, em 2022, face às 220 deste ano. Os meses de mais queixas na Carris Metropolitana foram janeiro (414), fevereiro (155) e março (108). E, nos meses da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), observaram-se 127 reclamações, de julho a 15 de agosto.

Os principais motivos das queixas são: os atrasos e as variações dos horários dos autocarros (53,8% das queixas); a alteração de carreiras (19%), queixando-se os consumidores de “mudanças nos percursos e a remoção de carreiras sem a substituição adequada”; a conduta dos motoristas (12,2% dos passageiros os denunciam), que “não respeitam paragens, cometem infrações de trânsito e conduzem os veículos de forma perigosa”; e a falta de autocarros (11,3% das queixas).

Segundo os indicadores de performance da Carris e da Carris Metropolitana no Portal da Queixa, a primeira tem o IS avaliado pelos consumidores como “Razoável”, com 58,7 pontos em 100, ao passo que a segunda tem um “Insatisfatório”, com 8,3 pontos em 100.

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As instituições de ensino superior (IEA) receberam, em 2023, mais de 100 queixas, mas só quatro acusados foram penalizados. A agência Lusa questionou universidades e institutos politécnicos (IP) sobre a existência de canais de denúncia para vítimas, número e tipo de queixas registadas e resultados. As 19 IES que responderam – 11 universidades e oito IP) – dizem ter recebido 154 queixas de assédio sexual, moral, de questões pedagógicas e de discriminação. As respostas mostraram que só duas instituições penalizaram os alvos de quatro queixas: três professores e um aluno. Todas as outras 150 não tiveram consequências para o agressor, havendo muitos casos em análise, outros arquivados e, pelo menos, uma história em que a vítima desistiu da queixa.

Pela primeira vez, tiveram efeito imediato denúncias de alunos: o IP do Porto instaurou processos disciplinares e suspendeu preventivamente três docentes por suspeitas de assédio a estudantes, na sequência de queixas e de reclamações recebidas (vinte e uma). O outro caso com penalizações para o agressor passou-se no Centro: um aluno do IP da Guarda agrediu um professor e foi temporariamente suspenso. O IP da Guarda é uma das IES que disse não ter canal de denúncia. As outras são a Universidade da Beira Interior (UBI) e o IP de Castelo Branco.

É nas IES mais antigas que está a grande maioria das queixas: a Universidade de Lisboa (UL) registou 60, a Universidade de Coimbra (UC) 36 e a Universidade do Porto (UP) 19.

Há um ano, a Faculdade de Direito da UL (FDUL) abriu um canal de denúncias e, em 11 dias, recebeu 50 queixas, mas nenhum dos casos de assédio chegou à barra dos tribunais. As denúncias, todas anónimas, deram azo a relatório enviado pela faculdade ao Ministério Público (MP), que “procedeu ao seu arquivamento”. Entretanto, a FDUL criou o Gabinete de Apoio à Vítima, a que chegaram 10 denúncias, de que resultaram três processos de inquérito analisados por instrutores externos, “que concluíram pelo seu arquivamento, por prescrição”.

A UC registou “36 reportes” desde a criação da plataforma, em junho de 2022, havendo dois casos de assédio moral e cinco de discriminação. A maioria foi arquivada por falta de elementos e duas participações de assédio moral levaram à instauração de procedimentos, mas um foi arquivado por “inexistência de condutas dessa natureza” e o outro está “em fase de instrução”.

A UP validou, desde junho de 2022, 19 queixas e reclamações, cinco das quais relacionadas com assédio moral e sexual, que levaram à abertura de processos de inquéritos ainda em curso.

No IP de Viseu, há duas queixas em análise, na Universidade do Algarve está em averiguação uma denúncia de assédio moral; e, na Universidade dos Açores, decorre um processo relacionado com questões pedagógicas. A Universidade da Madeira criou, em dezembro de 2022, o Portal do Denunciante, a que chegaram duas denúncias: uma “foi arquivada por falta de fundamento” e a outra está em análise. Mas há casos em que todas as queixas foram arquivadas, como aconteceu no IP de Bragança. E o IP de Coimbra considerou uma queixa de assédio moral resolvida, porque o denunciante desistiu do processo.

O assédio na academia não é de agora. E a ministra do Ensino Superior, Elvira Fortunato, apelou, há um ano, a que as IES desenvolvessem ações de prevenção e criassem mecanismos de denúncia, mas professores, investigadores e alunos, pela voz de sindicatos e de associações representativas de estudantes, criticam a criação de canais dentro das instituições, alertando para o perigo de as vítimas desistirem por temerem ser identificadas ou perseguidas. Por isso, defendem a existência de um canal de denúncias nacional, a funcionar de forma independente das IES.

A criação de instrumentos de denúncia não promove a queixa, como foi o caso do IP de Leiria, cuja plataforma digital começou a funcionar em fevereiro, mas todas as queixas de assédio são anteriores: duas de assédio moral e duas de assédio sexual, estando três arquivadas e um processo “em tramitação”. Também a Universidade do Minho e o IP de Portalegre, que têm canais de denúncia anteriores ao apelo da ministra, dizem nunca ter recebido qualquer queixa.

Na lista das IES sem cadastro estão ainda a UBI, a Universidade de Évora e a Universidade de Aveiro (UA). A UA tem vários instrumentos para denunciar situações de assédio sexual e moral, com a possibilidade de as queixas serem submetidas através do envio de email ao Reitor, do canal de comunicação Pergunta ao Reitor ou do canal de denúncias internas, que assegura o anonimato.

As informações das IES revelam tempos diferentes de ação e diferentes abordagens perante o mesmo problema, o que tem sido criticado pelos sindicatos.

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Embora os dados apontem uma evolução do nível de satisfação dos portugueses relativamente às marcas CTT e CTT Expresso – registando ambas uma melhoria nos indicadores de performance referentes à resposta aos problemas que lhe são reportados, bem como o crescimento do grau de retenção de clientes –, a existência de reclamações dirigidas às marcas também é uma realidade. Desde o início do ano até 8 de agosto, segundo o Portal da Queixa, as marcas CTT e CTT Expresso somaram 3853 reclamações, 64,2% das quais dirigidas à primeira e 35,8% à segunda. 

Entre os principais motivos de reclamação, estão os atrasos nas entregas, com 32,7% das queixas de 2023, valor que melhorou, em comparação a igual período de 2022, em que totalizou 33,9%. Encomenda não entregue é o segundo motivo mais reportado, a absorver 20.4% das queixas. A motivar 10,4% das reclamações está a entrega errada, a entrega feita em morada errada ou a destinatário desconhecido. Já as dificuldades no atendimento – contacto com o apoio ao cliente – foram responsáveis por 7% das queixas. E, a gerar 5,9% das reclamações, em 2023, está a entrega incompleta que ocorre quando apenas parte dos itens são efetivamente entregues.  

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Em relação à banca, entre 1 de janeiro e 21 de agosto, os clientes registaram 4614 queixas no Portal da Queixa, um crescimento de 34%, em comparação com igual período de 2022, onde se observaram 3442 reclamações. Situações com o Crédito à Habitação – com foco em problemas conexos com a renegociação – são o principal motivo de queixa dos clientes, a gerar perto de 20% das ocorrências – aumento significativo, face a igual período de 2022, com subida de 100%.

Entre os outros motivos estão: apoio ao cliente (18,9%), reclamando os clientes da falta ou da dificuldade em falar com a entidade bancária; reembolso (14,4%) ou reposição de valores debitados indevidamente na conta do cliente; problemas com a aplicação e Internet banking (13,9%); e constrangimentos na conta/cartão de crédito bloqueados (6,1%), alegando os clientes que não podem utilizar a conta ou o cartão de crédito, devido ao bloqueio imposto pela entidade.

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A amostra está longe de espelhar o que se passa no país, mas é significativa da falta de empenho em promover o bem comum, em servir e proteger o público utente dos serviços e em honrar os contratos. O povo, os utentes e os clientes merecem melhor.   

2023.08.30 – Louro de Carvalho

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