quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Cardeal Parolin no Sudão do Sul incentivou o processo de paz

 

O secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, que tinha passado os dias 11,12 e 23 de agosto em Angola, onde presidiu à ordenação episcopal do arcebispo Penemote, designado Núncio Apostólico no Paquistão, chegou a Juba, no dia 14, para uma visita ao Sudão do Sul, que se estendeu até ao dia 17. O cardeal passou o primeiro dia da visita em Juba.

O arcebispo Stephen Ameyu Martin Mulla, arcebispo de Juba, falou dos objetivos da visita do cardeal Secretário de Estado, em entrevista à media local, que foi transmitida no Facebook pela Rádio Bakhita, a estação de rádio católica da Arquidiocese de Juba.

O arcebispo Ameyu disse que o principal objetivo da passagem de Parolin pelo Sudão do Sul é visitar a Diocese de Malakal, visto que foi convidado pelo bispo Stephen Nyodho Ador Majwok para ver pessoalmente a situação local.

“Todos nós estamos familiarizados com a situação em Malakal: a questão dos desastres naturais, inundações e muitas outras coisas, juntamente com os desastres causados pelo homem”, disse o arcebispo, que assegurou: “Mas, agora, há também uma janela de oportunidade para a paz.”

E, vincando que o cardeal Parolin está a dar continuidade à missão de trabalhar pela paz que o Santo Padre confiou à Igreja e aos líderes políticos do Sudão do Sul, observou que esta é a segunda visita individual de Parolin à nação africana, chamando-a de expressão do amor do Papa pelo povo do Sudão do Sul. Com efeito, o Bispo de Roma visitou o país em fevereiro de 2023, após grandes esforços da parte da Igreja para procurar a paz entre as fações rivais.

O arcebispo de Juba lembrou o convite do Papa para que o governo e o povo do Sudão do Sul trabalhassem juntos. “Ele [o Papa] proferiu esta palavra – ‘juntos, juntos, juntos’ – três vezes, porque juntos significa unidade, disse o arcebispo, ‘juntos’ significa que somos capazes de experimentar a paz entre nós.”

Com relação ao processo de paz em andamento, o arcebispo Ameyu disse que a Igreja procura, constantemente, encorajar todos a aderirem aos protocolos do acordo de paz e convida os políticos a incorporarem a paz no tecido da sociedade do país. “Nós informamos as pessoas de que desempenhamos muitos papéis para concretizar a paz e a reconciliação entre o nosso povo. […] Não gritamos como profetas da desgraça. Gostaríamos de nos comprometer numa diplomacia tranquila.” E, referindo que as eleições devem ocorrer antes do final de 2024, observou que as eleições são “um dos componentes do acordo de paz revitalizado”.

Na manhã do primeiro dia da visita, Parolin encontrou-se com o cardeal Gabriel Zubeir Wako, arcebispo emérito de Cartum, na Nunciatura Apostólica, em Juba; depois, inaugurou uma placa memorial a lembrar a permanência do Papa Francisco na Nunciatura, de 3 a 5 de fevereiro de 2023, durante a sua Viagem Apostólica ao Sudão do Sul. E, à tarde, encontrou-se, em separado, com o presidente Salva Kiir Mayardit, com o primeiro vice-presidente Riek Machar e com o arcebispo Stephen Ameyu; e participou da cerimónia de plantio da árvore da paz.

Na verdade, na reunião com o presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, entregou-lhe uma mensagem do Papa. E, de acordo com fontes do governo local, ambos discutiram “uma ampla gama de questões relacionadas com a implementação da paz e com a preparação do país para as eleições gerais do próximo ano”. Parolin “convidou o povo do Sudão do Sul a abraçar o espírito de paz e de reconciliação, para construir uma sociedade harmoniosa no país”. Também na Catedral de Santa Teresa, em Juba, Parolin esteve e rezou com o Conselho de Igrejas do Sudão do Sul, órgão que reúne representantes católicos, presbiterianos, pentecostais e episcopais. E, depois, com a juventude ecuménica e crianças do país, plantou árvores num gesto de paz, destinado a ser um símbolo poderoso de esperança e de unidade para as gerações futuras.

***

No dia 15 de agosto, o cardeal Secretário de Estado celebrou a missa na Catedral de Malakal.

Malakal abriga um campo para pessoas deslocadas sob a proteção da Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul (UNMISS). O local foi construído, há quase 10 anos, para acolher até 12 mil deslocados internos, mas, hoje, tem 37 mil residentes. Com efeito, a crise de refugiados no país, continua a ser a maior da África, com 2,3 milhões de pessoas a viver como refugiados em países vizinhos e outros 2,2 milhões de deslocados internos. O país continua a sofrer o legado da guerra civil, dos conflitos étnicos persistentes e, mais recentemente, dos impactos devastadores da mudança climática, deixando milhões de pessoas necessitadas de assistência.

Durante a missa na Catedral de Malakal, Parolin exprimiu a proximidade do Papa, o pensamento nos milhares de pessoas deslocadas e a oração pelo fim dos conflitos.

“Maria Assunta ao céu é um sinal de consolação e esperança e devemos olhar para Ela enquanto peregrinamos na terra, enquanto experimentamos a ação do mal, como a guerra em curso na Ucrânia, no Sudão e em tantas outras partes da África, bem como o mal da guerra civil sofrida pelo Sudão do Sul, um país que ainda está a lutar pela cura das suas feridas”. Foram palavras o secretário de Estado do Vaticano, falando aos Sudaneses do Sul, durante a missa celebrada no Dia da Assunção, na Catedral de Malakal, durante o segundo dia de visita a este país.

Aos presentes na missa, entre outros os deslocados de Malakal e os repatriados que fugiram do conflito no Sudão, o cardeal levou a proximidade, as orações e a bênção do Papa Francisco: falou-lhes das recordações que o Papa tem da sua visita e de como o Bispo de Roma traz este povo no seu coração, com as suas dificuldades e feridas, as suas expectativas e esperanças.

“Aqui”, disse Parolin, na homilia, “vós sofrestes e experimentastes, em primeira mão, conflitos, tensões, fome, insegurança, enchentes, conflitos étnicos, lutas pelo poder e jogos políticos”.  E interpelou Deus: “Até quando, Senhor, teremos que sofrer todos esses males?  Quando a paz e a serenidade voltarão às nossas comunidades?  Os gritos das mães, avós e inocentes rasgam os céus.  Por quanto tempo, Senhor?” O cardeal pensa nos milhares de pessoas deslocadas e cita a “grande chaga da vingança” que está a destruir as comunidades. Foi em Malakal que 13 pessoas morreram no início de junho, num violento confronto intercomunitário dentro de um campo para pessoas deslocadas, administrado pela Unimiss.

Não obstante, quis tranquilizar os fiéis com as suas palavras: o mal não tem a última palavra e não vence sempre. A figura da Assunção é uma garantia disso perante o Mundo: é “um sinal de consolação e de esperança que hoje ilumina as trevas e a obscuridade da vida”.  E a esperança é “muito necessária” em Malakal, como no resto do país, no vizinho Sudão e em todo o Mundo. Novamente, recordou o encontro do Papa com as pessoas deslocadas em Juba, quando Francisco lhes pediu que fossem sementes de esperança, “a semente de um novo Sudão do Sul, uma semente para o crescimento fértil e florescente deste país”.  O convite do Papa foi para não “responder ao mal com mais mal”, para escolher a fraternidade e o perdão, para cultivar “um amanhã melhor”, para cooperar e iniciar caminhos de reconciliação, com qualquer pessoa que, embora diferente “por etnia e origem”, continua a ser um vizinho.

No dia 16, pela manhã, o cardeal Parolin celebrou a missa na residência do bispo, em Malakal, visitou a escola e o seminário menor St. Charles Lwanga e reuniu-se com as comunidades dos chefes tradicionais do Alto Nilo. À tarde, encontrou-se com autoridades e com funcionários da UNMISS, a missão de paz das Nações Unidas no Sudão do Sul; e, depois, encontrou-se com padres, religiosos, religiosas e seminaristas da Diocese de Malakal.

No dia 17, quarto e último dia no Sudão do Sul para o cardeal secretário de Estado, que chegou a Juba no dia 14, de manhã, procedeu-se ao acolhimento em Rumbek, no Estado dos Lagos, seguido da Missa pela paz e pela reconciliação, animada por cânticos e danças tradicionais.

“É tempo de virar a página”, para dar espaço à justiça e à paz. O cardeal Pietro Parolin citou o Papa Francisco e pronunciou palavras cheias de esperança em Rumbek, no Sudão do Sul, durante a Missa pela paz e pela reconciliação.

No Senhor Jesus – que, após a sua morte na cruz e a ressurreição, apareceu entre os discípulos assustados dizendo-lhes “a paz convosco” – todo o medo pode ser transformado. Hoje essas palavras, continuou o cardeal, “são dirigidas a nós”.

A ausência de justiça e de paz, observou, gera “medos e sentimentos de impotência”: quando o medo prevalece, cede-se à tentação de “colocar a confiança mais nas próprias armas do que no poder do perdão”, de confiar “mais nos nossos meios do que na transformação que vem do Senhor ressuscitado”, tornando-nos incapazes de nos comprometermos com a justiça e com a paz, para construirmos uma comunidade mais fraterna. Alargam-se as causas da discórdia, como as desigualdades económicas, cedemos à ira, à desconfiança, ao orgulho e ao egoísmo.

“O medo também pode surgir de dentro de nós mesmos, da realidade do pecado, mas Cristo expulsou o pecado, venceu o medo, revelou o amor perfeito, frisou o cardeal Parolin, fazendo um apelo à comunidade eclesial que “faz parte da sociedade humana e traz consigo a mesmas dificuldades e contradições”.

“A Igreja é a esposa de Cristo, não uma agência humanitária ou uma empresa”, continuou: “Fazemos parte da Igreja, porque Deus nos chamou, confiando-nos o ministério da reconciliação”. Alguém não se torna membro da Igreja por contrato, como numa empresa, ou por atribuições de projetos no âmbito da educação ou da saúde. “Somos servidores do Evangelho – afirmou Parolin – pertencemos uns aos outros pela nossa fé cristã”, “independentemente da nossa proveniência ou tribo de pertença”. Assim, qualquer dano causado a uma única pessoa, “a um irmão ou a uma irmã, prejudica toda a sociedade”, continuou, exortando a renunciar à violência como meio de resolver as diferenças: “é o perdão, obtido de Cristo na cruz, a chave para a justiça e a paz”. A não-violência “é a única forma de superar as divisões dentro de uma comunidade”.

O cardeal Parolin recordou – citando as palavras do Papa Francisco na sua  visita ao país, em fevereiro passado – que, fazendo-se pequeno e deixando espaço para o próximo no qual se reconhece um irmão, torna-se grande aos olhos do Senhor.

Forte foi o apelo a abandonar os ídolos da honra pessoal e do prestígio, para ir além das diferenças e da pertença a grupos étnicos. Ser Igreja, acrescentou Parolin, não significa apenas ter recebido o batismo ou participar passivamente nalguma celebração. Daí a exortação a receber, com frequência, os sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação, a valorizar o compromisso cristão no matrimónio ou na vida consagrada: “A família é a primeira escola da sociedade e a vida religiosa é vital para a missão da Igreja, chamada para servir, não para mandar.”

“Tende coragem”, exortou o secretário de Estado: “Este é o momento de vos comprometerdes, vejo o vosso entusiasmo, o vosso potencial e o desejo de vos envolverdes.”

***

Na manhã do último dia, assim que desceu do avião, em Rumbek, Parolin foi acolhido com aplausos e homenageado pelos habitantes da diocese, com expressões de afeto e coroas de flores. Interpelado por um jornalista, logo expressou a sua alegria por estar, novamente, no país: “Estou a tornar-me um cidadão do Sudão do Sul. É sempre um prazer estar aqui”, afirmou, especificando que a sua viagem se realiza no seguimento da visita ecuménica do Papa Francisco, em fevereiro passado com o arcebispo de Canterbury e com o moderador da Igreja Presbiteriana da Escócia, “para promover, fortalecer e encorajar o processo de paz, reconciliação e paz no Sudão do Sul”.

O secretário de Estado recordou, então, que, no dia 15, Solenidade da Assunção de Maria, estivera em Malakal, local onde “o problema dos deslocados e refugiados é muito crítico”. Em seguida, explicou que aceitou, com alegria, o convite do bispo de Rumbek para visitar a sua diocese para um “momento de fé, oração, comunhão na Igreja”. É a solidariedade eclesial na hierarquia!

2023.08.17 – Louro de Carvalho

Sem comentários:

Enviar um comentário