sábado, 12 de agosto de 2023

Preço da eletricidade inverte tendência e dispara 15,41% em julho

  

Apesar de ter abrandado o aumento dos preços, a maioria dos produtos continua a registar uma subida e só uma pequena parte rumou em sentido contrário, mas com algumas grandes quedas, a nível homólogo, ou seja, comparando julho de 2023 com julho de 2022. Já a nível mensal, ou seja, comparando julho com junho deste ano, mais de metade dos produtos ou registou uma descida no preço ou não teve qualquer variação.

São algumas das verificações do Instituto Nacional de Estatística (INE) apresentadas no passado dia 10 de agosto.

Também, segundo o INE, em julho, a inflação fixou-se em 3,1% (em junho era de 3,4%), tendo recuado 0,3%. Está, portanto, longe do máximo registado em outubro de 2022, que era de 10,1%. É a nona descida mensal consecutiva desde novembro, mês em que registou a taxa de 9,9%.

Porém, a variação dos preços foi diferente de produto para produto. E a eletricidade destaca-se, pois o seu preço está entre os que mais caíram, face a julho de 2022, mas foi o que mais subiu, face a junho de 2023.

Por seu turno, a taxa de inflação homóloga, medida pelo índice de preços no consumidor (IPC), caiu pelo nono mês consecutivo, mas a variação não foi igual em todos os produtos.

De acordo com o boletim do INE, a variação homóloga do IPC diminuiu para 3,1%, em julho, taxa inferior em 0,3% à observada no mês anterior. Esta desaceleração está parcialmente associada a um decréscimo de preços verificado na classe dos produtos alimentares e bebidas não alcoólicas.

O indicador de inflação subjacente (que exclui produtos alimentares não transformados e energéticos) teve uma variação de 4,7%, face aos 5,3% de junho. A variação do índice relativo aos produtos energéticos situou-se em -14,9% (-18,8% no mês precedente) e o índice referente aos produtos alimentares não transformados desacelerou para 6,8% (era de 8,5% no mês anterior).

A variação mensal do IPC foi -0,4% (foi 0,3%, no mês precedente, e nula, em julho de 2022), tendo a variação média dos últimos 12 meses sido de 7,3% (7,8% em junho).

índice harmonizado de preços no consumidor (IHPC) português regista uma variação homóloga de 4,3%, valor inferior em 0,4% ao registado no mês anterior e inferior em 1% ao valor estimado pelo Eurostat para a Zona Euro (em junho, esta diferença foi 0,8%). Excluindo produtos alimentares não transformados e energéticos, o IHPC em Portugal atingiu uma variação homóloga de 6,2%, em julho (6,9% em junho), inferior à taxa correspondente para a área do Euro (estimada em 6,6%). O IHPC registou uma variação mensal de -0,4% (0,4%, no mês anterior, e nula, em julho de 2022) e uma variação média dos últimos 12 meses de 8,0% (8,4% no mês precedente). 

Com uma subida de 15,41%, a eletricidade foi o produto com o maior aumento de preços, face a junho deste ano, embora esteja entre os que mais caíram, face a julho de 2022. Aliás, o próprio INE releva que a eletricidade foi o produto que mais pesou no índice a nível mensal (com um contributo de 0,372%), impedindo uma variação negativa mais acentuada.

A grande razão para esta subida da eletricidade terá sido a revisão extraordinária das tarifas de acesso às redes (TAR), o que fez com que algumas faturas, em julho, tenham ficado mais pesadas, situação que se manterá.

TAR visa apoiar os custos associados ao transporte, distribuição de energia elétrica e outros custos de interesse económico geral (CIEG), entre os quais se incluem: o plano de promoção da eficiência no consumo (PPEC) de energia elétrica; medidas de sustentabilidade; custos associados à compra da produção das renováveis e da cogeração de outros anos; e rendas de concessão pela distribuição em baixa tensão.

É uma taxa paga por todos os consumidores, quer do mercado regulado, quer do mercado liberalizado, e é definida pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), que tem em consideração  a soma das tarifas de uso global do sistema, de uso da rede de transporte, de uso da rede de distribuição e de operação logística de mudança de comercializador.

Para 2023, a ERSE propôs valores negativos para as TAR. Ou seja, uma descida de 419,8%, em relação ao proposto no período homólogo (dezembro de 2022), que beneficia os clientes particulares – redução que foi possível, não porque os custos associados à tarifa (transporte, distribuição, entre outros) tenham passado a negativo, mas porque o governo tem apoiado financeiramente o sistema elétrico nacional, para fazer face aos preços do mercado grossista, uma atuação complementar ao Mecanismo de Ajuste Ibérico e, no total, segundo o governo, foram mobilizados 4,5 mil milhões de euros para mitigar os preços da energia.

Porém, a 15 de junho deste ano, a ERSE confirmou que as TAR seriam de -0,0121 euros por kilowatt/hora (kWh), na componente de energia. Embora, continuem a ser negativas, contrastam com as que vigoraram entre janeiro de julho, -0,0958 euros por kWh, isto para um cliente de baixa tensão normal, ciclo simples.  

Esta redução de apoio tem um impacto direto na componente variável da energia (€/kWh), o designado termo de energia, pelo que as famílias que mais consomem sentirão mais este “aumento” das TAR nas faturas de energia, apesar de o aumento ser generalizado e transversal. 

Além da eletricidade, as “férias organizadas” e os “transportes aéreos de passageiros” também registaram variações positivas acentuadas – estão 13,6% e 8,8% mais caras, do que em junho, respetivamente. Seguiram-se os “combustíveis líquidos (para aquecimento)” (3,52%) e “seguros relacionados com a saúde” (2,5%).

Não obstante, entre as cinco maiores subidas de preços, a nível mensal, a diferença é grande entre os que se posicionam em terceiro e em quarto lugar.

Já entre os produtos que mais contribuíram para a inflação mensal ter baixado tanto, contam-se, maioritariamente, o vestuário e o calçado. “Artigos de vestuário” foi o produto que viu a maior queda de preços (14,88%), seguido de “outros artigos e acessórios de vestuário” (11,08%), vindo, depois, o calçado (8,88%). Todavia, é de salientar que julho é um mês, tradicionalmente, marcado pelos saldos de verão. Por sua vez, a nível homólogo, a maioria dos produtos ainda registou um aumento dos preços. Olhando para cada um dos produtos presentes na base de dados do INE, houve uma descida em 20 (de um total de 89 disponíveis).

O pódio das maiores quedas dos preços é composto pelos combustíveis líquidos (para aquecimento), com uma queda superior a 22%; pelos combustíveis para transporte (como gasóleo e gasolina), em que houve uma descida de mais de 18%; e, pela eletricidade que, apesar da subida mensal superior a 15%, registou uma queda de 17,9%, a nível anual.

Contudo, entre os cinco produtos que mais subiram de preços, face a 2022, é de relevar que quatro deles fazem parte de bens alimentares ou de bebidas.

Os produtos de açúcar e doces foram os que viram a maior subida de preços (18,9%), logo seguidos dos “produtos hortícolas” (14,9%) e das “frutas” (14,6%), incluindo-se, nestes dois, produtos que fazem parte do cabaz IVA Zero, implementado pelo governo para controlar a subida dos preços. Contam-se, ainda, “água mineral, refrigerantes e sumos de frutas e de produtos hortícolas” (13,9%) e “serviços de alojamento” (13,7%).

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Outra matéria que merece atenção é a atinente ao petróleo bruto.

A produção de petróleo bruto da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) caiu 3%, em julho, para 27 310 milhões de barris por dia, menos 836.000 do que em junho, segundo estimativas divulgadas pela organização, a 10 de agosto.

O relatório mensal da OPEP revela que a queda acentuada se deveu ao corte aplicado pela Arábia Saudita à sua produção, que é um dos principais fatores do aumento do preço do “ouro negro”, em julho, continuando a fazê-lo em agosto, o que gera o aumento de preço. Na sua média mensal, o preço do barril de Brent, de referência para a Europa, foi de 80,16 dólares, em julho, representando um aumento de mais de cinco dólares ou quase 7%, em relação à média de junho. Ainda mais elevados, em 7,8% (para 5,87 dólares) e 8,2% (para 5,76 dólares), foram os aumentos do barril de referência da OPEP e do West Texas Intermediate (WTI, a referência norte-americana), que foram vendidos em média a 81,06 dólares e 76,03 dólares, respetivamente.

A tendência de subida sustentada tem-se mantido nas últimas semanas, com o WTI a negociar acima dos 83 dólares, enquanto o Brent está acima dos 87 dólares e o petróleo da OPEP está perto dos 90 dólares.

De acordo com os dados do relatório baseados em “fontes secundárias”, ou seja, em estimativas de institutos independentes, a Arábia Saudita produziu 9,02 milhões de barris, por dia, em julho, menos 968 mil barris (ou menos), por dia, quase 10% menos do que em junho – números que diferem muito pouco dos oficiais transmitidos pelo reino wahhabita.

Com este corte, Riade cumpriu, quase a 100%, a sua decisão de aplicar uma redução adicional e voluntária de um milhão de barris de petróleo, em julho, para apoiar os preços, uma medida que já foi alargada a agosto e setembro. E, juntamente com a queda das extrações líbias (-52.000 barris por dia), mais do que compensou os aumentos de outros parceiros, como o Irão (+68.000 barris por dia), Angola (+56.000 barris por dia) e Venezuela (+37.000 barris por dia).

Além do corte suplementar saudita e da promessa da Rússia de reduzir, igualmente, as suas exportações, entre julho e setembro, a aliança OPEP+, formada pelos 13 parceiros da OPEP e por 10 países aliados, mantém em vigor reduções de produção num total de 3,6 milhões de barris, por dia, cerca de 3,6% da produção mundial de petróleo.

Estas reduções foram adotadas em outubro e abril últimos, mas só começaram a produzir o efeito desejado de aumento dos preços em meados deste ano.

De acordo com os peritos da OPEP, o aumento do consumo de gasolina, devido à maior mobilidade durante as férias de verão, no hemisfério norte, e a procura de combustível, no Médio Oriente, contribuíram para o aumento dos preços do petróleo, em julho.

Outro fator para a alta de preços são as baixas reservas de produtos petrolíferos nos países consumidores. “Apesar do elevado nível atual de operações das refinarias, as existências de gasolina e de destilados médios permanecem muito abaixo do nível médio dos últimos cinco anos nos EUA [Estados Unidos da América] e na Europa”, observam os peritos.

“Olhando para o futuro”, a OPEP considera que a manutenção das refinarias “e as possíveis interrupções da produção, durante a época dos furacões nos EUA, poderão apertar o mercado da bacia atlântica”. E esclarece que esta perspetiva, associada ao encerramento das torneiras da OPEP+, contribuirá para manter elevados os preços do petróleo que, apesar da sua forte subida, ainda estão abaixo do nível de há um ano, quando se situavam acima dos 100 dólares por barril.

E o relatório aponta para a procura de uma média de 102,01 milhões de barris, por dia, em 2023 e de 104,25 milhões, por dia, em 2024, mantendo inalteradas as previsões de há um mês.

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Adicionalmente, é de relevar que, em julho, a inflação nos EUA (a considerada maior economia do Mundo) subiu para 3,2%, invertendo a tendência de abrandamento; no mesmo mês, a economia chinesa regista deflação, mas a inflação sobe para 47,8%, na Turquia; e a inflação desce para 5,3%, na Zona Euro, mas o Banco Central Europeu teima na subida de juros, com a Alemanha (a maior economia europeia) em recessão. Serão mesmo as leis do mercado?!

Que Mundo desigual, onde se prega paz, igualdade, justiça social e prosperidade!

2023.08.12 – Louro de Carvalho

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