segunda-feira, 1 de abril de 2019

Temos de estar em constante discernimento ante os sinais dos tempos


É um alerta de Dom José Domingo Ulloa, Arcebispo do Panamá, que esteve no Santuário de Fátima de passagem para a cidade do Porto, onde participou como coordinante na ordenação episcopal de Dom Américo Aguiar, bispo titular de Dagno e auxiliar de Lisboa.
Rezou na Capelinha das Aparições e respondeu a algumas questões que a Sala de Imprensa do Santuário lhe colocou e de que se destacam o enunciado vertido em epígrafe e o que justifica uma ligação, espécie de ponte entre a JMJ (Jornada Mundial da Juventude) do Panamá, no passado mês de janeiro, e a que vai realizar-se em 2022 em Lisboa – o papel de Maria entre os jovens.   
Efetivamente, sobre a importância da Virgem Peregrina, diz que “levou a luz de Fátima ao mundo e agora acende-a em Portugal para todo o mundo”. E, falando sobre a JMJ do Panamá, encareceu a importância da presença da Virgem Peregrina diante dos jovens.
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Segundo o prelado panamiano, o convite para a presença da Imagem da Virgem Peregrina de Fátima na Jornada Mundial da Juventude do Panamá não surgiu por acaso, foi mesmo bem pensado e premeditado. Com efeito, como refere, logo que foi anunciada, a 31 de julho de 2016, em Cracóvia, “a escolha do Panamá como o lugar que acolheria a Jornada Mundial da Juventude 2019, tendo em consideração que este povo é tão mariano e desde logo que a Virgem de Fátima estava – e está! – tão enraizada no coração deste povo”, a organização descobriu a necessidade de colocar esta jornada nas mãos de Maria.
No tocante ao desenrolar de todo o processo, o Arcebispo revelou que, três dias depois do anúncio (no dia 3 de agosto), estivera na audiência geral e disse ao Papa que o grande presente que “poderia dar ao povo do Panamá e a todo o povo latino-americano seria a invocação mariana para esta jornada”. E lembrou que há vários motivos para estas escolhas:
Somos a primeira diocese em terra firme com invocação mariana, concretamente de Santa Maria la Antigua. Mas somos marianos com uma especial devoção a Nossa Senhora de Fátima. É preciso recordar, ainda, que estávamos em véspera do ano do Centenário, ano (2017) em que tivemos a visita da Virgem Peregrina ao Panamá.”.
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Na verdade, Santa Maria La Antigua é a Virgem Padroeira do Panamá. A sua imagem representa Nossa Senhora com o Menino Jesus e uma rosa branca; e a sua festa é celebrada no dia 9 de setembro.
A história conta que a imagem mariana estava numa capela lateral da Catedral de Sevilha, em Espanha, que foi reconstruída no século XIV e de que se conservou apenas a parede onde estava a imagem, por isso que é chamada Santa Maria de la Antigua.
Na América, em 1510, os conquistadores Vasco Núñez de Balboa e Martín Fernández de Enciso fundaram, em homenagem a esta devoção, a cidade de Santa Maria la Antigua de Darién (atualmente território colombiano), que foi a primeira diocese em terra firme. E, em 1524, o segundo bispo dessa diocese, o dominicano Frei Vicente Peraza transferiu a sede diocesana para a recém-fundada Cidade do Panamá, nas margens do Pacífico.
Santa Maria la Antigua é a padroeira da catedral e da Diocese do Panamá desde 1513, mas foi recentemente, a 9 de setembro de 2000, Ano Santo Jubilar, que a Conferência Episcopal Panamenha a proclamou padroeira do país e solicitou à Santa Sé o reconhecimento oficial dessa proclamação, pedido aceite, em 27 de fevereiro de 2001, pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.
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Mas, voltando à visita da imagem da Virgem Peregrina ao Panamá em 2016…
… Enfatiza Dom José Domingo que “esta visita foi uma das que mais tocou o coração do povo do Panamá” e, quando terminou, sentira que tinham de pedir a Fátima que se fizesse novamente presente na Jornada Mundial da Juventude, esse “momento tão especial para o Panamá, para a juventude do Panamá”.
A 11 de fevereiro de 2018, memória litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes, o Papa inscreveu-se na Jornada e, ao meio dia desse mesmo dia, o Panamá recebe a comunicação do Santuário de Fátima a confirmar a presença da Imagem da Virgem Peregrina. E foram estes os peregrinos número 1 e número 2 destas jornadas.
No âmbito da preparação da JMJ, diz o prelado que “as jornadas sempre tiveram em conta os jovens e o papel das mulheres”, pois a Igreja panamenha – aliás, “esta é uma visão a partir da América Latina” – está convicta de que “não se pode pensar a Igreja sem a participação efetiva e a presença das mulheres na Igreja”. Por isso, seguindo “Maria, a eterna jovem que foi capaz de dizer ‘sim’, invocámo-la do ponto de vista vocacional” – assegura Dom Ulloa, que garante: 
Toda a jornada foi preparada em função de Maria. E até o Sínodo dos jovens nos ajudou nesta preparação de uma Igreja voltada para a juventude a partir do exemplo de Maria, uma jovem que disse ‘sim’ sem reservas. Também tivemos uma ajuda imensa do Apostolado Mundial de Fátima, um grupo dedicado que, durante um ano e meio, fez tudo para ajudar nesta grande jornada Mariana, promovendo desde logo a devoção dos primeiros sábados.”.
Sobre a grande exigência duma preparação da Jornada Mundial da Juventude e da experiência panamenha, destaca:
A melhor estratégia para a organização de um evento como este é colocá-lo nas mãos de Deus e pedir a intercessão de Maria. Temos de fazer tudo o que é possível do ponto de vista humano, mas é a providência que nos protege. Por isso, o que é preciso é pedirmos a Maria e, através da sua intercessão, esperar pela ajuda de Deus. A Jornada Mundial da Juventude, como tudo na nossa vida, é obra Dele.”. 
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Depois, ver o santo Padre diante da Imagem da Virgem Peregrina de Fátima concitou um sentimento muito forte e o Pastor panamenho rezou pensando: “Mãe, esta obra que é Tua está a comover o mundo”. E foi muito comovente ver o Sumo Pontífice a rezar num profundo silêncio diante daquela Imagem da Virgem. Foi mesmo “a confirmação de que esta hora da Igreja, comprometida neste projeto com a juventude, está nas mãos de Maria, a grande Influencer da juventude”. E o Panamá viu, “com a emoção dos jovens, que Maria lhes conquistou o coração”.
Com efeito, depois de o Papa ter estado diante da Imagem, sem velas e com telemóveis, a noite da Vigília foi marcada pela procissão das velas a acompanhar a Imagem da Virgem Peregrina, o que – diz o Arcebispo – “foi um mar de luz”. E Dom Ulloa confessa:
Fiquei muito comovido: ver o santo Padre a rezar diante da Virgem, mas sobretudo ver a alegria dos jovens diante de Nossa Senhora de Fátima e ver nos seus olhos e nas suas expressões como a Mãe lhes encheu o coração... foi extraordinário. A Virgem de Fátima é sempre um tema que tem de ser ressalvado quando falamos da Jornada Mundial da Juventude e, sobretudo, desta em particular.”.
Anuindo à asserção de quem orientou a entrevista de que esse momento terá sido porventura a confirmação de que as opções da presença da Virgem Peregrina de Fátima tinham sido as mais acertadas”, porfiou que tudo o que fizeram fora sem saberem “que Portugal iria receber a próxima Jornada Mundial da Juventude”. Mas, sabendo que não há acasos nem meras coincidências, revelou que, ao falar-se do assunto, foi mais um tema que deu bastante alegria. Com efeito “a Mãe que nós levámos até junto da juventude mundial no Panamá é a mesma mãe que vai trazer a cruz da Jornada Mundial da Juventude à sua nova morada”, ou seja, “Maria fez-se presente no outro lado do mundo, para regressar com todos os seus filhos a Fátima e a Portugal – disse perentoriamente.
Mas não se ficou por estas afirmações. Antes adiantou que “Maria sempre ocupou um lugar central na Jornada Mundial da Juventude, mas que esse papel será ainda muito mais forte em 2022”, pois torna-se “impensável” a organização do grande evento sem a presença de Nossa Senhora de Fátima”, que “é a Mãe que nos protege e abraça”, o que Lisboa só confirmará. De facto, “Ela levou a luz de Fátima ao Mundo e agora acende-a em Portugal para todo o mundo”.
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Ainda discorreu sobre a importância de Fátima no Mundo referindo que “um dos grandes conteúdos da Mensagem de Fátima é a conversão”. Nesse sentido, precisou:
Fátima convida-nos a recriar a necessidade e o desejo de mudança em ordem a que a palavra que escutamos nos invada o coração e alimente os nossos gestos. Tem de haver esta sintonia entre a palavra que anunciamos e os gestos da nossa vida.”.
É na relação com a conversão e na sintonia entre a prática e a palavra que o Arcebispo formulou o enunciado vertido na epígrafe do presente texto, quando atesta que “esta [a mudança e a sintonia entre palavra e vida] é a raiz da Mensagem de Fátima que nos remete para um convite permanente à conversão, a sermos íntimos de Deus, a começar por nós, hierarquia da Igreja, que temos de estar em constante discernimento diante dos sinais dos tempos”.
E é por ter no centro a conversão – “com outros ingredientes que remetem para a infância, para a humildade, para a sensibilidade dos pequenos, dos mais fracos, dos oprimidos, dos pobres de coração” – que é muito atual a Mensagem de Fátima que “nos é dirigida a todos: bispos, padres, leigos, jovens e menos jovens”. Depois, um outro fator de atualidade da Mensagem é a oração como caminho; e o hierarca vinca, no quadro do aperfeiçoamento pessoal e do labor apostólico:
Temos de rezar muito para que o nosso coração se converta e assim consigamos ajudar outros a converterem-se”.
Com efeito, a Mensagem, convidando-nos à oração – falar e escutar Deus na maior intimidade –“é um itinerário que nos ajuda a libertar o nosso coração de coisas que não interessam e estarmos mais livres para dar a Deus o lugar de Deus”. E constitui um imperativo a oração pela Paz num mundo ferido e que espera a misericórdia de Deus, devendo os obreiros eclesiais ser testemunhas e arautos da misericórdia. Sublinha Dom Ulloa:
A Mensagem de Fátima é sempre atual porque nos alerta para um mundo ferido, um mundo que está ferido porque nós estamos feridos. E cada um de nós tem de se converter porque cada um de nós tem esta missão. Por isso, diante do mundo concreto de hoje, a Mensagem de Fátima ajuda-nos a purificar o coração dos homens. E este é o terceiro elemento que gostava de destacar: a misericórdia. Em Fátima, através desta presença materna de Nossa Senhora sentimos que há sempre um coração grande que nos acolhe, por piores que sejam os males do mundo.”.
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Por fim, como a JMJ do Panamá se realizou entre dois Sínodos dos Bispos, o dos jovens e o da Amazónia, deixa, a pedido, uma palavra sobre a oportunidade, referindo que “a Amazónia é apenas um lugar, importante, mas apenas um lugar”. Nestes termos, o Sínodo constituirá “uma mensagem que Deus nos envia”, ou seja, “a partir de povos martirizados, o Senhor fala para o mundo inteiro”. Assim, dali “sairá a luz para o mundo inteiro sobre a necessidade de tomarmos consciência de que todos temos a obrigação de cuidar desta casa comum” – disse.
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Por falarmos de conversão, oração, misericórdia e paz – tetranómio nuclear da Mensagem de Fátima –, não fica descabido acolher algumas das palavras do Vice-reitor do Santuário de Fátima, que desafiou, no passado domingo, dia 31, os peregrinos a olharem o próximo como Jesus olha para cada um de nós “sem etiquetas e como pessoas amadas”.

Com efeito, na Missa Internacional a que presidiu na Basílica da Santíssima Trindade, no domingo da alegria, o 4.º da Quaresma (chamado “Domingo Laetare”, denominação ligada à Antífona de Entrada da Eucaristia, “Laetare, Ierusalem” – Alegra-te, Jerusalém), o padre Vítor Coutinho pediu aos milhares de participantes – com particular destaque para o grupo mobilizado pela Peregrinação Nacional dos Amigos do Verbo Divino, que se fizeram anunciar – que olhassem os seus semelhantes com os olhos de Jesus, límpidos e compassivos, que transportam misericórdia e ternura em vez de distância, julgamento, censura e condenação. E explanou:

Jesus nunca vê mais nada além de pessoas, pessoas amadas. Jesus não vê etiquetas, mas pessoas amadas por Deus e este olhar dá a cada pessoa a oportunidade de dar passos na vida; este olhar dá a cada um a possibilidade de não ficar fechado na imagem que tem de si mesmo ou na que os outros fazem dele.”.
A partir do Evangelho do dia – a parábola do Pai misericordioso que tinha dois filhos: o pródigo e o que não abandonou a casa paterna – onde se releva o amor paciente e sempre acolhedor do Pai, independentemente do itinerário de vida de cada um, os peregrinos foram instados pelo sacerdote celebrante a fazerem uma verdadeira comunhão com Deus. Na verdade, como sublinhou, o olhar do pai sobre o filho pródigo “é o olhar de Jesus que não tem paralelo no mundo de hoje”, sendo que, “tal como o pai da parábola acolhe o filho faminto e pecador”, que se converte e reza confessando, arrependido o seu pecado, também “Jesus acolhe todos os que dele se aproximam e querem com ele fazer comunhão”.
E, como sublinhou o sacerdote em seu discurso homilético, sabemos “da história do filho pródigo” que aquilo que nos salva “é o olhar comovido de Deus, que não fica indiferente”, mas cuja compaixão “não olha de cima nem de longe, mas de perto, deixando-nos sempre um olhar de perdão que nos renova” e nos dá a paz interior, que nos faz trabalhar a paz para e com os outros e criar um estilo de vida em profundeza e solidariedade. E é com este olhar terno inspirador dos cristãos a participarem no sentido de festa que somos convidados a saborear “a bondade Daquele que nos olha”.
Não podemos comportar-nos como o filho mais velho da parábola, que roído de inveja, se pôs a acusar o Pai e o irmão do que fizeram e do que não fizeram, omitindo gravemente os atos generosos do Pai e desprezando a mudança de vida do irmão.   
Por conseguinte, ao longo da Liturgia da Palavra ecoou um convite a fazer festa, isto é, um convite a que tenha cada um a capacidade de, em cada momento da vida, “viver na plenitude do sentido que só Deus permite” e a que nos estimula. E disto é testemunha, mensageira e promotora a Virgem Santa Maria Mãe de Deus e nossa Mãe.
2019.04.01 – Louro de Carvalho

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