sábado, 27 de abril de 2019

Beatas ou curto-circuito na origem do incêndio na Catedral de Notre-Dame


enquanto se aguarda o relatório final, que deve durar semanas (em Portugal os relatórios finais demoram meses e até anos), a investigação à origem do fogo na Catedral de Notre-Dame aponta para uma possível falha elétrica ou para negligência dos trabalhadores das obras de restauro e manutenção no exterior dos edifícios. São duas teorias que subsistem e que geram mais consenso entre os investigadores franceses responsáveis pela descoberta das origens do incêndio depois de se ter equacionado a tese de ação criminosa, que parece afastada de momento
Para tanto, os resíduos calcinados deverão ser analisados ao pormenor para detetar o menor indício da origem do fogo, continuando a ser privilegiada, assim, a tese da origem acidental.
Segundo o The New York Times, as chamas terão tido origem ou num curto-circuito, ligado aos sinos eletrificados da Catedral, o que alguém já contestou pelo facto de a instalação elétrica ser muito recente, ou em beatas abandonadas pelos trabalhadores de restauro e manutenção que estavam a realizar obras de manutenção no exterior da igreja, o que a empresas responsáveis negam. No entanto, nada está a ser descartado e a investigação pode durar várias semanas. E, apesar de as autoridades terem confirmado que fumar, que é proibido pelas regras da empresa de andaimes contratada, estava a ser considerada como causa para o incêndio, o porta-voz da empresa rejeita que isso possa ter começado o fogo.
Só no passado dia 25, após se garantir a estabilidade da estrutura, houve autorização para os investigadores entrarem na Catedral, mas já foram interrogadas dezenas de pessoas, incluindo trabalhadores das obras, responsáveis das empresas de restauro (Europe Echafaudage e Le Bras Frères), funcionários da Catedral, arquitetos e trabalhadores governamentais.
Fonte governamental não identificada explicou que será difícil os investigadores encontrarem provas físicas, em virtude da intensidade do fogo e das toneladas de água utilizadas para o extinguir, as quais podem ter destruído muitas marcas que explicariam a origem do incêndio.
As mencionadas empresas de restauro garantiram à Reuters que seguiram os protocolos de segurança, segundo os quais é proibido fumar no local de restauro ou nas estruturas de apoio ao mesmo, mas a polícia encontrou beatas nos andaimes montados junto ao telhado da Catedral.
Após o incêndio que devastou parte do monumento, o Presidente Macron disse: “Juntos vamos reconstruir a Catedral”. E, no dia 24, o Primeiro-Ministro anunciou um concurso internacional de arquitetura para a reconstrução do pináculo da Catedral, um apoio fiscal às doações e um projeto de lei para uma subscrição nacional – com vista à reconstrução em 5 anos.
Algumas das famílias mais ricas de França e dos maiores grupos empresariais do país, bem como entidades de outros pontos do mundo, como foi noticiado nos dias subsequentes ao incêndio, contribuíram para o estabelecimento de um fundo de restauração, ao cuidado do Governo francês, que já conta com cerca de mil milhões de euros.  E o acontecimento gerou mensagens de pesar e de solidariedade de chefes de Estado e de Governo de vários países, incluindo Portugal, bem como do Vaticano e da ONU.
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Gonçalo Correia e Rita Dinis publicaram um texto no Observador, logo a 16 de abril, sob o título Incêndio em Notre Dame: o que é que já se sabe e o que falta saber”, de que se respigam os dados essenciais em conjugação com os referidos no Expresso on line a 26 de abril e com outras informações divulgadas posteriormente, incluindo a atuação do Padre Jean-Marc Fournier, o capelão da Corporação de Bombeiros de Paris.
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Nestes termos, o que se sabe é quando o incêndio começou e quando foram alertados os bombeiros, a zona onde começou, o momento em que foi dado como extinto, o número de vítimas, a reação das autoridades francesas, o que foi salvo, o que foi destruído e que tipo de reconstrução se prevê.
O fogo deflagrou por volta das 18,50 horas parisienses do dia 15 de abril, na catedral de Notre-Dame. Os bombeiros foram alertados por volta das 19 horas e deslocaram-se rapidamente para o local. Segundo o Le Parisien, por erro de indicação, os operacionais foram direcionados para o lado da Catedral que dá para o Sena, mas, à chegada ao local, o fogo já ia alto e não dava para atacar daquele lado.
As chamas começaram a ser vistas no pináculo, que estava a ser reparado. Devido às obras, havia 500 toneladas de andaimes, que estariam a ser servidos, a prazo, por três elevadores, onde pode estar a chave da causa do incêndio. Em menos de uma hora, a torre central cedeu. O Ministro da Cultura adiantava que tudo aponta para que o início do incêndio tenha ocorrido nos andaimes que serviam de apoio à obra.
Pelas 7,50 horas do dia 16, os bombeiros de Paris anunciaram que o incêndio estava extinto. No tweet lia-se que, “depois de mais de 9 horas de luta feroz, perto de 400 bombeiros de Paris venceram o incêndio aterrador”. Ou seja, o fogo foi completamente apagado cerca das quatro.
Ninguém morreu, mas registaram-se três feridos ligeiros: dois polícias e um bombeiro.
Logo a seguir à deflagração, um gabinete de crise, montado na câmara municipal de Paris, passou a coordenar as operações. Uma das primeiras decisões foi evacuar a Île de la Cité, onde fica a Catedral. E os moradores de habitações das proximidades foram enviados para Blancs Manteaux, na rua Vieille du Temple, para passar a noite, dormindo em camas cedidas por assistentes sociais; os turistas foram impedidos de circular nas proximidades da Catedral, sendo deslocados para outras zonas de Paris; todos os afetados pela evacuação receberam a visita de Anne Hidalgo, presidente da câmara parisiense; e, segundo o Le Figaro, durante a noite e madrugada, o combate ao fogo foi feito permanentemente por 400 a 500 bombeiros com 18 mangueiras de combate, alguns dos quais “empoleirados em braços mecânicos a uma altura de dezenas de metros”.
Foram salvas três das relíquias mais preciosas do interior da Catedral: a coroa de espinhos que se acredita conter fragmentos da imposta a Jesus Cristo na sua crucificação (com origem em Jerusalém, chegou a Paris por ação do rei Luís IX no século XIII); o ostensório do Santíssimo Sacramento; e a “túnica de São Luís”, peça que se acredita ter sido usada pelo mesmo rei francês quando morreu durante uma cruzada na Argélia.  
Além destas relíquias, soube-se, ainda durante a noite do incêndio, que ficaram imunes ao fogo 16 estátuas representando 12 apóstolos e os 4 evangelistas, pois tinham sido retiradas quatro dias antes do incêndio para restauro. E, na manhã do dia 16, os bombeiros de Paris anunciaram que “a estrutura da catedral foi salva e as principais obras de arte salvaguardadas, graças à ação combinada dos diferentes serviços do Estado”. O “grande órgão de Notre Dame”, o maior e mais antigo dos três órgãos desta catedral francesa (começou a ser feito no século XIII, embora só nos anos 1730 tenha ganho as proporções atuais), sobreviveu ao incêndio, mas algumas partes terão de ser restauradas. Há também imagens do interior da Catedral depois do incêndio, que indiciam que o altar está intacto e a cruz de Cristo no interior do templo continua no mesmo local.
O pináculo da torre central da Catedral de Notre-Dame colapsou menos de uma hora depois de o incêndio deflagrar, às 19h50 parisienses. Segundo o Le Figaro, “em algumas horas, uma boa parte do teto do edifício foi reduzido a cinzas”. As chamas destruíram a torre (o pináculo) e uma grande parte do telhado de madeira, além de parte do acervo artístico no interior. Assim, uma parte da abóbada foi derrubada e o cruzeiro e o transepto norte afundaram-se.
Pouco antes da meia-noite de 15 para 16, o Presidente francês declarou a intenção do Governo:
Vamos reconstruir Notre Dame porque é o que o povo francês espera que façamos, porque é o que a nossa história merece, porque é o nosso destino profundo”.
Macron anunciou a criação duma “coleta nacional” aberta a quem quiser contribuir com fundos para a reconstrução. O Ministro da Cultura francês Franck Riester assegurou por sua vez que “o Estado assumirá a sua parte de responsabilidade e fará o necessário” para a reconstrução mas lembrou que este “é um drama excecional” e defendeu que não se deve ignorar “a energia, vontade e entusiasmo de solidariedade” de todos, já que “precisamos de toda a gente” que quiser contribuir – o que suscitou nos dias subsequentes a onda de solidariedade material e diplomática de que se deu conta acima.  
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Em termos do que falta saber, temos as causas do incêndio, o seu impacto nas rosáceas e em algumas obras de arte e quanto tempo demorará a reconstrução.
Como foi dito, estão ainda por averiguar e revelar as causas do fogo. Sabe-se que as autoridades parisienses abriram um inquérito que tem, para já, como hipótese mais forte a “destruição involuntária por incêndio”, pois terá sido encontrada uma pista de que o incêndio terá sido acidental perto do teto, como refere o Le Figaro citando uma “fonte próxima do processo”. Segundo o mesmo jornal, foram ouvidos pelas autoridades durante a noite e madrugada todos os trabalhadores envolvidos nas obras de reparação do pináculo da Catedral, onde as chamas foram identificadas num primeiro.
Na sequência das audições, segundo o Le Parisien, surgiu uma nova pista que está a ser considerada pela investigação: na origem do fogo pode ter estado um problema elétrico nos elevadores das obras, ou seja, um curto-circuito. Fonte próxima do processo citada por aquele jornal diz que “os investigadores estão a estudar os elevadores que foram postos no local para auxiliar os trabalhos das obras”, porque “pode ter havido um curto-circuito”. É que havia 500 toneladas de andaimes servidos por três elevadores: um, ia até 24m do chão; outro chegava mais longe, ao telhado; e outro ainda chegava ao topo da torre. Dois desses elevadores, segundo o Le Parisien, já estavam a trabalhar no dia 11, quando as estátuas do pináculo foram retiradas. Mas Julien Le Bras, chefe da Europe Andaime, responsável pelas obras, assegurou que “o conjunto de dispositivos e procedimentos de segurança foi respeitado”.
Quanto ao impacto nas rosáceas e em algumas obras de arte, deve dizer-se que a rosácea norte foi salva, mas o estado das outras duas ainda é incerto, mercê da danificação dos vitrais. O The New York Times cita Benoist de Sinety, um bispo da Arquidiocese de Paris, que refere que o “calor intenso danificou” as rosáceas, ao passo que o jornalista francês Laurent Valdiguie, que esteve na catedral, revelou que pelo que viu haverá esperança mas também riscos para a “Rosácea Norte”, como refere o site noticioso Heavy. Os relatos são, pois, contraditórios e não há informação oficial sobre o estado dos vitrais, o mais famoso dos quais a “Rosa Sul”, com origem no século XIII, embora com restaurações e reconstruções ao longo do século XVIII e XIX. A este respeito, a agência de notícias francesa France-Presse escreveu:
A sobrevivência das três grandes rosáceas vitrais, cada uma das quais contando uma história bíblica, ainda é incerta. Pelo menos uma parece ter ficado intacta depois de os bombeiros terem passado horas a combater o incêndio.”.
André Finot, um porta-voz da Catedral, revelou à estação francesa BFM que “pelo que pôde ver”, as rosáceas mais antigas “continuavam lá” sem danos visíveis.
Todavia, estas informações carecem de confirmação oficial.
No atinente a obras de arte, os bombeiros referiram que as “principais” foram “salvaguardadas”, mas desconhecem-se quais ficaram intactas e se haverá obras artísticas que tenham sofrido danos, reversíveis ou irreversíveis.
Sobre o tempo da reconstrução, é de referir que ainda não é certo, mas deverá levar pelo menos entre três a 15 anos, dependendo do otimismo das estimativas (e do rigor de quem as faz). O Governo ainda não se comprometeu com um prazo para a reconstrução. Jack Lang, antigo Ministro da Cultura, alertou para a importância de o processo não demorar muitos anos:
Tem de ser feito num prazo curto, não de dez ou 15 anos, mas de três anos. Estou a ouvir desde ontem que vai demorar uma década, é uma piada!”.
Por outro lado, o tempo de reconstrução depende da base a partir da qual tiver de ser feita. Com efeito, a estrutura do edifício acusa, neste momento, algumas “vulnerabilidades” a ter em conta, nomeadamente na zona da abóbada, pelo que terá de se perceber se a estrutura se aguentará ou se será preciso uma reconstrução quase de raiz.
No dia 23, começaram os trabalhos para a cobertura e proteção da catedral. Em declarações à AFP, um responsável da comunicação da Notre-Dame revelou que os trabalhos começariam pelo coro e continuariam depois na nave. Em princípio, as prioridades fundamentais para as equipas envolvidas na recuperação da catedral são a degradação do edifício, provocada pelo fogo e pela grande quantidade de água utilizada no combate às chamas, e o estado das obras de arte no seu interior. Por isso, está prevista a instalação de um imenso “chapéu de chuva” para proteger o edifício das intempéries – instalação que se prolongará por semanas.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, como ficou dito, fixou um prazo de cinco anos para a conclusão dos trabalhos de reconstrução da Catedral. Este período de tempo é aceitável, de acordo com alguns peritos, mas demasiado curto segundo outros, em particular devido ao atraso nas avaliações globais. E vários arquitetos disseram à AFP que a fase prévia ao início efetivo dos trabalhos deverá ser a mais longa e complexa.
Ademais, será ainda necessário levar o concurso internacional de arquitetos anunciado para a reconstrução do pináculo que ruiu nos primeiros 90 minutos do incêndio e, em seguida, deverão ser aplicadas tecnologias modernas para a rápida instalação do estaleiro de obras.
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Segundo o Expresso on line, de 18 de abril, uma “Catedral efémera” de madeira substituirá Notre-Dame durante reconstrução. Não é decisão já tomada, mas está em equação a hipótese que Patrick Chauvet, reitor do edifício, gostava de ver concretizada.
A presidente da câmara de Paris, Anne Hidalgo, encorajou o projeto, disse Chauvet, adiantando que a autarca aceitou emprestar “uma parte da praça” para o efeito.
Chauvet precisou que a instalação da substituta provisória ocorrerá “rapidamente”, logo que se aceda à praça em frente à Catedral, ainda fechada.
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Enfim, urge honrar a memória e o destino da França, satisfazer as necessidades dos crentes e incrementar a cultura também pelo lado patrimonial e do espaço para a formação humanística.
2019.04.27 – Louro de Carvalho

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