domingo, 14 de abril de 2019

A mundanidade espiritual é a mais pérfida tentação a ameaçar a Igreja


Disse-o, citando Henri de Lubac, o Papa Francisco na homilia da Missa do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, a que presidiu na Praça de São Pedro.
No início da celebração, o Pontífice deslocou-se ao centro da Praça, junto ao obelisco de origem egípcia que ficava no antigo circo romano – onde morreu, crucificado de cabeça para baixo por não se considerar digno de morrer como o Mestre, o Apóstolo Pedro – e ali abençoou as palmas e os ramos de oliveira. Depois da proclamação de apropriada perícopa do Evangelho de Lucas (Lc 19,28-40), presidiu à procissão para o altar, situado em frente à fachada da Basílica, para a celebração da Missa.
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Na homilia sublinhou a notória contradição entre “as aclamações da entrada em Jerusalém e a humilhação de Jesus”, os clamores de júbilo e festas seguidos do encarniçamento feroz a exigir a crucifixão do Senhor. E vincou a necessidade de, animados pelo Espírito Santo, obtermos o que se pede na oração: acompanhar com fé o caminho do Salvador e ter presente o ensinamento da sua Paixão “como modelo de vida e de vitória contra o espírito do mal”. Com efeito, o Senhor ensina atitudinalmente “como enfrentar os momentos difíceis e as tentações mais insidiosas, guardando no coração uma paz que não é isolamento”, mas abandono confiante nas mãos do Pai e entrega à sua vontade de salvação, de vida, de misericórdia. Apesar de se ver, em toda a sua missão (“desde o início, nos 40 dias no deserto, até ao fim, na Paixão”), “assaltado pela tentação de ‘fazer a sua obra’, escolhendo Ele o modo e desligando-Se da obediência ao Pai”, Jesus repele tal ideia-força e obedece confiadamente ao Pai.
Acentuou o Papa:
Agora, o príncipe deste mundo tinha uma carta para jogar: a carta do triunfalismo. Mas o Senhor respondeu permanecendo fiel ao seu caminho, o caminho da humildade.”.
E vincou:
O triunfalismo procura tornar a meta mais próxima por meio de atalhos, falsos comprometimentos. Aposta na subida para o carro do vencedor. O triunfalismo vive de gestos e palavras, que não passaram pelo cadinho da cruz; alimenta-se da comparação com os outros, julgando-os sempre piores, defeituosos, falhados... Uma forma subtil de triunfalismo é a mundanidade espiritual, que é o maior perigo, a mais pérfida tentação que ameaça a Igreja (Henri de Lubac). Jesus destruiu o triunfalismo com a sua Paixão.”.
E, frisando que Jesus Se alegrou com a iniciativa do povo e com os clamores dos jovens que gritavam o seu nome, aclamando-O Rei e Messias, a ponto de retorquir a quem desejava calá-los, que, se eles se calassem, gritariam as pedras (cf Lc 19,40), Francisco realça que “humildade não significa negar a realidade, e Jesus é realmente o Messias, o Rei”. Não obstante, segundo o Pontífice, o coração de Cristo estava no caminho santo que só Ele e o Pai conhecem, o que vai da ‘condição divina’ à de servo, pois, “sabe que, para chegar ao verdadeiro triunfo, deve dar espaço a Deus; e, para dar espaço a Deus, só há um modo: o despojamento, o esvaziamento de si mesmo”, e “com a cruz, não se pode negociar: abraça-se ou recusa-se”. Ora, pela humilhação, Ele “quis abrir-nos o caminho da fé e preceder-nos nele”. E, neste sentido da precedência de Cristo no caminho da fé, o Santo Padre evocou o percurso de sua Mãe, Maria, a primeira discípula, enfatizando que “a Virgem e os santos tiveram de padecer para caminhar na fé e na vontade de Deus”. E explicitou, citando São João Paulo II, Enc. Redemptoris Mater, 17:
No meio dos acontecimentos duros e dolorosos da vida, responder com a fé custa ‘um particular aperto do coração’. É a noite da fé. Mas, só desta noite é que desponta a aurora da ressurreição. Ao pé da cruz, Maria repensou as palavras com que o Anjo Lhe anunciara o seu Filho: ‘Será grande (...). O Senhor Deus vai dar-Lhe o trono de seu pai David, reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim’ (Lc 1,32-33). No Gólgota, Maria depara-Se com o desmentido total daquela promessa: o seu Filho agoniza numa cruz como um malfeitor. Deste modo o triunfalismo, destruído pela humilhação de Jesus, foi igualmente destruído no coração da Mãe; ambos souberam calar. [E], precedidos por Maria, incontáveis santos e santas seguiram a Jesus pelo caminho da humildade e da obediência.”.
Depois, em Dia Mundial da Juventude, lembrando os inúmeros santos e santas jovens, especialmente os de ‘ao pé da porta’, pediu aos jovens que não se envergonhem de manifestar o seu entusiasmo por Jesus, “gritar que Ele vive, que é a vossa vida”, e que não tenham medo “de O seguir pelo caminho da cruz”. E exortou-os ao seguimento de Jesus na total confiança no Pai:
Quando sentirdes que vos pede que renuncieis a vós mesmos, que vos despojeis das próprias seguranças confiando-vos completamente ao Pai que está nos céus, então alegrai-vos e exultai! Encontrais-vos no caminho do Reino de Deus.”.
Salientando que Jesus vence mesmo a tentação de responder, de ser ‘mediático’, observou:
Nos momentos de escuridão e grande tribulação, é preciso ficar calado, ter a coragem de calar, contanto que seja um calar manso e não rancoroso. A mansidão do silêncio far-nos-á aparecer ainda mais frágeis, mais humilhados, e então o demónio ganha coragem e sai a descoberto. Será necessário resistir-lhe em silêncio, ‘conservando a posição’, mas com a mesma atitude de Jesus.”.
Com efeito, para Francisco, a guerra entre Deus e o príncipe deste mundo não se trava empunhando a espada, mas permanecendo calmos, firmes na fé. Sendo a hora de Deus, a “hora em que Deus entra na batalha, é preciso deixá-Lo agir” e “o nosso lugar seguro será sob o manto da Santa Mãe de Deus”. E o Pontífice desafia todos os crentes cristãos:
Enquanto esperamos que o Senhor venha e acalme a tempestade (cf Mc 4, 37-41), com o nosso testemunho silencioso e orante, demos a nós mesmos e aos outros a ‘razão da esperança que está em [nós]» (1Pe 3,15). Isto ajudar-nos-á a viver numa santa tensão entre a memória das promessas, a realidade do encarniçamento palpável na cruz e a esperança da ressurreição.”.
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Da mensagem homilética de Francisco, o Vatican News destaca a evidência da mundanidade espiritual como forma subtil de triunfalismo a constituir “o maior perigo, a mais pérfida tentação que ameaça a Igreja”; a destruição do triunfalismo por Jesus com a Paixão”; o convite aos jovens, nesta Jornada Mundial da Juventude a nível diocesano, a não terem vergonha de manifestarem o seu entusiasmo por Jesus.
Depois, sobressai a antítese entre a carta do triunfalismo, jogada pelo maligno, o príncipe deste mundo, e o caminho da humildade com que o Senhor respondeu, o seu caminho, e em que permanece fiel. E, sendo verdade que Jesus aceitou a iniciativa do povo e se alegrou com os gritos dos jovens, o seu coração estava no caminho ditado pelo desígnio do Pai, o caminho da humilhação até à morte e morte de cruz, num silêncio impressionante, só interrompido pelas tradicionalmente conhecidas como as sete palavras de Jesus no alto da cruz:
- Pai, perdoa-lhes porque eles não sabem o que fazem (Lc 23,34).
- Ámen te digo: hoje mesmo estarás comigo no Paraíso (Lc 23,43).
- Mulher, Eis aí o seu filho...[ao discípulo]: Eis aí tua mãe... (Jo 19,26.27).
- Meu Deus, meu Deus, para que me desamparaste? (Elí, Elí, lama sabacthani? – Mt 27,46; ou Eloí, Eloí, lama sabacthani? – Mc 15,34).
- Tenho sede (Jo 9,28).
- Está consumado (Jo 19,30).
- Pai, em tuas mãos entrego meu espírito (Lc 23,46).
Referindo que Jesus sabe dar espaço a Deus e que, para tanto, se exige o despojamento, o esvaziamento de si mesmo, o Mestre soube e quis abrir-nos o caminho da fé e preceder-nos nele”, no que foi acompanhado pela Mãe e por muitos santos e santas, o Papa sublinhou que “no Gólgota, Maria se deparou com a aparente negação total daquela promessa davídica da anunciação: o seu Filho agoniza numa cruz como um malfeitor. Mas destruiu assim, o triunfalismo.
Por fim, explica o teor o triunfalismo no dizer do Papa:
O triunfalismo procura tornar a meta mais próxima por meio de atalhos, falsos comprometimentos. Aposta na subida para o carro do vencedor. O triunfalismo vive de gestos e palavras, que não passaram pelo cadinho da cruz; alimenta-se da comparação com os outros, julgando-os sempre piores, defeituosos e falhos...”.
E reitera: “Uma forma subtil de triunfalismo é a mundanidade espiritual, que é o maior perigo, a mais pérfida tentação que ameaça a Igreja. Jesus destruiu o triunfalismo com a sua Paixão”.
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Celebrou-se também, neste domingo, a 34.ª Jornada Mundial da Juventude. Ora, as JMJ são realizadas anualmente no âmbito diocesano, no Domingo de Ramos. Este ano, o tema da Jornada Mundial da Juventude diocesana é “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). A esse propósito o Papa disse na homilia:
Queridos jovens, não tenhais vergonha de manifestar o vosso entusiasmo por Jesus, gritar que Ele vive, que é a vossa vida. Mas, ao mesmo tempo não tenhais medo de segui-lo pelo caminho da cruz. E, quando sentirdes que Ele vos pede que renuncieis a vós mesmos, para vos despojardes das próprias seguranças confiando completamente no Pai que está nos céus, então alegrai-vos e exultai! Vós estais no caminho do Reino de Deus.”.
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À recitação da oração mariana do Angelus, no final da Missa celebrada na Praça São Pedro, o Papa saudou todas as pessoas que participaram na celebração eucarística e também as que a acompanharam pelos meios de comunicação. Ademais, quis estender a sua saudação pastoral a todos os jovens que hoje, em torno dos seus bispos, celebram a Jornada da Juventude em todas as dioceses do mundo e convidou-os a todos a rezarem pela paz e a tornarem suas e viverem quotidianamente as indicações da recente Exortação Apostólica Christus vivit, fruto do Sínodo que também envolveu muitos dos jovens seus coetâneos. Com efeito, segundo o Pontífice, cada um deles “pode encontrar inspirações fecundas para a sua vida e caminho de crescimento na fé e no serviço aos  irmãos”.
Também Francisco ofereceu aos fiéis, na Praça São Pedro, um Terço de madeira de oliveira feito na Terra Santa para a Jornada Mundial da Juventude no Panamá, em janeiro passado, e para este Domingo de Ramos. E considerou:
No contexto deste domingo, quis oferecer a todos vós reunidos na Praça de São Pedro, um Terço especial. As contas desse Terço de madeira de oliveira foram feitas na Terra Santa expressamente para o Encontro Mundial da Juventude no Panamá, em janeiro passado, e para o Dia de Hoje. Por isso, renovo o meu apelo aos jovens e a todos a que rezem o Terço pela paz, especialmente pela paz na Terra Santa e no Oriente Médio.”.
Por fim, o Papa pediu à Virgem Maria que nos ajude a viver bem a Semana Santa.
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Na verdade, é conveniente que a vivência desta semana nos torne mais discípulos, mais amigos do Senhor, mais irmãos dele e uns dos outros e mais apóstolos no sentido de que a proposta de salvação chegue a toda a gente, sobretudo na promoção de mais liberdade e dignidade para todos os seres humanos independentemente do credo que professem, da cor étnica de que são portadores, da condição social que lhes bateu à porta e da filiação ou da independência política em que fazem questão de se abrigar. Porque o Senhor veio para que tenhamos vida e a tenhamos em abundância. E nós somos vocacionados para este serviço à vida, à dignidade e à liberdade de todos e de cada um. Sem isto, não há fraternidade e a igualdade estará cada vez mais distante.
Temos, pois, que ser contemplativos e ativos num doseamento adequado às nossas reais possibilidades e às necessidades dos outros.
2019.06.14 – Louro de Carvalho

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