sexta-feira, 5 de abril de 2019

Programa especial assinalou centenário da morte de São Francisco Marto


O Santuário de Fátima assinalou, a 4 de abril, o centenário da morte de São Francisco Marto com um programa especial, um programa intenso marcado pela memória e pela oração.
As celebrações começaram no dia 3, com uma vigília de oração, iniciada às 21,30 horas, com a recitação do terço, na Capelinha das Aparições, seguida de procissão para a Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, onde teve lugar a veneração do túmulo de São Francisco Marto.
No dia 4 de abril, rezou-se o terço, às 10 horas, na Capelinha das Aparições, seguindo-se a procissão, às 10 e 45, para a Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, com o ícone do Santo, para a celebração da Missa Votiva dos Pastorinhos de Fátima. Às 14 horas, procedeu-se à leitura, na mesma Basílica, da Quarta Memória das Memórias da Ir. Lúcia. E, uma hora depois, houve adoração eucarística no mesmo local. Às 16,30 horas, foi lida a referida Quarta Memória no Recinto de Oração. E, uma hora depois, celebraram-se vésperas solenes na Capela do Santíssimo Sacramento.
Também a Fundação Francisco e Jacinta Marto assinalou a efeméride com a iniciativa intitulada “Entre-Luz – Encontros de espiritualidade e cultura na Casa das Candeias”, inspirada na experiência dos Pastorinhos na aparição de maio. O primeiro encontro cultural e de aprofundamento da espiritualidade de Fátima e dos Santos Francisco e Jacinta, com uma abordagem multidisciplinar, realizou-se às 21 horas do dia 4, com os oradores a Irmã Ângela de Fátima Coelho (médica e religiosa da Aliança de Santa Maria) e o Doutor Pedro Valinho Gomes (responsável pelo Departamento para Acolhimento de Peregrinos) e teve como mote “O que se ouve no silêncio?” e refletiu sobre a vida de Francisco Marto.
E a paróquia de Fátima assinala este centenário de forma especial com a promoção de um evento pela paz no mundo. No dia em que se recorda o centenário da morte do pastorinho, várias comunidades católicas de todo o mundo se unem para um momento de Adoração, oração do Santo Rosário e Consagração ao Imaculado Coração de Maria. A iniciativa faz parte do projeto ‘Mater Fátima’ e visa celebrar o centenário da morte de Francisco Marto, a 4 de abril de 2019, e de Jacinta Marto, a 20 de fevereiro de 2020, unindo o mundo em oração pela paz.
A partir do dia 4 e até ao fim deste ano pastoral, passou a ser distribuída, exclusivamente na casa do Francisco e da Jacinta, em Aljustrel, a pagela comemorativa do centenário da morte do Francisco, disponível nos sete idiomas oficiais do Santuário de Fátima. Nesse dia, os peregrinos que passaram pelo quarto do vidente tiveram a oportunidade de escutar o trecho com a narração da morte do Francisco, retirado das Memórias da Irmã Lúcia. E, até ao final do ano pastoral, estará sinalizado de forma especial o túmulo do santo pastorinho.
E, no dia 7, a Basílica de Nossa Senhora do Rosário acolherá, em regime de entrada livre, pelas 15,30 horas, o Concerto Comemorativo Inspiração do Canto Gregoriano no Centenário da Morte de Francisco Marto, pelo Grupo Vocal ensemble LUSIOVOCE, com acompanhamento ao órgão de Sérgio Silva e com direção de Clara Alcobia Coelho.
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O cardeal Dom António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, que presidiu à recitação do terço e à celebração da Eucaristia no dia 4, invocou a intercessão de São Francisco Marto para curar as feridas da humanidade, “dilacerada por tantas formas de violência” e reparar a Igreja “tão dolorosamente abalada pela corrupção e pelos escândalos”.
Socorrendo-se das palavras dirigidas pelo Senhor a São Francisco de Assis, afirmou:
Vai Francisco e repara a minha Igreja. Também nós invocamos São Francisco Marto para esta hora dolorosa da Igreja: Ajuda-nos a ser cristãos mais fiéis ao Evangelho e a Jesus; ajuda-nos a descobrir o encanto da beleza de Deus; a unir-nos cada vez mais a Jesus na Eucaristia e a sermos seus colaboradores para repararmos os pecados do mundo e da Igreja.”.
O prelado, cuja homilia se centrou na história de vida desta criança, uma das duas primeiras não mártires a serem canonizadas na história da Igreja Universal (juntamente com a irmã Jacinta), referiu-se ao vidente como “um exemplo de grande atualidade”, sobretudo para os adultos de hoje.
Evidenciando as dimensões contemplativa e reparadora de Francisco Marto, que soube cultivar uma relação de grande cumplicidade com Deus pela Eucaristia, Dom António Marto vincou:
Francisco lembra-nos a devoção eucarística como o lugar onde alimentamos a nossa fé e, depois, vem lembrar-nos a atualidade da missão reparadora para curar as feridas do mundo e da humanidade, dilacerada por tantas formas de violência e reparar também a própria Igreja do Senhor, hoje tão dolorosamente abalada pela corrupção de alguns escândalos de responsáveis que ferem a nossa alma e a qualidade da nossa fé e a imagem e confiança na Igreja”.
E, sublinhando a amizade e a intimidade que Francisco tinha com Deus como a chave de leitura da sua santidade, afirmou:
É necessário reparar os estragos para reconstruir; reparar os estragos provocados pelos escândalos e reerguer comunidades que sejam fiéis ao Evangelho, com a confiança de que nas horas mais obscuras da história, pelas quais a Igreja já passou, o Senhor nunca nos abandonou”.
Mais adiante frisou que Francisco “foi introduzido no mistério de Deus por Nossa Senhora que, cheia de luz, o levou a saborear e a gostar do próprio Deus como o mais belo da sua vida e da existência humana”. Com efeito, como bem observou o cardeal português, “a confissão íntima do afeto e da beleza de Deus, porque se sentia por ele  habitado e iluminado”, despertou nele um impulso missionário para “o irradiar e contagiar aos outros”.
Ora, como disse o eminentíssimo prelado do Lis, “este testemunho do encanto e do fascínio por Deus, do gosto gozoso e alegre de Deus presente nele é de uma atualidade premente” e talvez seja hoje “o mais importante e essencial para viver a fé” para que não se reduza “a um conjunto de verdades e preceitos”, mas redunde na “comunhão viva de afetos e de relação com Deus”.  
E o cardeal alertou, por contraste, para o crescente esquecimento ou subvalorização de Deus:
Vivemos a indiferença para com Deus. Deus é apenas uma palavra com quatro letras, vazia de conteúdo, que já não diz nada; para [uns] é um ser supremo longínquo e distante que pôs em marcha o universo, mas que não se interessa por nós nem nos desperta interesse. Outros, ainda, afirmam que acreditam em Deus mas esquecem-No muitas vezes.”.
Neste sentido, em jeito de interpelação aos peregrinos que encheram por completo a Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, onde se concentravam todas as celebrações agendadas para aquele dia no Santuário em memória de São Francisco Marto, inferiu que, ao invés do pastorinho, nós não saboreamos Deus “nem sentimos o gosto da Sua presença, do Seu amor, do Seu perdão, da Sua misericórdia, do Seu espírito, da Sua força e da Sua luz”. E apontou:
Neste momento de indiferença, não há fé que se aguente se não se viver com a experiência e o gosto do sabor de Deus na nossa vida. Por isso, somos convidados a interrogarmo-nos a nós mesmos sobre o modo como vivemos a nossa relação com Deus; é a questão mais séria da missão evangelizadora da Igreja e dos cristãos: levar o coração de Deus aos outros e vivê-lo, com afetos e ações concretas” (ao jeito de Francisco).”.
Como afirmou o purpurado fatimita, Francisco “é muito atual para os adultos” no consolar a Deus, dar alegria a Deus e unir-se no afeto grande a Ele através de Jesus escondido na Eucaristia”. E Dom António Marto enalteceu o exemplo, para nos, desta criança que “penetra neste mistério admirável da nossa fé,  Jesus presente na Eucaristia, que é Deus connosco, para nós, por nós” – sublinhando:
Não se trata de celebrar uma data, um dia em que ele partiu para o Céu, mas de olhar para esta data da morte como a síntese de uma vida, que nos deixa um legado, pelo qual lhes estamos gratos. E eu, particularmente, que tanto me ajudou a descobrir a beleza e o amor de Deus e a unir-me com mais afeto e empenho à missão.”.
Eis um grande exemplo para hoje, bastante esquecido ou só lembrado pela infância em si!
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A música selecionada para o predito concerto, assenta em três pilares significativos: a destacada predominância de textos de devoção mariana; a simplicidade e ancestralidade do canto gregoriano como símbolo direto da infância e inocência do Francisco; e a inclusão de música deste século, como sentida homenagem dos fiéis do nosso tempo.
O Lusiovoce, que neste concerto se apresenta maioritariamente na sua formação de vozes femininas, tem direcionado a sua atividade para a interpretação de música moderna. Executa programas dedicados a temas específicos, no âmbito da composição portuguesa moderna e contemporânea, das diversas expressões da relação entre música e literatura e da contraposição entre novo e antigo. Colabora em alguns dos principais festivais de música nacionais, como o Festival Cistermúsica de Alcobaça, o Festival de Vila do Conde, o Festival de Órgão de Santarém, o Festival Estoril Lisboa, o Festival de Órgão da Madeira e na temporada de concertos da Basílica de Mafra – sendo ainda de destacar execuções de repertório sacro, como a Cantata St. Nicholas, de Benjamin Britten, e obras de Händel e Vivaldi no Teatro São Carlos.
Sérgio Silva – docente de órgão no Instituto Gregoriano de Lisboa e na Escola de Música Sacra de Lisboa – é organista titular da Basílica da Estrela e da Igreja de São Nicolau, em Lisboa, e mestre em música pela Universidade de Évora. Estudou órgão no Instituto Gregoriano de Lisboa, sob a orientação de João Vaz, na disciplina de órgão, e de António Esteireiro, em acompanhamento e improvisação. Como concertista, apresenta-se tanto a solo como integrado em diversos agrupamentos nacionais de prestígio, tendo atuado em Portugal, Espanha, Itália, Inglaterra, França, Alemanha e Macau. E, como investigador, tem feito transcrições modernas de música antiga portuguesa.
A maestrina Clara Alcobia Coelho, que dirige o Coro Tejo e o Ensemble  Lusiovoce desde 2010, fez os estudos superiores em Formação Musical (2000) e Direção Coral (2005) na ESML (Escola Superior de Música de Lisboa), onde é docente desde 2001, bem como na Academia Nacional Superior de Orquestra. Concluiu o mestrado em Direção Coral (2010) no Instituto Piaget. Foi responsável pela preparação musical de programas com o Coro Gulbenkian. No Festival “Les Musicalles de Grillon”, foi maestrina do Coro de 2006 a 2016.  Com agrupamentos da ESML, dirigiu a ópera Páride ed Elena, de Gluck, no Teatro São Luís, e muitos outros concertos e audições de música coral e vocal de câmara. Integra o Coro Gulbenkian desde 1997 e colaborou com outros agrupamentos. E destaca-se-lhe a direção da estreia de Hummus (em versão encenada), de Zad Moultaka, em Lisboa e Londres, com a companhia Opera Lab Europe, e a direção do concerto de Laureados e Gravação do Prémio MUSA – Concurso de Composição.
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Pedro Valinho Gomes (teólogo e antigo assessor da Postulação para a Causa da Canonização do Francisco e da Jacinta), responsável pelo Departamento para Acolhimento de Peregrinos, em declarações à Sala de Imprensa do Santuário de Fátima, considerou que, “100 anos depois da morte do Francisco, recordá-lo tendo em conta que foi canonizado em 2017 é recordar à Igreja uma caraterística fundamental da santidade cristã, que é a abertura ao absoluto”, pois, como disse, “o Francisco era um menino do absoluto, centrado naquilo que é o essencial da vida”.
O Francisco não ouvia o que dizia Nossa Senhora e o Anjo, no entanto, “aposta toda a sua breve vida na entrega total ao Criador”. E, depois das aparições, “compreende perfeitamente que a vida que tem lhe é dada para ser gasta numa relação que valha a pena” e encontra-a na “relação com Deus”, pelo que “procura o silêncio”: é um “menino contemplativo”, tem “uma relação especial com a criação, porque na criação ele encontra o Criador, no silêncio ele encontra aquilo que se lhe revelou em silêncio”. Neste sentido, Valinho Gomes sustenta:
Assinalar esta data é assinalar o seu segundo nascimento, o nascimento definitivo para o absoluto, e é recordar à Igreja isto mesmo, que podemos fazer muito, porque podemos e devemos apostar tudo o que somos na entrega aos outros, mas isto só faz sentido na medida em que na base tem de estar uma relação com Deus e é isto que o Francisco nos ensina”.
Assegurando que o Santuário tem a responsabilidade de “oferecer aos peregrinos o conteúdo catequético da mensagem aqui deixada aquelas três crianças”, e que essa mensagem não é só o resultado do que ouviram, “é também o seu exemplo de vida”, Valinho Gomes conclui:
Podemos aprender e viver esta mensagem através do programa celebrativo preparado especialmente para este dia, um programa para olhar o Francisco, mas olhar através do Francisco”.
São Francisco Marto, cuja iconografia o apresenta de carapuço na cabeça e jaleca curta, com o cajado e o saco do farnel ao pescoço, nasceu a 11 de junho de 1908 e foi batizado a 20 de junho na Igreja Paroquial de Fátima. Com apenas 8 anos de idade, começou, com a sua irmã Jacinta, a pastorear o rebanho dos pais pela zona da Cova da Iria, local onde, com a prima Lúcia, viriam a testemunhar as Aparições, durante as quais podia apenas ver, sem ouvir ou falar.
Levado pelo desejo íntimo de consolar o coração de Jesus, pois afirmava querer dar alegria a um Deus triste com os agravos ao Seu coração, viveu intensamente a oração contemplativa, passando horas seguidas em oração frente ao sacrário na Igreja Paroquial de Fátima, enquanto a prima e a irmã iam para a escola.
A 18 de outubro de 1918, Francisco adoeceu, vítima da epidemia da gripe pneumónica ou gripe espanhola, que assolou o país e que chegara a Portugal no meio desse ano e em pouco tempo causou a morte de dezenas de milhares de pessoas. A 2 de abril do ano seguinte, confessou-se e recebeu a comunhão pela última vez “com uma grande lucidez e piedade”, como escreve o pároco de Fátima no Livro de Óbitos, ao registar a sua morte, em 4 de abril, acrescentando: “E confirmou que tinha visto uma Senhora na Cova da Iria e Valinhos”.
Foi sepultado no cemitério de Fátima, de onde os seus restos mortais foram exumados a 17 de fevereiro de 1952 e trasladados para a Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima a 13 de março de 1952, repousando no braço direito do transepto.
Francisco e a irmã Jacinta foram canonizados no Santuário de Fátima, a 13 de maio de 2017, na Missa da primeira Peregrinação Internacional Aniversária do Centenário das Aparições, presidida pelo Papa Francisco, tornando-se assim num dos dois mais jovens santos não mártires da história da Igreja Católica. A canonização tinha sido aprovada a 23 de março, quando o Vaticano anunciou que o Papa reconhecera o milagre atribuído a Francisco e Jacinta, última etapa do processo, iniciado há 65 anos.
O reconhecimento dum milagre realizado por sua intercessão depois da beatificação é um processo da competência da Congregação para a Causa dos Santos, regulado pela Constituição Apostólica Divinus Perfectionis Magister, promulgada por João Paulo II em 1983.
No processo de Francisco e Jacinta Marto, foi aceite como milagre a cura milagrosa de Lucas, uma criança brasileira de cinco anos, que caiu duma janela, à altura de 6,5 metros no dia 3 de março de 2013, ficando em coma, com perda de tecido cerebral no lóbulo frontal direito. A oração da família e das irmãs do Carmelo de Campo Mourão, pedindo a intercessão dos dois Santos, resultou na cura total de Lucas, facto que os médicos não conseguem explicar. E ficou com uma nova vida, imagem da vida com que somos cumulados pela graça divina.
2019.04.05 – Louro de Carvalho

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