quarta-feira, 5 de setembro de 2018

“O Padre: Ministro e Testemunha da Alegria do Evangelho”


Eis o tema do Simpósio do Clero que está a decorrer em Fátima, no Centro Pastoral Paulo VI de 3 a 6 do corrente mês de setembro e que contou com a presença do Prefeito e do Secretário da Congregação para o Clero, da Santa Sé, respetivamente Cardeal Beniamino Stella e o Bispo Jorge Carlos Patrón Wong. Trata-se dum tema muito inspirado na reflexão e nos desafios propostos pelo Papa Francisco. De facto, a alegria do Evangelho deve estar no centro da vida da Igreja e, por natureza, no centro das preocupações, do trabalho e da vida dos sacerdotes como testemunhas dessa alegria, desse Evangelho, e ser capaz de apaixonar a vida das pessoas.
Este encontro comemora as suas bodas de prata e Dom António Augusto Azevedo, Presidente da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios, sublinha que, tal como os demais, “é sempre um momento alto” de “encontro, reunião, diálogo, de reflexão” e conhecimento dos sacerdotes de Portugal.
Segundo a Rádio Renascença, o Simpósio releva o celibato sacerdotal, a formação inicial e permanente, a vida e o ministério, bem como os diferentes desafios que hoje se colocam à Igreja e ao clero, incluindo o drama dos abusos sexuais de menores imputados a clérigos.  
Os 450 sacerdotes do país que participam no Simpósio têm consciência clara de que ser padre é mais difícil do que era antes, mas também talvez por isso o celibato é ainda mais belo e desafiante na vida da igreja. Disse Dom António Augusto Azevedo a este respeito:
Poderá ser mais difícil no sentido de que temos uma sociedade muito mais aberta, muito mais exposta. As dificuldades são mais visíveis. Porém, o celibato hoje é entendido como um verdadeiro dom e um verdadeiro crisma da parte de Deus. É uma riqueza para a Igreja, mas é também um testemunho para o povo de Deus.”.
Na ótica do Padre José Alfredo, Secretário da Comissão Vocações e Ministérios “o grande desafio para os sacerdotes é de poderem atualizar a mensagem do Evangelho para o mundo presente, sem perdermos o específico da nossa missão e da nossa identidade, sabendo que muitas estruturas da Igreja, algumas têm séculos e que naturalmente não se muda isso de um dia para outro, sobretudo quando a mudança na sociedade é muito rápida e muito acelerada por variadíssimas razões: a globalização, a comunicação social, as novas formas digitais, isso trouxe uma mudança de consciência, mesmo de pertença em relação à Igreja”.
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Do programa consta, no começo da tarde do 1.º dia, 3 de setembro, logo a seguir à sessão de abertura, a saudação, que ficou a cargo de Dom António Augusto Azevedo, Bispo Auxiliar do Porto e Presidente da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios, já referenciado. A seguir, Dom Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga, fez a retrospetiva de 25 anos de Simpósios do Clero; Dom Manuel Clemente, Cardeal-Patriarca de Lisboa e Presidente da CEP (Conferência Episcopal Portuguesa), fez a evocação de Dom António Francisco dos Santos, antigo Bispo do Porto, falecido a 11 de setembro de 2017; e o Cardeal Beniamino Stella, Prefeito da Congregação para o Clero proferiu uma conferência em torno do título O ministério sacerdotal no magistério do Papa Francisco”. 
O 2.º dia, o dia 4, foi dedicado à problemática da formação. Assim, Dom Jorge Carlos Patrón Wong, Secretário da Congregação para o Clero (segundo Dom António Azevedo, a pessoa mais habilitada para falar sobre “a implementação das novas orientações para a formação dos sacerdotes”), proferiu, da parte da manhã, duas conferências consecutivas: uma sobre “A formação sacerdotal e a igreja do futuro”; e outra, sobre “A formação para a fidelidade e fecundidade do ministério”. E, à tarde, o teólogo Pablo d'Ors, da Diocese de Madrid, Associação Amigos do Deserto, falou sobre a “Vida Espiritual: alma do ministério sacerdotal”.
O dia 5, 3.º dia, foi dedicado a testemunhos. Depois de Dom António Couto, Bispo de Lamego, ter abordado o tema “O Padre: ministro e testemunha da Palavra”, organizou-se um painel sob o tema “Ser padre, um modo profético de viver”, com a participação do Padre Manuel Mendes, da Obra da Rua, Padre Carlos Carneiro SJ, diretor do Centro Universitário dos Jesuítas no Porto, e Padre António Bacelar, da Diocese do Porto. E, a tarde, foi preenchida com o Workshop “testemunhos presbiterais” em duas perspetivas: ser padre nas prisões, com testemunho de João Gonçalves (Diocese de Aveiro), nos hospitais, com testemunho do Padre Fernando Sampaio (Diocese de Lisboa), nas universidades, com testemunho do Padre Eduardo Duque (Arquidiocese de Braga), e nas Forças Armadas, com testemunho do Padre Licínio Silva (Ordinariato Castrense); e ser pároco... na cidade, com testemunho do Padre Mário Rui Pedras (Patriarcado de Lisboa), em meio suburbano, com testemunho do Padre Almiro Mendes (Diocese do Porto), e no campo, com testemunho do Padre com testemunho do Padre Diamantino Duarte (Diocese de Lamego).
O dia 6, o 4.º e último dia,  é o do encerramento. Mas antes da Eucaristia final, ainda virá a conferência de Dom Juan María Uriarte, Bispo Emérito de San Sebastian, sobre “O celibato sacerdotal: a sua nobreza, dificuldades e etapas”.
Além disso, a parte da manhã começa com a oração litúrgica de Laudes; a parte da tarde encerra com a oração litúrgica de Vésperas e a Celebração da Eucaristia; na noite do 1.º dia, os participantes alinharam na recitação do Terço, na Capelinha das Aparições; na noite do 2.º dia, realizaram-se encontros por dioceses; e, na noite do 3.º dia, participam na Adoração Eucarística, na Capela do Santíssimo Sacramento.       
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O presidente da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios afirmou que a “presença significativa” de sacerdotes no Simpósio do Clero é sinal sua “força profética” e afirma a necessidade da “conversão de corações e de motivações”.
O presidente da comissão da Conferência Episcopal Portuguesa que dinamiza iniciativas dirigidas ao clero manifestou a “comunhão com o Papa Francisco” e a partilha do “seu sonho de um renovado impulso missionário para a Igreja”, a conquistar sobretudo pela “conversão dos corações”. E, nesse sentido, leu a carta dos Bispos de apoio ao Santo Padre e de comunhão com ele na reforma da Igreja e de conforto pela campanha de que tem sido objeto. Nela se comprometem com o Papa a erradicar as causas da “chaga” do abuso de menores por membros responsáveis da Igreja.
Por outro lado, o Simpósio do Clero assinala os 25 anos da realização desta iniciativa, cuja história foi evocada por Dom Jorge Ortiga, arcebispo de Braga (que era ao tempo secretário da Comissão Vocações e Ministérios), lembrando os “Encontros de Mira”, que estão na sua origem, e o propósito de se aproximar do “quotidiano dos sacerdotes”, valorizando por isso o “espaço para o debate” e a “vivência espiritual”.
E o Cardeal-patriarca de Lisboa evocou o percurso de Dom António Francisco dos Santos, falecido em setembro de 2017, anterior presidente da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios. Dom Manuel Clemente destacou a proximidade do anterior bispo do Porto, que “tinha sempre tempo para todos”, a “natureza pascal do ministério” sacerdotal que defendia e o “ânimo para prosseguir” que demonstrou nas várias responsabilidades que assumiu. Para o Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, as três caraterísticas da biografia de Dom António Francisco são um testemunho para todos os sacerdotes, “especialmente agora”.
A seguir, Dom Manuel Clemente referiu-se aos acontecimentos “graves e patentes” que se referem a membros do clero, afirmando a necessidade de uma “conversão e correção permanentes” a partir do “Evangelho de Cristo”.
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O Prefeito da Congregação para o Clero defendeu uma ação “ampla e constante” para prevenir a “chaga” dos abusos sexuais e assegurar a proteção dos menores, declarando:
Certamente, as recentes situações emersas nas manchetes jornalísticas trazem à tona situações dolorosas, que dizem respeito aos sacerdotes e recaem duramente sobre a vida da Igreja”.
Para o Cardeal Stella, há que oferecer os melhores recursos para a formação dos futuros padres, reforçando a “obra de purificação”, já foi iniciada, com o apoio de todos. E frisou:
É significativo observar que o Papa Francisco não pensa o problema dos abusos como uma realidade a ser enfrentada somente pela hierarquia da Igreja e pelos padres; pelo contrário, o próprio clericalismo, e ter resumido muitas vezes a Igreja a uma elite, gerou um modo anómalo de entender a autoridade que desvalorizou a graça batismal e, não poucas vezes, contribuiu para as formas de abusos, em primeiro lugar sobre a consciência das pessoas”.
Este alto responsável do Vaticano vê o Simpósio do Clero, promovido pela CEP e pela Comissão Episcopal Vocações e Ministérios, como “uma preciosa ocasião para aprofundar a riqueza do magistério do Papa Francisco sobre o perfil do sacerdote e os aspetos fundamentais da sua formação e ministério pastoral”.
Segundo o Cardeal Stella, “é necessário exprimir um sincero reconhecimento ao trabalho, precioso e escondido, de tantos sacerdotes espalhados pelo mundo, que oferecem quotidianamente suas vidas a serviço do Povo de Deus”.
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Em entrevista à Rádio Renascença, o Cardeal Dom António Marto, no contexto do Simpósio do Clero, fala dos desafios que hoje se colocam ao sacerdócio e admite que os escândalos de abuso sexual na Igreja podem afastar os jovens. Com efeito, para o Bispo de Leiria-Fátima, “uma sociedade, para viver bem, precisa também de ter saúde espiritual”.
A polémica dos abusos no seio da Igreja também não passou ao lado do Prefeito da Congregação para o Clero que, em entrevista à Rádio Renascença, defendeu que a Igreja deve assumir “a dolorosa realidade” e enveredar pela via da purificação e conversão. 
Porém, Dom António Marto, Vice-Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, frisa que o simpósio foi programado antes dos recentes acontecimentos, mas que a finalidade se mantém: “uma renovação em ordem à vivência do ministério sacerdotal”, porque se vive “sempre de um modo novo em função das circunstâncias novas do nosso tempo e também das diferentes etapas da vida pelas quais passa uma pessoa e, por conseguinte, também um padre”. Neste sentido, o Cardeal vê nestes encontros “uma descoberta da beleza e da riqueza deste dom do sacerdócio para a Igreja hoje, neste nosso tempo e neste nosso mundo e também para a sociedade”.
Quanto às circunstâncias da sociedade, hoje mais difíceis do que antes e às grandes dificuldades que a vocação sacerdotal hoje enfrenta, considera que esta enfrenta naturalmente “dificuldades diferentes”, mas que foi sempre uma vocação que exige muita reflexão, muita seriedade”. E, falando da sua vivência pessoal, refere:
Eu, quando entrei para o seminário, no primeiro ano éramos 64 e só chegámos ao fim dois, o que significa que muita gente ficou pelo caminho. Muita gente entrava no seminário para fazer os seus estudos; e o seminário foi uma escola de promoção de jovens que não tinham outro meio de acesso aos estudos.”.
Em concreto, sobre o mundo hodierno e as vocações sacerdotais, diz:
Hoje, o mundo assemelha-se a um supermercado mundial, com a maior diversidade de ofertas de modelos e projetos de vida, muitos deles longe do Evangelho de Cristo. A geração nova sente-se confundida, sente falta de uma orientação e, por isso, requer mais maturidade. Ultimamente, as vocações que têm surgido na minha diocese de Leiria-Fátima, são de jovens já com o curso universitário feito, gente para cima dos 22, 24 anos.”.
E, no atinente ao impacto dos escândalos provocado por atos de membros do clero, assente:
É natural que esta mediatização dos escândalos que aconteceram tão longe de nós – embora haja aqui também um ou outro caso – provoque interrogações nos jovens e, porventura, os afaste à partida da sua vocação, que requer uma santidade e um testemunho de vida”.
Relativamente à urgência de formação e de purificação, entraves à purificação e dificuldade em viver a conversão a que se apela, o Cardeal discorre, salientando o facto de sermos humanos, envoltos em ambiências culturais por vezes adversas, e de ser difícil mudar as pessoas:  
Nós todos somos humanos e estamos sujeitos àquilo que o Papa Francisco chama ‘mundanização’, que é viver a vida segundo critérios meramente humanos, da moda dominante, de quem se deixa levar pelas aparências, pela vaidade, pela ostentação, pela vontade de poder, pelo pansexualismo que hoje, muitas vezes, circula nas redes e na internet, pelo desânimo fácil. Porque hoje vive-se nesta tendência de querer ter resultados imediatos. Mas quem lida com pessoas, não é como quem lida com máquinas; lidar com as pessoas é lidar com o seu mistério interior e isso requer tempo, muita escuta, disponibilidade e serviço.”.
Assim, os males mundanos também tocam o clero e a hierarquia, não ficando ninguém isento – o que, segundo o eminente prelado, “exige da nossa parte, da parte dos padres e bispos e também dos cristãos em geral, este cuidado pela vida espiritual”, que não se pode dar por adquirida. E afirma que, por outro lado, não se podepensar que é só um controlo mais apertado ou punições mais severas que mudam isto”. Ao invés, “tem de se mudar por dentro”, isto é, “tem de mudar o coração, a interioridade e a mentalidade”, para, depois, se “criar uma cultura em todo o povo de Deus”. E, citando o Papa Francisco, sublinha:
É onde o Papa põe o acento na sua última carta: criar uma cultura, isto é, o modo de pensar, de estar, de se relacionar, de cuidar uns dos outros. Uma cultura de prevenção e de proteção que não permita que aconteçam semelhantes factos.”.
Por fim, sobre o sacrifício que tudo isto implica e o eventual desânimo “por ver tanta gente que, provavelmente, não está disposta a abandonar a vida que leva”, tranquiliza com desapego:
Jesus não converteu o mundo de um dia para o outro. Começou com tão poucos… por isso, nós hoje, nesta mudança de época – e as mudanças de época são sempre difíceis, porque não se vê o futuro esboçado com clareza – nós ainda estamos numa época mais de sementeira do que de colheita. E não podemos desanimar em continuar a lançar a semente e lançá-la com generosidade e em toda a parte. E a colheita deixamo-la a Deus.”.
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E, sim, Deus permita que o Simpósio do Clero faça eclodir uma significativa reviravolta na Igreja que vive em Portugal colocando os seus agentes mais ativos na rota de uma espiritualidade forte e integral com efeito em toda a vida das pessoas e da sociedade, mas sem desanimar perante os fracassos e colocando-se na ótica da sementeira generosa para deixar a colheita para Deus. Que do Simpósio resulte mais trabalho e comunhão, com cheiro a ovelhas ou, como prefere Dom Pio Alves, pela “caridade na verdade”, expressão tão cara a Bento XVI.
2018.09.05 – Louro de Carvalho

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