Estão a decorrer, em Fátima, na Domus
Carmeli, entre hoje, dia 27 de setembro, e amanhã, dia 28, mais umas Jornadas de Comunicação Social,
organizadas pelo Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, em paralelo
com as III Jornadas Práticas de
Comunicação Digital, organizadas pela Rede Mundial de Oração pelo Papa,
confiada à Companhia de Jesus,
que coordena projetos como “O vídeo do
Papa” e o Click to Pray”, entre
outros.
São dois dias de conferências,
oficinas e debates sobre produção e gestão de conteúdos para websites, redes sociais e aplicações
móveis, com participação de várias pessoas ligadas ao setor das comunicações da
Diocese de Leiria-Fátima.
O Secretariado Nacional das
Comunicações Sociais, na carta-convite datada de 20 de julho, salienta a índole
muito prática deste encontro, “em torno do marketing digital e da construção de
ferramentas para comunicar no ambiente digital, nomeadamente no domínio das
aplicações”. Por outro lado, justifica a realização em simultâneo com as III Jornadas Práticas de Comunicação Digital
pela existência de “pontos comuns nas
duas jornadas, tanto nos temas abordados, como nos públicos a que se dirigem”.
Assim, juntam-se “recursos e saberes para
tornar estes dias de encontro e formação ainda mais interessantes para todos os
participantes”.
Sendo assim, o Secretariado – que
trabalha sob a égide da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais e é editor
de “Agência Ecclesia”, “Ecclesia Internet”, “Ecclesia Televisão”, “70×7” e “Ecclesia Rádio” – acredita que o tema das jornadas é cada
vez mais urgente para as estruturas eclesiais e para todos os comunicadores, em
especial no modo de comunicar dos jovens.
Sob o mote “APPlica-te”, como plasmado em epígrafe, a iniciativa tem a
participação presencial de algumas figuras de relevo na área da comunicação e
marketing digitais, como a irmã Xiskya Valladares, jornalista e cofundadora da
associação iMisión, conhecida como
“monja twiteira” e autora de vários livros, entre os quais “Boas Práticas para Evangelizar no Facebook”,
de Juan Della Torre, da agência de comunicação La Machi, responsável pela produção de “O Vídeo do Papa”, e de Jesús Colina, diretor editorial da rede
digital Aleteia.
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As
jornadas começaram com a sessão de abertura em que intervieram: Dom João
Lavrador, Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e
Comunicações Sociais, Padre Américo Aguiar, Diretor do Secretariado Nacional
das Comunicações Sociais, e Padre António Valério, SJ, Diretor da Rede Mundial
de Oração do Papa em Portugal.
O
programa inclui, a 27, a conferência sob o título “Novas tendências digitais, o que esperar do futuro?”, por Nelson
Pimenta (Digital
Diretor do Grupo Renascença Multimédia),
e três workshops em torno dos temas:
“Dicas para um Marketing Digital eficaz e
ético”, apresentado por Patrícia Dias (Professora Auxiliar e
Investigadora na UCP – Universidade Católica Portuguesa) e por Inês Teixeira-Botelho (Investigadora
e Consultora em Novas Tecnologias e Comunicação Digital); “Boas práticas para evangelizar no Facebook, Twitter e Instagram”, apresentado
por Xiskya Valladares (Cofundadora da iMisión); e “Chaves para fazer uma APP religiosa”, apresentado por Juan Della
Torre (CEO
& Founder da La Machi Comunicación para Buenas Causas). Moderou os debates a seguir à Conferência
e a seguir ao 1.º workshop Elisabete
Carvalho (da Rede Mundial de Oração do Papa); e moderou os debates
subsequentes ao 2.º e ao 3.º workshops
Octávio Carmo (da agência Ecclesia).
E, no
dia 28, destaca-se o painel, moderado pelo Padre António Valério, SJ (Diretor
da Rede Mundial de Oração do Papa em Portugal), e com as seguintes questões-chave: “O que procuram os jovens nas Redes Sociais?”,
por Jesús Colina (Diretor Editorial da Aleteia); “Verdadeiro ou falso? A relação dos jovens com as notícias falsas”,
por Fábio Ribeiro (Professor da Universidade de
Trás-os-Montes e Alto Douro e Investigador na Universidade do Minho).
Como referido,
às comunicações apresentadas pelos diversos oradores segue-se o respetivo
debate, que se pretende animado e elucidativo.
Os trabalhos terminam com um grande debate e a leitura das conclusões e
a sessão de encerramento com intervenção de um responsável da Comissão da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais.
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Segundo
Nelson Pimenta, “a internet veio revolucionar por completo a forma como
trabalhamos, comunicamos, e como nos relacionamos com o resto do mundo, agora
globalizado”. Assim, é pertinente perceber “como é que as novas tecnologias
irão impactar o nosso futuro próximo”.
Para as
condutoras do primeiro workshop, “o
ambiente digital é altamente competitivo”. Na verdade, “os utilizadores são
confrontados com uma sobrecarga de informação e estímulos das marcas, ao mesmo
tempo que desenvolvem técnicas e dominam ferramentas para gerir os seus
consumos e produções digitais”. Nesse sentido, são de encarar duas faces
complementares do Marketing Digital: a quantitativa, que permite, através de métricas cada vez mais
precisas, ajustar a nossa comunicação e ofertas a cada utilizador; e a qualitativa,
que procura compreender o comportamento
humano para [lá] dos números e estatísticas, e busca a construção de relações
assentes em valores. Ora, trabalhando
nestas duas vertentes é possível operar eficaz eticamente no mercado atual.
Por sua
vez, a Irmã Xiskya Valladares entende que “a internet não é uma ferramenta de
evangelização”, mas “um lugar, um ambiente”. Por conseguinte, “não existem receitas para a evangelização
digital, mas sim boas práticas que funcionaram para outros”, as quais “funcionam porque têm em conta a natureza
relacional da Rede e a vivência do Evangelho”. Na sua intervenção, ficam evidenciadas
algumas delas no Twitter, Facebook e Instagram.
E Juan
Della Torre interroga-se se é possível criar Apps que nos permitam dar as boas
mensagens que a Igreja tem. Nesse sentido, propõe-se, num contexto crítico e
exigente como o dos jovens de hoje, dar a conhecer “a estratégia, as boas
práticas e as aprendizagens dos processos de criação de plataformas que
souberam conectar a oração com o mundo”.
Jesús
Colina apresenta em exclusivo um estudo mundial de social listening no Facebook e Instagram sobre os interesses dos jovens
entre os 18 e 25 anos, com revelações inéditas sobre Portugal e Brasil. O
estudo constitui um contributo para a preparação do Sínodo dos Bispos sobre os
jovens, que tem lugar em outubro, em Roma.
Entretanto,
Fábio Ribeiro entra no cerne do jornalismo pelo lado do negativo: as notícias e
conteúdos falsos. Admitindo que “o jornalismo e a sociedade sempre tiveram de
lidar com notícias e conteúdos falsos”, assenta em que “a tecnologia apenas
ajudou a exponenciar esta realidade”. E exemplifica com um estudo recente nos
Estados Unidos da América com mais de 800 indivíduos entre os 10 e os 18 anos,
revelador de que a generalidade dos jovens valoriza as notícias e o jornalismo,
mas que também “demonstra grande facilidade em acreditar em conteúdos falsos,
através de generalizações, preconceitos” (o grande mal das
apreciações e subsequentes atitudes mórbidas), que “resultam de um espírito crítico pouco
apurado e estimulado”. Na sua comunicação “pretende
explorar o tema das notícias falsas, assinalando dados sobre a relação dos
jovens com este tipo de conteúdos, ao mesmo tempo que apresenta formas de
refletir criticamente sobre as notícias publicadas nos meios de comunicação
social e algumas formas que a própria evolução tecnológica trouxe para
denunciar notícias falsas”.
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Para já,
a comunicação social fez eco do alerta deixado, na sessão de abertura, pelo Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, a vincar
que “a evangelização passa hoje pela comunicação digital, mas
não substitui a relação humana e comunitária”. Com efeito, porque “é no digital que estão as pessoas”, será “lá que a Igreja tem de estar para
evangelizar. E Dom João Lavrador disse à Rádio Renascença:
“Se as pessoas hoje, na sua maioria, sobretudo os jovens, é aqui que
caminham, que comunicam, que querem ter informação, e é aqui que de alguma
maneira podem entrar com a realidade da Igreja, então a Igreja tem por dever
desenvolver estas aplicações e utilizá-las”.
O Bispo de
Angra e Presidente da referida Comissão Episcopal alertou, como se disse, para
o facto de o digital não substituir a dimensão comunitária e presencial das
pessoas, sublinhando:
“Hoje, ao nível sociológico e, sobretudo, ao nível da psicologia das
relações entre as pessoas, já se chama a atenção para não se ficarem
simplesmente pelas aplicações ou na informação ou no diálogo pelo digital. É
necessário que as pessoas se encontrem pessoalmente. Portanto, tudo isto pode
facilitar o encontro pessoal e, sobretudo, a participação.”.
Também a
agência Ecclesia relevou a
intervenção de Patrícia Dias, que, destacando a importância de se apresentarem “valores
partilhados”, vincou a necessidade de
colocarmos as pessoas no centro do marketing e das aplicações digitais e frisou
que “as pessoas gostam, sobretudo, de marcas com as quais se identificam”.
A especialista da Faculdade de Ciências Humanas da UCP,
sublinhando que as marcas mais inspiradoras são as que “comunicam porque é que
fazem”, assinalou que os dados nos ajudam “a ser mais eficazes, mas não nos
podemos esquecer de que, por trás dos números, estão pessoas”. Por isso, propôs
um marketing digital “eficaz e ético”, num mundo em que é cada vez mais difícil
ser “relevante”, e observou que “a postura ética acaba por trazer retorno, a
longo prazo”.
Para a investigadora e docente universitária, o digital “não
é um conceito isolado” de tudo o que está a acontecer, sendo importante
“desenvolver a literacia nos diferentes públicos e em todas as idades” e perder
o receio de “substituição do ser humano” pelas tecnologias digitais, pois, como
apontou, “a proliferação da Inteligência artificial até nos vai fazer valorizar
a interação humana”.
Também a Ecclesia
refere que a intervenção e o debate que se lhe seguiu abordaram o perigo das
“bolhas de redundância”, que leva a um extremar de perspetivas sobre o mundo.
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Espera-se que o encontro redunde numa forte mais-valia para a
ação da Igreja num país, como o nosso, ainda agarrado à inércia tradicional e à
conservação dos usos marcados pelo folclore religioso e pela vertente
espetacular da religião, bons para a vivência do momento, mas, porque não
comprometem, são frequentemente abandonados ao virar da esquina, até que um
momento inspirador faça que as pessoas regressem e se comprometam na comunidade.
Prosit!
2018.09.27
– Louro de Carvalho
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