quinta-feira, 27 de setembro de 2018

“APPlica-te” é o tema motivador das Jornadas de Comunicação Social 2018


Estão a decorrer, em Fátima, na Domus Carmeli, entre hoje, dia 27 de setembro, e amanhã, dia 28, mais umas Jornadas de Comunicação Social, organizadas pelo Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, em paralelo com as III Jornadas Práticas de Comunicação Digital, organizadas pela Rede Mundial de Oração pelo Papa, confiada à Companhia de Jesus, que coordena projetos como “O vídeo do Papa” e o Click to Pray”, entre outros.
São dois dias de conferências, oficinas e debates sobre produção e gestão de conteúdos para websites, redes sociais e aplicações móveis, com participação de várias pessoas ligadas ao setor das comunicações da Diocese de Leiria-Fátima.
O Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, na carta-convite datada de 20 de julho, salienta a índole muito prática deste encontro, “em torno do marketing digital e da construção de ferramentas para comunicar no ambiente digital, nomeadamente no domínio das aplicações”. Por outro lado, justifica a realização em simultâneo com as III Jornadas Práticas de Comunicação Digital pela existência de “pontos comuns nas duas jornadas, tanto nos temas abordados, como nos públicos a que se dirigem”. Assim, juntam-se “recursos e saberes para tornar estes dias de encontro e formação ainda mais interessantes para todos os participantes”.
Sendo assim, o Secretariado – que trabalha sob a égide da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais e é editor de “Agência Ecclesia”, “Ecclesia Internet”, “Ecclesia Televisão”, “70×7” e “Ecclesia Rádio” – acredita que o tema das jornadas é cada vez mais urgente para as estruturas eclesiais e para todos os comunicadores, em especial no modo de comunicar dos jovens.
Sob o mote “APPlica-te”, como plasmado em epígrafe, a iniciativa tem a participação presencial de algumas figuras de relevo na área da comunicação e marketing digitais, como a irmã Xiskya Valladares, jornalista e cofundadora da associação iMisión, conhecida como “monja twiteira” e autora de vários livros, entre os quais “Boas Práticas para Evangelizar no Facebook”, de Juan Della Torre, da agência de comunicação La Machi, responsável pela produção de “O Vídeo do Papa”, e de Jesús Colina, diretor editorial da rede digital Aleteia.
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As jornadas começaram com a sessão de abertura em que intervieram: Dom João Lavrador, Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, Padre Américo Aguiar, Diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, e Padre António Valério, SJ, Diretor da Rede Mundial de Oração do Papa em Portugal.
O programa inclui, a 27, a conferência sob o título “Novas tendências digitais, o que esperar do futuro?”, por Nelson Pimenta (Digital Diretor do Grupo Renascença Multimédia), e três workshops em torno dos temas: “Dicas para um Marketing Digital eficaz e ético”, apresentado por Patrícia Dias (Professora Auxiliar e Investigadora na UCP – Universidade Católica Portuguesa) e por Inês Teixeira-Botelho (Investigadora e Consultora em Novas Tecnologias e Comunicação Digital); “Boas práticas para evangelizar no Facebook, Twitter e Instagram”, apresentado por Xiskya Valladares (Cofundadora da iMisión); e “Chaves para fazer uma APP religiosa”, apresentado por Juan Della Torre (CEO & Founder da La Machi Comunicación para Buenas Causas). Moderou os debates a seguir à Conferência e a seguir ao 1.º workshop Elisabete Carvalho (da Rede Mundial de Oração do Papa); e moderou os debates subsequentes ao 2.º e ao 3.º workshops Octávio Carmo (da agência Ecclesia).
E, no dia 28, destaca-se o painel, moderado pelo Padre António Valério, SJ (Diretor da Rede Mundial de Oração do Papa em Portugal), e com as seguintes questões-chave: “O que procuram os jovens nas Redes Sociais?”, por Jesús Colina (Diretor Editorial da Aleteia); “Verdadeiro ou falso? A relação dos jovens com as notícias falsas”, por Fábio Ribeiro (Professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e Investigador na Universidade do Minho).
Como referido, às comunicações apresentadas pelos diversos oradores segue-se o respetivo debate, que se pretende animado e elucidativo.  Os trabalhos terminam com um grande debate e a leitura das conclusões e a sessão de encerramento com intervenção de um responsável da Comissão da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais.
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Segundo Nelson Pimenta, “a internet veio revolucionar por completo a forma como trabalhamos, comunicamos, e como nos relacionamos com o resto do mundo, agora globalizado”. Assim, é pertinente perceber “como é que as novas tecnologias irão impactar o nosso futuro próximo”.
Para as condutoras do primeiro workshop, “o ambiente digital é altamente competitivo”. Na verdade, “os utilizadores são confrontados com uma sobrecarga de informação e estímulos das marcas, ao mesmo tempo que desenvolvem técnicas e dominam ferramentas para gerir os seus consumos e produções digitais”. Nesse sentido, são de encarar duas faces complementares do Marketing Digital: a quantitativa, que permite, através de métricas cada vez mais precisas, ajustar a nossa comunicação e ofertas a cada utilizador; e a qualitativa, que procura compreender o comportamento humano para [lá] dos números e estatísticas, e busca a construção de relações assentes em valores. Ora, trabalhando nestas duas vertentes é possível operar eficaz eticamente no mercado atual.
Por sua vez, a Irmã Xiskya Valladares entende que “a internet não é uma ferramenta de evangelização”, mas “um lugar, um ambiente”. Por conseguinte, “não existem receitas para a evangelização digital, mas sim boas práticas que funcionaram para outros”, as quais “funcionam porque têm em conta a natureza relacional da Rede e a vivência do Evangelho”. Na sua intervenção, ficam evidenciadas algumas delas no Twitter, Facebook e Instagram.
E Juan Della Torre interroga-se se é possível criar Apps que nos permitam dar as boas mensagens que a Igreja tem. Nesse sentido, propõe-se, num contexto crítico e exigente como o dos jovens de hoje, dar a conhecer “a estratégia, as boas práticas e as aprendizagens dos processos de criação de plataformas que souberam conectar a oração com o mundo”.
Jesús Colina apresenta em exclusivo um estudo mundial de social listening no Facebook e Instagram sobre os interesses dos jovens entre os 18 e 25 anos, com revelações inéditas sobre Portugal e Brasil. O estudo constitui um contributo para a preparação do Sínodo dos Bispos sobre os jovens, que tem lugar em outubro, em Roma.
Entretanto, Fábio Ribeiro entra no cerne do jornalismo pelo lado do negativo: as notícias e conteúdos falsos. Admitindo que “o jornalismo e a sociedade sempre tiveram de lidar com notícias e conteúdos falsos”, assenta em que “a tecnologia apenas ajudou a exponenciar esta realidade”. E exemplifica com um estudo recente nos Estados Unidos da América com mais de 800 indivíduos entre os 10 e os 18 anos, revelador de que a generalidade dos jovens valoriza as notícias e o jornalismo, mas que também “demonstra grande facilidade em acreditar em conteúdos falsos, através de generalizações, preconceitos” (o grande mal das apreciações e subsequentes atitudes mórbidas), que “resultam de um espírito crítico pouco apurado e estimulado”. Na sua comunicação “pretende explorar o tema das notícias falsas, assinalando dados sobre a relação dos jovens com este tipo de conteúdos, ao mesmo tempo que apresenta formas de refletir criticamente sobre as notícias publicadas nos meios de comunicação social e algumas formas que a própria evolução tecnológica trouxe para denunciar notícias falsas”.
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Para já, a comunicação social fez eco do alerta deixado, na sessão de abertura, pelo Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, a vincar que “a evangelização passa hoje pela comunicação digital, mas não substitui a relação humana e comunitária”. Com efeito, porque é no digital que estão as pessoas”, será “lá que a Igreja tem de estar para evangelizar. E Dom João Lavrador disse à Rádio Renascença:
Se as pessoas hoje, na sua maioria, sobretudo os jovens, é aqui que caminham, que comunicam, que querem ter informação, e é aqui que de alguma maneira podem entrar com a realidade da Igreja, então a Igreja tem por dever desenvolver estas aplicações e utilizá-las”.
O Bispo de Angra e Presidente da referida Comissão Episcopal alertou, como se disse, para o facto de o digital não substituir a dimensão comunitária e presencial das pessoas, sublinhando:
Hoje, ao nível sociológico e, sobretudo, ao nível da psicologia das relações entre as pessoas, já se chama a atenção para não se ficarem simplesmente pelas aplicações ou na informação ou no diálogo pelo digital. É necessário que as pessoas se encontrem pessoalmente. Portanto, tudo isto pode facilitar o encontro pessoal e, sobretudo, a participação.”.
Também a agência Ecclesia relevou a intervenção de Patrícia Dias, que, destacando a importância de se apresentarem “valores partilhados”, vincou a necessidade de colocarmos as pessoas no centro do marketing e das aplicações digitais e frisou que “as pessoas gostam, sobretudo, de marcas com as quais se identificam”.
A especialista da Faculdade de Ciências Humanas da UCP, sublinhando que as marcas mais inspiradoras são as que “comunicam porque é que fazem”, assinalou que os dados nos ajudam “a ser mais eficazes, mas não nos podemos esquecer de que, por trás dos números, estão pessoas”. Por isso, propôs um marketing digital “eficaz e ético”, num mundo em que é cada vez mais difícil ser “relevante”, e observou que “a postura ética acaba por trazer retorno, a longo prazo”.
Para a investigadora e docente universitária, o digital “não é um conceito isolado” de tudo o que está a acontecer, sendo importante “desenvolver a literacia nos diferentes públicos e em todas as idades” e perder o receio de “substituição do ser humano” pelas tecnologias digitais, pois, como apontou, “a proliferação da Inteligência artificial até nos vai fazer valorizar a interação humana”.
Também a Ecclesia refere que a intervenção e o debate que se lhe seguiu abordaram o perigo das “bolhas de redundância”, que leva a um extremar de perspetivas sobre o mundo.
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Espera-se que o encontro redunde numa forte mais-valia para a ação da Igreja num país, como o nosso, ainda agarrado à inércia tradicional e à conservação dos usos marcados pelo folclore religioso e pela vertente espetacular da religião, bons para a vivência do momento, mas, porque não comprometem, são frequentemente abandonados ao virar da esquina, até que um momento inspirador faça que as pessoas regressem e se comprometam na comunidade.
Prosit!
2018.09.27 – Louro de Carvalho 

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