segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Maria de Nazaré ao serviço da missão messiânica de Jesus


Não raro se lê ou se ouve dizer que Maria de Nazaré não quer ser entronizada pelas multidões ou que nessa postura não é exemplo de libertação das mulheres que não são respeitadas na sua dignidade de pessoas humanas ou que desvia a atenção das necessidades dos pobres. Pretendem, combatendo o ponto de vista dos que alegadamente a endeusam, ressuscitando velhos mitos do paganismo, reduzi-la ao estatuto de mulher comum entre as demais mulheres de Nazaré.
Ora, sem deixar de ter o estatuto de mulher comum entre as demais, essa índole comum é mais aparente que real. E é em virtude da diferença profunda que a distingue das outras mulheres que Ela consegue ser libertadora e mola propulsora de liberdade e libertação.
Qualquer mulher se envaideceria se fosse cumulada com a honra de ser a mãe do que viria a ser o chefe de todos os povos. E como se posicionou Maria?
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O “Magnificat” (Lc 1,46-55)
Em relação a Maria, este cântico que Ela profere, vem na sequência da sua postura no anúncio da encarnação do Verbo de Deus, em que se assume como a serva do Senhor, aceitando e desejando que se realize em si toda a palavra que lhe foi dita pelo mensageiro.
Exprimindo a alegria da sua alma no Senhor por ter sido cumulada da graça divina, tendo sido eleita mãe do Verbo de Deus, Maria com o Magnificat canta a Deus o hino da pessoa (alma, como elã vital, e espírito como força dinâmica e renovadora) que engrandece o Senhor e rejubila em Deus Salvador. Maria conta-se entre os redimidos e com um lugar especial: o Todo-Poderoso, cujo nome é santo, fez maravilhas nela, sua humilde serva. Pelo que este é um cântico de louvor.
Trata-se outrossim dum cântico profético, porquanto Deus, na sua inefável bondade, pôs os olhos em Maria e, por isso, doravante todas as gerações a proclamarão bendita entre as mulheres, como disse Isabel, a chamarão bem-aventurada, como diz Maria. Ou seja, sem perder o estatuto comum da condição de mulher, é exalçada, por desígnio divino, ao pódio de cumulada de graça, por ter acreditado em tudo quanto lhe foi dito da parte de Senhor, como frisa a saudação de Isabel, e por ser a Mãe do Senhor, a bendita que, na lógica de Isabel, encaminha os homens a bendizer Jesus, o fruto do seu ventre.
É um cântico da misericórdia divina, pois desta misericórdia, que “se estende de geração em geração sobre aqueles que O temem”, resulta que Deus está do lado dos humildes, dos famintos em detrimento dos soberbos e poderosos ou dos ricos, obviamente não para os aniquilar, mas para que entrem na razão, se convertam e pratiquem a equidade a justiça. Assim se compreende que o Senhor tenha cumulado de graça uma simples menina da Galileia e a tenha feito modelo dos crentes de coração e ação, na discrição e na eficácia, que não na pompa e na ostentação.  
Este hino inspira-se no Antigo Testamento, sobretudo no Cântico de Ana (1Sm 2,1-10), um hino de ação de graças, e tem substrato também nos Salmos e nos Profetas. Canta a gratidão e exultação da mãe de Jesus (vv 46-50), que se sente parte integrante do cumprimento da promessa messiânica, e de todo o povo de Deus (vv 51-55), porque, tal com no passado, Deus agora cumpre o que prometeu aos nossos pais e abre as portas do futuro em Jesus, o Messias.
A gesta divina vem enquadrada por dois temas: a justiça de Deus, que Maria apreende na sua perspicácia e que vem em socorro dos pobres e dos pequeninos; e a divina fidelidade misericordiosa para com o Povo da Promessa, antecipação da nova humanidade numa nova era.   
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Maria em torno da missão de Jesus
Surpreendida pela saudação angélica que a denomina cheia de graça e imbuída da presença do Senhor junto dela, com Ela, dentro dela e envolvendo-A, perguntou como se realizaria em si o que Gabriel lhe anunciava e, vendo como no anúncio se corporizava a promessa messiânica por obra do Espírito Santo, colocou-se ao serviço da Encarnação do Verbo e na disponibilidade serviçal para a cooperação na missão redentora do Filho, sempre na fidelidade à Palavra que lhe foi enviada da parte de Deus (vd Lc 1,26-38). Assim, embora comungue da índole comum das outras mulheres, ganha a singularidade de, na discrição, alimentar in sinu o Verbo de Deus, trazê-lo à luz do dia e cuidar dele na infância e adolescência e garantir-lhe o estatuto de autonomia para a missão. Tanto assim é que, segundo o discípulo amado, o primeiro sinal miraculoso de Jesus ao serviço da fé messiânica foi realizado por sugestão da Mãe, que, apesar da resposta evasiva do Filho, atinou que era preciso fazer o que Ele mandasse (vd Jo 2,1-11).
Maria no Evangelho aparece-nos sempre em íntima ligação com Jesus, como se viu e continuará a ver. Mateus refere a José que ela dará à luz um filho, Jesus, que salvará o povo dos seus pecados (vd Mt 1,21). Lucas, relatando as circunstâncias do nascimento do Menino, refere:
Completados os dias de ela dar à luz, teve o seu filho primogénito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,6-7).       
Maria, que foi o primeiro templo do mundo dedicado ao Senhor, erige na gruta de Belém a manjedoura como o primeiro altar de adoração familiar, em torno do qual os anjos cantam glória nas alturas a Deus e paz na terra aos homens do seu agrado, correndo um deles a avisar os pastores das redondezas:
Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: ‘Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura.” (Lc 2,11-12).
Perante este eloquente anúncio, os pastores acorreram ao presépio e encontraram o Menino reclinado na manjedoura. Tendo visto que tudo era como o anjo dizia, começaram a divulgar o que ouviram acerca do Menino. E quantos os ouviram se admiravam do que os pastores diziam. E os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, conforme lhes fora anunciado. Porém, a Mãe toma uma postura típica de quem medita imbuída do mistério: conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração. (vd Lc 2,8-20).
Também Mateus nos apresenta Maria ao pé do Menino. Com efeito, os Magos, “ao verem a estrela, sentiram imensa alegria; e, entrando na casa, viram o Menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, adoraram-no; e, abrindo os cofres, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra” (Mt 2,10-11). E Lucas relata com pormenor a apresentação de Jesus no Templo (vd Lc 2,22-40). Maria e José levaram, no tempo regulamentar, Jesus ao Templo para ser consagrado ao Senhor e ser oferecido o sacrifício de um par de rolas ou de pombas. Entretanto, o velho Simeão, a quem o Espírito Santo revelara que veria o Messias, foi ao Templo e tomando o menino nos braços, profetizou diante da mãe, que ficou admirada (e também José) com tudo o que ouvia, que estava perante a Salvação oferecida a todos os povos, a Luz das nações, a Glória de Israel. E, em especial, disse a Maria:
Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; uma espada trespassará a tua alma. Assim hão de revelar-se os pensamentos de muitos corações.” (Lc 2,34-35).
Também a profetiza Ana, aparecendo nessa mesma ocasião, louvava a Deus e falava do Menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém.
E, como Maria e José viviam em função do Menino, regressaram à Galileia, a Nazaré, onde Jesus crescia e se robustecia, enchendo-se de sabedoria, e estando com Ele a graça de Deus.
Voltando ao Evangelho de Mateus, vemos mais uma vez Maria e José em sobressalto por Jesus: porque José fora avisado por um anjo de que Herodes queria matar o Menino, tiveram de fugir para o Egito, tendo regressado não à Judeia, mas à Galileia, quando foram avisados de que tinham morrido aqueles que pretendiam a morte do Menino (vd Mt 2,13-15.19-23). Com efeito, tinham de se cumprir as profecias que vaticinavam que o Messias seria do Egito e de Nazaré. E Maria e José estiveram, na parte que lhes dizia respeito, ao serviço do cumprimento de todas as profecias messiânicas.
Também é emblemático o episódio da perda do Menino na peregrinação anual a Jerusalém, quando Jesus chegou aos 12 anos. Regressados a casa, deram conta de que o Menino não estava.
Pensando que se encontrava na caravana, Maria e José fizeram um dia de viagem e começaram a procurá-lo entre os parentes e conhecidos. Não o tendo encontrado, voltaram a Jerusalém, à sua procura. Três dias depois, encontraram-no no Templo, sentado entre os doutores, a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas, com estupefação geral pela sua inteligência e suas respostas. Porém, a mãe fez-lhe reparo: “Filho, porque nos fizeste isto? Olha que teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura!”. Ao que Ele respondeu: “Porque me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?”. Depois desceu com eles para Nazaré e era-lhes submisso. Entretanto, na sua discrição serviçal, a mãe guardava todas estas coisas no seu coração. E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens. (vd Lc 2,41-52). Importante para nós a resposta de Jesus: devemos encontrá-lo, não onde pensamos que Ele está ou onde queremos que Ele esteja, mas onde Ele quer ser encontrado, seja no Templo, no nosso coração ou no meio dos pobres e deserdados da sorte ou dos homens; depois, devemos saber dar lugar à ocupação nas coisas do Pai.   
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Poderia parecer, à primeira vista, que Maria só estaria ao pé de Jesus no tempo da infância. Porém, além da passagem do cap. 2 do Evangelho de João, acima referida, Marcos e Mateus apresentam passos da postura de Maria na vida pública de Jesus. Assim, no Evangelho de Marcos, a pessoa de Maria aparece em duas passagens: Mc 3,31-35 (Os seus familiares ouviram isto e saíram a ter mão nele, pois diziam: “Está fora de si!”) e Mc 6,3-4 (Não é Ele o carpinteiro, o filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? E as suas irmãs não estão aqui entre nós?). Nestes textos, Maria é a mãe biológica de Jesus que, juntamente com os seus familiares, tenta entender o filho. Maternalmente solícita pela sorte dele, também é convocada a ser discípula na busca da compreensão de Jesus e sua missão e a acolher sua proposta. Também Ela podia estar entre os primeiros a nutrir preocupações ainda muito humanas pela missão e a obra de Jesus. Por isso, Jesus indica que a sua verdadeira família não é a de ordem carnal, mas a da linha da fé e que a ela pertencem todos os filhos do Reino. Assim, Maria, Mãe de Jesus é fundamental testemunho dos verdadeiros laços que criam a comunhão com Jesus. Depois de ter transportado Jesus, seu filho no ventre, era preciso que ela o gerasse no coração, cumprindo a vontade de Deus (cf Mc 3,35 – “Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe”), que se manifestava naquilo que Jesus dizia e realizava. Neste sentido, a figura de Maria “mãe” harmoniza-se e completa-se com a figura da “discípula”, que torce íntima e intensamente por quem está ativamente em missão. E uma passagem de Lucas (Lc 11,27-28) reforça-o:
Enquanto Ele falava, uma mulher, levantando a voz do meio da multidão, disse: ‘Felizes as entranhas que te trouxeram e os seios que te amamentaram’! Ele, porém, retorquiu: ‘Felizes, antes, os que escutam a Palavra de Deus e a põem em prática’.”.
No Evangelho de Mateus, a pessoa de Maria aparece em dois momentos do ministério apostólico de Jesus (cf Mt 12,46-50; 13,54-58), ambos na dependência de Marcos, mas com Mateus a tomar diante dele tal liberdade que é capaz de transformar seu sentido e seu ensinamento.
Por seu turno, João (vd Jo 19, 25-27), ao mostrar-nos junto da cruz do Redentor a Mãe (embora com outras mulheres) e o discípulo predileto, dá-nos conta do testamento em que Jesus a torna a mãe de todos os discípulos e a entrega ao cuidado dos discípulos: Jesus disse a sua Mãe: “Mulher, eis o teu filho”, após o que disse ao discípulo: “Eis a tua Mãe”. Não é só de João que se trata, mas de todos os que sentem o ardor do discipulado, que os leva a ser apóstolos. Por conseguinte, não foi apenas João o discípulo que a recebeu em sua casa, pois, após a Ascensão do Senhor, os apóstolos desceram do monte das Oliveiras, foram para Jerusalém e, quando chegaram à cidade, subiram para a sala de cima (o Cenáculo), no lugar onde se encontravam habitualmente; e todos unidos pelo mesmo sentimento entregavam-se assiduamente à oração, com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus (cf At 1,12-14).
Como se vê, já noutro livro que não os dos Evangelhos, Maria – que está muito presente na Infância de Jesus, surge episodicamente no ministério público do Filho e comparece no momento crucial e cruciante do termo da vida terrena de Jesus – acompanha a Igreja nascente. Por isso, não se pode estranhar que, de forma mais discreta ou mais visível, exerça a missão de acompanhar a Igreja nas suas alegrias e angústias e todos os homens de quem a Igreja tem a obrigação de cuidar, de lhes apresentar Jesus, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, e de os encaminhar para Cristo e, por Ele, para a comunhão trinitária, que já tem de se viver aqui e agora, mas que se realizará plenamente no fim dos tempos.
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A Senhora das Dores
Exatamente, porque Maria, presente junto da Cruz, vive e sente os sofrimentos de Seu Filho, a Liturgia dedica-Lhe especial atenção no dia subsequente ao da celebração da festa da Exaltação da Santa Cruz. Com efeito, as dores da Virgem, unidas aos sofrimentos de Cristo, foram também redentoras e indicam-nos o caminho da nossa dor, dor que temos de sublimar em prol da alegria que almejamos e de que fazemos fazendo experiência vivificante em comunidade animada pelo Espírito de Cristo, o Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho. Porém, esta memória litúrgica é fortemente cristocêntrica, pois todos os textos da Missa, mesmo os que parecem centrar-se em Maria, nos encaminham para Jesus ou a Ele fazem referência.
Logo a antífona de Entrada (de missa sem cântico) transcreve o momento (Lc 2,34-35 ) em que Simeão aponta o Menino como sinal de contradição para ruína e salvação de muitos em Israel e que uma espada trespassaria a alma da mãe. E, pela oração coleta (evocando Jo 19,25-27), a comunidade dirige-se ao Senhor para que faça com que a Igreja, associada com Maria à Paixão de Cristo, mereça ter parte na sua ressurreição.
A 1.ª leitura (Heb 5,7-9) fala de Cristo, que dirigiu, nos dias da sua vida mortal, preces e súplicas Àquele que O podia livrar da morte, tendo sido atendido mercê da sua piedade; e que, apesar de Filho, “aprendeu a obediência no sofrimento” e se tornou para os que Lhe obedecem “causa de salvação eterna”. Ora, se não tivéssemos em conta os Evangelhos, que falam de Maria junto de Jesus, e o que diz Paulo (Gl 4,4-5) – chegada a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, a resgatar os que se encontravam sob o domínio da Lei, a fim de recebermos a adopção de filhos – aqui nem nos lembraríamos da Mãe de Jesus. E o salmo responsorial – Salmo 31 (3a), 2-3ab.3cd-4.5-6.15-16ab.20 (R. 17b) – constitui, em torno do refrão “Salvai-me, Senhor, pela vossa bondade”, uma oração de súplica e uma expressão de confiança, um grito de libertação junto do Senhor, a que os Padres associam o brado de Jesus na cruz antes de expirar, “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”.  
No entanto, um segmento textual – “Como é grande, Senhor, a vossa bondade  que tendes reservada para os que Vos temem:  à vista da vossa face, Vós a concedeis  àqueles que em Vós confiam” – aproxima-nos do Magnificat no versículo “A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem”. Mesmo a sequência facultativa, que parece inspirada na vertente devocional, evoca a Mãe dolorosa, junto da cruz, enquanto Jesus sofria, facto já previsto na metáfora da espada de Simeão. Por outro lado, reporta-nos o ambiente da populaça e da soldadesca no cenário da caminhada para o calvário e no momento da crucifixão e da exposição do corpo do Crucifixo todo chagado, bem como a postura firme e heroica da Mãe que “viu Jesus, pendendo o rosto, soltar o alento final”. E, depois de uma prece a Cristo para nos dê a palma imortal, por intermédio da Mãe, há efetivamente uma súplica a “Maria, fonte de amor” (se é Mãe de Deus, que é Amor, é mesmo fonte de amor) no sentido de Ela ajudar a que o crente se associe com Ela à Paixão do Senhor, mostre a sua gratidão a Cristo e se torne apto a, quando a morte chegar, ir repousar à sombra bendita da Cruz. 
O versículo do Aleluia bendiz efetivamente a Virgem Maria, porque, ao pé da cruz do Senhor, mereceu a palma do martírio. E, para leitura do Evangelho, são propostas duas passagens em alternativa: Jo 19,25-27 ou Lc 2,33-35. No primeiro caso, salienta-se o segmento “Eis o teu filho...Eis a tua Mãe”, o núcleo do testamento do Senhor e as consequências do mesmo como acima foi explanado, bem como a participação da Mãe de Jesus no sofrimento cruciante, mas redentor, do Filho e a presença das mulheres e do discípulo predileto no cenário do Gólgota; e, no segundo caso, releva-se o segmento previsional do velho Simeão dirigido a Maria “uma espada trespassará a tua alma” a antecipar o episódio do Calvário em que “se  revelarão os pensamentos de todos os corações”.
Depois, vem a oração dos fiéis. Acolhe-se a que é proposta pelo “Missal Quotidiano” (da Paulus).
Começa pelo convite à invocação, por Maria que esteve junto à cruz, daquele que lhe deu tanta coragem e fortaleza. As preces, solicitando sempre a intercessão de Maria e evocando o seu exemplo, envolvem: a promoção do testemunho fiel de fé do Povo de Deus; os pastores, para que anunciem a boa nova aos pobres; os cuidadores dos doentes e idosos, para que sejam sinais vivos da solicitude de Cristo; os pais e mães, para que aprendam a confiar só em Deus; e os membros da assembleia, para que recebam o dom da perseverança. E a conclusão contém a súplica, ao Senhor, da graça da perseverança generosa na obra da redenção da humanidade.         
A oração sobre as oblatas, a pretexto da celebração da memória da Virgem, que nos foi dada como Mãe bondosa junto da cruz do Filho de Deus, configura o oferecimento dos corações – que vão nas nossas orações e ofertas – ao Deus de misericórdia, pedindo-Lhe que os aceite.
Como prefácio, são propostas duas fórmulas, ambas de prefácios de Nossa Senhora: o Prefácio I ou o Prefácio II. O primeiro sublinha a maternidade divina de Maria, louvando e bendizendo ao Senhor, pois Ela, pelo poder do Espírito Santo, concebeu o Filho Unigénito de Deus e, sem perder a glória da sua virgindade, deu ao mundo a luz eterna, Jesus Cristo Nosso Senhor; e, no segundo, celebra-se o poder admirável do Senhor e exalta-se a sua bondade, com inspiração no Cântico de Louvor da Virgem Maria, pois Deus fez maravilhas em prol de todos os povos e manifestou a sua misericórdia de geração em geração, quando olhou para a humidade da sua serva e nos deu por Ela o Salvador do mundo, Jesus Cristo Nosso Senhor (mais uma vez, como no Prefácio I a evidência do encaminhamento de Maria para Cristo). 
A antífona da comunhão (1Pe 4,13), na missa sem canto, é convite à alegria, já que participamos nos sofrimentos de Cristo, alegria que se nos tornará, quando se manifestar a glória do Senhor. E a oração depois da comunhão é um pedido ao Senhor para que, dado que nos alimenta com o sacramento da redenção eterna ao celebrarmos as dores da Virgem Santa Maria, nos ajude “a completar em nós, em benefício da Igreja, o que falta à Paixão de Cristo”.
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Na Liturgia das Horas, é de considerar o que é próprio desta memória litúrgica. Assim, o invitatório convida a adorar o Salvador, “que associou à sua Paixão a Virgem Maria”.
No ofício de leitura, além do hino (a primeira parte da sequência da Missa, já referenciada), destaca-se a 2.ª leitura, dos Sermões de São Bernardo, abade – (Sermo in dom. infra oct. Assumptionis, 14-15: Opera omnia, ed. Cisterc. 5 [1968], 273-274) (Sec. XII) – cujo tópico fundamental é: “A Mãe de Cristo estava junto à cruz”. E, assegurando que “o martírio da Virgem é recordado tanto na profecia de Simeão como na história da paixão do Senhor”, sublinha:
Diz o santo ancião acerca do Menino Jesus: Este foi predestinado para ser sinal de contradição; e, referindo-se a Maria, acrescenta: E uma espada trespassará a tua alma.”. 
E desenvolve, falando com Maria:
Depois que aquele Jesus – que é de todos, mas especialmente vosso – expirou, a cruel lança que Lhe abriu o lado, sem respeitar sequer um morto a quem já não podia causar dor alguma, não feriu a sua alma, mas atravessou a vossa. A alma de Jesus já não estava ali, mas a vossa não podia ser arrancada daquele lugar. Por isso a violência da dor trespassou a vossa alma, e assim com razão Vos proclamamos mais que mártir, porque os vossos sentimentos de compaixão superaram os sofrimentos corporais do martírio.”. 
Falando para os fiéis, associou Maria à Paixão e Morte do Redentor:            
Mas talvez alguém possa dizer: ‘Porventura não sabia Ela que Jesus havia de morrer?’. Sem dúvida. ‘Não esperava Ela que Jesus havia de ressuscitar?’. Com toda a certeza. ‘E apesar disso sofreu tanto ao vê-lo crucificado?’. Sim, com terrível veemência. Afinal, que espécie de homem és tu, irmão, e que estranha sabedoria é a tua, se te surpreende mais a compaixão de Maria do que a Paixão do Filho de Maria? Ele pôde morrer corporalmente e Ela não pôde morrer com Ele em seu coração? A morte de Jesus foi por amor, aquele amor que nenhum homem pode superar; o martírio de Maria teve a sua origem também no amor, ao qual, depois do de Cristo, nenhum outro amor se pode comparar.”.
Depois, o responsório, frisando o facto da crucifixão e a prometida espada de dor a Maria, releva a presença de Maria junto à cruz de Jesus. O hino de Laudes é a segunda parte da sequência facultativa da Missa, já referenciada. Uma das antífonas da salmodia apresenta a união da alma a Jesus, outra convida à alegria pela participação nos sofrimentos de Cristo e outra assegura a vontade de Deus em reconciliar consigo todas as coisas pelo sangue de Cristo. Na leitura breve (Cl 1,24-25), Paulo refere completar com alegria na sua carne o que falta à Paixão de Cristo em benefício da Igreja de que se tornou ministro por encargo de Deus. O responsório breve afirma a esperança da salvação a partir das chagas de Cristo, por Maria. E a antífona do Benedictus’ desafia a Mãe dolorosa à alegria, porque, após tantos sofrimentos, vive para sempre com o Filho na condição de Rainha do Universo.
Formam o hino de Vésperas os últimos tercetos da predita sequência da Missa. Nas antífonas, ressalta Cristo, nossa paz e reconciliação, a aproximação da cidade do Deus vivo e de Jesus, o mediador da Nova Aliança e a conquista da redenção pelo Seu sangue. Na leitura breve (2Tm 2,10-12a), Paulo diz tudo suportar pelos eleitos para obterem a salvação. O responsório breve salienta a presença da Senhora junto à cruz do Senhor e a felicidade daquela que, sem morrer, mereceu a palma do martírio (com efeito, é testemunha sofrente do martírio do Redentor) e a antífona doMagnificat’ retoma o testamento da maternidade de Maria em relação aos discípulos. 
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Tudo o que foi exposto, mostra que o culto mariano, devidamente esclarecido, não é um fim em si, mas encontra justificação nos méritos de Cristo, dele deriva e para Ele se encaminha – com vista à edificação progressiva da Igreja e à realização na parusia, seguindo Cristo, o caminho, mas já com as pegadas da Mãe, sofrida, é certo, mas agora bem-aventurada na Glória e intercessora solícita pela sorte dos homens e mulheres que labutam neste mundo. 
2018.09.16 – Louro de Carvalho

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