Mais de 400 anos após a sua morte, a revista “The Lancet Infectious” divulgou um
estudo em que os investigadores (sete cientistas franceses e italianos) adiantam que
as análises feitas a um esqueleto que têm como sendo comprovadamente o de
Caravaggio revelaram a presença da bactéria ‘taphylococcus aureus’, responsável, juntamente com acumulação de considerável
volume de chumbo (que só por si não o matava), pelo desenvolvimento de uma
infeção grave que culminou em sépsis, uma infeção generalizada.
Porém, o caráter conflituoso de
Caravaggio (1571-1610) terá sido o grande responsável pela sua morte, pois
terá sido uma luta, um duelo, em que se envolveu nos últimos dias de vida, em
Chiaia, Nápoles, sul de Itália, a provocar-lhe os ferimentos que degeneraram
numa infeção generalizada fatal.
Segundo o jornal
Globo, os cientistas acreditam que a bactéria terá sido contraída quando o
pintor ficou ferido durante um duelo, tendo Caravaggio começado a
apresentar sintomas de febre entre 15 dias e um mês após ter sofrido o
ferimento.
Esta última luta obrigou Caravaggio a
fugir, embarcado de Nápoles, mas foi preso numa paragem em Palo, perto de Roma.
Depois de libertado seguiu a pé para norte, até Porto Ercole, na Toscânia, onde
morreu no dia 18 de
julho de 1610, aos 38 anos, num hospital com
sinais de febre maligna e sépsis, tendo sido enterrado no cemitério local.
Mais de 400 anos após a morte do pintor
italiano, cujo verdadeiro nome era Michelangelo Merisi, um grupo de
investigadores procurou no velho cemitério italiano os restos mortais que
pudessem corresponder à descrição de um homem de cerca de 1,65 metros entre os
35 e 40 anos de idade. E dos 9 resultados chegou-se a uma correspondência após
um longo processo de análises, que passaram por testes de carbono para datar a
idade do esqueleto, de ADN, para estabelecer a ligação à família Merisi, e
testes à respetiva estrutura óssea, que revelaram a presença de níveis elevados
de chumbo, um componente das tintas usadas pelo pintor. E, para chegarem à
causa da morte analisaram restos da polpa dentária de Caravaggio e procederam a
outras análises específicas de ADN, que permitiram concluir que a sépsis
resultante de uma infeção provocada pelos ferimentos da luta em que se envolveu
foi a causa da morte, excluindo outras hipóteses como a malária ou a brucelose.
Assim, o pintor Michelangelo Merisi da Caravaggio morreu devido a uma infeção
bacteriana.
A este
respeito, um comunicado do Instituto IHU Méditerranée Infection de Marselha – o
centro de estudos responsável pela investigação –, citado pela AFP no dia 18 de setembro, revelou:
“Graças à cooperação com antropólogos
italianos e com a microbiologista Giuseppe Cornaglia, as equipas do
Hospital Universitário Mediterrâneo de Marselha (IHU) conseguiram extrair
dentes do esqueleto de Caravaggio. Os investigadores extraíram a polpa
dentária, rica em vasos sanguíneos. Combinando três métodos de deteção do ADN,
‘o assassino foi identificado: um Staphylococcus aureus’.”.
***
Caravaggio foi
um dos pintores que revolucionaram a pintura dos séculos XVI-XVII, destacando-se pelo
realismo dos seus quadros. Foi mesmo um dos maiores artistas do
barroco italiano que viveu na segunda metade do século XVI
e nos primeiros anos do século XVII. Dono de uma personalidade forte e um
estilo extravagante, grande parte de sua obra chocou a sociedade. A sua pintura
foi considerada revolucionária para a época, seja nas técnicas utilizadas, seja
nas pessoas retratadas. Ele mesmo dizia de si:
“Não sou um
pintor valentão, como me chamam, mas sim um pintor valente, isto é, que sabe
pintar bem e imitar bem as coisas naturais”.
Produziu
diversas obras, de que se destacam: Baco, Narciso, Medusa, Os Trapaceiros,
A Ceia em Emaús, Judith e Holofernes,
Os Músicos, O Tocador de Alaúde, A Flagelação de Cristo, A Vocação de São Mateus,
O Êxtase de São Francisco de Assis, São Francisco de Assis em
Meditação, David com a Cabeça de Golias, A Decapitação de João Batista,
A Crucificação de São Pedro.
Com um
estilo singular, Caravaggio expressou forte realismo em suas obras. Em grande
parte delas prevalecem os temas religiosos e mitológicos. Utilizou jogos de
luzes e sombras, técnica típica do estilo barroco chamada de “claro-escuro”
(em italiano, chiaroscuro). Assim, o fundo nas suas obras era
composto de cores escuras que muitas vezes confundiam os espectadores. É o “tenebrismo”, designação dada à técnica em que ele
utilizava luz e cor em primeiro plano sobre um fundo escuro. Essa caraterística,
presente nas suas obras, oferecia um ar sombrio e maior dramaticidade às
personagens retratadas. E o foco maior do artista estava em expressar o rosto e
os sentimentos das figuras retratadas. A grande questão é que ele produziu
obras com foco nos aspetos mundanos, ou seja, sem grandes idealizações. Gostava
de representar as pessoas como eles eram e como ele as via nas ruas de Roma.
Uma das
obras do pai do tenebrismo, a Natividade
com São Francisco e São Lorenzo, pintada em 1609, na cidade siciliana de
Palermo, para o Oratório de San Lorenzo, é um dos tesouros artísticos desaparecidos,
segundo o El País, Brasil. Os outros
são: o
‘Templo de Salomão’, em Jerusalém; ‘O Homem na Encruzilhada”, mural de
Diego Rivera; ‘O Camponês Catalão em Rebeldia’, de Joan Miró; o
‘Colosso de Rodes’; ‘Leda e o cisne’, de Leonardo dá Vinci; ‘Bent Propeller’,
escultura de Alexander Calder para o World Trade Center; Budas de Bamiyan; o
‘Santo Graal’; e ‘As ninfeias’, de Claude Monet.
Poucos
desaparecimentos foram mais rocambolescos que a predita pintura de Caravaggio,
roubada pela máfia siciliana, em 1969, com brutalidade, cortando a tela com uma
lâmina de barbear. Continua a ser uma das obras de arte mais procuradas pelo
FBI e pelos Carabinieri. Pela Sicília circula todo o tipo de rumor, desde a sua
destruição por via dum terramoto a um ataque duma vara de porcos. Para acrescentar
mais confusão aos rumores, um mafioso arrependido declarou recentemente que a
peça foi tirada do país por um antiquário suíço, já falecido, e depois vendida
por bagatela no mercado negro. O certo é que aquilo que os visitantes podem
admirar atualmente no Oratório de San Lorenzo é uma versão digitalizada do
original.
Poderia
facilmente chegar a 20 milhões de dólares, dado o limitado número de obras que
existem de Caravaggio, sem dúvida um dos melhores e mais originais pintores da
história.
***
O
nome Caravaggio refere-se ao nome da cidade onde ele viveu.
Alguns historiadores acreditam que nasceu em Milão e mais tarde, passou a viver
na vila de Caravaggio. Isso porque a sua família fugia da peste em Milão.
Michelangelo
Merisi, conhecido como Caravaggio, nasceu a 29 de setembro de 1571 na cidade de
Porto Ercole, na comuna de Monte Argentario, Itália. O pai faleceu quando ele tinha
6 anos.
Com 12
anos frequentou o ateliê de Simone Peterzano, em Milão, o que lhe despertou o
interesse pelas artes plásticas. Ali, permaneceu como aprendiz durante uns
anos. Ao perfazer 18 anos, faleceu-lhe a mãe faleceu. Destinado a viver como
pintor, Caravaggio foi viver em Roma. Ali trabalhou como aprendiz em diversos
ateliês. No início, teve uma vida difícil, chegando a passar fome e vivendo nas
ruas da grande cidade. Assim, passou a vender pinturas nas ruas até começar a
trabalhar para o Cardeal Del Monte, patrono da escola de pintores de Roma, a
chamada “Academia de São Lucas”. Foi
durante esse período que Michelangelo Caravaggio produziu diversas obras de
cunho religioso. No entanto, começou a ter problemas com os excessos da vida
boémia que levava. Nesse contexto, ficou endividado e recusou trabalho por ser
fiel ao seu estilo. E matou o nobre Tommasoni, procurador, por desavenças num
jogo de pallacorda, em 1606, após o que fugiu de Roma para Nápoles. E, mais
tarde, foi para ilha de Malta, onde chegou a ser preso por ter brigado com um
nobre. Depois disso, partiu para a Sicília, passando pelas cidades de Siracusa,
Messina e, por fim, Palermo.
Em
1609, Caravaggio retornou a Nápoles, onde foi ferido pelos amigos do nobre com
quem havia brigado. Machucado e acometido pela malária, faleceu, como foi
referido, no dia 18 de julho de 1610, aos 38 anos.
Dias
depois de sua morte, o Papa de Roma absolveu-o do assassinato que perpetrou.
Surgiram
controvérsias sobre a sua morte, sendo que alguns acreditavam que fora
assassinado numa praia, a norte de Roma, não tendo sido encontrado o seu corpo
até a ano de 2010, ano a partir do qual se começou a fazer luz até à descoberta
publicada nestes últimos dias.
Viveu,
assim, os últimos 4 anos de vida em exílio, depois de ter fugido de Roma, após o
que faleceu por infeção bacteriana. Os
seus restos mortais foram encontrados em 2010 nas escavações dum
cemitério em Porto Ercole, Tuscania. Os cientistas, através de testes de
ADN e de datação por carbono, concluíram, com 85% de fiabilidade, tratar-se de Michelangelo
Merisi da Caravaggio.
***
Entretanto, Silvano
Vinceti, o investigador que anunciou os resultados, disse que, através da
análise das ossadas, foi também encontrada uma alta concentração de chumbo, chumbo
que provinha provavelmente das suas tintas. De facto, “ele era conhecido por
ser extremamente desorganizado com elas”. Ora, segundo o investigador, o envenenamento por chumbo não mata por si só
– ele tinha feridas infetadas e sofria de uma insolação – mas foi uma das
causas.
Os historiadores terão de reescrever as frases finais da
biografia do grande pintor barroco Michelangelo Merisi. Com efeito, o aludido
novo estudo realizado por um prestigioso centro hospitalar e universitário, o
Instituto IHU Méditerranée Infection de Marselha, conduzido por 7 cientistas
franceses e italianos e publicado pela revista “Lancet Infectious”, demonstra que o artista italiano
não morreu de sífilis, malária ou brucelose como se acreditou durante quatro
séculos, mas por uma infecção que contraiu durante uma briga em que foi ferido
com uma espada. Conhecido por seu temperamento fogoso, que lhe custou vários
exílios na vida, o pintor faleceria poucos dias depois numa pequena localidade
da Toscana, aos 38 anos.
Foi a sua arcada dentária a chave do segredo da causa da sua
morte
O segredo estava na sua arcada dentária. A equipa de pesquisadores
examinou a polpa dos seus molares, caninos e incisivos, onde abundam os vasos
sanguíneos, para descobrir a causa real da morte, o que permitiu detetar – segundo
um dos autores do estudo, Michel Drancourt, professor de microbiologia médica –
os micróbios que o organismo do pintor continha no momento da sua morte. A partir
dessa amostra extraída dos seus dentes, foi examinada, em primeiro lugar, a
presença de sífilis, malária ou brucelose, que eram algumas das hipóteses mais
habituais sobre a morte do pintor. Mas, como refere Didier Raoult, diretor
desse instituto marselhês especializado na chamada paleomicrobiologia, todos os
exames deram negativo. E “foi ao utilizar métodos mais amplos de análise do DNA
que começamos a obter as pistas que nos levaram a esta conclusão”, como disse o
cientista que resume: “Utilizamos
técnicas próprias da polícia científica para resolver mistérios do passado”.
Neste caso, o assassino era o Staphylococcus aureus,
uma bactéria.
Porém, antes de fazer a análise, foi preciso encontrar o
esqueleto de Michelangelo Merisi da Caravaggio. Uma equipa dirigida pelo
microbiólogo italiano Giuseppe Cornaglia conseguiu localizá-lo num cemitério de
Porto Ercole, a localidade da Toscana onde morreu após fugir de Nápoles. A
equipa fez uma triagem dos restos mortais encontrados, selecionando apenas os
esqueletos correspondentes a um homem de 1,65 metros de altura e idade entre 35
e 40 anos no momento da morte. Encontraram nove ao todo, mas só um deles datava
do século XVII, segundo o exame de carbono-14. E frisa Drancourt:
“Uma comparação genética com os habitantes
de Porto Ercole que têm o mesmo sobrenome que Caravaggio [Merisi ou Merisio]
permitiu confirmar que se tratava, com altíssima probabilidade, do esqueleto do
pintor”.
A análise de cadáveres de outros séculos não é só uma
curiosidade, já que, segundo Drancourt, permite entender melhor as epidemias do
presente, porque “observar o que
aconteceu no passado nos pode ajudar a combater o que acontece hoje em lugares
como Madagáscar”, como assinalou numa referência ao recente surto de
peste bubónica e pneumónica naquela ilha africana. E o especialista vinca:
“Na verdade, não temos um gosto específico
pelas personagens históricas. Em 98% dos casos, os estudos são feitos com os
corpos de pessoas anónimas.”.
Porém, a nova hipótese sobre a morte do artista não
entusiasma muito Pierre Curie, grande especialista em pintura italiana do
século XVII e conservador do Museu Jacquemart-André de Paris, que inaugurou
hoje, dia 20 de setembro, uma exposição que inclui 10 obras de Caravaggio procedentes
dos maiores museus italianos. A este respeito, disse Curie, partidário de se deixarem
os cadáveres em paz:
“É fruto [a nova hipótese] de um fetichismo
que não contribui muito nem para a glória do artista nem para a história da
arte. Acho insalubre ficar procurando esqueletos em cemitérios.”.
Embora não acredite que as investigações sobre o pintor
tendam a acabar, assegura:
“Haverá outras no futuro, porque não sabemos
grande coisa sobre sua vida. Caravaggio é uma personagem que nos escapa. E
talvez seja melhor assim, porque isso nos permite projetar o que quisermos na
obra desse grande pintor.”.
***
A vida
bastante desconhecida e algo lendária de Caravaggio gera, a partir de ontem,
dia 19, um entendimento diferente. E continua a valer a pena visionar o
documentário “Caravaggio – O Mestre dos Pincéis e da Espada” retrata a
vida do pintor. Dirigido por Helio Goldsztejn, foi produzido pela TV Cultura e
a Malabar Filmes em 2012.
2018.09.20
– Louro de Carvalho
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