De acordo
com a revista Galileu, da Globo, um grupo de arqueólogos, liderado
pelo professor Christopher Henshilwood, da Universidade de Bergen (Noruega) encontrou o desenho mais antigo de que se tem
notícia: uma figura desenhada há mais de 70 mil anos na África do Sul, na caverna Blombos – um sítio arqueológico localizado na Reserva
Natural Blombosfontein, cerca de 300 km a leste da Cidade do Cabo, na costa sul
de Cabo, com depósitos da metade da Idade da Pedra, atualmente datados entre
100.000 e 70.000 anos, e do final dessa Idade, datados de entre 2.000 e
300 anos (Descobertas em
Blombos, em 2016, demonstraram que os homens da Idade da Pedra trocavam
tecnologia em grande escala).
A expedição
liderada pelo predito professor produziu um estudo publicado, a 12 de setembro
passado, na revista Nature, em que se
chega à conclusão de que, há mais de 70 mil anos, humanos caçadores-coletores
desenhavam várias linhas cruzadas em pedra.
A pesquisa dos
arqueólogos precisa que a descoberta ocorreu na caverna Blombos, onde se crê que
tenha vivido por algumas semanas, no passado, um grupo de humanos caçadores-coletores.
Os pesquisadores desenvolviam, em 2011, trabalhos de escavação em busca de
outros artefactos da caverna quando, sem querer, encontraram a aludida “figura”.
O “desenho”
consiste em várias linhas vermelhas cruzadas num silcrete, tipo de solo duro
formado a partir de areia, cascalho e sílica e, segundo o estudo, foi feito provavelmente
com uma espécie de giz de ocre com uma ponta de um a três milímetros de
comprimento. Sobre a natureza do desenho, Henshilwood declarou
em entrevista ao site I Fucking Love Science:
“Definitivamente trata-se de um desenho
abstrato e temos quase certeza de que tinha algum significado para quem o fez”.
O
pesquisador (com o grupo) realizou
análises químicas e microscópicas que vieram a confirmar que a ilustração é
obra de mãos humanas, pois, “o desenho
também é uma evidência da habilidade dos primeiros humanos de armazenar
informações fora de seus cérebros”.
Já tinham
sido encontradas, na caverna, outras relíquias de há 70 mil a 100 mil anos,
como ferramentas e um tipo de tinta vermelha, o que leva os arqueólogos a
acreditar que o desenho encontrado na Blombos seja o mais antigo de que se tem
notícia. Até agora, a figura considerada mais antiga tinha 40 mil anos. E
o estudo da Nature adianta:
“Essa descoberta demonstra que desenhar
fazia parte do repertório das populações mais antigas de Homo sapiens do
sul da África. Isso demonstra a sua habilidade em aplicar padrões gráficos
parecidos em várias formas usando diferentes técnicas.”.
***
Nos termos do texto de Carlos Nogueira publicado no DN on line, de 12 de setembro, o desenho
terá cerca de 73 mil anos, o que significa que é o mais antigo já encontrado.
E, questionando, responde:
“Será este um dos primeiros desenhos feitos
por humanos? É pelo menos o mais antigo encontrado até agora e foi descoberto
na Caverna Blombos, na Reserva Natural de Blombosfontein, na África do Sul.”.
Explicando que o desenho é abstrato, consiste em três
linhas vermelhas, com tom ocre, cruzadas com seis outras linhas e, segundo os
cientistas, foi feito de forma intencional num pedaço de rocha há cerca de 73
mil anos, assegura:
“Este desenho agora encontrado supera em
largos milénios os mais antigos que já eram conhecidos, datados de há pelo
menos 30 mil anos, descobertos em África, na Europa e no Sudeste da Ásia”.
Mais informou ter sido o arqueólogo italiano Luca
Pollarolo, investigador da Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo,
a fazer esta descoberta enquanto analisava, no seu laboratório universitário,
milhares de pedras retiradas da Caverna Blombos, a 300 quilómetros a sudeste da
Cidade do Cabo, que começou a ser explorada em 1991. Não obstante, não há
contradição relativamente à anterior informação, já que o arqueólogo italiano
integra a equipa dirigida pelo arqueólogo sul-africano Henshilwood, que iniciou
as primeiras escavações na caverna Blombos, local onde há material datado de
100 a 70 mil anos e também mais recentes, de há dois mil anos.
Quanto ao desenho em causa, “o grande desafio para os cientistas foi provar que o desenho foi
intencional” e que “foi feito por
humanos, quando, como e porquê”.
Entretanto, o grupo de cientistas entende que o desenho ter-se-á
estendido por uma superfície maior, dado que o padrão de riscos vermelhos é
abruptamente interrompido na lasca de pedra encontrada. Comprova-se que as
linhas foram aplicadas na pedra. E, baseados em várias experiências feitas com
vista a recriar o padrão, os investigadores assumem que o desenho terá sido
feito com um pedaço ocre pontiagudo, cuja extremidade teria uma largura entre
um a três milímetros. E a este respeito, o próprio Henshilwood considera:
“Estas observações apoiam a hipótese de que estes
sinais eram de natureza simbólica e representavam um aspeto do comportamento do
mundo moderno destes Homo Sapiens, os
antepassados de todos nós”.
***
Por seu turno, Teresa Sofia Serafim,
no Público de hoje, dia 14 de
setembro, parte da lasca acima referida e escreve a propósito de Pollarolo, o
qual nem queria acreditar no que tinha nas mãos, mas percebendo ter “feito uma grande descoberta”:
“Há já
algum tempo que Luca Pollarolo estava a analisar milhares de peças recolhidas
de uma gruta na África do Sul. Mas, de repente, encontrou uma lasca com cerca
de quatro centímetros de comprimento, que era diferente.”.
Então, o arqueólogo italiano
entrou em contacto com outros cientistas a saber se partilhavam da mesma
opinião e, após várias análises, chegou-se à conclusão de a pequena rocha com cerca
de 73 mil anos “tinha o desenho mais antigo do mundo que se conhece até ao momento”.
O mencionado artigo científico publicado
na última edição da revista Nature, de que um dos autores é Luca Pollarolo
(da
Universidade de Witwatersrand, na África do Sul), revela que o desenho foi obra do homem moderno (Homo
Sapiens) e, para
já, “é
considerado abstrato”.
Os cientistas, para inferirem que
o desenho foi feito por humanos, seguiram o seguinte método: reproduções das
mesmas linhas do desenho com técnicas diferentes – reproduções feitas com fragmentos
de ocre afiados e aplicação de diluições de ocre em pó com pincéis – e
comparação, com recurso a técnicas de microscopia ou químicas, dos novos
desenhos com o antigo. No final, puderam confirmar que o desenho na lasca tinha
sido feito deliberadamente pelos humanos.
Karen van Niekerk, da
Universidade de Bergen (Noruega), coautora do trabalho, declarou ao Público: “Soubemos assim que as linhas na
pedra não eram naturais”. E acrescentou:
“Encontrámos
o desenho numa camada que tinha muitos outros artefactos feitos pelos humanos
como conchas perfuradas, gravuras em ocre ou ferramentas de pedra e osso.
Também descobrimos vestígios humanos, nomeadamente dentes, na gruta. Não temos
dúvida de que o desenho foi feito por um humano, o Homo Sapiens.”.
No atinente à asserção de que o
desenho é abstrato, a mesma cientista Karen van Niekerk também declarou ao Público que “é abstrato porque não representa
nada figurativo, como um animal, por exemplo”, mas que “pode ter sido usado como um símbolo para
algo mais figurativo” – o que não se conseguiu “provar nesta fase”.
E, falando da gruta em que foi
encontrada a lasca, Teresa Serafim, expõe:
“A lasca com
o desenho foi encontrada na gruta de Blombos. Situada no Sul da África do Sul,
a cerca de 300 quilómetros a leste [outros dizem a sudeste] da Cidade do Cabo, esta gruta tem
recebido escavações arqueológicas desde 1991 e tem mostrado ter provas muito
antigas de atividades culturais do humano moderno. Têm-se lá recolhido milhares
de artefactos com entre 70 mil e 100 mil anos como conchas ornamentais e
fragmentos de ocre com gravuras.”.
E, fixando-se no desenho recuperado dessa
gruta e descoberto, em 2015, entre outras peças analisadas por Luca Pollarolo,
descreve pormenorizadamente:
“Num pequeno
fragmento de rocha siliciosa, há nove linhas verticais e horizontais – seis
dessas linhas são cruzadas por outras três, o que se assemelha a uma hashtag.
Esse símbolo terá sido feito com um ‘lápis’ de ocre vermelho com entre um e
três milímetros de espessura. A lasca onde está esse desenho tem 38,6
milímetros de comprimento, 12,8 milímetros de espessura e 15,4 milímetros de
altura. E como as extremidades do fragmento têm cortes abruptos, pensa-se que
esse desenho faria parte de uma superfície maior composta por um símbolo mais
complexo.”.
***
Em suma, trata-se de um desenho
feito por humanos e abstrato, restando saber se terá sido usado como um símbolo
para algo mais figurativo e, como é óbvio, se será mesmo o mais antigo do mundo.
Poderão investigações posteriores vir a descobrir outro ou outros desenhos mais
antigos? É a ciência em aberto!
O facto de o desenho ter sido
encontrado num estrato com 73 mil anos faz dele o mais antigo do mundo que se
conhece. E o aludido estudo permite-se propalar que “esta notável descoberta precede os anteriores desenhos figurativos e
abstratos mais antigos, pelo menos, 30 mil anos”. Come efeito, até agora, os
desenhos mais antigos abstratos ou figurativos – alguns deles tinham cerca de
42 mil anos – vinham de sítios arqueológicos mais recentes como das grutas de
Chauvet Pont d’Arc (França), de El Castillo (Espanha), Apollo 11 (Namíbia) e de Maros (Indonésia).
Todavia, Karen van Niekerk salienta
que, por agora, a sua equipa tem hesitado em considerar o desenho descoberto na
África do Sul como arte. E resume tudo o que, por agora, se sabe dele:
“É definitivamente
um desenho abstrato, temos quase a certeza que tinha algum significado para o
criador e, provavelmente, formava uma parte de um sistema simbólico comum
compreendido por outras pessoas do seu grupo”.
Talvez um dia se saiba o que esta
hashtag com 73 mil anos representa.
***
Adicionalmente, por Teresa
Serafim, surge um precioso esclarecimento. Niekerk refere, para que não restem
dúvidas, que desenho é diferente de pintura e de gravura. No caso deste
desenho, usou-se uma peça de ocre para desenhar linhas numa pedra, ao passo que
a gravura “é um método totalmente diferente, que implica usar uma pedra para
fazer cortes nalguma coisa”, como explica a cientista.
Ora, segundo um comunicado sobre
o trabalho de investigação adrede desenvolvido, na gruta de Blombos foram
encontradas gravuras com padrão semelhante ao do desenho e também com mais de
70 mil anos. Para a equipa, isto demonstra que, há cerca de 70 mil anos, os humanos
modernos na África do Sul já faziam sinais semelhantes em diferentes materiais,
o que “apoia a ideia que essas marcas tinham uma função simbólica”. Todavia, segundo
o predito comunicado, a gravura mais antiga conhecida é um ziguezague esculpido
numa concha que foi encontrada no sítio paleoantropológico de Trinil (na
Indonésia), num
estrato com 540 mil anos. Em relação a pinturas, a revista Science revelou,
este ano, que os neandertais (também humanos) foram os primeiros artistas a
pintar grutas. Esse estudo apresenta provas fortes (pela
datação de pinturas rupestres em três grutas em Espanha) de que esses humanos pintavam
grutas intencionalmente há, pelo menos, 65 mil anos. Por isso, conclui-se que que
os neandertais já desenvolviam esta atividade antes dos humanos modernos,
ultrapassando as suas pinturas as de Chauvet Pont d’Arc (com
cerca de 32 mil anos)
e as de várias grutas da ilha de Celebes (na Indonésia, com cerca
de 40 mil).
***
Como se entrevê, com os arqueólogos
cooperaram geólogos, químicos e físicos, o que deu uma sólida e cautelosa abordagem
multidisciplinar – o que parece não ter sucedido com as famosas gravuras do Coa,
privilegiadas em detrimento das da Vermiosa e do Douro (junto
ao lugar de Cortes),
transpirando (talvez sem razão) para público a ideia principal de evitar a
Barragem do Coa. Também apareceram gravuras na Quinta das Laranjeiras a impedir
a Barragem do Sabor.
2018.09.14 – Louro de Carvalho
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