sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Encontrado o desenho mais antigo do mundo em caverna africana



De acordo com a revista Galileu, da Globo, um grupo de arqueólogos, liderado pelo professor Christopher Henshilwood, da Universidade de Bergen (Noruega) encontrou o desenho mais antigo de que se tem notícia: uma figura desenhada há mais de 70 mil anos na África do Sul, na caverna Blombos – um sítio arqueológico localizado na Reserva Natural Blombosfontein, cerca de 300 km a leste da Cidade do Cabo, na costa sul de Cabo, com depósitos da metade da Idade  da Pedra, atualmente datados entre 100.000 e 70.000 anos, e do final dessa Idade, datados de entre 2.000 e 300 anos (Descobertas em Blombos, em 2016, demonstraram que os homens da Idade da Pedra trocavam tecnologia em grande escala).
A expedição liderada pelo predito professor produziu um estudo publicado, a 12 de setembro passado, na revista Nature, em que se chega à conclusão de que, há mais de 70 mil anos, humanos caçadores-coletores desenhavam várias linhas cruzadas em pedra.
A pesquisa dos arqueólogos precisa que a descoberta ocorreu na caverna Blombos, onde se crê que tenha vivido por algumas semanas, no passado, um grupo de humanos caçadores-coletores. Os pesquisadores desenvolviam, em 2011, trabalhos de escavação em busca de outros artefactos da caverna quando, sem querer, encontraram a aludida “figura”.
O “desenho” consiste em várias linhas vermelhas cruzadas num silcrete, tipo de solo duro formado a partir de areia, cascalho e sílica e, segundo o estudo, foi feito provavelmente com uma espécie de giz de ocre com uma ponta de um a três milímetros de comprimento. Sobre a natureza do desenho, Henshilwood declarou em entrevista ao site I Fucking Love Science:
Definitivamente trata-se de um desenho abstrato e temos quase certeza de que tinha algum significado para quem o fez”.
O pesquisador (com o grupo) realizou análises químicas e microscópicas que vieram a confirmar que a ilustração é obra de mãos humanas, pois, “o desenho também é uma evidência da habilidade dos primeiros humanos de armazenar informações fora de seus cérebros”.
Já tinham sido encontradas, na caverna, outras relíquias de há 70 mil a 100 mil anos, como ferramentas e um tipo de tinta vermelha, o que leva os arqueólogos a acreditar que o desenho encontrado na Blombos seja o mais antigo de que se tem notícia. Até agora, a figura considerada mais antiga tinha 40 mil anos. E o estudo da Nature adianta:
Essa descoberta demonstra que desenhar fazia parte do repertório das populações mais antigas de Homo sapiens do sul da África. Isso demonstra a sua habilidade em aplicar padrões gráficos parecidos em várias formas usando diferentes técnicas.”.
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Nos termos do texto de Carlos Nogueira publicado no DN on line, de 12 de setembro, o desenho terá cerca de 73 mil anos, o que significa que é o mais antigo já encontrado. E, questionando, responde:
Será este um dos primeiros desenhos feitos por humanos? É pelo menos o mais antigo encontrado até agora e foi descoberto na Caverna Blombos, na Reserva Natural de Blombosfontein, na África do Sul.”.
Explicando que o desenho é abstrato, consiste em três linhas vermelhas, com tom ocre, cruzadas com seis outras linhas e, segundo os cientistas, foi feito de forma intencional num pedaço de rocha há cerca de 73 mil anos, assegura:
Este desenho agora encontrado supera em largos milénios os mais antigos que já eram conhecidos, datados de há pelo menos 30 mil anos, descobertos em África, na Europa e no Sudeste da Ásia”.
Mais informou ter sido o arqueólogo italiano Luca Pollarolo, investigador da Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, a fazer esta descoberta enquanto analisava, no seu laboratório universitário, milhares de pedras retiradas da Caverna Blombos, a 300 quilómetros a sudeste da Cidade do Cabo, que começou a ser explorada em 1991. Não obstante, não há contradição relativamente à anterior informação, já que o arqueólogo italiano integra a equipa dirigida pelo arqueólogo sul-africano Henshilwood, que iniciou as primeiras escavações na caverna Blombos, local onde há material datado de 100 a 70 mil anos e também mais recentes, de há dois mil anos.
Quanto ao desenho em causa, “o grande desafio para os cientistas foi provar que o desenho foi intencional” e que “foi feito por humanos, quando, como e porquê”.
Entretanto, o grupo de cientistas entende que o desenho ter-se-á estendido por uma superfície maior, dado que o padrão de riscos vermelhos é abruptamente interrompido na lasca de pedra encontrada. Comprova-se que as linhas foram aplicadas na pedra. E, baseados em várias experiências feitas com vista a recriar o padrão, os investigadores assumem que o desenho terá sido feito com um pedaço ocre pontiagudo, cuja extremidade teria uma largura entre um a três milímetros. E a este respeito, o próprio Henshilwood considera:
Estas observações apoiam a hipótese de que estes sinais eram de natureza simbólica e representavam um aspeto do comportamento do mundo moderno destes Homo Sapiens, os antepassados de todos nós”.
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Por seu turno, Teresa Sofia Serafim, no Público de hoje, dia 14 de setembro, parte da lasca acima referida e escreve a propósito de Pollarolo, o qual nem queria acreditar no que tinha nas mãos, mas percebendo ter “feito uma grande descoberta”:
Há já algum tempo que Luca Pollarolo estava a analisar milhares de peças recolhidas de uma gruta na África do Sul. Mas, de repente, encontrou uma lasca com cerca de quatro centímetros de comprimento, que era diferente.”.
Então, o arqueólogo italiano entrou em contacto com outros cientistas a saber se partilhavam da mesma opinião e, após várias análises, chegou-se à conclusão de a pequena rocha com cerca de 73 mil anos “tinha o desenho mais antigo do mundo que se conhece até ao momento”.
O mencionado artigo científico publicado na última edição da revista Nature, de que um dos autores é Luca Pollarolo (da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul), revela que o desenho foi obra do homem moderno (Homo Sapiens) e, para já, “é considerado abstrato”.
Os cientistas, para inferirem que o desenho foi feito por humanos, seguiram o seguinte método: reproduções das mesmas linhas do desenho com técnicas diferentes – reproduções feitas com fragmentos de ocre afiados e aplicação de diluições de ocre em pó com pincéis – e comparação, com recurso a técnicas de microscopia ou químicas, dos novos desenhos com o antigo. No final, puderam confirmar que o desenho na lasca tinha sido feito deliberadamente pelos humanos.
Karen van Niekerk, da Universidade de Bergen (Noruega), coautora do trabalho, declarou ao Público: “Soubemos assim que as linhas na pedra não eram naturais”. E acrescentou:  
Encontrámos o desenho numa camada que tinha muitos outros artefactos feitos pelos humanos como conchas perfuradas, gravuras em ocre ou ferramentas de pedra e osso. Também descobrimos vestígios humanos, nomeadamente dentes, na gruta. Não temos dúvida de que o desenho foi feito por um humano, o Homo Sapiens.”.
No atinente à asserção de que o desenho é abstrato, a mesma cientista Karen van Niekerk também declarou ao Público que “é abstrato porque não representa nada figurativo, como um animal, por exemplo”, mas que “pode ter sido usado como um símbolo para algo mais figurativo” – o que não se conseguiu “provar nesta fase”.
E, falando da gruta em que foi encontrada a lasca, Teresa Serafim, expõe:
A lasca com o desenho foi encontrada na gruta de Blombos. Situada no Sul da África do Sul, a cerca de 300 quilómetros a leste [outros dizem a sudeste] da Cidade do Cabo, esta gruta tem recebido escavações arqueológicas desde 1991 e tem mostrado ter provas muito antigas de atividades culturais do humano moderno. Têm-se lá recolhido milhares de artefactos com entre 70 mil e 100 mil anos como conchas ornamentais e fragmentos de ocre com gravuras.”.
E, fixando-se no desenho recuperado dessa gruta e descoberto, em 2015, entre outras peças analisadas por Luca Pollarolo, descreve pormenorizadamente:
Num pequeno fragmento de rocha siliciosa, há nove linhas verticais e horizontais – seis dessas linhas são cruzadas por outras três, o que se assemelha a uma hashtag. Esse símbolo terá sido feito com um ‘lápis’ de ocre vermelho com entre um e três milímetros de espessura. A lasca onde está esse desenho tem 38,6 milímetros de comprimento, 12,8 milímetros de espessura e 15,4 milímetros de altura. E como as extremidades do fragmento têm cortes abruptos, pensa-se que esse desenho faria parte de uma superfície maior composta por um símbolo mais complexo.”.
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Em suma, trata-se de um desenho feito por humanos e abstrato, restando saber se terá sido usado como um símbolo para algo mais figurativo e, como é óbvio, se será mesmo o mais antigo do mundo. Poderão investigações posteriores vir a descobrir outro ou outros desenhos mais antigos? É a ciência em aberto!
O facto de o desenho ter sido encontrado num estrato com 73 mil anos faz dele o mais antigo do mundo que se conhece. E o aludido estudo permite-se propalar que “esta notável descoberta precede os anteriores desenhos figurativos e abstratos mais antigos, pelo menos, 30 mil anos”. Come efeito, até agora, os desenhos mais antigos abstratos ou figurativos – alguns deles tinham cerca de 42 mil anos – vinham de sítios arqueológicos mais recentes como das grutas de Chauvet Pont d’Arc (França), de El Castillo (Espanha), Apollo 11 (Namíbia) e de Maros (Indonésia).
Todavia, Karen van Niekerk salienta que, por agora, a sua equipa tem hesitado em considerar o desenho descoberto na África do Sul como arte. E resume tudo o que, por agora, se sabe dele:
É definitivamente um desenho abstrato, temos quase a certeza que tinha algum significado para o criador e, provavelmente, formava uma parte de um sistema simbólico comum compreendido por outras pessoas do seu grupo”.
Talvez um dia se saiba o que esta hashtag com 73 mil anos representa.
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Adicionalmente, por Teresa Serafim, surge um precioso esclarecimento. Niekerk refere, para que não restem dúvidas, que desenho é diferente de pintura e de gravura. No caso deste desenho, usou-se uma peça de ocre para desenhar linhas numa pedra, ao passo que a gravura “é um método totalmente diferente, que implica usar uma pedra para fazer cortes nalguma coisa”, como explica a cientista.
Ora, segundo um comunicado sobre o trabalho de investigação adrede desenvolvido, na gruta de Blombos foram encontradas gravuras com padrão semelhante ao do desenho e também com mais de 70 mil anos. Para a equipa, isto demonstra que, há cerca de 70 mil anos, os humanos modernos na África do Sul já faziam sinais semelhantes em diferentes materiais, o que “apoia a ideia que essas marcas tinham uma função simbólica”. Todavia, segundo o predito comunicado, a gravura mais antiga conhecida é um ziguezague esculpido numa concha que foi encontrada no sítio paleoantropológico de Trinil (na Indonésia), num estrato com 540 mil anos. Em relação a pinturas, a revista Science revelou, este ano, que os neandertais (também humanos) foram os primeiros artistas a pintar grutas. Esse estudo apresenta provas fortes (pela datação de pinturas rupestres em três grutas em Espanha) de que esses humanos pintavam grutas intencionalmente há, pelo menos, 65 mil anos. Por isso, conclui-se que que os neandertais já desenvolviam esta atividade antes dos humanos modernos, ultrapassando as suas pinturas as de Chauvet Pont d’Arc (com cerca de 32 mil anos) e as de várias grutas da ilha de Celebes (na Indonésia, com cerca de 40 mil).
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Como se entrevê, com os arqueólogos cooperaram geólogos, químicos e físicos, o que deu uma sólida e cautelosa abordagem multidisciplinar – o que parece não ter sucedido com as famosas gravuras do Coa, privilegiadas em detrimento das da Vermiosa e do Douro (junto ao lugar de Cortes), transpirando (talvez sem razão) para público a ideia principal de evitar a Barragem do Coa. Também apareceram gravuras na Quinta das Laranjeiras a impedir a Barragem do Sabor.
2018.09.14 – Louro de Carvalho

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