quinta-feira, 13 de setembro de 2018

A comunidade é essencial para a vida em geral e para a vida cristã



É uma das pertinentes asserções do Arcebispo emérito de Évora, que presidiu à Peregrinação Internacional Aniversária de 12 e 13 de setembro deste ano de 2018, comemorativa da 5.ª aparição em 1917. Efetivamente, Dom José Francisco Sanches Alves, assegurou a 12 de setembro na Missa da vigília, concelebrada por 70 sacerdotes, três bispos e um cardeal:
Ninguém pode viver isolado e de costas voltadas para outros homens e mulheres, todos fazemos parte de uma grande família e não podemos estar bem com Deus se não estivermos bem com os irmãos”.
No Recinto de Oração, como divulgou o Santuário de Fátima, o prelado emérito eborense assinalou que “dar graças a Deus pelos imensos dons que tem concedido ao mundo, ao nosso país e a cada um” é o que congrega os peregrinos na “Casa da Mãe”. E, sendo que a Mãe nos adverte e encaminha para Deus, desenvolveu:
Meditando na nossa vida, descobriremos que perante as nossas infidelidades, indiferenças e esquecimentos, Deus permanece Pai que nos ama com um amor indefetível e que nos espera para celebrar a festa do encontro e da alegria como fez o pai do filho pródigo”.
Outro dos nossos motivos tem a ver com a escuta e a meditação da Palavra de Deus que é “vida, e verdadeira luz espiritual que nos aponta o caminho a seguir em todos os dias da nossa vida e nomeadamente quando a escuridão nos oculta o caminho ou quando as encruzilhadas nos dificultam a opção correta”. Assim, “Deus chamou-nos à vida, e pelo Batismo agregou-nos à família divina, enriqueceu-nos com dons e graças especiais e tornou-nos filhos Seus”.
O Arcebispo emérito da arquidiocese eborense explicou que “o Pai Celeste” quer que todos se congreguem “na unidade e na comunhão”, porque “a inserção comunitária começa no interior de cada um”. Com efeito, como observou, “os pais amam ilimitadamente os seus filhos e a maior alegria que podem ter é vê-los a todos unidos e em paz”. 
Deus nunca fica insensível aos corações atribulados”, alertou, porfiando que, “tal como Jesus procedia com os doentes, sempre nos olha com compaixão, sara as feridas do pecado e aponta o caminho a seguir para alcançar a plena inserção na comunidade”. Segundo o Arcebispo, “a comunidade é essencial para a vida em geral e também para a vida cristã”, pois “ninguém pode viver isolado e de costas voltadas para outros homens e mulheres, todos fazemos parte de uma grande família e não podemos estar bem com Deus se não estivermos bem com os irmãos”.
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A peregrinação aniversária de setembro evocou a 5.ª aparição da Virgem aos Pastorinhos, com o tema ‘Tempo de graça e misericórdia: dar graças pelo dom de Fátima’, contou com a presença de 46 grupos de peregrinos organizados de 18 países – dos continentes europeu, asiático, africano e americano – e teve início na tarde do dia 12, na Capelinha das Aparições.
Neste momento inicial, o do arranque da Peregrinação, o Cardeal Dom António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, confiou os “problemas atuais da igreja” à proteção especial de Nossa Senhora para que possam ser ultrapassados rapidamente e se alcance a paz no mundo. E explicitou:
Queremos confiar a Nossa Senhora, nesta peregrinação,  os problemas da Igreja que vivemos na atualidade, bem como pedir o dom da paz para o mundo, em especial para o Médio Oriente, para a Nicarágua e para a Venezuela”.
Aqui experimentamos de modo particular que temos Mãe” – sublinhou o prelado do Lis –, que “através do Seu Imaculado Coração nos convida a deixarmo-nos  envolver no amor de Deus e assim curar as feridas e aquecer os corações desalinhados e reavivar a fé”.
Por sua vez, Dom José Francisco Alves, frisando que em Fátima “sentimos que há lugar para todos”, começou por dizer: “Sou peregrino neste Santuário como todos vós”. E vincou:
Aqui estamos todos em casa: com uma língua que nos une – o amor – e um vínculo muito profundo que nos liga uns aos outros, a Maria e a Deus, que é a nossa fé”.
Por isso, exortou:
Abramos o nosso coração ao mundo pedindo a Maria que nos faça mais irmãos, mais unidos e mais construtores da paz”.
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A Peregrinação prosseguiu com a recitação do Rosário, seguida da procissão das Velas e da Missa Internacional no Recinto de Oração. Durante a noite e madrugada, animaram a Vigília vários grupos, incluindo o grupo de colaboradores do Santuário de Fátima, como é habitual no mês de setembro. E, no dia 13, depois do da recitação do Terço às 9 horas, foi a procissão da Capelinha das Aparições para o altar do Recinto de Oração e a celebração da Missa Internacional, com a Bênção dos Doentes, tendo a Peregrinação terminado com a Procissão do Adeus a Nossa Senhora e a reposição da sua imagem na Capelinha.
Inscreveram-se nos serviços do Santuário para esta celebração da Missa Internacional cerca de 150 doentes, que nela participaram a partir da colunata norte da Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima.
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Na homilia desta Missa, que foi concelebrada por 3 bispos e 125 sacerdotes, Dom José Alves exortou os peregrinos a serem “operadores da paz”, visto que a paz é um bem essencial, para o bem-estar da humanidade, mas precário, pelo que é preciso protegê-lo e promovê-lo e apenas alcançável com o empenho, sacrifício e oração de todos.
Dom José Alves, relembrando o apelo que o Papa Francisco deixou, há pouco mais dum ano, na Cova da Iria, para reforçar a confiança no “amor maternal” de Nossa Senhora, garantiu:
Maria nunca nos abandona, nunca se separa de nós, nunca nos deixa órfãos e, aqui em Fátima, por graça de Deus, manifestou, mais uma vez, a grandeza e o poder do Seu amor maternal, convidando a humanidade a pôr de lado tudo o que divide, tudo o que afasta e tudo o que incita à guerra, para dar lugar ao que une, aproxima e conduz à comunhão fraterna”.
Depois e em contraponto com o progresso tecnológico “acelerado” do último século, o presidente da concelebração chamou a atenção para a “progressão lenta” nos esforços pela paz mundial, no mesmo período. E realçou a atualidade da mensagem deixada por Nossa Senhora aos Pastorinhos a 13 de setembro de 1917, na qual a Virgem pediu aos Videntes continuassem a rezar o Terço para que a guerra terminasse, deixando pistas para a construção global de uma união fraterna entre os homens. E reforçou:
A paz precisa da colaboração de todos e alcança-se pela oração e pelos sacrifícios voluntários, através dos quais se obtém a conversão dos corações que, voltados para Deus, repudiam o mal e a guerra, e adotam comportamentos de moderação, de compaixão, de acolhimento, de partilha fraterna”.
Evocando a Anunciação da Virgem Maria, proclamada no Evangelho, na qual Nossa Senhora, enfrentando todas as dificuldades, “conserva a paz no Seu coração e se coloca à disposição de Deus como humilde serva”, o prelado emérito exortou os peregrinos a seguirem o exemplo da “Rainha da Paz” e terminou a homilia com a seguinte prece à Mãe de Deus:
Ó Maria, Mãe de Jesus e Nossa Mãe, ensina-nos, como tu, a confiar em Deus, a tornarmo-nos operadores da paz, a colocar a nossa vida nas mãos de Deus e a rezar incessantemente pela paz, como pedistes aos Pastorinhos e, hoje, nos pedes a nós”.
Já a direção da palavra aos doentes coube ao Padre Pedro Viva, capelão do Hospital de Santo André, em Leiria, que integra o Centro Hospitalar de Leiria, e diretor do Serviço de Pastoral da Saúde de Leiria-Fátima, que sublinhou a dignidade humana na doença e convidou os doentes presentes a confiarem a sua dor e sofrimento a Deus, que “está sempre presente e conhece cada um profundamente”.
E, no fim da Missa, o Cardeal Dom António Marto saudou os peregrinos em diversas línguas, partilhou a graça de poder voltar como peregrino a Fátima, o “oásis espiritual” onde encontra “repouso, ânimo e paz”, e deixou votos de um bom ano para todas as crianças, adolescentes e jovens que, durante esta semana, estão a iniciar um novo ciclo escolar.
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Alguns cristãos, mesmo dos que se dizem católicos não aceitam o serviço de Maria a intervir junto dos homens chagados pelo pecado a avisá-los para a necessidade de conversão, que postula o arrependimento das culpas e a aceitação do perdão, elemento fulcral na pregação do reino messiânico, bem como a evidência da sua atitude e postura junto dos mais doentes, pobres e descartados como estímulo para os crentes a tirarem todas as consequências da adesão à fé.
Também são relutantes à capacidade de intercessão da Virgem junto de seu Filho primogénito, que nos quer filhos consigo. Muito menos A aceitam a partir dos santuários marianos, reduzindo-os ao devocionismo ultrapassado e alienante. E, em face de santuários fundados em aparições ou visões, não têm pejo em considerar tudo uma fantochada e um instrumento do poder hierárquico ao serviço de desígnios políticos e económicos.
Independentemente da veridicidade das aparições, há que ter em conta a mensagem, seus conteúdos e contornos e aceitá-la naquilo que seja presentificação do Evangelho, aproveitar a afluência das multidões e os diversos fluxos para a evangelização e catequese ocasionais, a intensificação da santificação pela celebração litúrgica e, se possível, fazer do santuário um alfobre de permanente catequização, celebração da Reconciliação e da Eucaristia, exercício da caridade fraterna pelo acolhimento dos peregrinos e colocando uma parte dos rendimentos para o serviço das populações carenciadas. Isto vale para todos os santuários, mesmo os que se baseiam num dado lendário ou no achado de uma imagem, mas a fortiori para os que se baseiam em aparições e são portadores de uma mensagem. Esclareça-se que as revelações particulares não são de adesão obrigatória para o curso da fé (a Igreja Católica apenas declara que na sua mensagem nada vem de contrário ao Evangelho) nem acrescentam ponto algum ao conteúdo da revelação. Chamam, no entanto, a atenção para algum ou alguns conteúdos da revelação oficial e servem de incentivo a uma melhor assunção das exigências da vida cristã e do compromisso com o Evangelho.
Ora, tão mau é “endeusar” a Virgem Maria ou uma sua imagem – que não passa de pretexto para nos reunirmos a seu lado para celebrar o Mistério de Cristo – ou tentar comercializar com Ela um favor como reduzi-la à figura de Maria de Nazaré, que para muitos não passa de uma mulher comum, que quase por acaso foi a mãe carnal de Jesus.
É óbvio que o seu revestimento da plenitude da Graça não a separou do comum das mulheres de Nazaré e o facto de o Senhor estar com Ela não constitui uma marca exterior. Mas é a mãe dum homem especial – Deus ou do Deus feito homem. E por isso Maria tem a discreta capacidade de ser modelo de libertação de mulheres e homens. Se é verdade que Ela foi sempre discreta e humilde, a serva e a morada da Palavra, também o é a predizer que todas as gerações a proclamarão bem-aventurada e, enquanto se diz “bendita és tu entre as mulheres”, chega-se ao “e bendito é Jesus, o fruto do teu ventre”, que é a grande referência dos crentes no Evangelho.
Por isso, Fátima tem razão para prosseguir todo o trabalho de ação pastoral e cultural, porque Maria passou de Mãe do Mestre para Mãe de todos os crentes, que a devem acolher e ouvir.                   
2018.09.13 – Louro de Carvalho

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