O
Arcebispo Dom José Tolentino Mendonça, em entrevista à agência Ecclesia, publicada a 26 de maio, assinala a importância do património
documental postado em 50 quilómetros de prateleiras da Biblioteca Apostólica
Vaticana (num Salão de 70m x 11m) para o conhecimento dos
saberes do cristianismo e dá conta da sua colaboração com o programa do
pontificado de Francisco pelo trabalho das suas duas equipas, a da Biblioteca e
a do Arquivo Secreto.
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Considerando uma biblioteca
como um “grande património” e um “lugar de identidade”, em que os livros e
objetos similares documentam e contam “uma história” de família, enfatiza:
“A nossa
história vem de longe, são dois mil anos de história. É evidente que os
primeiríssimos documentos, hoje conservados na Biblioteca Apostólica, são do
final do século II. Mas remontam a uma tradição que pretende conservar as
palavras, os ditos, os gestos do próprio Jesus.”.
E essa tradição estriba-se
em dois lugares teológicos: a escuta da Palavra e a ação em memória de Jesus. E
o prelado vinca os dois aspetos exemplificando:
“Aquela passagem de São Lucas que diz que
Maria conservava no seu coração aquilo que a Jesus dizia respeito – o esforço é
esse, que a Igreja sempre fez e é um esforço que se liga à Eucaristia, onde se
diz ‘Fazei isto em memória de mim’. A conservação da memória foi sempre algo
muito importante para as comunidades cristãs. Ao longo dos séculos a
conservação da memória teve formas muito diferentes.”.
Em relação à memória da
Biblioteca que lidera, testemunha o fraquinho do cristianismo pela pessoa
humana e pela História contextualizando:
“Esta [história], de que a Biblioteca
Apostólica do Vaticano é diretamente herdeira, tem cinco séculos, nasce no meio
de uma grande cultura humanista, onde o interesse pela teologia e as ciências
sagradas se alia ao interesse por tudo o que é humano. É uma biblioteca 360º,
tem uma latitude desde o saber teológico, à astronomia, matemática,
arquitetura, medicina… Tudo o que é humano está dentro desta biblioteca e,
neste sentido, é um espelho muito fiel da paixão do cristianismo pela pessoa
humana e pela História.”.
Relata que, apesar de, após
a sua entrada em funções, já ter sido incorporado um colaborador, é o mais novo
de quantos ali trabalham, pelo que pediu a todos que o ajudassem a “entender a Biblioteca Apostólica”, e que tem encontrado “um testemunho
muito grande” em todos, que “são um tesouro a par dos livros”, “os quais são de
efetivamente tesouros “intermináveis”.
Sendo uma das tarefas da Biblioteca a catalogação e o
estudo do próprio “material”, regista que “isso é uma tarefa para séculos”, que
“sabemos, mais ou menos tudo, o que temos”, mas que é extraordinário ver o
“significado de cada um dos volumes” e “as relações entre eles”. E,
exemplificando com um exemplo português, observa:
“Na Biblioteca nós temos uma quantidade
muito significativa de livros de ciências e de marinhagem, da arte de navegar,
do século XVI. É evidente que, dentro do amplo património da Biblioteca
Apostólica do Vaticano, isto são coisas marginais. Mas, para um português que
percebe que aqueles livros são exemplares raríssimos, que aqueles livros
serviram para a obra da expansão marítima, que foram impressos em Lisboa ou
Chaves, ou em Leiria, que têm nomes que estão no coração e na cultura, damos
imenso valor às obras. Ver uma obra do Pedro Nunes, uma obra matemática ou ver
o tratado de marinhagem, folheá-lo ou ver o cancioneiro galaico-português…”.
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É de anotar que na sua
crónica “Tesouros Portugueses”, na Revista do Expresso, de 24 de
maio, no âmbito da rubrica “Que coisa são as nuvens”, apontava
que é fácil “que qualquer cultura ou nação encontre na Biblioteca Apostólica um
seu tesouro representado que esse seja um primeiro motivo para cultivar
curiosidade, afeto e colaboração científica com este organismo”. E, falando de
Portugal, menciona como “um dos documentos portugueses mais icónicos”, o
“Cancioneiro da Vaticana” (copiado na Itália no final
do século XV ou no início do século XVI), que reúne 1205 composições da lírica
trovadoresca galaico-portuguesa (de todos os
géneros), “tornando-se
assim uma das fontes essenciais que documentam a emergência da nossa língua e
literatura”. Depois, menciona, no quadro da literatura científica ligada a
Portugal, o caso clamoroso do “Regimento do astrolábio e do quadrante”,
“o mais antigo opúsculo conhecido e impresso com regras náuticas, por onde
gerações de pilotos se iniciaram nas ciências da cosmografia e navegação e que
teve uma edição na oficina de Herman de Campos, nos inícios de 1500”. E
frisa:
“Há cem anos
que a historiografia portuguesa, partindo da descoberta que Joaquim Bensaúde
fez na Biblioteca estatal de Munique fala apenas desse exemplar e de uma outra
versão depositada na Biblioteca Municipal de Évora, desconhecendo o exemplar,
em excelente estado de conservação, que se encontra na Vaticana”.
E formula uma esperançosa
hipótese:
“Quem sabe se
uma nova geração de historiadores portugueses se interessará, com o afinco e os
meios necessários, em trabalhar os fundos da Biblioteca Apostólica e do Arquivo
Secreto, tão decisivos para a explicação de Portugal”.
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Voltando à entrevista, diz
que sente “grande
alegria quando lá vão portugueses”. E, se lá vai um escritor, faz questão de lhe
mostrar “o nosso cancioneiro do Vaticano” e comenta:
“É maravilhoso ver a profunda emoção ao
perceber como este interesse pelo humano e a ligação que a cultura permite, que
é uma ligação que toca até á alma, está bem patente na Biblioteca Apostólica do
Vaticano”.
Um antigo colaborador, já reformado, confessou-lhe:
“Penso sobretudo que a Biblioteca é um
cartão de visita ótimo do que é o Cristianismo ou do que é a Igreja, para um
ateu ou para um não crente, porque ele entra aqui e fica em sentido, fica em
alerta e cheio de perguntas”.
Ali fica-se “a pensar sobre o que é o Cristianismo ou
a Igreja”. A Biblioteca “é um projeto tão grandioso e tocante, tão amplo e
abrangente que não deixa ninguém indiferente”.
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A Biblioteca
(hoje existente) mais antiga da Europa (não a
primeira biblioteca papal) construiu-se
ao longo do tempo, com muitas doações. E os Papas são os grandes benfeitores da
Biblioteca que é deles. “Foi o Papa Nicolau V (1447-11455) que ofereceu os 150
volumes iniciais” e a instalou a Biblioteca no Palácio dos Papas (Sisto V transferiu-a para o Salão Sistino no final
do século XVI). Agora são
1 600 000 volumes impressos, a partir da aquisição de “vários fundos de
família, fundos célebres, como da rainha Cristina da Suécia” (E “hoje
continuamos a acolher” – diz o Arcebispo). E tem
mais de 180 mil volumes de manuscritos e arquivos, 8,6 mil incunábulos, 300 mil
moedas e medalhas, 150 mil gravuras e desenhos e 150 mil fotografias. (Os arquivos
secretos do Vaticano foram separados da Biblioteca no início do século XVII). Os
muitos volumes mostram o interesse, nos vários pontificados, por todos os
saberes e todos os Papas têm contribuído para o aumento do património da
Biblioteca. E José Tolentino fala sobre os livros que tem recebido de Francisco:
“Ele tem oferecido coisas muito pessoais,
como livros de etnologia da América Latina, da Argentina, coisas linguísticas
que são muito preciosas para aquela zona do mundo de onde provém o Santo Padre.
Depois, também livros que o apaixonam. Ele até contou isso na viagem para a JMJ
no Panamá: antes de partir, tinha enviado uns livros preciosos sobre Santo
António de Pádua e eu, na resposta à oferta, disse ‘agradeço muito, Santidade,
os livros de Santo António de Pádua e Lisboa’. Para dizer como os livros que
ele oferece é aquilo que ele considera como o mais precioso que pode estar na
sua Biblioteca, refletindo muito os encontros que ele tem, aquilo que as
pessoas sabem que é o gosto dele, o que tem mais a ver com o carisma dele.”.
Porém, a maior oferta foi a visita do Papa ao espaço, foi a
primeira visita de Francisco ao seu Arquivo, à sua Biblioteca. E diz Dom José
Tolentino:
“Foi um momento de grande comoção para todos
nós, que ali trabalhamos. Preparamos uma série de objetos, andamos pelos
espaços, mostramos algumas coisas do tesouro da Biblioteca, uma das quais as
moedas que aparecem citadas nos Evangelhos. Ele deteve-se, especialmente, sobre
duas pequeninas moedinhas, aquelas [de] que se diz que a viúva pobre ofereceu
tudo quanto tinha ao tesouro do Templo. Jesus disse que ela ofereceu mais do
que todos os outros.”.
E o Papa, amante dos livros como qualquer habitante de
Buenos Aires, disse “que nós, ali, apesar de sermos uma biblioteca patrimonial,
onde a dimensão do passado e da memória está muito presente”, temos de ali “em
cada dia frequentar o futuro”. De facto, “a Biblioteca tem de estar
ligada ao futuro do Cristianismo”.
Também o
Papa emérito, “homem dos livros, do estudo, da racionalidade”, queria ser bibliotecário
da Biblioteca Apostólica – assim o pediu,
quando era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé a São João Paulo II –, mas não o foi,
foi Papa.
O bibliotecário e arquivista
da Santa Sé tem “dois
governos, o da Biblioteca e o do Arquivo Secreto, que são duas equipas,
integrando ambas com cada prefeito e vice-prefeito”. Em cada semana, há uma
manhã dedicada ao governo da Biblioteca e do Arquivo, onde se passam em revista
os principais projetos, as questões, a agenda da semana, o que é preciso fazer,
as programações. E o bibliotecário tem o gabinete próprio, donde vai
acompanhando todas as questões internas que se põem à instituição. Há um
trabalho de ligação da Biblioteca à Cúria Romana, à Secretaria de Estado, ao Santo
Padre e ao exterior. E o Arcebispo dá um exemplo:
“Só em 2019, a Biblioteca emprestou muitos
dos seus manuscritos, volumes, para dezenas de exposições no mundo. Até chegar
a isso, tudo começa com um encontro com o embaixador dessa nação, ou seja,
todas as semanas um dos meus trabalhos é receber um embaixador, perceber a
natureza dos projetos, começá-los, acompanhar esse interesse – muitas vezes,
suscitar, aprofundar o interesse pelo nosso mundo –, dar a conhecer a
Biblioteca Apostólica, para que ela seja verdadeiramente um serviço da Igreja
Católica, naquele lugar, aos milhares de estudiosos que, por ano, vão ali
estudar, mas também àquelas pessoas que nunca entraram na Biblioteca Apostólica
e que vão ver um volume, numa exposição, nos seus países.”.
Sobre as afinidades dos
dois espaços – Biblioteca e Arquivo – Dom Tolentino explica:
“De um lado, temos livros; do outro,
documentos. De um lado, temos uma amplitude maior de estudiosos (um cientista
pode interessar-se por livros da Biblioteca Apostólica, mas também um filólogo,
alguém da literatura, um arquiteto: são pessoas muito diferentes), no Arquivo,
não quer dizer que não haja pessoas a fazer pesquisas a partir de outros pontos
de vista, mas temos prevalentemente o nível da história e da escrita da
história.”.
Quanto ao Arquivo Secreto,
o arquivista não é parco em enaltecer-lhe o papel, a ponto de reconhecer que,
sem ele, é impossível, por exemplo,
compreender “a aventura da modernidade”, em particular a história da Europa,
embora o Arquivo tenha muitas coisas da Idade Média. E o chefe do Arquivo
explicita:
“Enquanto, muitas vezes, as nações nem
sequer têm embaixadores em todos os países, ou o percurso dos embaixadores fica
muito dependente dos ciclos políticos, a Santa Sé mantém uma continuidade com
os núncios, por exemplo, muito marcada. Isso quer dizer que nós temos uma
documentação, um olhar muito constante, muito homogéneo ao longo dos séculos. E
temos recolhas fabulosas de informação, que são uma chave fundamental para a
história, para entender não só o passado, mas também o presente.”.
***
Questão atualíssima é a
referente à decisão de Francisco decidiu abrir os arquivos relativos ao
pontificado de Pio XII (1939-1958) para esclarecer o papel
da Igreja Católica durante a II Guerra Mundial, sobretudo na relação com os judeus.
José Tolentino esclarece que “o Arquivo
organiza a sua abertura, não por anos, mas por pontificados”. Assim, a abertura
destes arquivos será em março de 2020 – sobre um longo pontificado, num período
crucial da história contemporânea.
Efetivamente, “um momento central é o da II Guerra
Mundial, da perseguição aos judeus”, mas várias questões, como a preparação do
Concílio (1961-1965) – que
surgirá no pontificado de São João XXIII –, “o clima, a relação com a teologia,
a aspiração das várias Igrejas”, aparecem já no pontificado de Pio XII, pontificado
muito rico, nomeadamente para Portugal, e interessante também pela questão de
Fátima, pela questão do regime político e por aquilo que se vivia nas várias
dioceses. E a abertura muito esperada do arquivo atrairá, na certa, muitos
historiadores.
No atinente às acusações de que Pio XII é alvo e se a abertura do Arquivo mostrará não terem
fundamento as acusações, nomeadamente a de falta de proteção aos judeus, o
arquivista explica:
“A nossa
posição, no Arquivo, é abrir os documentos. Foram 13 anos de trabalho, eu
cheguei há meses, mas existe uma larga equipa a trabalhar todos os documentos.
Eles serão abertos, tornados acessíveis, as pessoas poderão ler e tirar as suas
conclusões.”.
Não obstante, adianta:
“Há notas muito impressionantes, que são
algumas já conhecidas, mas que ali ganham uma ligação documental muito forte.
Duas delas, para referir: uma, a grande ajuda do Papa e da Santa Sé aos
prisioneiros de guerra, é um trabalho incrível. No Arquivo Secreto temos uma
quantidade de documentação verdadeiramente extraordinária.”.
A seguir, destaca “a dimensão da caridade de Pio XII”,
sendo “verdadeiramente assombroso” o seu perfil neste capítulo. E José
Tolentino explana:
“Das milhares e milhares e milhares de
pessoas que escreviam ao Papa, a pedir uma ajuda, uma ajuda material, não houve
nenhuma que não fosse atendida. E o registo desse trabalho, muitas vezes
silencioso, que, se calhar, o grande público não sabia, porque é uma relação
pessoal, que se estabelece com o Papa, é uma coisa verdadeiramente
impressionante.”.
Com razão diz o Papa Francisco que “a
Igreja não tem medo da história”. E é esta atitude que levou Francisco
a decidir abrir o pontificado de Pio XII, porque “não tem medo da história e temos
submeter-nos também, com humildade, ao juízo da própria história”.
***
Questionado por sustentar,
numa conferência em Lisboa, que uma biblioteca é uma “farmácia da alma”,
asserção aplicada à Biblioteca Apostólica, responde com a tradição egípcia:
“Quando os
faraós abriam bibliotecas nas partes mais remotas do reino, colocavam no
pórtico da biblioteca essa bela frase: ‘Farmácia da alma’. Uma biblioteca é, de
facto, uma farmácia da alma: por um lado, porque uma biblioteca com a dimensão
da Biblioteca Apostólica dá-nos uma noção da história. Às vezes, nós pensamos
que um problema ou uma questão é apenas do presente e lidamos com isso com o
dramatismo de ser um caso único, mas uma biblioteca dá-nos uma profundidade de
olhar, mesmo em relação à história da Igreja.”.
Depois, a Biblioteca Vaticana tem uma enorme amplitude.
E o Arcebispo Tolentino explana:
“O Cristianismo (…) interessa-se por tudo
aquilo que é humano, é uma polifonia, não é uma monodia. Nós temos ali
uma diversidade polifónica, de vozes, de estilos, de endereços, de
correspondências, que acaba por ser uma grande riqueza.”.
Contra o drama da Igreja do pecado da
autorreferencialidade da Igreja, denunciado pelo Papa, a Biblioteca “recentra a
Igreja na sua missão fundamental” de serviço, em nome de Deus, “à pessoa humana”.
E a vontade de servir a humanidade “está ali bem patente”.
***
Encarando o serviço da
Biblioteca e do Arquivo como serviço de colaboração com o Papa, o Arcebispo diz
que o trabalho do bibliotecário é colocar este
tesouro, este património “em sintonia com as linhas-mestras deste pontificado”
e porfia, à semelhança do mister colaborante dos outros serviços da Cúria
Romana:
“Nós queremos fazê-lo ali, também de forma
humilde, na Biblioteca e no Arquivo, colocando-os como expressão daquilo que é
o desígnio e o programa deste pontificado, que tem sido uma verdadeira
primavera para a Igreja”.
Anuindo à opinião de Paulo
Rocha, o entrevistador, de que tudo ocorre a partir do perfil tolentino “de
diálogo com outros saberes, de pontes com outras culturas…”, assegura que
“na Biblioteca é muito difícil ter outro
perfil”, pois ela, “por sua natureza, é
dialógica, é um lugar de diálogos” e “o
trabalho de política cultural é suscitar encontros”. Depois, confessa:
“Para mim, são águas que me são muito
familiares, de certa forma a minha vida preparou-me para este desafio, muito
inesperado, muito surpreendente, que o Papa Francisco me colocou. Sinto também
que estou a aprender muito, neste lugar, que também me desafia muito, me
inspira a ir mais longe.”.
Por fim, sente-se
completamente ao serviço do Papa, dado que a Biblioteca e o Arquivo são dele. E, no espírito das duas comunidades que trabalham
diariamente naquelas instituições, há o serviço de colaboração com o Pontífice,
o que dá um sentido à missão destes trabalhadores, “que não teria se fosse só
um projeto individual”: estão “todos juntos a colaborar para que o Papa possa
governar a Igreja e ser a figura de Pedro, hoje”.
***
Resta que os historiadores e outros homens da ciência
pesquisem e produzam conhecimento.
2019.05.27 – Louro de Carvalho
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