terça-feira, 7 de maio de 2019

A partir de Fátima os Bispos fizeram ouvir a sua voz unânime


A comunicação social pensava ter pasto de entretenimento para uns tempos a propósito duma suposta divisão dos prelados sobre a criação de comissão nas respetivas dioceses para debelar e encaminhar os casos de abuso sexual de menores por parte dos clérigos, quando o discutível era se devia ser criada comissão só para esta matéria e se o mecanismo a criar não deveria ser destinado prioritariamente à prevenção. Ora, a 196.ª Assembleia Plenária da CEP (Conferência Episcopal Portuguesa), realizada de 29 de abril a 2 de maio (em Fátima), tomou posição unânime sobre a matéria. A este respeito, o comunicado final apresentado em conferência de imprensa da conta da reflexão feita “sobre as orientações vindas do encontro sobre a proteção de menores na Igreja”, de fevereiro no Vaticano, com relevo para o discurso conclusivo do Papa. Assim, “a resposta eclesial” deve prover à “tutela das crianças”, revestir-se de impecável “seriedade”, levar a “uma verdadeira purificação”; promover “a formação”, verificar e reforçar “as diretrizes das Conferências Episcopais”; proceder ao “acompanhamento” das pessoas vítimas de abuso; e prestar a devida “atenção pastoral ao fenómeno crescente dos abusos no mundo digital e no turismo sexual”. Assim, “os Bispos comprometem-se a criar instâncias de prevenção e acompanhamento em ordem à proteção de menores nas suas Dioceses” e a atualizar as diretrizes aprovadas pela CEP em 2012, “tendo em conta as orientações da Santa Sé” (que urge reler).
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Mas nem só de abusos tratou a CEP. Com efeito, declarou solidarizar-se com a dor de muitas pessoas e comunidades que recentemente sofreram a perda de vidas e haveres, realçando a tragédia na Madeira, com a morte de 29 pessoas e vários feridos, e em Moçambique (nomeadamente Beira e Pemba), com um muito elevado número de vítimas, bem como a morte de centenas de pessoas no Sri Lanka, vítimas de atentados terroristas por ocasião das celebrações pascais. Por todos rezam os Bispos e apelam “à esperança e à partilha fraterna”.
Aprovou duas cartas pastorais:Um olhar sobre Portugal e a Europa à luz da doutrina social da Igreja”; e “A alegria do amor no matrimónio cristão”. A primeira, já divulgada no respetivo site, procura ser um contributo para ajudar os católicos do país e tantos outros portugueses a “discernir os grandes desafios que hoje se deparam na realidade portuguesa e europeia, à luz dos princípios da dignidade humana, do bem comum, da solidariedade e da subsidiariedade”; a segunda, a divulgar oportunamente, vem  na sequência da exortação apostólica Amoris Laetitia, e apresenta “a graça e a beleza do matrimónio cristão, a necessidade da sua preparação e o acompanhamento nos primeiros anos de vida conjugal”.
Os Bispos aprovaram ainda o documento “Contributos por serviços pastorais e atos administrativos nas Dioceses de Portugal”, que entrará em vigor após a devida aprovação pela Santa Sé; as “Linhas de formação integral presbiteral” do Pontifício Colégio Português, que entrarão em vigor depois de homologadas pela Congregação para o Clero; o programa das próximas Jornadas Pastorais do Episcopado (17-19 de junho); o Relatório de Contas de 2018 do Secretariado Geral da CEP e o Calendário de Atividades da CEP para 2019-2020.
A CEP aprovou a integração de Dom Américo Manuel Alves Aguiar, Bispo auxiliar de Lisboa, como novo Vogal na Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais; nomeou o Padre Fábio de Freitas Guimarães, oficial da Congregação para o Clero, como segundo Diretor Espiritual do Pontifício Colégio Português; e procedeu às seguintes nomeações para o próximo triénio: Dr.ª Isabel Figueiredo (a primeira mulher a dirigir um organismo superior da CEP), Diretora de Conteúdos Religiosos da Rádio Renascença, como Diretora do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, Dr. Fernando Augusto Teixeira Moita, como Secretário da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé, Irmão Manuel Gonçalves da Silva, da Congregação dos Irmãos Maristas, como Assistente Religioso da COPAAEC (Confederação Portuguesa de Antigos/as Alunos/as do Ensino Católico), e Padre Miguel Alexandre Batista Coelho, como Assistente da Direção Executiva Nacional do Movimento Casais de Santa Maria.
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Informada sobre a preparação da Jornada Mundial da Juventude de 2022 (JMJ), na sua componente pastoral e organizativa para todas as Dioceses, advertiu que o protagonismo na realização da JMJ deve ser dado aos jovens.
No âmbito do acolhimento das informações, comunicações e programações dos organismos da CEP, de que destacam-se alguns dados.
- A Comissão Episcopal da Missão e Nova Evangelização apresentou as principais atividades no âmbito das Missões, da Nova Evangelização, do Ecumenismo e do Diálogo Inter-Religioso, destacando o Guião missionário 2018/2019 e o segundo Guião da Infância Missionária com o tema “Interceder pelas Famílias”, bem como o próximo encontro nacional para a Nova Evangelização sobre as “Prioridades da Igreja em Portugal: uma visão dos pastoralistas”; e fez algumas propostas para a celebração do encerramento do Ano Missionário, em particular na Peregrinação Missionária nacional a Fátima, a 20 de outubro.
- A Comissão Episcopal da Liturgia e Espiritualidade com o seu Secretariado Nacional de Liturgia, das várias ações em curso, destaca: a revisão da tradução portuguesa da terceira edição do Missal Romano; a publicação próxima do Cantoral Nacional para a Liturgia; a temática do 45.º Encontro Nacional de Pastoral Litúrgica Liturgia e Missão, a realizar em Fátima nos dias 22-26 de julho. Além disso, esta Comissão cuida particularmente os livros litúrgicos oficiais, mas propõe-se desenvolver uma atividade editorial de formação litúrgica, pastoral e espiritual, tão necessária para a renovação da Liturgia. O catálogo dos livros encontra-se disponível no siteliturgia.pt.
- A Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana apresentou relatórios dos seus organismos e destacou: o Manifesto sobre os Pactos Globais das Nações Unidas sobre os Refugiados e para as Migrações Seguras, Ordenadas e Regulares, publicado pelo FORCIM (Fórum de Organizações Católicas para a Imigração), que visa chamar a atenção dos governos para a solidariedade mais concreta para com os migrantes e refugiados; o Projeto MIND – Migrações, Interligação e Desenvolvimento, que procura promover o diálogo e o encontro entre as pessoas, sensibilizando para as complexas ligações das migrações, bem como o desenvolvimento sustentável e a resposta a dar a estas emergências com base na humanidade, dignidade e respeito; a campanha “Cáritas ajuda Moçambique” para angariar fundos para a fase de emergência rápida; e a publicação de notas por parte da Comissão Nacional Justiça e Paz e da Pastoral da Saúde. Realçou ainda o estudo realizado pelo Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência para conhecer a situação das pessoas com deficiência nas paróquias.
- A Comissão Episcopal do Laicado e Família sublinhou: as Formações Regionais realizadas pelo Departamento Nacional da Pastoral Familiar e a reunião com os Assistentes Diocesanos da Pastoral Familiar e dos Movimentos da Família; a XXXIV Jornada Mundial da Juventude no Panamá; a Assembleia de Animadores e Jovens para a “receção do Documento Final do Sínodo dos Bispos de 2018”, organizado pelo Departamento Nacional da Pastoral Juvenil; o IV Encontro Nacional de Docentes e Investigadores do Ensino Superior; a reunião com a Equipa de Serviço Nacional, Assistentes Diocesanos e Assistentes das Comunidades Carismáticas; a eleição dos novos Órgãos Sociais da Conferência Nacional do Apostolado dos Leigos; e o acompanhamento das atividades dos diversos organismos.
- A Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios aludiu ao Encontro dos reitores dos seminários e à Assembleia dos delegados para o diaconado permanente, bem como à publicação das atas do 9.º Simpósio do Clero sobre o tema “Padre, ministro e testemunha da alegria do Evangelho”; e referiu que o lema da Semana de oração pelas vocações consagradas, que está a decorrer de 5 a 12 de maio, é “A coragem de arriscar pela promessa de Deus”.
- A Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé finalizouno departamento da Catequese, o Curso de Formação “Ser Catequista” integrado no plano nacional de formação, informou sobre o Encontro Europeu dos Diretores Nacionais da Catequese, em Roma, em torno do tema “O Catequista, Testemunha do Mistério”, e as próximas Jornadas Nacionais de Catequistas, dedicadas à memória de Mons. Amílcar Amaral, autor dos catecismos nacionais “A Doutrina Cristã”; e, no âmbito da Educação Moral e Religiosa Católica e na Escola Católica, referiu “a formação de professores nas dioceses e a prossecução da parceria com a Faculdade de Teologia no âmbito da formação de futuros docentes de Educação Moral e Religiosa Católica”.
- A Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais informou sobre as atividades dos seus três Secretariados: SNPC (Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura); SNBC (Secretariado Nacional dos Bens Culturais); e SNCS (Secretariado Nacional das Comunicações Sociais). Assim, o SNPC reuniu referentes da Pastoral da Cultura das várias dioceses para estudar formas de cooperação em prol dum trabalho específico no domínio desta pastoral, tendo em conta as principais tendências e movimentos culturais contemporâneos; referiu que a próxima Jornada da Pastoral da Cultura será sobre a condição da mulher na sociedade e na Igreja, sendo entregue, nesta Jornada, ao historiador José Mattoso o “Prémio de Cultura Árvore da Vida / Padre Manuel Antunes”; e informou que o Secretariado participará no IndieLisboa – Festival Internacional de Cinema Independente, cuja 16.ª edição decorre entre 2 e 12 de maio, com a atribuição do Prémio Árvore da Vida. Por seu turno, o SNBC continuará as ações de formação no âmbito do projeto Thesaurus sobre o inventário de bens culturais da Igreja, encontrando-se em desenvolvimento uma plataforma online que permita a pesquisa conjunta dos registos; está a concluir a elaboração do “Guia de Boas Práticas de Conservação Preventiva”; e mantém a participação como entidade interlocutora e consultora no Conselho Nacional de Cultura, no Grupo Técnico Coordenador do Projeto Rota das Catedrais e na Comissão Bilateral para a Regulamentação do art.º 23.º da Concordata. E o SNCS prossegue a qualificação e ampliação da produção de conteúdos informativos na Agência Ecclesia e nos programas de televisão e de rádio, sendo de destacar o programa 70×7, que celebra, este ano, 40 anos de emissões na RTP; referiu que a concretização destes projetos está a acontecer cada vez mais em parceria com diferentes estruturas eclesiais e outros media; e informou que vai decorrer um encontro para assinalar o Dia Mundial das Comunicações Sociais, onde vai ser entregue o “Prémio de Jornalismo Dom Manuel Falcão” ao trabalho jornalístico premiado deste ano, bem como, a título honorífico, ao jornal Diário do Minho, por ocasião do seu 100.º aniversário.
- A CIRP (Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal) destacou a organização da Semana do Consagrado sobre o tema “Comunidades santas e missionárias” e a Semana de Estudos sobre a Vida Consagrada que tratou o tema “O desafio da santidade no mundo atual”; sublinhou a solidariedade de muitos Institutos com as vítimas do ciclone Idai, em resposta ao apelo da congénere de Moçambique e da Cáritas; e informou que a CAVITP (Comissão de Apoio às Vítimas do Tráfico de Pessoas) fará uma reflexão sobre o tema “Entender as causas do tráfico de pessoas: mercantilização e exploração à luz das Orientações pastorais sobre o tráfico de pessoas”.
- A CNISP (Conferência Nacional dos Institutos Seculares de Portugal) referiu os resultados do inquérito sobre os dados estatísticos dos 8 Institutos Seculares presentes em 17 dioceses, com o objetivo dum melhor conhecimento sobre a presença carismática desta vocação de especial consagração.
- A COMECE (Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia) sublinhou “o caráter personalista da União Europeia enquanto projeto inclusivo na luta pela dignidade da pessoa, a importância vital de se reconhecer o princípio da subsidiariedade, respeitando a identidade nacional de cada país a par com o trabalho conjunto pelo bem comum, a prioridade que se deve dar à Europa Social, ainda muito subdesenvolvida”, sendo de relevar “o trabalho da Igreja em prol dos refugiados e da irradicação da pobreza, bem como a importância decisiva da doutrina social da Igreja”; e salientou “a quebra de confiança em relação à segurança e defesa, sobretudo por causa dos ataques terroristas, as novas tecnologias como a robótica, a grande incerteza sobre o futuro do trabalho, a sustentabilidade ambiental e ecológica, bem como a necessidade de cuidar da natureza com compromissos concretos foram outros dos assuntos abordados”.
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No discurso de abertura, o Presidente da CEP fez larga referência à exortação apostólica Christus Vivit, dirigida “aos jovens e a todo o Povo de Deus”, na sequência do Sínodo sobre a realidade juvenil na Igreja e no mundo – e da Igreja para o mundo, com a projeção missionária cara a Francisco. E, considerando a relevância que tem para nós no horizonte da próxima JMJ, Dom Manuel Clemente chamou a atenção para o capítulo VII – A pastoral dos jovens, lembrando que a pastoral juvenil pressupõe duas grandes linhas de ação: a busca, a convocação, a chamada que atraia novos jovens para a experiência do Senhor; e o crescimento, o desenvolvimento dum percurso de maturação para quantos já fizeram essa experiência (CV, 209).
E, considerando que, em qualquer delas, o Papa destaca o protagonismo dos jovens, cita:
Relativamente à primeira, a busca, confio na capacidade dos próprios jovens, que sabem encontrar os caminhos atraentes para convidar. (…) Devemos apenas estimular os jovens e dar-lhes liberdade de ação, para que se entusiasmem com a missão nos ambientes juvenis. O primeiro anúncio [de Cristo vivo] pode despertar uma profunda experiência de fé no meio dum retiro de conversão, numa conversa no bar, num recreio da Faculdade, ou qualquer outro dos insondáveis caminhos de Deus. O mais importante, porém, é que cada jovem ouse semear o primeiro anúncio na terra fértil que é o coração doutro jovem» (CV, 210).”.
Porém, quanto ao crescimento, o Papa faz uma advertência importante:
Em alguns lugares que, depois de ter provocado nos jovens uma experiência intensa de Deus, um encontro com Jesus que tocou o seu coração, propõe-se-lhes encontros de “formação” onde se abordam apenas questões doutrinais e morais. […] Resultado: muitos jovens aborrecem-se, perdem o fogo do encontro com Cristo e a alegria de O seguir, muitos abandonam o caminho e outros ficam tristes e negativos (CV, 212).”.
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É, de facto, a próxima JMJ a grande tarefa da Igreja portuguesa em prol da juventude mundial, a que a CEP está atenta e para a qual dinamiza em crescendo as diversas dioceses. Mas também é de sublinhar o enorme trabalho da CEP e dos seus organismos, que passa ao lado dos comentadores e observadores, mas de frutos que só Deus sabe avaliar. É a semente do Reino!
2019.05.07 – Louro de Carvalho

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