Pela
primeira vez se celebra a 29 de maio a memória litúrgica de São Paulo VI, dia
da sua ordenação sacerdotal, que ocorreu a 29 de maio de 1920 (Já
lá vão 99 anos!),
pois a Congregação para o Culto Divino e a
Disciplina dos Sacramentos divulgou, a 6 de fevereiro, o decreto, de 25 de
janeiro que (Festa da Conversão de
São Paulo), que, por determinação do Papa Francisco, inscreve a celebração de São
Paulo VI no Calendário Romano Geral, com o grau de memória facultativa, e
estabelece, como dia próprio, o da sua ordenação sacerdotal, 29 de maio. E
estabelece:
“Esta nova memória deverá ser inserida em
todos os Calendários e Livros Litúrgicos para a celebração da Missa e da
Liturgia das Horas e os textos litúrgicos a serem adotados devem ser
traduzidos, aprovados e, depois da confirmação deste Dicastério, publicados sob
a autoridade da Conferência Episcopal”.
A fundamentação para o estabelecimento desta memória liturgia
no dia em referência resulta da boa conta em que Francisco tem “a santidade de vida deste Sumo Pontífice,
testemunhada nas obras e palavras”, “o
grande influxo exercido pelo seu magistério apostólico pela Igreja dispersa por
toda a terra” e “a petição e desejos
do Povo de Deus”. Com efeito, São Paulo VI respondeu ao convite de “Jesus
Cristo, plenitude do homem, vivo e agindo na Igreja”, a que “todos os homens
caminhem ao encontro transfigurante com Ele, “caminho, verdade e vida” (Jo 14,6) (vd preâmbulo). Recorde-se, a
propósito da expressão “encontro transfigurante”, que São Paulo VI faleceu, em
Castel Gandolfo, a 6 de agosto de 1978, Festa
da Transfiguração do Senhor recitando o Pater
noster. Entregou, assim, a
alma a Deus e, segundo as suas diretrizes, foi sepultado humildemente, do mesmo
modo como tinha vivido.
Do decreto destacam-se alguns pontos significativos do perfil
de São Paulo VI:
- “Colaborou com os Sumos Pontífices Pio XI e Pio XII e, ao
mesmo tempo, exerceu o ministério sacerdotal junto dos jovens universitários”.
- Como Substituto da Secretaria de Estado, durante a II
Guerra Mundial, “empenhou-se em dar exílio aos perseguidos hebreus e aos
refugiados”.
- Como Pro-Secretário de Estado para os Assuntos Gerais da
Igreja, “conheceu e encontrou muitos impulsionadores do movimento ecuménico”.
- No múnus de Arcebispo de Milão, “dedicou-se inteiramente ao
cuidado da Diocese”.
- Eleito para a
Cátedra de Pedro, a 21 de junho de 1963, “perseverou incansavelmente na obra
iniciada pelos seus predecessores, em particular, levando a cabo o Concílio
Vaticano II”.
- Tomou “numerosas
iniciativas como sinal da sua viva solicitude nos confrontos da Igreja com o mundo
contemporâneo”, entre as quais sobressaem as suas viagens de peregrino,
realizadas como atividade apostólica”, servindo para “preparar a unidade dos
Cristãos” e “para reivindicar a importância dos direitos fundamentais dos
homens”. Assim, exerceu um poderoso “Magistério em favor da paz, promoveu o
progresso dos povos e a inculturação da fé”.
– No quadro
da reforma litúrgica, aprovou “ritos e orações”, na linha da tradição e em
consonância com os novos tempos; promulgou, para o Rito Romano, o Calendário, o
Missal, a Liturgia das Horas, o Pontifical e quase todos os Rituais, a fim de
favorecer a participação dos fiéis na liturgia; e empenhou-se em que as
celebrações pontifícias ganhassem simplicidade.
- Com
referência especial aos vigários de Cristo, o documento vinca:
“Deus,
Pastor e guia de todos os fiéis, confia a sua Igreja, peregrina no tempo,
àqueles que Ele mesmo constituiu vigários do seu Filho. Entre estes,
resplandece São Paulo VI, que uniu na sua pessoa a fé límpida de São Pedro e o
zelo missionário de São Paulo.”.
- Sobre a dupla
consciência petrina e paulina de Paulo VI, refere o documento:
“A
sua consciência de ser Pedro, aparece clara se nos recordamos de que, em 10 de
junho de 1969, na visita ao Conselho Mundial das Igrejas em Genebra, se apresentou
dizendo: ‘O meu nome é Pedro’; mas a missão pela qual se sentia eleito deriva,
também, do nome escolhido. Como Paulo, consumiu a sua vida pelo Evangelho de
Cristo, cruzando novas fronteiras e fazendo-se testemunha d’Ele no anúncio e no
diálogo, profeta de uma Igreja extroversa que olha para os distantes e cuida
dos pobres.”.
- E, sobre o
entendimento que teve da Igreja e sobre o seu afeto por ela, regista:
“A
Igreja, de facto, foi sempre o seu amor constante, a sua solicitude primordial,
o seu pensamento fixo, o primeiro e fundamental fio condutor do seu
pontificado, porque queria que a Igreja tivesse melhor consciência de si mesma
e pudesse levar cada vez mais longe o anúncio do Evangelho”.
***
Na homilia da
Missa da beatificação do Servo de Deus Paulo VI, a 19 de outubro de 2014, no
encerramento do Sínodo Extraordinário dos Bispos sobre a Família, o Papa
Francisco recordou algumas das palavras com que o Papa Montini instituiu o
Sínodo dos Bispos pela Carta Apostólica sob a forma de Motu proprio “Apostolica
sollicitudo”, que marcam a necessidade do caminho sinodal para acolher o impulso
Espírito Santo e as aspirações hodiernas:
“Ao
perscrutar atentamente os sinais dos tempos, procuramos adaptar os métodos
(...) às múltiplas necessidades dos nossos dias e às novas caraterísticas da
sociedade”.
E, falando
“deste grande Papa, deste cristão corajoso, deste apóstolo incansável, diante
de Deus”, Francisco disse que “hoje só podemos dizer uma palavra tão simples
como sincera e importante”: “Obrigado”!
E prosseguiu:
“Obrigado,
nosso querido e amado Papa Paulo VI! Obrigado pelo teu humilde e profético
testemunho de amor a Cristo e à sua Igreja!”.
Depois,
evocou a autorreflexão paulina a partir do diário pessoal do grande timoneiro
do Concílio, após o encerramento da Assembleia Conciliar:
“Talvez
o Senhor me tenha chamado e me mantenha neste serviço não tanto por qualquer
aptidão que eu possua ou para que eu governe e salve a Igreja das suas
dificuldades atuais, mas para que eu sofra algo pela Igreja e fique claro que
Ele, e mais ninguém, a guia e salva” (P. Macchi, Paolo VI nella sua
parola, Brescia 2001, pp. 120-121).
E, segundo o
Papa Bergoglio, é nesta humildade que “resplandece a grandeza do Beato
Paulo VI, que soube, quando se perfilava uma sociedade secularizada e hostil,
reger com clarividente sabedoria – e às vezes em solidão – o timão da barca de
Pedro, sem nunca perder a alegria e a confiança no Senhor”. A seguir, citando
dois documentos do timoneiro da Igreja Conciliar e Pós-Conciliar, o Sumo Pontífice
sublinhou:
“Verdadeiramente
Paulo VI soube ‘dar a Deus o que é de Deus’, dedicando toda a sua vida a este ‘dever
sacro, solene e gravíssimo: continuar no tempo e dilatar sobre a terra a missão
de Cristo’ (Homilia no Rito da Coroação, Insegnamenti, I,
(1963), 26), amando a Igreja e guiando-a
para ser ‘ao mesmo tempo mãe amorosa de todos os homens e medianeira de
salvação’. (Carta enc. Ecclesiam
suam, prólogo).”.
A 14 de
outubro de 2018, na Missa da canonização, falando da alegria que o Senhor dá a
quem O segue e a espalha pelo mundo dos filhos de Deus, citando a Exortação
Apostólica “Gaudete in Domino”,
de São Paulo VI sobre a alegria cristã, Francisco observou:
“O
Santo Papa Paulo VI escreveu: ‘É no meio das suas desgraças que os nossos
contemporâneos precisam de conhecer a alegria e de ouvir o seu canto’ (Exort.
ap. , I). Hoje, Jesus convida-nos a voltar às fontes da alegria, que são o
encontro com Ele, a opção corajosa de arriscar para O seguir, o gosto de deixar
tudo para abraçar o seu caminho. Os Santos percorreram este caminho.”.
E, antes de
se referir aos demais que inscrevera naquele dia no catálogo dos santos, disse:
“Fê-lo Paulo
VI, seguindo o exemplo do Apóstolo cujo nome assumira. Como ele, consumiu a
vida pelo Evangelho de Cristo, cruzando novas fronteiras e fazendo-se
testemunha d’Ele no anúncio e no diálogo, profeta duma Igreja extroversa que
olha para os distantes e cuida dos pobres. Mesmo nas fadigas e no meio das
incompreensões, Paulo VI testemunhou de forma apaixonada a beleza e a
alegria de seguir totalmente Jesus. Hoje continua a exortar-nos, juntamente com
o Concílio de que foi sábio timoneiro, a que vivamos a nossa vocação comum: a
vocação universal à santidade; não às meias medidas, mas à
santidade.”.
***
É oportuno
o comentário do Cardeal Robert Sarah sob o
título Apóstolo corajoso do Evangelho.
O Prefeito da
Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos explicita que o
dia da celebração será 29 de maio, data da sua ordenação presbiteral em 1920,
porque, a 6 de agosto, dia do seu nascimento para o céu, é a festa da
Transfiguração do Senhor. E afirma:
“Se o santo é aquele que conforma a sua
própria vida a Cristo, fazendo frutificar a graça divina nas suas obras, Paulo
VI fê-lo respondendo à vocação à santidade como batizado, sacerdote, Bispo,
Sumo Pontífice. E agora contempla Deus face a face. Sempre sublinhou que ‘só na
busca sincera de Deus, feita com a oração, com a penitência, com a metanoia de
todo o ser, se podem assegurar os êxitos verdadeiros da vida cristã e
apostólica, e pôr em prática o primeiro e sempre vivo chamamento do Senhor à
santidade’: ‘Impletum est tempus, et
appropinquavit regnum Dei; paenitemini et credite evangelio’ (- Completou-se
o tempo, está próximo o Reino de Deus; arrependei-vos e crede no Evangelho – Mc 1,15). ‘Estote ergo vos perfecti sicut et Pater vester caelestis perfectus est’
(- Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito – Mt 5, 48). (Discurso ao Colégio
Cardinalício nas felicitações pela festa onomástica, 21 de junho de 1976).”.
E
sublinha o Prefeito do susodito Dicastério:
“Depois de ter escrito que não queria ‘nenhuma
regra, nenhum acrescento extraordinário’ que distinguisse a sua vida cristã da
forma normal, acrescentou que gostaria de cultivar ‘um amor particular àquilo
que é essencial e comum na vida espiritual católica’. Assim – escrevia – ‘terei
a Igreja como mãe da caridade: a sua Liturgia será a regra preferida para a minha
espiritualidade religiosa’. E meditando sobre o ‘imitamini quod tractatis’ (Imitai-me
no modo como procedeis), deduzia do
mistério da Eucaristia a consequente necessidade da ‘imolação da sua própria
vida sempre’, indicando-a como ‘a missa na vida’ unida ao ‘semper gratias agentes’ (sempre dando graças).”.
Com o decreto, são publicados os textos a acrescentar nos
Livros Litúrgicos (Calendário, Missal,
Liturgia das Horas, Martirológio).
Na oração coleta ressoa “o que Deus realizou no seu fiel
servidor: ‘confiaste a tua Igreja à guia do Papa São Paulo VI, apóstolo corajoso
do Evangelho do teu Filho’; e
pede-se: ‘Faz que, iluminados pelos seus ensinamentos, possamos cooperar contigo
para dilatar no mundo a civilização do amor’.
E Sarah vê aqui sintetizadas as caraterísticas” do pontificado
e ensinamentos de São Paulo VI:
“Uma Igreja, que pertence ao Senhor (Ecclesiam
Suam), dedicada ao anúncio do Evangelho,
como recordava na Evangelii nuntiandi,
chamada a testemunhar que Deus é amor”.
São indicadas as leituras bíblicas para a Missa, escolhidas
do Comum para os Papas, e, como leitura para o Ofício de Leitura, alguns passos
da homilia da última Sessão pública do Concílio, a 7 de dezembro de 1965,
sintetizada no tema: Para conhecer a Deus é preciso conhecer o
homem. E o Prefeito do Dicastério assegura:
“Paulo
VI viveu, antes e depois de ser papa, olhando constantemente para Cristo, de
quem sentia e proclamava a necessidade para todos os homens. Tinha-o mostrado
com a sua primeira Carta Pastoral, enquanto Arcebispo de Milão, intitulada com
a expressão de Santo Ambrósio: Omnia
nobis est Christus (Cristo é tudo para nós).”.
A 5 de agosto de 1963, segundo o Cardeal Sarah, Paulo VI
refletia:
“Devo regressar ao princípio: a relação com
Cristo… que deve ser fonte de sinceríssima humildade: ‘afasta-te de mim, que
sou um homem pecador…’; tanto na disponibilidade: ‘farei de vós pescadores…’;
como na simbiose da vontade e da graça: ‘para mim a vida é Cristo…’. O amor a
Cristo é o amor à sua Igreja.”.
No Pensamento sobre a morte, com razão, escreveu:
“Peço ao Senhor que me dê a graça de fazer
da minha próxima morte um dom de amor à Igreja. Poderei dizer que sempre a amei
e que por ela, e por mais nada, me parece que vivi”.
Fascinado pela figura e atividade de Paulo de Tarso, não
poupou energias ao serviço do Evangelho, da Igreja e da humanidade, à luz do
plano divino de salvação. E o Cardeal assinala:
“Defensor da vida humana, da paz e do
verdadeiro progresso da humanidade, como mostram os seus ensinamentos, quis que
a Igreja, inspirando-se no Concílio e pondo em prática os seus princípios
normativos, redescobrisse cada vez mais a sua identidade, superando as divisões
do passado e muito atenta aos novos tempos: Igreja de Cristo, que põe a Deus no
primeiro lugar, o anúncio do Evangelho, mesmo quando se prodigaliza pelos
irmãos, para construir a ‘civilização do amor’ inaugurada pelo Espírito no
Pentecostes”.
E, sustentado no que São Paulo VI escreveu em “Notas para o meu testamento”, Paulo VI
escreveu, “Nenhum monumento para mim”,
o Cardeal Sarah conclui:
“Ainda que lhe tenha sido erigido um
monumento na Catedral de Milão, em outubro de 1989, o verdadeiro monumento foi
o próprio Paulo VI que o construiu com o seu testemunho, com as obras, com as
viagens apostólicas, com o ecumenismo, com o trabalho para a Nova Vulgata, com
a renovação litúrgica e com os seus múltiplos ensinamentos e exemplos,
mostrando assim o rosto de Cristo, a missão da Igreja, a vocação do homem
moderno e conciliando o pensamento cristão com as exigências da hora difícil em
que teve de guiar, sofrendo muito, a Igreja”.
***
Por fim, os textos (em
tradução livre), da Liturgia de São Paulo VI (nascido
com o nome de João Batista Henrico Maria Montini a 26 de setembro de 1897 em
Concesio, província de Brescia):
- Para o Calendário Romano Geral:
Maio, 29 – São Paulo VI, Papa
- Para o Missal Romano
Comum dos Pastores, para um Santo Papa
Oração
Coleta:
“Ó Deus, que entregastes a guia da vossa
Igreja ao Bem-aventurado Papa Paulo, intrépido apóstolo do Evangelho vosso
Filho, concedei-nos que, iluminados pelos seus ensinamentos, possamos cooperar
Convosco para dilatar no mundo a civilização do amor. Por nosso Senhor Jesus
Cristo…
Liturgia
da Palavra:
1.ª
Leitura: 1 Cor 9,
16-19.22-23
Salmo responsorial: Sl 95 (96), 1-2a.2b-3.7-8a
Aleluia: Mc 1,17
Evangelho: Mt 16,13-19
- Para a
Liturgia das Horas (além de nota biográfica,
com lugar e dia de nascimento, ordenação sacerdotal, eleição como Sumo
Pontífice, dia da morte e menções de serviço à Santa Sé e à arquidiocese de Milão,
prossecução e completamento do Concílio, renovação da Igreja e envolvimento na
reforma litúrgica, no ecumenismo e no anúncio do Evangelho ao mundo contemporâneo)
Comum dos Pastores, para um Santo Papa
Ofício
de Leitura
- Segunda Leitura: Das homilias de São Paulo VI, Papa
(Na última sessão publica do Concílio Ecuménico Vaticano II,
dia 7 de dezembro de 1965: AAS
58 [1966] 53. 55-56. 58-59),
Sob
o tópico: Para se conhecer Deus, é preciso conhecer o homem.
- Responsório (cf Fl 4,8):
R/. Tudo o que é
verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, respeitável * tende-o em mente (T.P. Aleluia).
V/. Tudo o que possa
ser virtude e mereça louvor * tende-o em mente (T.P. Aleluia).
-
Oração
Ó Deus, que entregastes a guia da vossa Igreja ao
Bem-aventurado Papa Paulo, intrépido apóstolo do Evangelho vosso Filho,
concedei-nos que, iluminados pelos seus ensinamentos, possamos cooperar
Convosco para dilatar no mundo a civilização do amor. Por nosso Senhor Jesus
Cristo…
- Para o Martirológio
Romano:
No dia 29 de maio, em primeiro lugar, São Paulo VI, Papa (com uma nota apostólica que
indica ser este o dia da ordenação presbiteral e menciona que foi arcebispo de Milão
e, eleito para a Sé Romana, prosseguiu com êxito o Concílio Ecuménico,
promoveu a renovação da Igreja e o diálogo ecuménico e cuidou do anúncio do
Evangelho aos homens deste tempo até que adormeceu no Senhor a 6 de agosto de
1978).
Laus
Deo
2019.05.29 –
Louro de Carvalho
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