domingo, 13 de maio de 2018

Que os peregrinos tornem Cristo visível na sociedade


O Cardeal John Tong, Bispo emérito de Hong Kong pediu, neste domingo, dia 13 de maio, às centenas de milhar de peregrinos presentes no Santuário de Fátima que sejam o exemplo de Cristo no mundo e que façam “com que Cristo seja visível hoje na nossa sociedade”.
Inscreveram-se para esta peregrinação, a primeira do pós-centenário, 148 grupos organizados de 26 países, num total de 9000 peregrinos, provenientes de todos os continentes; da Ásia estão inscritos cerca de 350 peregrinos, organizados em 10 grupos.
Logo pela manhã, o Papa Francisco associou-se às celebrações do 13 de maio, na Cova da Iria, com uma mensagem publicada na sua conta da rede social Twitter, em que se pode ler:
Santíssima Virgem de Fátima, dirige o teu olhar sobre nós, sobre nossas famílias, sobre o nosso país, sobre o mundo”.
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No texto da homilia da Missa dos Doentes ou do encerramento da peregrinação aniversária internacional (concelebrada por 18 bispos e 227 sacerdotes), lido pelo reitor do Santuário, o Padre Carlos Cabecinhas, referiu que Jesus, “com o seu espírito, forma em nós uma nova humanidade”. Com efeito, “Ele próprio nos impele na procura da liberdade, da dignidade, da justiça, da responsabilidade – ou melhor, fortalece o nosso próprio desejo de construir um mundo mais justo e mais unido”. Desde modo, “a nossa comunidade de crentes, consciente de ter recebido um mandato divino, torna-se no mundo testemunha da nova realidade da vida” – realidade que, segundo adiantou o presidente da celebração eucarística, se manifesta “nos pequenos gestos que realizamos nas nossas vidas quotidianas, nas realidades terrestres e nos nossos compromissos de cada dia”, acima de tudo, “quando nos dedicamos à libertação espiritual e à promoção humana dos outros”.
Por isso, “com o nosso modo de viver e o nosso exemplo devemos fazer com que Cristo seja visível hoje na nossa sociedade”, acrescentou o prelado emérito chinês, recordando o impacto que teve em si “o exemplo dos serviços caritativos dos missionários estrangeiros, quando em criança vivia em Cantão, logo após o final da Segunda Guerra Mundial”. E revelou:
O seu espírito missionário e caritativo suscitou em mim o desejo de os imitar, ou seja, fizeram nascer em mim a vocação sacerdotal e decidi entrar para o seminário em Macau, pouco antes de a minha família se refugiar em Hong Kong”.
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Já o primeiro responsável católico chinês a presidir a uma peregrinação internacional aniversária em Fátima tinha, na noite do dia 12, presidido à recitação do terço, bênção e procissão das velas a que se seguiu a missa da Vigília fatimita, concelebrada por 147 sacerdotes e 13 bispos e a que assistiram o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e a Chefe de Estado da Cróacia, Kolinda Grabar-Kitarovic, E, na homilia, lida pelo reitor do Santuário, Padre Cabecinhas, evocou “os numerosos santuários marianos na China”, que “ajudam a relembrar constantemente ao povo” a proteção da Virgem. E referiu algumas aparições de Maria na China, reveladoras da sua “forte preocupação” com a história da humanidade e sinal da sua “proteção amorosa”:
Na História da Igreja na China registam-se várias intervenções de Nossa Senhora. Por exemplo, em 1900, durante a perseguição dos Boxers, ocorreram duas aparições, uma em Pequim, onde a Virgem Maria apareceu acompanhada do arcanjo São Miguel e rodeada por uma multidão de anjos.”.
A segunda aparição ocorreu na cidade de Donglu, perto de Baoding, na província de Hebei, onde Maria apareceu no céu e, escutando as súplicas do povo, preservou a cidade da destruição”.
Uma aparição mais recente, pouco depois da perseguição da Revolução Cultural, ocorreu na Basílica de Sheshan, próximo de Xangai, quando, na primavera de 1980, os pescadores católicos lá voltaram encontraram as portas fechadas […]. Forçando-as, entraram e ajoelharam-se na igreja vazia, enquanto rezavam e cantavam durante longas horas, Nossa Senhora apareceu diante deles.”.
Depois, o Cardeal Tong salientou que “a causa das piores desgraças humanas é o pecado”, mas que Maria “sempre mostrou ter uma forte preocupação pelos pecadores, a fim de impedir que fossem para o Inferno”, para vincar que “a presença do pecado, da dor e da morte no mundo persiste ainda”. E, referindo-se à Mensagem de Fátima, lembrou que Maria “recomendou com insistência aos três videntes que rezassem e fizessem penitência pela conversão dos pecadores, pelo fim da guerra e pela paz no mundo, de forma a evitar tribulações para o mundo e perseguições para a Igreja”. E apontando o exemplo dos videntes Francisco, Jacinta e Lúcia, os dois primeiros tornados santos há um ano em Fátima pelo Papa Francisco, que aceitaram o convite da Virgem e se empenharam “na oração, no sacrifício e no jejum”, John Tong perguntou aos milhares de fiéis presentes no recinto de oração qual a sua decisão.
Dirigiu, ainda, uma palavra aos doentes, destacando que a Virgem “permanece junto de todos” para lhes “infundir coragem”. Garantindo que “a Mãe celeste está agora aqui connosco, está ao lado de todos vós, irmãos e irmãs doentes”, pediu aos fiéis que renovassem a confiança na intercessão e no cuidado da Virgem por cada um de nós e sublinhou que é a esperança que deve sempre sustentar as pessoas “nas dificuldades e no sofrimento”, pelo que devemos permanecer “sob o seu manto de Luz” e insistentemente recorrer à sua “proteção”.
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Ao início oficial das celebrações peregrinacionais, na tarde do dia 12, na Capelinha das Aparições, perante milhares de pessoas que acorreram à Cova da Iria a pé (mais de 37 mil pessoas) ou de carro (todos os parques de estacionamento se encontram lotados), o Bispo de Leiria-Fátima, Dom António Augusto dos Santos Marto, saudou os peregrinos e agradeceu a presença do Cardeal John Tong, que considerou uma “graça e uma honra”. Para o prelado leiriense, esta é uma “presença muito significativa e particularmente grata”, que homenageia os católicos de Hong Kong, da China continental, de Macau e Taiwan, pois, “na sua pessoa, está representado todo o continente da Ásia”, de onde têm vindo muitos peregrinos, em especial no Centenário das Aparições, como disse Dom António Marto ao presidente das celebrações da peregrinação.
Depois, o Bispo de Leiria-Fátima convidou todos a rezar o terço pela paz, em especial pelo povo da Síria, “martirizado pela guerra que já fez milhões de mortos, entre as quais 27 mil crianças”.
Por seu turno, o Cardeal Tong dirigiu-se aos peregrinos, em inglês, apresentando-se como “representante de todos os católicos chineses de Hong Kong, da China Continental, de Taiwan e de outros lugares”.
O prelado chinês alertou para a ilusão de confiar exclusivamente no “progresso económico e técnico, com múltiplas facilidades de comunicação e de bem-estar” e advertiu:
O nosso mundo continua a sofrer desigualdades, angústias, conflitos e pecados”.
John Tong alertou para as “divisões e incompreensões internas” na Igreja Católica e para “ataques e opressões externas” contra os seus fiéis e sustentou que, para lá disso, a Igreja “tem de enfrentar novos desafios levantados pelas novas exigências da sociedade humana”.
Depois, despediu-se com a evocação da mensagem deixada pelo Papa em Fátima, há um ano:
Temos Mãe e uma Mãe amorosa; unidos a Ela como filhos devotos, seguimo-la firmemente comprometidos”.
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Como vem sendo hábito, também o ato oficial de abertura desta peregrinação foi antecedido duma conferência de imprensa.
Na sua intervenção neste encontro com os órgãos de comunicação social, o Cardeal John Tong, confessou esperar boas notícias sobre as relações entre o Vaticano e Pequim ainda este ano.
Segundo o Cardeal, há várias questões nas negociações entre Pequim e o Vaticano, sendo que a nomeação dos bispos locais é um dos pontos mais importantes. “Este é o ponto-chave”, frisou o prelado emérito de Hong Kong, que destacou a devoção à Virgem de Fátima na China, onde o Centenário das Aparições foi celebrado em igrejas locais.
No entanto, John Tong considerou que “a Igreja na China continua a viver atualmente numa situação atípica”, pois o Governo privilegia a Igreja oficial, a Associação Patriótica, impondo medidas restritivas para a comunidade que segue as orientações do Vaticano. Contudo, o Cardeal admitiu que a situação da Igreja na China “continua aberta a grandes possibilidades”, destacando a “grande coragem em muitas comunidades católicas na defesa da sua fé”.
Por sua vez, o Bispo de Leiria-Fátima considerou que se está “a viver um momento delicado e esperançoso no diálogo” entre a Santa Sé e a China, pelo que formulou o voto por “que possa abrir caminho ao reconhecimento da Igreja católica na China e que permita aos católicos chineses serem cidadãos plenamente católicos e plenamente chineses, porque é isso que está em questão no fundo”. Salientando “ter esta intenção presente nesta peregrinação”, Dom António Marto, pediu que este diálogo “chegue a bom termo” e “seja frutífero a breve tempo”.
Como se deixou entredito, Pequim e a Santa Sé estarão prestes a quebrar mais de meio século de antagonismo com a assinatura dum primeiro acordo sobre a nomeação dos bispos. Por outro lado, nas intenções desta peregrinação esteve também o diálogo entre as duas Coreias e a situação na Síria.
Além do exposto, Dom António Marto, também vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) pediu um debate “sereno, sério, esclarecido e esclarecedor, aprofundado e humanizador” sobre a eutanásia, garantindo que a Igreja Católica não faz guerras sobre esta matéria, mas que não podia ficar silenciada. E explicitou:
Eu faço um apelo a toda a sociedade e às instituições responsáveis para um debate sereno, sério esclarecido e esclarecedor, aprofundado e humanizador”.
O mesmo prelado acentuou que “não se elimina o sofrimento eliminando a pessoa”, mas que “é preciso cuidar da pessoa para lhe aliviar o sofrimento, com todos os meios possíveis e a qualidade de vida das pessoas e das famílias”.
Dom António Marto referiu que todos sabem qual é a posição da Igreja Católica sobre esta temática, explicando que está a promover “um dinamismo de esclarecimento”, numa alusão à distribuição de 1,5 milhões de folhetos contra a eutanásia e em defesa da vida. E declarou:
Há, a meu ver, muita falta de esclarecimento e há muita ambiguidade no uso da terminologia e, por isso, a Conferência Episcopal tomou esta iniciativa de mandar imprimir um folheto em género de pergunta resposta para tornar mais fácil e acessível ao nosso povo compreender o que está em questão e as questões que se põem”.
Acresce referir, sobre a matéria, que, na missa que encerrou a primeira peregrinação do pós-Centenário, os peregrinos recordaram  a questão da eutanásia, na oração universal: “Pela autoridade e parlamento nacional, para que no processo de governo e de legislação promova a vida e ela seja sempre tutelada e amada, desde a sua conceção até ao seu fim natural”.
Desta forma se associaram o Santuário e a peregrinação às celebrações da Semana da Vida, que hoje tem o seu início.
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Também em Fátima falou hoje aos jornalistas o Presidente da República, frisando a dimensão “universal” do Santuário nacional e a sua importância como “sinal de paz”. E disse:
Fátima é universal, não há dúvida: é universal para os católicos, mas é universal para os que não são católicos, é um sinal de paz, de encontro, de ecumenismo. E isso é muito importante para Portugal.”.

O Chefe de Estado marcou presença na Cova da Iria, a título pessoal, com a Presidente croata, Kolinda Grabar-Kitarovic. E deixou a sua impressão, assinalando que “foi muito impressionante aquilo que pudemos ver” e, sublinhando a presença de peregrinos de diversas proveniências e com a novidade da presidência da peregrinação ter sido confiada a um prelado chinês, declarou:
Penso que ainda estava mais gente do que é habitual, muito mais diversa em termos de origens, mais peregrinações inesperadas, por exemplo, da Índia, que não é muito vulgar, e mais do que é costume de países latino-americanos”.
Acompanhado por Kolinda Grabar-Kitarovic, Marcelo Rebelo de Sousa não se esqueceu de dizer que este momento de fé une católicos de Portugal e da Croácia, marcados pela devoção à Virgem Maria, que consideram como a sua “rainha”. E referiu:
Partilhamos este momento, que foi muito emotivo”.
Marcelo Rebelo de Sousa falou, depois, da questão da eutanásia, recordando que promoveu uma “série de iniciativas do Conselho Nacional de Ética”, que levaram a debates por todos o país.
Para o Presidente, que espera “serenamente” por um eventual diploma, este é o tempo de o Parlamento se pronunciar. A este respeito, assinalou:
O Parlamento irá pronunciar-se na generalidade, no dia 29, depois haverá naturalmente o processo próprio e eu esperarei”.
O Chefe de Estado espera também que este ano seja “muito diferente” de 2017 no que diz respeito aos incêndios.
Deus o oiça e os portugueses também!
2018.05.13 – Louro de Carvalho

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