O Cardeal John
Tong, Bispo emérito de Hong Kong pediu, neste domingo, dia 13 de maio, às
centenas de milhar de peregrinos presentes no Santuário de Fátima que sejam o
exemplo de Cristo no mundo e que façam “com
que Cristo seja visível hoje na nossa sociedade”.
Inscreveram-se para esta peregrinação, a primeira do
pós-centenário, 148 grupos organizados de 26 países, num total de 9000
peregrinos, provenientes de todos os continentes; da Ásia estão inscritos cerca
de 350 peregrinos, organizados em 10 grupos.
Logo pela
manhã, o Papa Francisco associou-se às celebrações do 13 de maio, na Cova da
Iria, com uma mensagem publicada na sua conta da rede social Twitter, em que se
pode ler:
“Santíssima Virgem de Fátima, dirige o teu
olhar sobre nós, sobre nossas famílias, sobre o nosso país, sobre o mundo”.
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No texto da
homilia da Missa dos Doentes ou do encerramento da peregrinação aniversária
internacional (concelebrada por 18 bispos e 227 sacerdotes), lido pelo reitor do Santuário, o Padre Carlos Cabecinhas, referiu que
Jesus, “com o seu espírito, forma em nós uma nova humanidade”. Com efeito, “Ele
próprio nos impele na procura da liberdade, da dignidade, da justiça, da
responsabilidade – ou melhor, fortalece o nosso próprio desejo de construir um
mundo mais justo e mais unido”. Desde modo, “a nossa comunidade de crentes,
consciente de ter recebido um mandato divino, torna-se no mundo testemunha da nova realidade da vida” – realidade
que, segundo adiantou o presidente da celebração eucarística, se manifesta “nos
pequenos gestos que realizamos nas nossas vidas quotidianas, nas realidades
terrestres e nos nossos compromissos de cada dia”, acima de tudo, “quando nos dedicamos à libertação espiritual
e à promoção humana dos outros”.
Por isso, “com o nosso modo de viver e o nosso exemplo
devemos fazer com que Cristo seja visível hoje na nossa sociedade”,
acrescentou o prelado emérito chinês, recordando o impacto que teve em si “o
exemplo dos serviços caritativos dos missionários estrangeiros, quando em
criança vivia em Cantão, logo após o final da Segunda Guerra Mundial”. E revelou:
“O seu espírito missionário e caritativo suscitou em mim o desejo de os
imitar, ou seja, fizeram nascer em mim a vocação sacerdotal e decidi entrar
para o seminário em Macau, pouco antes de a minha família se refugiar em Hong
Kong”.
***
Já o primeiro responsável católico chinês a presidir a uma
peregrinação internacional aniversária em Fátima tinha, na noite do dia 12, presidido
à recitação do terço, bênção e procissão das velas a que se seguiu a missa da
Vigília fatimita, concelebrada por 147 sacerdotes e 13 bispos e a que assistiram
o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e a Chefe de Estado da
Cróacia, Kolinda Grabar-Kitarovic, E, na homilia, lida pelo reitor do Santuário,
Padre Cabecinhas, evocou “os numerosos santuários marianos na China”, que “ajudam
a relembrar constantemente ao povo” a proteção da Virgem. E referiu algumas aparições
de Maria na China, reveladoras da sua “forte preocupação” com a história da
humanidade e sinal da sua “proteção amorosa”:
“Na
História da Igreja na China registam-se várias intervenções de Nossa Senhora.
Por exemplo, em 1900, durante a perseguição dos Boxers, ocorreram duas
aparições, uma em Pequim, onde a Virgem Maria apareceu acompanhada do arcanjo
São Miguel e rodeada por uma multidão de anjos.”.
“A
segunda aparição ocorreu na cidade de Donglu, perto de Baoding, na província de
Hebei, onde Maria apareceu no céu e, escutando as súplicas do povo, preservou a
cidade da destruição”.
“Uma
aparição mais recente, pouco depois da perseguição da Revolução Cultural,
ocorreu na Basílica de Sheshan, próximo de Xangai, quando, na primavera de
1980, os pescadores católicos lá voltaram encontraram as portas fechadas […]. Forçando-as,
entraram e ajoelharam-se na igreja vazia, enquanto rezavam e cantavam durante
longas horas, Nossa Senhora apareceu diante deles.”.
Depois, o Cardeal Tong salientou que “a
causa das piores desgraças humanas é o pecado”, mas que Maria “sempre mostrou
ter uma forte preocupação pelos pecadores, a fim de impedir que fossem para o
Inferno”, para vincar que “a presença do pecado, da dor e da morte no mundo
persiste ainda”. E, referindo-se à Mensagem de Fátima, lembrou que Maria “recomendou
com insistência aos três videntes que rezassem e fizessem penitência pela
conversão dos pecadores, pelo fim da guerra e pela paz no mundo, de forma a
evitar tribulações para o mundo e perseguições para a Igreja”. E apontando o
exemplo dos videntes Francisco, Jacinta e Lúcia, os dois primeiros tornados santos
há um ano em Fátima pelo Papa Francisco, que aceitaram o convite da Virgem e se
empenharam “na oração, no sacrifício e no jejum”, John Tong perguntou aos
milhares de fiéis presentes no recinto de oração qual a sua decisão.
Dirigiu, ainda, uma palavra aos doentes,
destacando que a Virgem “permanece junto de todos” para lhes “infundir coragem”.
Garantindo que “a Mãe celeste está agora
aqui connosco, está ao lado de todos vós, irmãos e irmãs doentes”, pediu
aos fiéis que renovassem a confiança na intercessão e no cuidado da Virgem por
cada um de nós e sublinhou que é a esperança que deve sempre sustentar as
pessoas “nas dificuldades e no sofrimento”, pelo que devemos permanecer “sob o
seu manto de Luz” e insistentemente recorrer à sua “proteção”.
***
Ao início oficial das celebrações peregrinacionais, na tarde
do dia 12, na Capelinha das Aparições, perante milhares de pessoas que
acorreram à Cova da Iria a pé (mais de 37 mil pessoas) ou de carro (todos
os parques de estacionamento se encontram lotados), o Bispo de Leiria-Fátima, Dom António Augusto dos Santos
Marto, saudou os peregrinos e agradeceu a presença do Cardeal John Tong, que
considerou uma “graça e uma honra”. Para o prelado leiriense, esta é uma
“presença muito significativa e particularmente grata”, que homenageia os
católicos de Hong Kong, da China continental, de Macau e Taiwan, pois, “na sua
pessoa, está representado todo o continente da Ásia”, de onde têm vindo muitos
peregrinos, em especial no Centenário das Aparições, como disse Dom António
Marto ao presidente das celebrações da peregrinação.
Depois, o Bispo de Leiria-Fátima convidou todos a rezar o
terço pela paz, em especial pelo povo da Síria, “martirizado pela guerra que já
fez milhões de mortos, entre as quais 27 mil crianças”.
Por seu turno, o Cardeal Tong dirigiu-se aos peregrinos, em
inglês, apresentando-se como “representante
de todos os católicos chineses de Hong Kong, da China Continental, de Taiwan e
de outros lugares”.
O prelado chinês alertou para a ilusão de confiar
exclusivamente no “progresso económico e técnico, com múltiplas facilidades de
comunicação e de bem-estar” e advertiu:
“O nosso mundo continua a sofrer
desigualdades, angústias, conflitos e pecados”.
John Tong alertou para as “divisões e incompreensões
internas” na Igreja Católica e para “ataques e opressões externas” contra os
seus fiéis e sustentou que, para lá disso, a Igreja “tem de enfrentar novos
desafios levantados pelas novas exigências da sociedade humana”.
Depois, despediu-se com a evocação da mensagem deixada pelo
Papa em Fátima, há um ano:
“Temos Mãe e uma Mãe amorosa; unidos a Ela
como filhos devotos, seguimo-la firmemente comprometidos”.
***
Como vem
sendo hábito, também o ato oficial de abertura desta peregrinação foi
antecedido duma conferência de imprensa.
Na sua intervenção neste encontro com
os órgãos de comunicação social, o Cardeal John Tong, confessou esperar boas
notícias sobre as relações entre o Vaticano e Pequim ainda este ano.
Segundo o Cardeal, há várias questões
nas negociações entre Pequim e o Vaticano, sendo que a nomeação dos bispos
locais é um dos pontos mais importantes. “Este é o ponto-chave”, frisou o
prelado emérito de Hong Kong, que destacou a devoção à Virgem de Fátima na
China, onde o Centenário das Aparições foi celebrado em igrejas locais.
No entanto, John Tong considerou que “a
Igreja na China continua a viver atualmente numa situação atípica”, pois o
Governo privilegia a Igreja oficial, a Associação
Patriótica, impondo medidas restritivas para a comunidade que segue as
orientações do Vaticano. Contudo, o Cardeal admitiu que a situação da Igreja na
China “continua aberta a grandes possibilidades”, destacando a “grande coragem em muitas comunidades
católicas na defesa da sua fé”.
Por sua vez, o Bispo de Leiria-Fátima
considerou que se está “a viver um momento delicado e esperançoso no diálogo”
entre a Santa Sé e a China, pelo que formulou o voto por “que possa abrir
caminho ao reconhecimento da Igreja católica na China e que permita aos católicos
chineses serem cidadãos plenamente católicos e plenamente chineses, porque é isso
que está em questão no fundo”. Salientando “ter esta intenção presente nesta
peregrinação”, Dom António Marto, pediu que este diálogo “chegue a bom termo” e
“seja frutífero a breve tempo”.
Como se deixou entredito, Pequim e a
Santa Sé estarão prestes a quebrar mais de meio século de antagonismo com a
assinatura dum primeiro acordo sobre a nomeação dos bispos. Por outro lado, nas
intenções desta peregrinação esteve também o diálogo entre as duas Coreias e a
situação na Síria.
Além do exposto,
Dom António Marto, também vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa
(CEP) pediu um debate “sereno, sério, esclarecido e esclarecedor, aprofundado e
humanizador” sobre a eutanásia, garantindo que a Igreja Católica não faz
guerras sobre esta matéria, mas que não podia ficar silenciada. E explicitou:
“Eu
faço um apelo a toda a sociedade e às instituições responsáveis para um debate
sereno, sério esclarecido e esclarecedor, aprofundado e humanizador”.
O mesmo prelado acentuou que “não se
elimina o sofrimento eliminando a pessoa”, mas que “é preciso cuidar da pessoa
para lhe aliviar o sofrimento, com todos os meios possíveis e a qualidade de vida
das pessoas e das famílias”.
Dom António Marto referiu que todos
sabem qual é a posição da Igreja Católica sobre esta temática, explicando que
está a promover “um dinamismo de esclarecimento”, numa alusão à distribuição de
1,5 milhões de folhetos contra a eutanásia e em defesa da vida. E declarou:
“Há,
a meu ver, muita falta de esclarecimento e há muita ambiguidade no uso da
terminologia e, por isso, a Conferência Episcopal tomou esta iniciativa de
mandar imprimir um folheto em género de pergunta resposta para tornar mais
fácil e acessível ao nosso povo compreender o que está em questão e as questões
que se põem”.
Acresce referir,
sobre a matéria, que, na missa que encerrou a primeira peregrinação do pós-Centenário,
os peregrinos recordaram a questão da eutanásia, na oração universal: “Pela autoridade e parlamento nacional, para
que no processo de governo e de legislação promova a vida e ela seja sempre tutelada
e amada, desde a sua conceção até ao seu fim natural”.
Desta forma se
associaram o Santuário e a peregrinação às celebrações da Semana da Vida, que
hoje tem o seu início.
***
Também em Fátima falou hoje aos jornalistas o Presidente da
República, frisando a dimensão “universal” do Santuário nacional e a sua importância
como “sinal de paz”. E disse:
“Fátima é universal, não há dúvida: é
universal para os católicos, mas é universal para os que não são católicos, é
um sinal de paz, de encontro, de ecumenismo. E isso é muito importante para
Portugal.”.
O Chefe de Estado marcou presença na Cova da Iria, a título
pessoal, com a Presidente croata, Kolinda Grabar-Kitarovic. E deixou a sua impressão,
assinalando que “foi muito impressionante aquilo que pudemos ver” e, sublinhando
a presença de peregrinos de diversas proveniências e com a novidade da
presidência da peregrinação ter sido confiada a um prelado chinês, declarou:
“Penso que ainda estava mais gente do que é
habitual, muito mais diversa em termos de origens, mais peregrinações
inesperadas, por exemplo, da Índia, que não é muito vulgar, e mais do que é
costume de países latino-americanos”.
Acompanhado por Kolinda Grabar-Kitarovic, Marcelo Rebelo de
Sousa não se esqueceu de dizer que este momento de fé une católicos de Portugal
e da Croácia, marcados pela devoção à Virgem Maria, que consideram como a sua
“rainha”. E referiu:
“Partilhamos este momento, que foi muito
emotivo”.
Marcelo Rebelo de Sousa falou, depois, da questão da
eutanásia, recordando que promoveu uma “série
de iniciativas do Conselho Nacional de Ética”, que levaram a debates por
todos o país.
Para o Presidente, que espera “serenamente” por um eventual
diploma, este é o tempo de o Parlamento se pronunciar. A este respeito, assinalou:
“O Parlamento irá pronunciar-se na
generalidade, no dia 29, depois haverá naturalmente o processo próprio e eu
esperarei”.
O Chefe de Estado espera também que este ano seja “muito
diferente” de 2017 no que diz respeito aos incêndios.
Deus o oiça e os portugueses também!
2018.05.13
– Louro de Carvalho
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