quarta-feira, 2 de maio de 2018

O Dia do Trabalhador visto pelo olhar do Papa Francisco


A Igreja Católica  celebra, desde 1955, a memória litúrgica de São José Operário como forma de se associar à comemoração mundial do Dia do Trabalhador. Foi por decisão do Papa Pio XII, tomada a 1 de maio de 1955 e anunciada perante milhares de pessoas reunidas nesse domingo, na Praça de São Pedro.
Já então aquele Papa italiano explicava que a decisão sublinhava a necessidade de que “a todos se reconheça a dignidade do trabalho”. E, celebrando liturgicamente São José Operário, evoca-se “o humilde artesão de Nazaré” que personifica a “dignidade do trabalhador manual”.
E, a 19 junho de 2013 (já no pontificado de Francisco), o nome de São José foi inserido nas Orações Eucarísticas II, III e IV do Missal Romano por decreto emitido pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. A decisão de acrescentar esta referência na principal oração da celebração da missa justifica-se, de acordo com a Santa Sé, “pelo seu lugar singular na economia da salvação como pai de Jesus”, segundo a lei. E o texto do decreto discorre:
São José de Nazaré, colocado à frente da Família do Senhor, contribuiu generosamente na missão recebida na graça e, aderindo plenamente ao início dos mistérios da salvação humana, tornou-se modelo exemplar de generosa humildade, que os cristãos têm em grande estima, testemunhando aquela virtude comum, humana e simples, sempre necessária para que os homens sejam bons e fiéis seguidores de Cristo”.
São José foi desde cedo apresentado pela Igreja como símbolo e exemplo de pai e trabalhador; foi declarado patrono da Igreja universal em 1870, por Pio IX. E a sua iconografia é paralela à evolução do seu culto, como explica nota do Tesouro-Museu da Sé de Braga, precisando que, “a partir do século XVI, os artistas rejuvenesceram a figura de José, conferindo-lhe o aspeto de um homem de quarenta anos”.
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Este ano, sublinhando linhas de pensamento e comunicação de Francisco, para quem “trabalho significa dignidade, significa amar”, Bianca Fraccalvieri veio repropor, a partir da Cidade do Vaticano, no Dia do Trabalhador e de São José Operário, alguns pronunciamentos papais a respeito do trabalho e do trabalhador.
Assim, frisou que o Papa deixou aos seguidores no Twitter, nesse dia, a seguinte mensagem:
Celebramos São José trabalhador, recordando-nos sempre que o trabalho é um elemento fundamental para a dignidade da pessoa humana”.
“Trabalho significa amar”. Francisco já pronunciou muitos discursos a respeito do trabalho e não se cansa de pedir dignidade para os trabalhadores, igualdade na retribuição salarial entre homens e mulheres e respeito pelos direitos conquistados.
Registe-se que, na visita pastoral a Cagliari, a 22 de setembro de 2013, o Pontífice sustentou:
Trabalho quer dizer dignidade, trabalho significa trazer o pão para casa, trabalho quer dizer amar”!
Segundo Francisco, é urgente um novo pacto social humano, um pacto para o trabalho, que diminua as horas de trabalho de quem está na última fase laboral, visando criar trabalho para os jovens que têm o direito-dever de trabalhar. A este respeito, no discurso aos delegados da Confederação Italiana Sindical dos Trabalhadores, a 28 de junho de 2017, dizia:
O do trabalho é o primeiro dom dos pais e das mães aos filhos e às filhas, é o primeiro património de uma sociedade. É o primeiro dote com o qual os ajudamos a levantar voo para a vida adulta.
No tocante às condições de trabalho, o Pontífice pede aos empresários atenção especial para a qualidade da vida laboral dos funcionários, que são o recurso mais precioso de uma empresa, em particular, para favorecer a harmonização entre trabalho e família.
E, no discurso à União Cristã de Empresários Dirigentes, a 31 de outubro de 2015, salientou a situação específica das mulheres:
Penso sobretudo nas trabalhadoras: o desafio é tutelar, ao mesmo tempo, quer o seu direito a um trabalho plenamente reconhecido quer a sua vocação à maternidade e à presença na família. Quantas vezes, quantas vezes ouvimos que uma mulher foi ter com o chefe para lhe dizer: ‘Tenho que lhe comunicar que estou grávida’ – ‘A partir do fim de mês já não vais trabalhar’. A mulher deve ser preservada, ajudada neste duplo trabalho: o direito a trabalhar e o direito à maternidade.”.
Também o desrespeito pela dignidade da pessoa espelhada na dignidade do trabalho justo e o flagelo da precariedade no trabalho são itens a que Francisco dedica acurada atenção em nome da dignidade humana que se consegue visualizar também pelo trabalho e da índole justa do trabalho como realização pessoal e contributo para o bem comum. Com efeito, “sem trabalho não há dignidade”, recorda, mas “nem todos os trabalhos são trabalhos dignos”. Há, na verdade, “trabalhos que humilham a dignidade das pessoas, os que nutrem as guerras com a construção de armas, que vendem o corpo para a prostituição e que exploram os menores”. E Francisco denuncia, de modo contundente, também o trabalho precário, por exemplo na videomensagem para a Semana Social da Conferência Episcopal Italiana, a 26 de outubro de 2017:
É uma ferida aberta para muitos trabalhadores, que vivem no medo de perder o próprio trabalho. Precariedade total. Isso é imoral. Isso mata: mata a dignidade, mata a saúde, mata a família, mata a sociedade.”.
Em suma, para o Pontífice, o mundo do trabalho é uma prioridade humana e, “por conseguinte, é uma prioridade cristã, nossa, e inclusive uma prioridade do Papa, porque se origina daquele primeiro mandamento que Deus deu a Adão: ‘Vai, faz crescer a terra, trabalha a terra, domina-a’. Sempre houve uma amizade entre a Igreja e o trabalho, a partir de Jesus trabalhador. Onde houver um trabalhador ali estarão o interesse e o olhar de amor do Senhor e da Igreja. (cf discurso na visita pastoral a Génova, a 27 de maio de 2017).
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Entretanto, Papa recebeu, no dia 1 de maio, em audiência especial no Vaticano cerca de 400 funcionários do jornal italiano católico ‘Avvenire’ e seus familiares. Este diário foi fundado em Milão há 50 anos. E, no encontro com estes trabalhadores em dia dedicado a São José Operário, o Pontífice presenteou o grupo com uma reflexão sobre a figura do santo trabalhador definindo-o como ‘homem do silêncio’ e frisando que “o silêncio de José é habitado pela voz de Deus”. E alertou os jornalistas:
Não devemos fazer o bem de quem nos ouve, mas educá-los a pensar e a julgar”.
Acentuando que “o silêncio pode parecer como a antítese do comunicador”, o Papa sublinhou que “o silêncio de José é habitado pela voz de Deus e gera a obediência da fé”, assegurando que “homem justo, capaz de se doar ao sonho de Deus, José se encarrega das pessoas e situações que a vida lhe confia: é um educador e pai que sabe fazer crescer a vida, acompanhar as pessoas e transmitir o trabalho”. Depois, não se inibiu de vincar que “a dignidade humana não se relaciona com o dinheiro, com a visibilidade ou com o poder, mas com o trabalho”. E comparou a marcenaria de José à redação daquele jornal, onde o trabalho teve de ser reorganizado e harmonizado com as novas tecnologias e a colaboração com os outros medias ligados à Conferência Episcopal Italiana.
É óbvio que o trabalho não é um fim, mas um instrumento de dignificação compatível com o anúncio e a receção do Evangelho como beleza e bem comum.
Nestes termos, o Bispo de Roma, incitando os jornalistas, por um momento, a focarem a comunicação como verdade, beleza e bem comum, afiançou:
 Neste panorama, a Igreja sente que a sua voz não pode faltar, fiel à missão que a chama ao anúncio do Evangelho da misericórdia. Os media oferecem enormes potencialidades para contribuir na cultura do encontro.”.
Assim, segundo Francisco, o marceneiro de Nazaré convida-nos a reencontrar o sentido da saudável lentidão, da calma e da paciência, pois, “com o seu silêncio, recorda-nos que tudo tem início com a escuta, para abrir-se à palavra e à história do próximo”. E o Papa recomendou aos ‘amigos do Avvenire’:
Não vos canseis de buscar a verdade com humildade; escutai, aprofundai, comparai. Contribuí para superar contraposições estéreis e prejudiciais e sede companheiros de quem se dedica à justiça e à paz.”.
“É o diálogo a vencer o medo e a Igreja deve ser seu artífice”. E, porque ninguém é ‘excesso’, o Papa apela aos jornalistas no sentido da imparcialidade, atenção a todos e independência de pensamento e de ação:
Desejo que vós saibais afinar e defender esta visão; que supereis a tentação de não ver, afastar ou excluir. Encorajo-vos a não discriminar, a não considerar ninguém como ‘excesso’, a não vos contentardes com o que os outros já veem. Que ninguém, além dos pobres, dos últimos e dos sofredores, dite a vossa agenda. Não aumenteis a fila daqueles que contam a parte de realidade já iluminada pelos refletores. Começai pelas periferias, conscientes de que não são o fim, mas início da cidade.”.
E mencionou um discurso feito por Paulo VI em 1971 aos comunicadores: “Não devemos fazer o bem de quem nos ouve, mas educá-los a pensar e a julgar”. E, nesta ótica, encorajou os jornalistas a evitar a informação de fácil consumo, que não compromete; a aproximar-se das pessoas com respeito e a apostar em relações que constituem e reforçam as comunidades.
E, declarando que “nada cria proximidade como a misericórdia”, frisou, concluindo com outras palavras de Paulo VI:
Temos que ter um grande amor pela causa, dizer que acreditamos no que fazemos e no que queremos fazer”.
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Também em conformidade com o previsto, Francisco peregrinou, na tarde do dia 1, ao santuário do Divino Amor, em Roma para rezar, com os fiéis, pela paz na Síria. Com efeito, a paz, se é fruto da educação e da vontade comum, também o é do trabalho justo, digno e estável.
Ao chegar ao templo, o Santo Padre foi acolhido por milhares de romanos na praça em frente à Torre do Primeiro Milagre do Santuário de Nossa Senhora do Divino Amor, poucos minutos antes das 17 horas locais.
Antes de entrar no antigo santuário para a oração do Terço, saudou os fiéis presentes na praça, agradeceu o acolhimento caloroso e pediu que rezassem todos com ele.
No santuário, deteve-se em oração diante da imagem de Nossa Senhora dos Milagres, enquanto a leitora repetia o seu apelo pela paz na “amada Síria”, proferido na Páscoa, na mensagem “Urbi et orbi”, do balcão central da Basílica de São Pedro. E, depois de invocar os frutos de paz, reconciliação e esperança para o mundo inteiro, o Papa acrescentou naquela ocasião: “Começando pela amada Síria, cuja população está esgotada por uma guerra que não tem fim”.
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Enfim, paz, trabalho, dignidade humana, justiça, oração são vetores do discurso e das preocupações papais na linha do sensus Ecclesiae e do desejo de Cristo: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz”.
2018.05.02 – Louro de Carvalho

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