sexta-feira, 18 de maio de 2018

Trabalho, necessário e indispensável, tem de ser humanizado


Trabalhadores cristãos pedem intervenção do Governo contra políticas laborais que retiram tempo e espaço às famílias. Estão, na verdade, em causa situações como “a desregulação dos horários de a ocupação sistemática do domingo como dia normal de trabalho”.
Precisamente porque as condições de trabalho são, muitas vezes, inadequadas e até desumanas, não se tendo em conta o caráter limitado da pessoa do trabalhador, não se promovendo, antes contrariando, as necessidades pessoais de quem trabalha e a articulação do dever profissional com o dever de atenção e apoio à família e não se tendo em conta a dimensão espiritual e religiosa da pessoa humana, a LOCT/MTC (Liga Operária Católica – Movimento de Trabalhadores Cristãos) da Arquidiocese de Braga insurgiu-se hoje, dia 18 de maio, contra uma organização de trabalho que afeta cada vez mais a vida das pessoas e das famílias.
Em comunicado enviado à agência Ecclesia, aquele organismo apela à intervenção dos “responsáveis económicos e políticos” contra um contexto laboral que está hoje essencialmente centrado na vertente económica e do lucro, e que cerceia a “construção de relações de solidariedade e comunhão”. Considera a LOC/MTC que estão em causa questões como a desregulação dos horários de trabalho, cada vez mais “desencontrados”, e “a ocupação sistemática do domingo como dia normal de trabalho” – fatores que “impedem as famílias de terem o seu espaço, de descansarem e celebrarem em conjunto, os momentos belos da vida, como a partilha e a festa”. Por isso, vem exigir que “a política não se deixe acorrentar pela economia que mata” e pedir ao Governo que atue ao nível da regulação da atividade das “novas formas do trabalho digital e tecnológico”. Com efeito, visto que, graças ao “avanço rápido das novas tecnologias, os trabalhadores têm vindo a ser substituídos, em vários serviços, por máquinas automáticas”, “é urgente repensar a forma como o trabalho está organizado, para que ninguém fique excluído”.
Esta “nova organização do trabalho” esteve em destaque numa semana de reflexão promovida pela LOC – MTC da Arquidiocese de Braga, que contou com a participação do professor João Duque, da Universidade Católica Portuguesa em Braga.
Durante o evento, foi salientado que “a nova organização do trabalho não pode estar apenas na mão dos gestores e empresários”, mas que “deve envolver todos os intervenientes, para que além da produção também exista tempo de convívio, partilha e entreajuda”.
Nas conclusões da predita semana de reflexão, é afirmado que “o futuro do trabalho não vai depender tanto dos avanços tecnológicos, mas sobretudo do lugar que for dado às pessoas”, o que induz desafios como o combate ao desemprego e ao crescimento das desigualdades económicas. E a LOC/MTC de Braga sustenta que “o trabalho é a melhor forma de repartir a riqueza” e releva a importância de “continuar a apostar na formação, na redução dos tempos laborais e na justa remuneração salarial”.
Os responsáveis pelo Movimento dos Trabalhadores Cristãos na arquidiocese minhota frisam ainda a necessidade de promover a “eliminação dos ‘bancos de horas’ e o combate persistente à precariedade, para que a dignidade dos trabalhadores não seja posta em causa”.
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Já a 16 de março, a mesma LOC/MTC de Braga dava conta das conclusões do encontro bilateral entre esta organização e a HOAC em Fuenteheridos, de 14 a 16 de março.
O diálogo sobre o Documento Final e a Mensagem do Papa Francisco ao Encontro Internacional de Organizações Sindicais, organizado no Vaticano, em Novembro de 2017, pelo Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral constituiu um dos eixos daquele encontro bilateral. E daí resultou o aprofundamento e partilha de orientações para a missão de ambos os movimentos (espanhol e português) face aos desafios do trabalho humano e a dignidade da pessoa, num desenvolvimento integral e sustentável, bem como a expressão da partilha da preocupação pelos níveis de desigualdade, pelas mudanças impostas pelas reformas laborais debilitantes dos direitos do trabalho e da vida dos trabalhadores e suas famílias, pela financeirização da economia, que concentra a riqueza nas mãos de poucos, e pela fé cega na tecnologia, como solução dos problemas da organização social.
Foi assumida a mensagem papal sobre o profundo sentido humano do trabalho, pois condiciona o desenvolvimento económico, cultural e moral das pessoas, da família e da sociedade.

Foram os sindicatos considerados como instituições essenciais à construção de sociedades mais democráticas, baseadas nos valores da colaboração, da unidade, da solidariedade, na busca e na prossecução de uma vida digna que construa o bem comum.

Sobre a iniciativa levada a cabo no Vaticano, foi referido que deve replicar-se pela promoção de encontros semelhantes no âmbito nacional, regional ou local, para continuar a ter pontes de modo que a pessoa seja o centro do trabalho e a atividade económica sirva ao bem comum procurando o cuidado da criação e dando o devido relevo à celebração do 70.º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Foram ainda trocadas experiências de comunhão de vida e de ação de ambos os movimentos, destacando-se a dinâmica da Jornada Mundial pelo Trabalho Digno, no caso da HOAC, no âmbito da iniciativa “Igreja pelo Trabalho Digno”.
E, por último, foram assumidos os compromissos que derivam da participação conjunta no Movimento Mundial da Trabalhadores Cristãos (MMTC) e no Movimento Europeu (MTCE).
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Entretanto, a 17 de março, os militantes da LOC/MTC da Arquidiocese de Braga tiveram em Braga, um encontro diocesano de formação para descobrir novas formas de encontrar o evangelho no mundo do trabalho, contando com a colaboração do cónego João Aguiar Campo.
Dos assuntos abordados destacam-se os seguintes:
Encontram-se no mundo do trabalho aspetos positivos, como a diminuição do desemprego no geral, mas reconhece-se que a meta será sempre o pleno emprego. E viu-se o trabalho como algo de positivo e a forma de ser presença evangélica neste meio, sendo que o trabalho é sempre um “dar e receber”. Por outro lado, verifica-se que, havendo transparência na apresentação de resultados e objetivos, em conjunto com os trabalhadores, os problemas das empresas resolvem-se e torna-se possível projetar um novo futuro, pois, colocados no centro e respeitados na sua dignidade, os trabalhadores são o mais importante capital, mas, perante outras circunstâncias, perdem o medo e, quando necessário, dizem não, para obrigar a encontrar novas soluções que permitam uma harmonia entre a família e o trabalho. Na verdade, nem sempre o estrito cumprimento da lei significa ser justo. Acima da lei, está a ética, que é a base da justiça. Quando os trabalhadores cumprem os seus deveres, é mais fácil exigirem os seus direitos, mas nem sempre isso acontece. Constata-se que é possível harmonizar o trabalho com a vida familiar, desde que haja diálogo e sensibilidade dos empresários, que não devem colocar o lucro acima de tudo, sendo que este não pode ser alcançado a todo o custo.
Jesus transformava as situações negativas em positivas, a tristeza em alegria. Ajudava as pessoas a pensar. Não dava as respostas completas, sem questionar o interlocutor. Mas, quando lhe perguntaram onde morava, Ele não se inibiu de dizer “Vinde e vereis”. E hoje continua a chamar os trabalhadores para a missão. Envia-nos ao encontro dos colegas de trabalho, aos locais de residência, num trabalho de casa a casa, de tu a tu, de coração a coração. Tudo isto porque, segundo a encíclica Laudato Si, “fomos concebidos no coração de Deus e por isso, ‘cada um de nós é o fruto de um pensamento de Deus”; cada um é querido, cada um é amado, cada um é necessário” (cf LS, n.º 65). De facto, o Criador tem um carinho especial por cada ser humano. Ajudar os pobres com dinheiro deve ser um remédio provisório para enfrentar emergências. O verdadeiro objetivo deve ser sempre consentir-lhes uma vida digna através do trabalho (cf LS, n.º 128). Todos os trabalhadores têm direito a desfrutar de uma ecologia integral, porque “o homem não se cria a si mesmo. Ele é espírito e vontade, mas é também natureza”. Por isso, somos chamados a ser presença de Cristo no mundo do trabalho.
Reafirma-se a necessidade de que todos tenham trabalho e disponham dos meios de sobrevivência com dignidade; reivindica-se o reconhecimento do estatuto do trabalhador. Requer-se: trabalho livre; criativo, participativo e solidário. Os militantes estão conscientes de que a Evangelização do mundo operário depende de nós. É preciso investir na formação para os direitos de quem trabalha e para o valor das organizações laborais (sindicatos e comissões de trabalhadores); adaptar os postos de trabalho para evitar acidentes e desgastes físicos, recorrendo a novos conceitos tecnológicos e salvaguardando a saúde dos trabalhadores.
O Movimento de Braga na sua semana temática, a realizar em abril, refletirá sobre a nova organização do trabalho, os horários laborais e, em particular, o trabalho ao domingo.
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A 28 de abril, a LOC/MTC publicou as conclusões da predita semana temática sob o tema Uma TERRA, um TETO, um TRABALHO, VIDA DIGNA para a CLASSE TRABALHADORA”.
Denuncia-se o avanço do projeto de morte no mundo, protagonizado pelo sistema capitalista, sob a égide da rentabilidade e da especulação, que gera a brutal concentração da riqueza nas mãos de poucos (o que corresponde hoje a 82% de todo o PIB para 1% da população). E, não satisfeita com tal concentração de riqueza, a elite burguesa continua a atacar a classe trabalhadora retirando-lhe direitos, adquiridos ao longo do tempo, por muitas lutas, sofrimentos e derramamento de sangue. E deste ataque resultam mudanças legislativas, o fomento da precariedade do trabalho e os despedimentos em massa, o que leva ao aumento do exército de desempregados.
Outra prática de destruição, promovida por este sistema, consiste em reduzir o tamanho e o poder do Estado, tornando-o diminuto e reduzindo as prestações da Segurança Social, Saúde e Educação, eliminando políticas de inserção e de distribuição de rendimentos, desmantelando programas sociais e condenando à marginalidade e à extrema pobreza milhões de seres humanos em toda a parte. Assim, o Estado, como instituição que, na democracia moderna, pertence a todos e deve servir a todos e a todas, torna-se instrumento de garantia de privilégios da minoria possuidora, que não se sacia e que continua a apropriar-se, através dos tempos, de recursos naturais (fontes de energia, terra, alimentos, água – herança de Deus para toda a humanidade) transformando tudo em mercadoria, bens transacionáveis, riquezas privatizadas para satisfazer a fome desta elite financeira mundial e impedindo os seres humanos e outros seres vivos de sobreviverem.
Verifica-se ainda, como prática de morte (realizada por esta elite) o ataque a governos de caráter popular, democraticamente eleitos, especialmente em países em vias de desenvolvimento, que sofreram, até aos finais do Séc. XX, um significativo atraso económico, social e político. Nestes países, as lutas do povo organizado, nas quais o papel das Igrejas cristãs foi muito importante para os movimentos sociais, sindicais e outras associações dos trabalhadores, contribuíram para a derrota de regimes totalitários, como sucedeu no Chile, Brasil, Uruguai, Argentina, etc,… fazendo brotar regimes democráticos. Porém, neste momento histórico está a ser imposta uma agenda hipócrita e moralista, articulada pela elite económica mundial que, aliada às conservadoras elites nacionais, controla corruptamente os meios de Comunicação Social, e coligados ao poder legislativo, executivo e judicial, ameaça governos democraticamente eleitos, persegue dirigentes políticos e provoca verdadeiros retrocessos.
Por fim, evocam-se milhões de famílias trabalhadoras nos diversos continentes ameaçadas por conflitos religiosos e políticos, forçadas a abandonar terras e países de origem e obrigadas a emigrar para destinos incertos, em busca de sobrevivência, em países nem sempre acolhedores.
Perante tal calamidade, o Movimento Mundial de Trabalhadores Cristãos (MMTC), neste 1.º de maio de 2018, une-se aos demais movimentos e organizações sociais de todo o mundo, com todas as Igrejas, todas as religiões e até com os que não têm crença, homens e mulheres de boa vontade, para afirmar juntos:
Não a uma nova economia de exclusão! Não à nova idolatria do dinheiro! Não a um dinheiro que governa em vez de servir! Não à desigualdade social que gera violência!
E gritar alto e bom som:
Nenhum trabalhador ou trabalhadora sem teto, sem terra, sem trabalho! Vida digna para a classe trabalhadora!”.
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Também a LOC/MTC da Diocese de Aveiro promove uma tertúlia solidária este sábado, 19 de maio, a partir das 21,15 horas, no Centro Paroquial de Cacia.
A organização convida os participantes da tertúlia solidária a levar um bem alimentar para partilhar com a Conferência Vicentina.
Encontrar o Evangelho no Mundo do Trabalho’, é o tema da sessão que está a ser organizada pela Liga Operária Católica – Movimento de Trabalhadores Cristãos da Diocese de Aveiro
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Por seu turno, José Paixão, coordenador nacional da LOC/MTC, disse, a 1 de maio, à Ecclesia, que o Trabalho é necessário e indispensável e contestou as visões que querem limitar as possibilidades de emprego e promover a precariedade.

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Com efeito, tal como Cristo disse que “o sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado” (Mc 2,27), também hoje é preciso clamar que o trabalho foi feito para o homem e não o homem para o trabalho, ou seja, o trabalho como a empresa são instrumentais e não o objetivo. O fim do trabalho, do capital e da empresa é o homem e os seus compromissos consigo, com a família, com a sociedade, com o planeta e com Deus.

2018.05.18 – Louro de Carvalho

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