Foi uma
agradável surpresa para a Igreja que vive em Portugal a notícia de que o Papa
Francisco nomeou Dom António Augusto dos Santos Marto Cardeal da Santa Igreja
Romana, juntamente com mais 13 prelados e marcou o consistório da criação
oficial dos novos cardeais para o dia 29 de junho.
Na
verdade, o Bispo de Leiria-Fátima brilha como um dos bispos mais emblemáticos portugueses
pela forma como congraça a profundidade da doutrina teológica com a maleabilidade
da ação pastoral e pelo arrojo com que é capaz de configurar a coordenação do
ser e da missão do Santuário de Fátima, granjeando-lhe pluralidade e uma
notável polifonia de valências. Se, com Dom Alberto Cosme do Amaral e Dom
Serafim de Sousa Ferreira e Silva, o Santuário respirava um bom ordenamento,
uma orientação das atividades na linha conciliar e uma profunda espiritualidade
radicada no Evangelho e nos sinais de Deus presentes no mundo – bastante por
intuição e ação do antigo Reitor Monsenhor Paulo Guerra –, com Dom António
Marto, o Santuário tem sido uma verdadeira escola politécnica de ação
evangelizadora, santificante e pastoral, creio que por inspiração de Bento XVI
e com o toque do Papa Francisco. Basta para o justificar a leitura atenta das orações
marianas que o Santuário preparou para a pronúncia dos dois Papas visitadores,
respetivamente Bento, em 12 de maio de 2010, e Francisco, em 12 de maio de
2017. E, se a preparação e o desenvolvimento do Centenário foram um espelho da
mais-valia de Fátima, o pós-Centenário parece seguir o mesmo rumo no sentido de
constituir um centro poderoso de carregamento de baterias para que os
peregrinos, depois de se terem apresentado a si mesmos e ao mundo no altar do
Santuário e contemplarem a vida das pessoas a partir da sua varanda, possam
partir ou regressar às periferias da vida, tantas vezes acossada pelos ferozes
inimigos do homem. Por outro lado, o Bispo tenta imprimir na sua diocese,
sobretudo pelo aproveitamento do centenário da restauração da diocese, uma
dinâmica bem intensa e plurivalente de modo que a Igreja do Lis seja uma Igreja
aberta, profunda, assente nos valores do homem e de Deus, convertendo o pó acumulado
na cadeia pós-constantiniana em sementes de vitalidade e fermento de Evangelho.
***
As
reações não se fizeram esperar em Portugal.
O Presidente da República saúda Dom António Marto pela sua elevação a
Cardeal. Diz Marcelo Rebelo de Sousa em nota da Presidência:
“Saúdo Dom António Marto, Bispo de
Leiria-Fátima, pelo anúncio da sua elevação ao cardinalato, decisão sábia e
clarividente do Papa Francisco, que assim reconhece uma exemplar trajetória
biográfica e pastoral.
O empenho de Dom António Marto na reforma da Igreja, a
sua profunda ligação a Fátima e aos seus mistérios, o cuidado na atenção aos
outros e ao cumprimento diário da mensagem evangélica fazem dele um dos mais
promissores novos cardeais.
Desejo-lhe as maiores venturas no exercício deste
exigente múnus e, como Presidente da República, agradeço a Dom António Marto o
seu admirável testemunho de esperança e de humanidade, prestado perante crentes
e não crentes.”.
O Primeiro-Ministro, António Costa, também felicitou o Bispo
de Leiria-Fátima, através da sua conta do Twitter:
“Felicito Dom António Marto, Bispo de
Leiria-Fátima, pelo anúncio da sua nomeação como Cardeal, feito hoje pelo
@Pontifex_pt. É uma hora de alegria, não só para a Igreja, mas para todos os
que o estimam. Desejo-lhe as maiores venturas.”.
O Bispo do Porto recebeu com “imenso
júbilo” a notícia e diz que o bispo de Leiria-Fátima foi chamado pelo Papa ao
trabalho de “renovação da Igreja”. Em comunicado enviado à Rádio Renascença,
Dom Manuel Linda considera que esta foi uma “feliz escolha” por parte do Papa
Francisco e sustenta:
“Pelos
seus dotes de sabedoria, fina sensibilidade pastoral, reconhecido otimismo e
plena adesão à fé católica, o cardeal Dom António Marto constituirá uma forte
mais-valia para a Igreja universal e para o mundo que servimos”.
Recordando a ligação de Marto ao
Porto e considerando-o um amigo da cidade, sublinha que o prelado de
Leiria-Fátima “é agora chamado a ajudar o
Papa na tarefa da renovação da Igreja, de modo a corresponder cada vez mais ao
rosto do Ressuscitado e a constituir-se sinal de esperança para este mundo
globalizado, mas também com fortes convulsões”. E afirma:
“Enquanto
o felicito vivamente em nome de toda a Diocese, também lhe asseguro a certeza
da nossa oração. Iguais sentimentos dirijo ao Papa Francisco, ele que, como
tantas outras vezes, nos surpreende com a ousadia típica de ‘um homem de Deus.”.
O Cardeal Patriarca de Lisboa, Dom
Manuel Clemente também manifesta o seu júbilo:
“Recebo com muita alegria a nomeação do Senhor Dom António Marto para o
Colégio Cardinalício. A sua inteligência e sensibilidade reforçarão na Igreja
em geral e entre nós tudo quanto o Papa Francisco tem levado por diante em prol
da evangelização, da justiça e da paz!”.
Em nome
da CEP (Conferência
Episcopal Portuguesa),
o secretário Padre Manuel Barbosa, saudou a nomeação cardinalícia, falando no
reconhecimento dum “fecundo ministério” e explicitando:
“É com grande alegria que acolhemos a
notícia da nomeação de Dom António Marto, Bispo de Leiria-Fátima e
vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, como Cardeal da Igreja
Católica. A sua nomeação pelo Papa Francisco é um reconhecimento do seu fecundo
ministério episcopal na Diocese de Leiria-Fátima, no Santuário de Nossa Senhora
do Rosário de Fátima e na Igreja em Portugal.”.
O Padre Barbosa sublinha que o novo Cardeal português é agora
chamado a “estender o seu ministério episcopal a toda a Igreja, em comunhão
mais intensa com o Bispo de Roma”.
O Bispo da Guarda saudou o Bispo de Leiria-Fátima, pela sua
nomeação como cardeal, considerando que a decisão do Papa é um reconhecimento
da importância de Fátima no mundo:
“A visibilidade de Fátima e a sua
importância para a pastoral da Igreja em Portugal e no mundo, bem demonstradas
sobretudo a partir da celebração do centenário das aparições ocorrido há um
ano, ficam, assim, devidamente reconhecidas”.
Também a Diocese do Funchal reagiu a esta
nomeação, sublinhando que representa “o
reconhecimento dos dons e capacidades” de Dom António Marto ao serviço da
Igreja Católica em Portugal e “sublinha a importância da Mensagem de Fátima
para o mundo atual”.
Mas orgulhosos estão os transmontanos de
cuja cepa comum brotou o novo purpurado. Diz o prelado diocesano, também de
Trás-os-Montes, Dom Amândio José Tomás:
“Muitos me pedem para te saudar, muitos se
sentem orgulhosos do transmontano que o Senhor chamou a servir em Leiria –
Fátima e o Papa Francisco, agora, chamou a servir mais de perto, pedindo-te
redobrado conselho, fidelidade e intervenção, simbolizadas na púrpura que não é
teatro de vaidades, mas convicto testemunho até ao martírio”.
E, mais adiante:
“Ao comunicar, no
início da Eucaristia, aos fiéis e aos sacerdotes a notícia, todos rejubilaram,
rezaram por ti e continuam a associar-se à alegria geral da Igreja Diocesana,
que te preza, te admira e te deseja os melhores êxitos e a proteção de Deus, no
serviço, que és chamado a prestar à Igreja e ao nosso querido Papa Francisco,
como Cardeal da Santa Igreja Católica e Romana”.
De acordo com
o Padre Vítor Coutinho, vice-reitor do Santuário de Fátima e um dos mais
diretos colaboradores do futuro cardeal, esta decisão mostra “reconhecimento”
pelo trabalho que tem sido desenvolvido na diocese e no santuário por Dom
António Marto.
O sacerdote
fala numa “grande honra” para a Diocese de Leiria-Fátima, cujo Bispo vai
tornar-se no quinto cardeal português do século XXI e o segundo a ser designado
no atual pontificado.
E o Padre
Carlos Cabecinhas, Reitor do Santuário disse ao
Gabinete de Comunicação:
“Em primeiro lugar
felicitamos o Senhor Dom António Marto por esta escolha; em segundo lugar,
reconhecemos nela uma deferência para com Fátima”.
Hoje, dia 22, Dom António
Marto recebeu das mãos do Presidente da Câmara, Raul Castro, a Medalha de Ouro
do Município de Leiria, na sessão solene comemorativa do Dia do Município, que teve
lugar no Teatro José Lúcio da Silva, na data do aniversário da criação da
Diocese e da elevação de Leiria a cidade, que aconteceu em 1545.
Na mesma
sessão, foram homenageados os funcionários do município com 25 anos de serviço
e distinguidos com a atribuição de medalhas de cobre, prata ou ouro, 12
personalidades do concelho que contribuíram para o desenvolvimento de Leiria em
várias áreas, da ciência à economia, do desporto à cultura, entre outras.
O prelado foi
distinguido pelo seu serviço à Diocese e à sociedade, contribuindo para a
elevação da qualidade de vida das pessoas, pela atenção aos mais pobres e para
levar longe o nome de Leiria, especialmente na sua qualidade de responsável
pelo Santuário de Fátima. Esta atribuição havia sido aprovada pelo executivo
municipal já em 2017. Mas vários oradores aproveitaram o ensejo para
manifestarem a sua satisfação e felicitarem o Bispo pela nomeação cardinalícia.
***
Por sua vez, Dom António Marto diz-se emocionado com a nomeação que
encara como “um serviço”. E o Bispo de
Leiria-Fátima, que o Papa nomeou como Cardeal, no dia 21, domingo, afirma que a
nomeação o “surpreendeu” e que a vê como “mais um serviço” que presta à Igreja.
Durante a
conferência de imprensa que deu na tarde do passado domingo no Santuário de
Fátima reagindo à nomeação para Cardeal, disse:
“Não olho para esta nomeação em termos de
meritocracia, para mim é um serviço, uma responsabilidade a mais a prestar à igreja
Universal”.
E,
reportando-se às suas raízes e ao seu perfil pessoal, vincou:
“Eu venho de uma família humilde e o meu pai,
no início, não gostava muito que eu fosse padre, mas depois aceitou e um dia
chamou-me à parte, depois da ordenação, e disse-me: ‘meu filho, tu
lembra-te sempre que vens de uma família humilde, que não te suba o poder à
cabeça”. E eu sigo este legado que o meu pai me deixou. Nunca me subiu o poder
à cabeça nem aspiro a lugares de poder. Para mim a autoridade é um
serviço e é um dever e o Senhor dá a graça de o podermos realizar.”.
O Bispo do
Lis sublinhou que esta nomeação tem três aspetos: o primeiro é um serviço que o Papa pede para o ajudar no seu
governo quer como bispo de Roma quer como pastor da igreja universal; o
segundo é o reconhecimento da necessidade
de uma maior ligação entre a sede de Pedro e as igrejas particulares e, em
concreto entre a cátedra de Pedro e a diocese de Leiria-Fátima; e, em
terceiro lugar, é um ato de confiança
pessoal do Papa.
O prelado
que durante a conferência de imprensa não conseguiu disfarçar a emoção nesta
nomeação, encarando-a sempre com grande humildade, frisou que, além da confiança
pessoal do Papa, há também um lado institucional nesta escolha. E sobre a
conexão desta nomeação com Fátima, para lá da confiança papal “na minha humilde
pessoa”, discorreu:
“A celebração do Centenário, que o Papa
experimentou ao vivo, percebendo o que significa Fátima para a Igreja e
para o Mundo há de ter contribuído para esta nomeação naturalmente”.
E
acrescentou de forma simples e genuína:
“Das duas audiências privadas que me
concedeu deve ter percebido o que penso das reformas que está a
implementar e vê em mim um apoiante dessas reformas no sentido de
tornar a Igreja numa Igreja mais evangélica, mais próxima, numa igreja
mais misericordiosa e nisso ele sabe que pode contar comigo”.
Questionado
sobre se já tinha falado com o Papa depois da nomeação, disse que não e contou
como tinha recebido a notícia, antes de iniciar a celebração da Eucaristia
dominical na Sé:
“Recebi a notícia com surpresa e muita
emoção, como que as lágrimas vieram aos olhos e tive de me conter para ninguém
perceber e, só depois, veio a paz de espírito como quem diz: seja feita a
vontade do Senhor, se é isto que a igreja me pede, resignei-me e
tranquilizei-me. […] Não falei com o Papa. Ele surpreende-nos e desta vez
também me surpreendeu. Quando falar com ele vou agradecer-lhe este ato de
confiança e colocar-me à disponibilidade do Santo Padre.”.
O novo
cardeal espera agora poder continuar na diocese, pois “com esta idade já não
deveria sair daqui” e manifestou agrado em poder vir a participar, se “a saúde
e o tempo de vida assim permitir” num conclave para a eleição de um novo Papa.
Mas, agora o momento é “para viver o presente que é um momento de graça para a
Igreja com este Papa e ajudá-lo na consolidação das reformas que
ele está a implementar e depois logo se verá”.
Questionado
sobre o contributo que pode dar ao Papa, lembrou que “é um pastor da Igreja,
com os dons que tem e que os põe ao serviço da Igreja quando esta lhe pedir”.
É de recordar
que, em junho de 2017, o Papa enviou uma mensagem ao prelado de Leiria-Fátima,
para agradecer o “acolhimento fraterno” e a “hospitalidade fidalga” de que foi
alvo na sua peregrinação à Cova da Iria. E saudava o “efusivo testemunho de
alegria e amor a Nossa Senhora de Fátima” da parte de Dom António Marto e o
trabalho de todos os seus colaboradores, “em toda a parte, desde a mesa ao
altar”.
O futuro Cardeal
português publicou numerosos artigos em diversas publicações periódicas,
nomeadamente nas revistas “Humanística e
Teologia”, “Communio” e “Theologica”.
Foi delegado
da Conferência Episcopal na Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia (COMECE) de 2011 até abril de 2017.
Desde abril
de 2014 é Vice-Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, cargo que também
exerceu durante o triénio 2008-2011.
Bispo de
Leiria-Fátima, diocese para que foi nomeado em 22 de abril de 2006 e onde
entrou solenemente e tomou posse canónica a 20 de junho, recebeu em Fátima, o
Papa Bento XVI em maio de 2010 e o Papa Francisco em maio de 2017.
É de rezar
para que o seu desempenho como especial cooperador do Pontífice na renovação da
Igreja em prol dos homens seja profícuo e constitua reforçada exigência para o
Santuário de Fátima, o qual mais do que o encanto com a colheita de louros, deve
empenhar-se cada vez mais na oferta dum serviço divino e humano cada vez mais eficaz,
mais evangélico e mais próximo.
2018.05.22 – Louro de Carvalho
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