O Papa
Francisco virá a Fátima a 12 e 13 de maio como peregrino. Embora estejam
previstos, em lugares e horas acertados, encontros com o Presidente da
República e com o Primeiro-Ministro, a visita de Sua Santidade (dada a idiossincrasia deste Papa, parece nem soar bem este
tratamento, mas é-lhe devido como aos demais) não assume a
configuração duma visita de Estado. Para sermos mais claros, Francisco estará
em Fátima com os peregrinos e não com a autoridade que lhe advém da sucessão petrina – sem alguma vez
se esquecer de que é o sucessor de Pedro e confirma os irmãos na fé – nem revestido
do poder que lhe conferem a tradição eclesiástica medieval e renascentista ou o
Tratado de Latrão.
Além disso, os
preditos encontros revestem um caráter privado. Não obstante, desde
que o Pontífice, embarcado no Aeroporto de Fiumicino, em Roma, chegue à Base
Aérea de Monte Real, às 16 horas e 20 minutos do dia 12 de maio, o Presidente
da República, Marcelo Rebelo
de Sousa, assumir-se-á por inteiro como o anfitrião do Santo Padre, papel que
desempenhará até ao momento em que o ilustre peregrino levante voo a partir de
Monte Real, pelas 15 horas do dia 13, em avião da TAP, com destino ao Aeroporto
de Ciampino, em Roma.
Depois da aterragem na referida
Base Aérea, ocorrerá a cerimónia de boas-vindas, a que se seguirá o encontro
privado, de 20 minutos, com o Chefe de Estado e a visita à capela da Base, onde
há 50 anos rezou (a 13 de maio) Paulo VI, que rumou a Fátima como
peregrino da Paz, e João Paulo II, a 12 de maio de 1991, regressando da viagem
às regiões autónomas dos Açores e da Madeira e rumando a Fátima.
O programa da viagem – viagem que
responde aos convites da Conferência Episcopal Portuguesa e do Estado
Português, entregues respetivamente pelo bispo de Leiria-Fátima, Dom António
Marto, e pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa – foi divulgado
a 20 de março pela Sala de Imprensa da Santa Sé e replicado, quer pelo
Santuário de Fátima quer pela Comunicação Social Portuguesa.
Após os atos previstos para Monte Real,
o Papa deslocar-se-á, em helicóptero da Força Aérea Portuguesa, para o Estádio
de Fátima, que servirá de heliporto, e do Estádio deslocar-se-á em carro aberto
até ao Santuário, para que os circunstantes possam, ao longo da jornada, ver e
saudar o Sumo Pontífice e este mostrar alguns de seus gestos típicos.
Prevê-se a visita papal à Capelinha das
Aparições pelas 18 horas e 15 minutos, onde o Pontífice terá um momento de
oração. E, depois do necessário o tempo de repouso e refeição (também aspetos
inerentes à condição de peregrino), as 21 horas e meia oferecerão a
oportunidade da bênção das velas a partir da Capelinha das Aparições, a
saudação do Santo Padre e a recitação do Santo Rosário.
O dia 13 iniciar-se-á com um encontro
privado, de cerca de meia hora, com o Primeiro-Ministro, António Costa, pelas 9
horas e 10 minutos, na Casa de Retiros Nossa Senhora do Carmo, seguido da
visita à Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, onde se encontram os
túmulos dos três pastorinhos: Francisco, Jacinta e Lúcia. E, pelas 10 horas, celebrar-se-á a Santa Missa no Altar Recinto de Oração, com a homilia do Santo Padre e a bênção
e saudação aos doentes – a celebração mais marcante da peregrinação aniversária.
O último ato oficial do programa será o
almoço com os bispos portugueses no dia 13 na Casa de Retiros Nossa Senhora do Carmo, devendo o
protocolo do Estado prover ao acolhimento dos Chefes de Estado que, na ocasião,
estiverem em Portugal, na sequência do repto lançado por Marcelo na cimeira
ibero-americana e na da CPLP.
Duas horas depois, o Papa estará de
volta à Base Aérea de Monte Real, donde partirá em avião da TAP rumo a Roma
após a cerimónia de despedida, estando a chegada a Roma prevista para as 19
horas e 5 minutos, hora de Roma.
***
Francisco será o 4.º Papa a peregrinar
para Fátima e, obviamente, o 4.º Papa a visitar Portugal. Porém, o mais assíduo
visitante de Portugal e de Fátima foi São João Paulo II: esteve quatro vezes em
Portugal, sendo que uma consistiu numa escala técnica no Aeroporto de Lisboa,
onde falou aos portugueses, e três vezes em Fátima.
Paulo VI, como confidenciou no discurso
que proferiu perante o Chefe de Estado em Monte Real, veio, por ocasião do
cinquentenário, “render homenagem filial à excelsa Mãe de Deus, na Cova de
Iria” e “suplicar a Nossa Senhora de Fátima que faça reinar na Igreja e no
mundo o inestimável bem da paz”, bem como pedir a “Nossa Senhora de Fátima se digne derramar sobre Portugal católico as
mais copiosas graças de bem-estar espiritual e material, de prosperidade, de
progresso e de paz”. Não é de somenos sublinhar, para aquele tempo, o segmento
discursivo transcrito em itálico!
João Paulo II veio, no aniversário do atentado que sofreu na Praça de
São Pedro, com esta mística, referida à chegada a Portugal: “Em direção a Fátima ou no retorno de Fátima, levo no coração o cântico de
ação de graças de Nossa Senhora, por Deus me ter salvado a vida, aquando do
atentado sofrido, a 13 de Maio do ano passado; assim, em atitude adoradora, vou
repetindo: “A
minha alma glorifica o Senhor / e o meu espírito se alegra em Deus, meu
Salvador” (Lc 1,47).
Voltou, 10
anos depois, a Fátima para “agradecer a
Nossa Senhora a proteção dada à Igreja nestes anos, que registaram rápidas e
profundas transformações sociais, permitindo abrirem-se novas esperanças para
vários povos oprimidos por ideologias ateias que impediam a prática da sua fé”,
bem como para “renovar a minha gratidão
pela especial proteção da Virgem Mãe que me salvou a vida no atentado de há dez
anos, mais precisamente em 13 de maio de 1981 na Praça de São Pedro”. E
expressou o desejo de que em Portugal “todos me sintam próximo de suas pessoas e vida, como
mensageiro da Boa Nova da Salvação e do Amor de Deus”.
E, no ano 2000, veio celebrar a beatificação dos videntes Jacinta e
Francisco e, sem que a opinião pública estivesse a contar, acabou por induzir a
revelação e interpretação teológica da terceira parte do Segredo de Fátima.
Por seu turno, Bento XVI veio a Portugal “como peregrino de Nossa Senhora de Fátima, investido pelo Alto na
missão de confirmar os meus irmãos que avançam na sua peregrinação a caminho do
Céu”. Ao mesmo tempo, não esqueceu de vir afirmar que, “situada na história, a Igreja está aberta a
colaborar com quem não marginaliza nem privatiza a essencial consideração do
sentido humano da vida”. E, lembrando o centenário da viragem republicana,
declarou:
“Não se trata de um
confronto ético entre um sistema laico e um sistema religioso, mas de uma
questão de sentido à qual se entrega a própria liberdade. O que divide é o
valor dado à problemática do sentido e a sua implicação na vida pública. A
viragem republicana, operada há cem anos em Portugal, abriu, na distinção entre
Igreja e Estado, um espaço novo de liberdade para a Igreja, que as duas
Concordatas de 1940 e 2004 formalizariam, em contextos culturais e perspetivas
eclesiais bem demarcados por rápida mudança.
Mas sublinhou que “os sofrimentos
causados pelas mutações foram enfrentados geralmente com coragem” e na
convicção de que “viver na pluralidade de
sistemas de valores e de quadros éticos exige uma viagem ao centro de si mesmo
e ao cerne do cristianismo para reforçar a qualidade do testemunho até à
santidade, inventar caminhos de missão até à radicalidade do martírio”.
***
Resta-nos
estar atentos a ver o que o Papa Francisco vem dizer e fazer. Para já, sabemos
que, a 7 de setembro de 2015, no seu encontro com os bispos de Portugal durante
a visita “ad Limina”, Francisco
transmitiu-lhes o “desejo profundo” de visitar Fátima. E, em 29 de
setembro de 2016, a Rádio Renascença recolhia declarações do Cardeal Patriarca
e Presidente da CEP, Dom Manuel Clemente, do Bispo Auxiliar do Patriarcado, Dom
Nuno Brás (que acentuava
a alegria com que o Papa o terá dito), e do Bispo de Leiria-Fátima – todas no sentido de que o
Papa viria a Portugal no âmbito do centenário, mas só a Fátima.
Entretanto, o
Santuário de Fátima divulgou o site e
o logótipo da vinda do Papa, que veio a ser assumido pelo Vaticano, em que surge
a figura de Francisco e a legenda “Com Maria Peregrino na esperança e na paz”.
Por isso,
temos de prestar toda a atenção às declarações que houver por bem fazer e, em
especial, nesses dias 12 e 13 de maio, que o crente, o português e devoto de Maria
espera com esperançosa ansiedade. Certamente que a palavra de Francisco
proferida em Fátima será semente que terá, parafraseando Carvalho Rodrigues, o
condão de se globalizar e tornar-se planetária e cósmica, porque será palavra
seminal produzida no solar da Mãe de Deus (cf Carvalho Rodrigues em vídeo “Vozes do Centenário”, 13 de maio).
2017.03.21 – Louro de Carvalho
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