quarta-feira, 1 de março de 2017

“Cultivar e guardar a Criação em 2017”

Nesta quarta-feira de cinzas, a 1 de março, a Igreja Católica que vive no Brasil fez, motivada e organizada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o lançamento da Campanha da Fraternidade 2017 em torno do tema “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida” e com o lema “Cultivar e guardar a Criação”. O objetivo é alertar a população para a necessidade da preservação ambiental e a conscientização ecológica. E, para o Padre Hélio do Nascimento, o tema da campanha deste ano é muito importante para a consciência particular de cada um, pois:
“São seis biomas e vemos que esses biomas estão cada vez mais sendo diminuídos pela ação humana. A gente quer gritar contra essa injustiça e alertar o povo a se conscientizar”.
O lançamento oficial da Campanha da Fraternidade 2017 (CF17) aconteceu a partir das 14 horas com a celebração da missa presidida pelo arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, no Jardim Botânico do Recife, localizado no bairro do Curado.
A este respeito, Dom Dirceu Vegini, Bispo Diocesano de Foz, sustenta:
“Tudo deve ser cultivado e guardado e não destruído. A vida é toda ela fraternal. Queremos intensificar uma pastoral em defesa da vida de todos os seres vivos do planeta. A Igreja tem uma responsabilidade pela criação, deve defender a terra, a água, o ar como dons da criação que pertencem a todos. Queremos harmonia entre ecologia humana e ecologia ambiental. O ser humano é guardião de toda a criação e de todas as criaturas.”.
Campanha da Fraternidade já se desenvolve no Brasil há mais de 50 anos e a sua abertura oficial ocorre sempre na quarta-feira de cinzas a marcar o início da Quaresma, tempo litúrgico em que a Igreja incita os fiéis a experimentarem três práticas penitenciais: a oração, o jejum e a esmola, durante estes 40 dias que antecedem a Páscoa. E vai até ao domingo de Ramos.
É certo que, nos termos da Lei Federal, a data não é um feriado oficial. Não obstante, muitos estabelecimentos comerciais não funcionam, apesar de terem autorização para funcionar e algumas repartições públicas e agências bancárias só funcionam a partir das 12 horas.
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Por falar de biomas no Brasil, é de recordar que bioma é o complexo dos seres vivos de uma área. E o conceito também se estende ao conjunto dos ecossistemas terrestres. É na biosfera que se encontram os biomas enquanto associações relativamente homogéneas de plantas, animais e outros seres vivos com equilíbrio entre si e com o meio físico.
O termo bioma foi criado pelo ecólogo americano Frederic Clements, que o definiu como uma comunidade de plantas e animais, geralmente de uma mesma formação. Desde a sua criação, bioma vem sofrendo algumas modificações e muitas definições.
Os biomas apresentam tipos fisionómicos semelhantes de vegetação, os mesmos fatores ecológicos e estão estreitamente relacionados com as faixas de latitude e, por conseguinte, com o clima. Por exemplo: nas áreas de baixa latitude ou de clima tropical, predominam as florestas tropicais; nas áreas de média latitude, surgem as florestas temperadas.
Assim, bioma é: um conjunto de diferentes ecossistemas; o conjunto das comunidades biológicas; e os organismos da fauna e da flora, como florestas tropicais húmidas, tundras, savanas, desertos árticos, florestas pluviais, subtropicais ou temperadas, biomas aquáticos, como recifes de coral, zonas oceânicas, praias e dunas.
Os biomas terrestres são constituídos por 3 grupos: os que produzem, que são os vegetais; os que consomem, que são os animais; e os decompositores, que são os fungos e as bactérias. Um conjunto de ecossistemas constitui um bioma; e o conjunto de todos os biomas da terra constitui a biosfera da terra.
O Brasil apresenta seis tipos de biomas: o da Amazónia, que ocupa cerca de 50% do país (noroeste); o do Cerrado, que ocupa aproximadamente 24% do país (centro-oeste); o da Mata Atlântica, presente em cerca de 13% do país (sul e sudeste); o da Caatinga, presente em mais ou menos 10% do país (nordeste); o da Pampa, que ocupa cerca de 2% do país (sul); e do Pantanal, com uma extensão de mais ou menos 2% do país (centro-oeste).
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A Campanha da Fraternidade estimula dimensão comunitária da Quaresma e é, no Brasil, vivenciada e assumida em cada ano. Nela, a Igreja destaca uma situação da realidade social que precisa de ser mudada. Este ano, como já foi referido, o objetivo é dar ênfase à diversidade de cada bioma e criar relações respeitosas com a vida e a cultura dos povos que neles habitam, especialmente à luz do Evangelho e nos termos da encíclica Laudato Si’, consequente com o teor de grande parte do magistério do Papa Francisco.
Segundo a Rádio Vaticana, a partir do tema ‘Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida’ e o lema ‘Cultivar e guardar a criação’ (Gn 2,15), a Igreja conscientiza e pede a profunda conversão interior. Assim, a CNBB afirma: “Ao meditarmos e rezarmos os biomas e as pessoas que neles vivem, sejamos conduzidos à vida nova”.
Segundo Dom Leonardo Ulrich Steiner, bispo auxiliar de Brasília e secretário-geral da CNBB, a CF 17 enfatiza a diversidade de cada bioma e criar relações respeitosas com a vida e a cultura dos povos que neles habitam, especialmente à luz do Evangelho, pois a depredação dos biomas é a manifestação da crise ecológica que postula a profunda conversão interior, a que se aludiu.
Ainda de acordo com o pensamento do bispo, a CF 17 quer, antes de tudo, que o cristão seja um cultivador e guardador da obra criada. Nestes termos, ele declarou:
“Cultivar e guardar nasce da admiração! A beleza que toma o coração faz com que nos inclinemos com reverência diante da criação. A campanha deseja, antes de tudo, levar à admiração, para que todo o cristão seja um cultivador e guardador da obra criada. Tocados pela magnanimidade e bondade dos biomas, seremos conduzidos à conversão, isto é, cultivar e a guardar.”.
Além de abordar a realidade dos biomas brasileiros e as pessoas que neles moram, a CF 17 deseja despertar as famílias, comunidades e pessoas de boa vontade para o cuidado e o cultivo da Casa Comum. Ora, para ajudar as pessoas e grupos nas reflexões sobre a temática da Campanha, foi elaborado e divulgado o texto-base, preparado pela CNBB, que está dividido em 4 capítulos, a partir do método ver, julgar e agir, e faz uma abordagem dos biomas existentes, suas caraterísticas e contribuições eclesiais.  Além disso, traz reflexões sobre os biomas e os povos originários, na perspetiva de São João Paulo II, de Bento XVI e de Francisco; e são apresentados os objetivos permanentes da Campanha, os temas anteriores e os gestos concretos previstos durante a Campanha 2017. 
Por outro lado, para evidenciar a beleza natural do país, identificando os 6 biomas brasileiros, o Cartaz da CF 2017 mostra o mapa do Brasil, em imagens caraterísticas de cada região. Compõem também o cenário, como personagens principais, os povos originários, os pescadores e o encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, acontecido há 299 anos, estando em curso as celebrações do tricentenário da Senhora Aparecida.
Além da riqueza dos biomas, o cartaz quer expressar o alerta para os perigos da devastação em curso e despertar a atenção de toda a população para a criação de Deus.
Texto-base e cartaz são peças da CF 2017 que podem ser adquiridas através do site das Edições CNBB.
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Por seu turno, o Papa Francisco, em mensagem datada do passado dia 15 de fevereiro declara unir-se ao Brasil nesta CF 17, relevando o seu tema e animando os brasileiros “a ampliar a consciência de que o desafio global, pelo qual toda a humanidade passa, exige o envolvimento de cada pessoa juntamente com a atuação de cada comunidade local”, como enfatizou “em diversos pontos na encíclica Laudato Si’, sobre o cuidado da nossa casa comum”.
Reconhecendo que “o Criador foi pródigo com o Brasil” e lhe concedeu “uma diversidade de biomas que lhe confere extraordinária beleza”, evidencia “os sinais da agressão à criação e da degradação da natureza” ali também presentes. Porém, sublinha a postura da Igreja, que ali “tem sido uma voz profética no respeito e no cuidado com o meio ambiente e com os pobres” (Não se podem dissociar as duas realidades). E relembra o histórico desta postura, que vem de longe:
“Não apenas tem chamado a atenção para os desafios e problemas ecológicos, como tem apontado as suas causas e, principalmente, tem apontado caminhos para a sua superação. Entre tantas iniciativas e ações, apraz-me recordar que já em 1979, a Campanha da Fraternidade que teve por tema ‘Por um mundo mais humano’ assumiu o lema: ‘Preserve o que é de todos’. Assim, já naquele ano, a CNBB apresentava à sociedade brasileira a sua preocupação com as questões ambientais e com o comportamento humano com relação aos dons da criação.”.
Depois, evocando o tema da CF 17, entende que não se podem desligar os nefastos “efeitos da degradação ambiental do modelo atual de desenvolvimento e da cultura do descarte sobre a vida das pessoas” (cf LS,43). Desta Campanha diz que ela “convida a contemplar, admirar, agradecer e respeitar a diversidade natural” manifestada “nos diversos biomas do Brasil – um verdadeiro dom de Deus – através da promoção de relações respeitosas com a vida e a cultura dos povos que neles vivem”. E considera que “este é, precisamente, um dos maiores desafios em todas as partes da terra, até porque as degradações do ambiente são sempre acompanhadas pelas injustiças sociais”. E, sobre os povos conexos com cada bioma, declara:
“Os povos originários de cada bioma ou que tradicionalmente neles vivem oferecem-nos um exemplo claro de como a convivência com a criação pode ser respeitosa, portadora de plenitude e misericordiosa. Por isso, é necessário conhecer e aprender com esses povos e suas relações com a natureza. Assim, será possível encontrar um modelo de sustentabilidade que possa ser uma alternativa ao afã desenfreado pelo lucro que exaure os recursos naturais e agride a dignidade dos pobres.”
Verificando que a Campanha ocorre no tempo forte da Quaresma, relaciona-a com a Páscoa:
“Trata-se de um convite a viver com mais consciência e determinação a espiritualidade pascal. A comunhão na Páscoa de Jesus Cristo é capaz de suscitar a conversão permanente e integral, que é, ao mesmo tempo, pessoal, comunitária, social e ecológica.”.
E, reafirmando que a misericórdia sugere e exige “restituir dignidade àqueles que dela se viram privados” (MV, 16), explicita agora:
“Uma pessoa de fé que celebra na Páscoa a vitória da vida sobre a morte, ao tomar consciência da situação de agressão à criação de Deus em cada um dos biomas brasileiros, não poderá ficar indiferente”.
Finalmente, o Papa faz a ponte entre a “fecunda caminhada quaresmal”, que deseja, e o Ano Mariano, no tricentenário da Aparecida, roga a Deus que a Campanha atinja os objetivos e concede especial Bênção Apostólica, invocando a proteção da Senhora Aparecida e pedindo a todos que rezem por ele, como é usual em Francisco.
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Só me questiono por que motivo esta iniciativa mais que cinquentenária da CNBB não é replicada noutros lugares, obviamente com as devidas adaptações, já que este tipo de problemas existe noutras paragens, não sendo de modo algum exclusivo do Brasil.  

2017.03.01 – Louro de Carvalho

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