A partir do passado dia 29 de março, o aeroporto
Internacional da Madeira, localizado no concelho de Santa Cruz, passou a ser
Aeroporto Internacional Cristiano Ronaldo. O Presidente da
República e o Primeiro-Ministro marcaram, nesse dia, a sua presença numa
cerimónia de homenagem ao futebolista, que passa a ter o nome associado ao
Aeroporto Internacional da Madeira, a ilha onde nasceu. A partir desse dia, em
termos comerciais, o aeroporto da Madeira passou efetivamente a usar o nome de
Cristiano Ronaldo, mas a designação oficial será confirmada só aquando da
conclusão do processo burocrático desencadeado para a alteração.
O Aeroporto da Madeira, que também era conhecido como
Aeroporto de Funchal ou Aeroporto de Santa Catarina, foi inaugurado em 18 de
julho de 1964 com uma pista de 1 600 metros de extensão e é um dos
mais importantes de Portugal e que serve a ilha da Madeira (há também o de Porto Santo, de menor dimensão), operando voos
domésticos e com destinos internacionais dentro da Europa e para a América Latina.
Dada a
incapacidade da pista em receber aviões capazes de dar vazão ao fluxo de
turistas que procuravam a ilha da Madeira, em 1972,
começou a ser pensada a ampliação para possibilitar os voos intercontinentais. Foi
então apresentado um projeto do engenheiro Edgar
Cardoso e, no ano seguinte, foi inaugurado um novo terminal, capaz
de receber 500 mil passageiros por ano. Entre 1982 e 1986, a pista foi aumentada para 1 800
metros e procedeu-se à ampliação da plataforma de estacionamento de aviões – obra
inaugurada a 1 de fevereiro de 1986, pelo Presidente da República António
Ramalho Eanes.
Entretanto, o
engenheiro António Segadães Tavares adaptou
os estudos de Edgar Cardoso e projetou nova ampliação da pista. Assim, a 15 de
setembro de 2000, teve lugar a
inauguração da extensão da pista para 2 781 metros, construída agora parcialmente
em laje sobre o mar, ficando assente em 180 pilares. O aeroporto encontra-se agora
qualificado para receber aviões de grande dimensão como o Airbus 340 e o Boeing
747 (que esteve no ato da
inauguração da pista)
bem como quase qualquer tipo de aviação civil ou militar, sendo a principal
porta de entrada de turistas na Região
Autónoma, bem como de correio postal, carga e outros serviços
essenciais.
***
Para assinalar
o momento da atribuição do nome de Cristiano Ronaldo ao aeroporto, foi ali colocado
um polémico busto do jogador madeirense internacional.
Cristiano
marcou presença no evento, que contou com várias personalidades da política,
como o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o Primeiro-Ministro,
António Costa, o Presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque,
entre outros.
O Presidente Marcelo, que,
ainda há bem pouco tempo, considerou inadequada e precipitada a atribuição do
nome do jogador ao aeroporto, no momento da inauguração do aeroporto rebatizado,
considerou-a como “uma escolha excecional para uma pessoa excecional” (faz-me lembrar o que disse Isabel II de Inglaterra sobre o funeral de Diana:
um funeral especial para uma pessoa especial).
Agora, na
cerimónia de
atribuição do nome de Cristiano Ronaldo ao Aeroporto Internacional da Madeira, o Presidente da República enalteceu papel do internacional português, “admirado
por milhões de portugueses e também por milhões de estrangeiros” espalhados
pelo Mundo, designadamente
na divulgação do nome da Madeira e de Portugal. Referiu a este respeito:
“Cristiano Ronaldo é um exemplo de
excelência a título individual, como melhor jogador do mundo, e a título
coletivo, como capitão da Seleção campeã da europa. Essa excelência alimenta o
nosso orgulho. Ronaldo projeta a Madeira e projeta Portugal.”.
E adiantou:
“Celebrar esta evidência e afirmá-la
para bem da internacionalização [de Portugal] e da plataforma entre culturas,
civilizações, continentes e oceanos não só faz sentido como serve o interesse
nacional”.
O que Marcelo
Rebelo de Sousa diz de Ronaldo não espanta, dada a admiração inúmeras vezes confessada
pelo futebolista. Porém, a posição anterior de Marcelo, que parecia uma crítica
aos decisores, agora é como que desmentida e retratada. Com efeito, o Chefe de
Estado enalteceu a escolha “arriscada e corajosa” de atribuir o nome de uma
personalidade como Ronaldo a uma obra pública ainda em vida, salientando que “muita
gente prefere atribuir a obras desta envergadura o nome de personalidades que
já não pertencem ao mundo dos vivos, cujo percurso inteiro pode ser avaliado
com distância e menor peso das inclinações de cada momento”. Explicou a este
respeito:
“Esta escolha [mudança do nome do
aeroporto] foi arriscada e, por isso, corajosa. Não é por acaso que se atribuem
grandes obras a pessoas que já cá não estão. Neste caso, a escolha foi feita a
saber destes riscos, que a homenagem era merecida e a gratidão era devida,
certamente a pensar em duas razões determinantes: a responsabilidade de
Cristiano Ronaldo e a confiança ilimitada que a Madeira e todo o Portugal nele
depositam.”.
E concluiu
dizendo:
“Este grande
atleta e grande homem vai viver com a constante ligação às suas raízes, que nos
habitámos a admirar nos primeiros 32 anos da sua vida. Será sempre assim, mesmo
quando não entrar em nenhum relvado. A Madeira e Portugal confiam
ilimitadamente nele. Será sempre um exemplo. Esta é uma escolha excecional para
uma pessoa excecional que nunca nos desiludirá.”.
Ronaldo,
obviamente, gostou de ver o seu nome no aeroporto. Na verdade, o internacional
português também discursou na cerimónia de atribuição do seu nome ao Aeroporto.
Mostrou-se muito feliz por ter o seu nome no Aeroporto da Madeira. E, por isso,
gradeceu a Miguel Albuquerque, Presidente do Governo Regional da Madeira, por
ter dado este passo, declarando:
“Ver o meu nome ser dado a este
Aeroporto é muito especial. Eu prezo muito as minhas raízes. Em todas as
entrevistas que faço, tento falar de Portugal e da Madeira. Acho que as
homenagens devem ser feitas quando as pessoas são vivas e agradeço ao Presidente
do Governo Regional por cumprir este sonho.”.
E, prometendo
continuar a trabalhar pelo seu país, declarou:
“Agradeço a
quem propôs e decidiu esta homenagem. Sei a responsabilidade que tenho e
tentarei sempre dignificar Portugal e, especialmente, a Madeira, com paixão,
espírito de sacrifício, como tenho feito até aqui.”.
O capitão da
seleção nacional, de 32 anos, deixou um agradecimento especial ao Presidente do
Governo Regional da Madeira e destacou a “coragem e firmeza” de Miguel
Albuquerque em rebatizar o aeroporto com o nome de Cristiano Ronaldo, referindo:
“Nunca te pedi
que fizesses isto. Não sou hipócrita. Fico feliz e honrado. Sei que algumas
pessoas não estão de acordo e, volto a dizer que não sou hipócrita, algumas
dessas pessoas estão aqui neste momento. Somos livres, vivemos em democracia e
todos temos direito à nossa opinião.”.
***
Porém, a atribuição do nome Cristiano Ronaldo
ao Aeroporto Internacional da Madeira não foi um assunto consensual entre os
madeirenses e entre dos habitantes do Continente.
“Ele é
madeirense e muito famoso e cada pontapé que dá na bola é um elogio para
Madeira”, disse à Lusa Rosa Lopes, 64
anos, empresária de comércio, realçando que “há outros madeirenses mais antigos
que mereciam ter o nome no aeroporto”, como, por exemplo, o ex-Presidente do
Governo Regional Alberto João.
Também partilha
esta opinião Teresa Camacho, de 48 anos, funcionária pública, para quem Ronaldo
constitui uma “grande promoção e publicidade” para a Madeira, mas, na verdade, “não
contribui diretamente para o desenvolvimento da ilha”, ao contrário do que
considera ter acontecido com o ex-governante, que a descobriu para a
requalificação e bateu o pé aos sucessivos governos da República e às instâncias
europeias em favor Região Autónoma.
Sandra Câncio, funcionária pública de 39
anos, também é perentória:
“Para mim, o nome Aeroporto da Madeira deveria ser
mantido. A ser alterado, esta alteração deveria ser motivada pela vontade
popular em homenagear alguém que tenha sido muito importante para a Madeira.
Neste caso, parece mais uma forma de publicidade e de promoção.”.
Outros cidadãos
entendem que não faz sentido dar o nome de pessoas vivas a este tipo de infraestruturas,
como é o caso de Celso Freitas, empresário de comércio de 36 anos, que entende
existirem outras individualidades que “fizeram tanto pela Madeira e não têm
sequer o nome numa rua”.
Mário Pereira,
55 anos, motorista aposentado, que discorda da nova designação, lembra que “o
aeroporto já era da Madeira muito anos de Cristiano Ronaldo ter nascido”, pelo
que “não é pelo facto de ele ser uma vedeta que se vai agora andar a mudar o
nome”.
Por esta bitola
de pensamento alinha Carlos Gomes, nadador-salvador de 57 anos, para quem “não
se devia mudar o nome do aeroporto”, dado que a imagem de Cristiano Ronaldo já
está por demais divulgada e ligada à nossa ilha, pelo que não era necessário
tal mudança.
Susana Canha, 46 anos, funcionária
pública, expressa, por seu lado, uma posição contrária à mudança de nome do
aeroporto, bem vincada:
“A imagem de Cristiano Ronaldo já está por demais
divulgada e ligada à nossa ilha, pelo que não era necessária essa mudança. O
que faz sentido é manter a denominação anterior, uma vez que o nome da nossa
ilha será sempre mais importante e permanente do que qualquer outra
individualidade.”.
Para algumas
pessoas ouvidas pela agência Lusa, a
decisão do Governo Regional em atribuir o nome de Ronaldo ao Aeroporto
Internacional da Madeira é indiferente, como no caso de Paulo Bento, empresário
de comércio, e de António Silva, funcionário público. Um lembra que Cristiano
Ronaldo já tem uma estátua, uma praça e um hotel com o seu nome no Funchal; o outro
sublinha que o mais importante é que o aeroporto se mantenha sempre a funcionar
em pleno. Além disso, por entre discussões e
debates em rodas de amigos, nas redes sociais e nos cafés, há sempre espaço
para a ironia e para o sarcasmo. Por exemplo, Artur Gomes, um empresário de 29
anos do ramo da informática, disse à Lusa que achava que o aeroporto se deveria
chamar dona Dolores, explicando, entre sorrisos, que “era melhor dar o nome da mãe em vez do nome do filho”.
E não esqueço a postura anterior de Marcelo…
Também não me convence a ideia de virem
agora clamar pela atribuição ao aeroporto do nome de Alberto João, sobretudo por
parte de quem sempre disse mal dele, mesmo com a generosidade das razões de
Seixas da Costa, de partido diferente. E não me encanta a explicação de Guilherme
Silva de que Alberto João não quis atribuir o seu nome a obra nenhuma. Era o
que faltava: o governante fazer uma coisa dessas. A acontecer, era Miguel Albuquerque
que o devia propor, ultrapassando divergências pessoais e ou estratégicas.
Quanto a Ronaldo, fico-me pela crítica
que se fez ao facto de o Nobel da Paz lhe ser atribuído antes de se lhe
reconhecer currículo de valia marcante a confiar no futuro. Futebol não é uma
nação! Oxalá Albuquerque não tenha decido assim para evitar Jardim…
2017.03.31 – Louro de Carvalho
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