sexta-feira, 31 de março de 2017

A rebatização do aeroporto da Madeira

A partir do passado dia 29 de março, o aeroporto Internacional da Madeira, localizado no concelho de Santa Cruz, passou a ser Aeroporto Internacional Cristiano Ronaldo. O Presidente da República e o Primeiro-Ministro marcaram, nesse dia, a sua presença numa cerimónia de homenagem ao futebolista, que passa a ter o nome associado ao Aeroporto Internacional da Madeira, a ilha onde nasceu. A partir desse dia, em termos comerciais, o aeroporto da Madeira passou efetivamente a usar o nome de Cristiano Ronaldo, mas a designação oficial será confirmada só aquando da conclusão do processo burocrático desencadeado para a alteração.
O Aeroporto da Madeira, que também era conhecido como Aeroporto de Funchal ou Aeroporto de Santa Catarina, foi inaugurado em 18 de julho de 1964 com uma pista de 1 600 metros de extensão e é um dos mais importantes de Portugal e que serve a ilha da Madeira (há também o de Porto Santo, de menor dimensão), operando voos domésticos e com destinos internacionais dentro da Europa e para a América Latina.
Dada a incapacidade da pista em receber aviões capazes de dar vazão ao fluxo de turistas que procuravam a ilha da Madeira, em 1972, começou a ser pensada a ampliação para possibilitar os voos intercontinentais. Foi então apresentado um projeto do engenheiro Edgar Cardoso e, no ano seguinte, foi inaugurado um novo terminal, capaz de receber 500 mil passageiros por ano. Entre 1982 e 1986, a pista foi aumentada para 1 800 metros e procedeu-se à ampliação da plataforma de estacionamento de aviões – obra inaugurada a 1 de fevereiro de 1986, pelo Presidente da República António Ramalho Eanes.
Entretanto, o engenheiro António Segadães Tavares adaptou os estudos de Edgar Cardoso e projetou nova ampliação da pista. Assim, a 15 de setembro de 2000, teve lugar a inauguração da extensão da pista para 2 781 metros, construída agora parcialmente em laje sobre o mar, ficando assente em 180 pilares. O aeroporto encontra-se agora qualificado para receber aviões de grande dimensão como o Airbus 340 e o Boeing 747 (que esteve no ato da inauguração da pista) bem como quase qualquer tipo de aviação civil ou militar, sendo a principal porta de entrada de turistas na Região Autónoma, bem como de correio postal, carga e outros serviços essenciais. 
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Para assinalar o momento da atribuição do nome de Cristiano Ronaldo ao aeroporto, foi ali colocado um polémico busto do jogador madeirense internacional.
Cristiano marcou presença no evento, que contou com várias personalidades da política, como o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o Primeiro-Ministro, António Costa, o Presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, entre outros.
O Presidente Marcelo, que, ainda há bem pouco tempo, considerou inadequada e precipitada a atribuição do nome do jogador ao aeroporto, no momento da inauguração do aeroporto rebatizado, considerou-a como “uma escolha excecional para uma pessoa excecional” (faz-me lembrar o que disse Isabel II de Inglaterra sobre o funeral de Diana: um funeral especial para uma pessoa especial).
Agora, na cerimónia de atribuição do nome de Cristiano Ronaldo ao Aeroporto Internacional da Madeira, o Presidente da República enalteceu papel do internacional português, “admirado por milhões de portugueses e também por milhões de estrangeiros” espalhados pelo Mundo, designadamente na divulgação do nome da Madeira e de Portugal. Referiu a este respeito:
“Cristiano Ronaldo é um exemplo de excelência a título individual, como melhor jogador do mundo, e a título coletivo, como capitão da Seleção campeã da europa. Essa excelência alimenta o nosso orgulho. Ronaldo projeta a Madeira e projeta Portugal.”.
E adiantou:
“Celebrar esta evidência e afirmá-la para bem da internacionalização [de Portugal] e da plataforma entre culturas, civilizações, continentes e oceanos não só faz sentido como serve o interesse nacional”.
O que Marcelo Rebelo de Sousa diz de Ronaldo não espanta, dada a admiração inúmeras vezes confessada pelo futebolista. Porém, a posição anterior de Marcelo, que parecia uma crítica aos decisores, agora é como que desmentida e retratada. Com efeito, o Chefe de Estado enalteceu a escolha “arriscada e corajosa” de atribuir o nome de uma personalidade como Ronaldo a uma obra pública ainda em vida, salientando que “muita gente prefere atribuir a obras desta envergadura o nome de personalidades que já não pertencem ao mundo dos vivos, cujo percurso inteiro pode ser avaliado com distância e menor peso das inclinações de cada momento”. Explicou a este respeito:
“Esta escolha [mudança do nome do aeroporto] foi arriscada e, por isso, corajosa. Não é por acaso que se atribuem grandes obras a pessoas que já cá não estão. Neste caso, a escolha foi feita a saber destes riscos, que a homenagem era merecida e a gratidão era devida, certamente a pensar em duas razões determinantes: a responsabilidade de Cristiano Ronaldo e a confiança ilimitada que a Madeira e todo o Portugal nele depositam.”.
E concluiu dizendo:
“Este grande atleta e grande homem vai viver com a constante ligação às suas raízes, que nos habitámos a admirar nos primeiros 32 anos da sua vida. Será sempre assim, mesmo quando não entrar em nenhum relvado. A Madeira e Portugal confiam ilimitadamente nele. Será sempre um exemplo. Esta é uma escolha excecional para uma pessoa excecional que nunca nos desiludirá.”.
Ronaldo, obviamente, gostou de ver o seu nome no aeroporto. Na verdade, o internacional português também discursou na cerimónia de atribuição do seu nome ao Aeroporto. Mostrou-se muito feliz por ter o seu nome no Aeroporto da Madeira. E, por isso, gradeceu a Miguel Albuquerque, Presidente do Governo Regional da Madeira, por ter dado este passo, declarando:
“Ver o meu nome ser dado a este Aeroporto é muito especial. Eu prezo muito as minhas raízes. Em todas as entrevistas que faço, tento falar de Portugal e da Madeira. Acho que as homenagens devem ser feitas quando as pessoas são vivas e agradeço ao Presidente do Governo Regional por cumprir este sonho.”.
E, prometendo continuar a trabalhar pelo seu país, declarou:
“Agradeço a quem propôs e decidiu esta homenagem. Sei a responsabilidade que tenho e tentarei sempre dignificar Portugal e, especialmente, a Madeira, com paixão, espírito de sacrifício, como tenho feito até aqui.”.
O capitão da seleção nacional, de 32 anos, deixou um agradecimento especial ao Presidente do Governo Regional da Madeira e destacou a “coragem e firmeza” de Miguel Albuquerque em rebatizar o aeroporto com o nome de Cristiano Ronaldo, referindo:
“Nunca te pedi que fizesses isto. Não sou hipócrita. Fico feliz e honrado. Sei que algumas pessoas não estão de acordo e, volto a dizer que não sou hipócrita, algumas dessas pessoas estão aqui neste momento. Somos livres, vivemos em democracia e todos temos direito à nossa opinião.”.
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Porém, a atribuição do nome Cristiano Ronaldo ao Aeroporto Internacional da Madeira não foi um assunto consensual entre os madeirenses e entre dos habitantes do Continente. 
“Ele é madeirense e muito famoso e cada pontapé que dá na bola é um elogio para Madeira”, disse à Lusa Rosa Lopes, 64 anos, empresária de comércio, realçando que “há outros madeirenses mais antigos que mereciam ter o nome no aeroporto”, como, por exemplo, o ex-Presidente do Governo Regional Alberto João.
Também partilha esta opinião Teresa Camacho, de 48 anos, funcionária pública, para quem Ronaldo constitui uma “grande promoção e publicidade” para a Madeira, mas, na verdade, “não contribui diretamente para o desenvolvimento da ilha”, ao contrário do que considera ter acontecido com o ex-governante, que a descobriu para a requalificação e bateu o pé aos sucessivos governos da República e às instâncias europeias em favor Região Autónoma.
Sandra Câncio, funcionária pública de 39 anos, também é perentória:
“Para mim, o nome Aeroporto da Madeira deveria ser mantido. A ser alterado, esta alteração deveria ser motivada pela vontade popular em homenagear alguém que tenha sido muito importante para a Madeira. Neste caso, parece mais uma forma de publicidade e de promoção.”.
Outros cidadãos entendem que não faz sentido dar o nome de pessoas vivas a este tipo de infraestruturas, como é o caso de Celso Freitas, empresário de comércio de 36 anos, que entende existirem outras individualidades que “fizeram tanto pela Madeira e não têm sequer o nome numa rua”.
Mário Pereira, 55 anos, motorista aposentado, que discorda da nova designação, lembra que “o aeroporto já era da Madeira muito anos de Cristiano Ronaldo ter nascido”, pelo que “não é pelo facto de ele ser uma vedeta que se vai agora andar a mudar o nome”.
Por esta bitola de pensamento alinha Carlos Gomes, nadador-salvador de 57 anos, para quem “não se devia mudar o nome do aeroporto”, dado que a imagem de Cristiano Ronaldo já está por demais divulgada e ligada à nossa ilha, pelo que não era necessário tal mudança.
Susana Canha, 46 anos, funcionária pública, expressa, por seu lado, uma posição contrária à mudança de nome do aeroporto, bem vincada:
“A imagem de Cristiano Ronaldo já está por demais divulgada e ligada à nossa ilha, pelo que não era necessária essa mudança. O que faz sentido é manter a denominação anterior, uma vez que o nome da nossa ilha será sempre mais importante e permanente do que qualquer outra individualidade.”.
Para algumas pessoas ouvidas pela agência Lusa, a decisão do Governo Regional em atribuir o nome de Ronaldo ao Aeroporto Internacional da Madeira é indiferente, como no caso de Paulo Bento, empresário de comércio, e de António Silva, funcionário público. Um lembra que Cristiano Ronaldo já tem uma estátua, uma praça e um hotel com o seu nome no Funchal; o outro sublinha que o mais importante é que o aeroporto se mantenha sempre a funcionar em pleno. Além disso, por entre discussões e debates em rodas de amigos, nas redes sociais e nos cafés, há sempre espaço para a ironia e para o sarcasmo. Por exemplo, Artur Gomes, um empresário de 29 anos do ramo da informática, disse à Lusa que achava que o aeroporto se deveria chamar dona Dolores, explicando, entre sorrisos, que “era melhor dar o nome da mãe em vez do nome do filho”.
E não esqueço a postura anterior de Marcelo…
Também não me convence a ideia de virem agora clamar pela atribuição ao aeroporto do nome de Alberto João, sobretudo por parte de quem sempre disse mal dele, mesmo com a generosidade das razões de Seixas da Costa, de partido diferente. E não me encanta a explicação de Guilherme Silva de que Alberto João não quis atribuir o seu nome a obra nenhuma. Era o que faltava: o governante fazer uma coisa dessas. A acontecer, era Miguel Albuquerque que o devia propor, ultrapassando divergências pessoais e ou estratégicas.
Quanto a Ronaldo, fico-me pela crítica que se fez ao facto de o Nobel da Paz lhe ser atribuído antes de se lhe reconhecer currículo de valia marcante a confiar no futuro. Futebol não é uma nação! Oxalá Albuquerque não tenha decido assim para evitar Jardim…
2017.03.31 – Louro de Carvalho

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