sexta-feira, 10 de março de 2017

10 de março: (velhas) novidades sobre a Caixa Geral de Depósitos

A comunicação social assinala o dia de hoje, 10 de março, com novidades sobre a CGD (Caixa Geral de Depósitos), que se podem chamar “velhas” porque o panorama hoje desenhado era o esperado há uns tempos a esta parte.
Com efeito, já se sabia que o ano de 2016 acusava um prejuízo, hoje cifrado em cerca de 1900 milhões euros, prejuízo que o Presidente (e comentador) Marcelo adverte que é inferior ao que estava previsto; sabe-se que a Comissão Europeia aprovou hoje formalmente a recapitalização do banco público, o que apenas seria notícia se, por ironia do capricho da burocracia europeia ou de interesses inconfessáveis, a autorização fosse negada ou dificultada, sendo que a grande novidade é que o montante da recapitalização pode ser totalmente público; e que a CGD iria ser “reestruturada”, com o que a semântica da palavra hoje implica, já não constitui notícia inesperada, nem mesmo alguns dos seus pormenores.    
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Assim, a reestruturação da CGD custará 150 milhões de euros e implicará um corte de 25% à sua atividade – processo que o CEO Paulo Macedo garante que dará resultados recorrentes positivos já este ano e o regresso aos lucros a partir de 2018.
Para tanto, há que implementar e desenvolver o respetivo plano de reestruturação cujos objetivos estratégicos implicam que a CGD chegue ao final de 2020 com não mais de 490 agências bancárias e 6650 colaboradores – números que, comparados com os 717 balcões e 8113 trabalhadores com que o banco público contava no final de 2016, na atividade portuguesa, significam uma redução drástica: 31,66% em balcões e 18% em pessoal (estes valores percentuais não coincidem com os de Macedo).
A administração da CGD vem referindo que o banco público terá de simplificar as suas estruturas, otimizar a rede de agências, modernizar a sua plataforma comercial e racionalizar os serviços centrais. No total, segundo a quantificação de Paulo Macedo, o banco público vai gastar 150 milhões de euros com a reestruturação com que avançará até 2020, sendo que, de acordo com as metas divulgadas pela CGD, o banco deve reduzir em 25% o total dos balcões, um corte idêntico ao exigido em termos de recursos humanos – o que parece contradizer em valores percentuais a implicação decorrente do cumprimento dos objetivos estratégicos a que acima se aludiu. Em que ficamos, afinal?
Um dado é certo: o objetivo final será reduzir os custos operacionais de 834 milhões para 720 milhões, podendo mesmo cair até 20%. E Paulo Macedo explicitou:
“O número global de saídas mantém-se face ao que já era conhecido [menos 2200 trabalhadores] e avançará através de pré-reformas e talvez rescisões por mútuo acordo”.
Segundo Macedo, a “mudança radical” por que passará a CGD incidirá na estrutura de custos e receitas. Com efeito, agora vai ser exigida à CGD uma redução de custos de 20% entre hoje e 2020 e um corte no custo do risco para menos de 0,6%.
O CEO considera o plano estratégico negociado com Bruxelas para a CGD como “uma mudança radical em termos de estrutura de proveitos e de custos” em relação ao histórico do banco público. Isto, porque recapitalizar o banco é necessário, mas não se afigura suficiente. É preciso mudar o perfil do mesmo. Trata-se de “um plano ambicioso, um bom ponto de partida, que representa uma mudança radical em termos de estrutura de proveitos e custos da CGD”, pois, “se não mudarmos a política de risco, se não tivermos novas formas de conceder créditos e um maior rigor, então não teremos o futuro que queremos para a Caixa” – assegurou o CEO.
Mais: além de ser exigida à CGD uma redução de custos de 20% entre hoje e 2020 e um corte no custo do risco para menos de 0,6%, também se lhe pede uma maior resiliência para ter que chegar ao final de 2020 com um CET1 de pelo menos 14% e uma rentabilidade igual ou superior a 9%.
O presidente executivo do banco, Paulo Macedo, também explicou que o banco público está pronto a pedir a aprovação do avanço da emissão de dívida – de 500 milhões de euros –, com a CGD a prever realizar já nas próximas semanas um roadshow para captar investidores, de forma a concretizar a recapitalização em termos optimizáveis.
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A Comissão Europeia aprovou formalmente hoje o projeto apresentado pelo Governo português de capitalização da Caixa Geral de Depósitos. O anúncio foi feito, de manhã, em Bruxelas, pelo Primeiro-Ministro, António Costa.
Para o Chefe do Governo, que falava em conferência de imprensa no final da cimeira de líderes da UE, trata-se de passo “muito positivo” e fundamental para resolver “simultaneamente” parte substancial do crédito mal parado no sistema bancário português e de uma “boa contribuição” para resolver o problema da CGD e para “diminuir um problema de natureza sistémica”.
Com a capitalização autorizada pela Comissão Europeia, a Caixa passará a ficar dotada com o capital necessário para cumprir a sua função, contribuindo para a “estabilização do sistema financeiro”, sendo o banco de “confiança” das poupanças das famílias e um “instrumento ao serviço da economia portuguesa”.
Obviamente, Costa regozijou-se com a aprovação dada à capitalização do banco público, depois de muitos anos e de muitas dúvidas sobre se a Comissão aprovaria uma capitalização pública a 100% da CGD, realçando que esta iniciativa “vem resolver definitivamente” tais dúvidas e “dá-nos a confiança” de que uma parte importante da questão do crédito mal parado do sistema bancário português “fica resolvido” e devidamente “provisionado com o capital da CGD”.
A questão do crédito mal parado era um dos três aspetos mais problemáticos e relevantes referenciados no recente relatório da Comissão Europeia que, na ótica as instâncias europeias, justificava os desequilíbrios macroeconómicos excessivos da nossa economia, cenário que é agora ultrapassado com a aprovação por Bruxelas de capitalização da CGD.
Em relação aos prejuízos de cerca de 2 mil milhões de euros apresentados pelo banco público, Costa lembrou que esse valor “não é o resultado do exercício de 2016”, como alguns querem fazer crer, mas o resultado de “finalmente terem sido reconhecidas as imparidades” que a instituição foi acumulando ao longo de anos e que, por não terem sido validadas como tal, “não relatavam a verdade” sobre a verdadeira situação financeira da instituição.
Assim, o Primeiro-Ministro salientou que foi precisamente por ter sido levado a cabo, por parte do Governo, um “exercício de verdade” sobre a verdadeira situação financeira da CGD e de terem sido apuradas as necessidades efetivas de capital, que o processo de capitalização teve agora o aval da Comissão, uma capitalização que não será considerada como ajuda do Estado.
Em suma, António Costa pode assegurar, como o fez já em 28 de fevereiro, que a Caixa Geral de Depósitos está “hoje dotada da capitalização de que necessita” para não “ser obrigada a ser privatizada, como o anterior governo desejava pela asfixia a que a sujeitou”, e que “não será nem um novo BES nem um novo BANIF”, porque agora é tutelada por um Governo que assume de frente os problemas do sistema financeiro. Assim, “hoje temos as autorizações das instituições europeias para manter a Caixa 100% pública e devidamente capitalizada”, algo que a oposição afirmava impossível – isto porque a CGD é hoje tutelada por um governo que “não esconde na gaveta as intimações da Comissão Europeia, não finge que não há problemas”.
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Resta esclarecer que os termos da referida autorização da capitalização da CGD pela Comissão resultam da avaliação a que esta instância europeia procedeu face ao pedido que o Governo fez para analisar as reais necessidades de financiamento e afastar dúvidas sobre ajudas de Estado.
Esta posição foi transmitida pelo Primeiro-Ministro em conferência conjunta com o seu homólogo cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, no final de um encontro em São Bento, a 17 de junho de 2016. Explicava-se assim o líder do executivo:
“Para que a Comissão Europeia se possa pronunciar tem de proceder a uma avaliação das necessidades efetivas de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos. Bruxelas tem de verificar se a capitalização é adequada às necessidades ou é uma capitalização que, ultrapassando as necessidades efetivas da Caixa, pode configurar uma ajuda de Estado”.
O Primeiro-Ministro, que tem trabalhado desde o início do seu mandato com as instituições europeias para “enfrentar de uma vez por todas os problemas sérios que existiam no sistema financeiro português”, dizia então: “Vemos a CGD como o grande pilar do sistema financeiro e, por isso, definimos como prioridade a capitalização a 100% por parte do Estado”. E salientava que este banco público já fora alvo de “várias auditorias, até 2014, pelo Banco de Portugal e, depois desse ano, por parte do sistema de supervisão europeu”. Ou seja, a CGD é uma entidade que “tem sido devidamente supervisionada e onde a realidade existente é conhecida e identificada pelas autoridades regulatórias”.
O Primeiro-Ministro manifestou, já na ocasião, a sua surpresa pela comissão parlamentar de inquérito sobre CGD proposta pelo PSD, dizendo não lhe passar pela cabeça que o anterior Governo e entidades regulatórias não tenham detetado hipotéticos ilícitos. Dizia ele:
“Tenho conhecimento de que os processos de capitalização de que a CGD foi objeto em 2013 foram antecedidos por auditorias realizadas pelo Banco de Portugal – auditorias que foram profundas, quer sobre a necessidade de capital, quer sobre os créditos concedidos, ou riscos de crédito então existentes. Portanto, surpreende-me que, tantos anos passados, tantas auditorias já feitas pelo Banco de Portugal e sistema supervisão europeu, se sinta agora necessidade de se esclarecer aquilo que, pelos vistos, enquanto se foi Governo, não se sentiu necessidade de esclarecer”.
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Gostava, pois, de saber o que pensa hoje o Primeiro-Ministro (não o que diz) sobre a nova comissão parlamentar de inquérito à CGD, ora criada, como gostava de saber se o dia de hoje marcará o fim do folhetim CGD ou se teremos pela frente mais episódios ou nova telenovela. Parece que é disto que o país gosta! E os partidos refletem o país, quando deviam era puxar por ele…

2017.03.10 – Louro de Carvalho

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