sexta-feira, 31 de março de 2017

Novo Banco é vendido por 1000 milhões de euros

O Banco de Portugal (BdP) revelou importantes pormenores relativos à venda do Novo Banco (NB), acordada hoje, dia 31 de março, que o Jornal Económico especifica.
Na verdade, Carlos Costa, governador do BdP, numa curta declaração aos jornalistas, sem especificar grandes pormenores, esclareceu que o acordo de venda de 75% do NB, por parte do Fundo de Resolução,  à gestora de fundos norte-americana Lone Star “permite um significativo reforço do capital do NB e a entrada de um acionista que assume um compromisso de médio e longo prazo com o banco”. E sublinhou que aquela gestora de fundos é dotada dos meios necessários à execução de um plano que garanta, em definitivo, a plena recuperação em termos compatíveis com o papel determinante que o mesmo tem no financiamento da economia nacional”.
Em comunicado mais explícito, o BdP sustenta que o culminar do processo de venda “é mais um passo na estabilização do setor bancário nacional”, acrescentando que  a diversificação das fontes de financiamento com a entrada novos investidores “é vantajosa” e que “este desenvolvimento permite também o reforço da credibilidade do setor bancário por via do desfecho bem-sucedido dum processo de venda aberto, transparente, concorrencial e de alcance internacional”.
A este respeito, o BdP esclarece os termos do negócio:
“A Lone Star irá realizar injeções de capital no Novo Banco no montante total de 1.000 milhões de euros, dos quais 750 milhões de euros no momento da conclusão da operação e 250 milhões de euros no prazo de até 3 anos. Através da injeção de capital a realizar, a Lone Star passará a deter 75% do capital social do NB e o Fundo de Resolução manterá 25% do capital. Entre as condições acordadas, está a existência de um mecanismo de capitalização contingente, em que o Fundo de Resolução, enquanto acionista, se compromete a realizar injeções de capital no caso de se materializarem certas condições cumulativas, ‘relacionadas com o desempenho de um conjunto delimitado de ativos do NB e com a evolução dos níveis de capitalização do banco’.”.
Por outro lado, os obrigacionistas terão de injetar 500 milhões de euros para reforçar a solidez do NB – troca de obrigações por dívida subordinada, no valor de 500 milhões de euros, de cujo sucesso dependerá toda a operação. Além disso, fica sabido que as possíveis injeções de capital a realizar no âmbito do mecanismo de capitalização contingente beneficiam duma almofada de capital “resultante da injeção a realizar nos termos da operação e estão sujeitas a um limite máximo absoluto”.
O regulador bancário assume que a assinatura do contrato permite o cumprimento do prazo de venda fixado nos compromissos do Estado junto da Comissão Europeia e assegura que a conclusão da operação faz cessar o regime das instituições de transição ao NB”.
No acordo de venda ficam ainda estipulados mecanismos de salvaguarda dos interesses do Fundo de Resolução, nomeadamente “de alinhamento de incentivos e de fiscalização, não obstante as limitações decorrentes da aplicação das regras de auxílios de Estado”.
O BdP salienta que a conclusão do processo de venda necessita ainda da obtenção das autorizações regulatórias usuais do BCE e da Comissão Europeia e frisa “a realização de um exercício de gestão de passivos, sujeito a adesão dos obrigacionistas, que irá abranger as obrigações não subordinadas do NB e que, através da oferta de novas obrigações, permite gerar pelo menos 500 milhões de euros de fundos próprios elegíveis para o cômputo do rácio CET1”.
Trata-se de acordo e não de venda, a qual depende do êxito da operação acima referida.
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O Primeiro-Ministro veio garantir aos jornalistas em São Bento, tendo ao seu lado o Ministro das Finanças, que a venda do NB à Lone Star não terá impacto direto ou indireto nas contas públicas, nem novos encargos para os contribuintes, constituindo “uma solução equilibrada”.
Na sua declaração inicial, o Chefe do Governo defendeu que o acordo de venda do banco cumpre “as três condições colocadas pelo Governo” em janeiro passado, sendo uma delas a de que este processo “não terá impacto direto ou indireto nas contas públicas, nem novos encargos para os contribuintes”. E esclareceu:
“Ao contrário do inicialmente proposto, não é concedida qualquer garantia por parte do Estado ou de qualquer outra entidade pública. O necessário reforço de capital é integralmente assegurado pelo investidor privado, e eventuais responsabilidades futuras não recairão sobre os contribuintes, mas sobre os bancos, que asseguram o capital do fundo de resolução.”.
Em relação às restantes duas condições colocadas pelo Governo para a concretização da venda – a que se juntam as exigências feitas pela Comissão Europeia –, o acordo de venda do NB, segundo o Chefe do Executivo, “afasta o espectro da liquidação” da instituição financeira que resultou da resolução do BES. Pelo que garantiu:
“O Novo Banco continuará a cumprir o seu papel muito relevante no financiamento da economia, em especial das pequenas e médias empresas, com proteção integral dos depositantes e sem novos sacrifícios involuntários dos detentores das obrigações”.
O Primeiro-Ministro sustentou também, como Carlos Costa, que o acordo de venda salvaguarda a estabilidade do nosso sistema financeiro, “porque eventuais responsabilidades futuras estão substancialmente garantidas pelo conjunto de ativos confiados à gestão do fundo de resolução”. Esclareceu, numa referência à atuação do anterior Executivo:
“Por outro lado, não serão exigidas aos bancos contribuições extraordinárias e o fundo de resolução ainda beneficiará da futura alienação dos 25 por cento de capital que continuará a deter no Novo Banco. Esta é uma solução equilibrada: a que melhor protege os contribuintes, a economia e a estabilidade do sistema financeiro no quadro do processo de resolução [do BES] iniciado em agosto de 2014.”.
E concluiu, como começou, não haver impacto direto ou indireto nas contas públicas ou para contribuintes, pois o esforço de capital é integralmente assegurado pelo investidor e as necessidades futuras não afetarão os contribuintes.
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Porém, o Primeiro-Ministro admitiu que fora também estudada a hipótese de o NB ser nacionalizado, mas advogou que essa opção, a ser implementada, implicaria encargos para os contribuintes de até 4,7 mil milhões de euros. Com efeito, questionado sobre uma eventual nacionalização do NB – cenário que traria um “impacto muito distinto” junto dos contribuintes do que decorre da venda da entidade – António Costa disse: “Estudámos bem essa solução”.
E concretizou que, em vez de ser a Lone Star a injetar mil milhões de euros no banco, “o Estado teria de realizar o capital inicial”, que seria “entre 4,0 mil e 4,7 mil milhões de euros”, porque as regras comunitárias implicam o reconhecimento imediato de eventuais necessidades futuras.
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O NB é o banco de transição que ficou com os ativos menos problemáticos do Banco Espírito Santo (BES), alvo de uma intervenção das autoridades em 3 de agosto de 2014, e que estava em processo de venda.
Desde fevereiro que o Governo estava a negociar a venda do NB em exclusivo com o fundo norte-americano Lone Star Funds, que passou para a frente nas negociações depois de, no final de 2016, ter sido noticiado que, entre os concorrentes, o fundo chinês Minsheng tinha a melhor proposta financeira, mas não apresentou provas de que conseguiria pagar o montante oferecido, devido às restrições de movimentação de divisas na China.
O Lone Star Funds foi fundado em 1995 e investe nos setores financeiro e no imobiliário. Em Portugal, tem um investimento em Vilamoura.
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O PSD, através do seu líder parlamentar, Luís Montenegro, considerou que a venda do NB anunciada pelo BdP é uma má decisão, que ocorre depois de um processo de desvalorização daquela instituição bancária. A este propósito, afirmou:
“A decisão de hoje não é uma boa decisão, é uma má decisão. Vem na sequência de um processo de desvalorização do Novo Banco, que, entre outras coisas, teve o contributo do Ministro das Finanças quando, por mais de uma vez, acenou com a possibilidade da nacionalização ou mesmo da liquidação do banco”.”.
Para Montenegro, aquilo não só foi prejudicial, como o “Governo veio hoje reconhecer que isso teria custos que eram incomportáveis”.
Segundo aquele dirigente socialdemocrata, aquela má decisão só aconteceu porque o Governo deveria ter “acordado mais cedo” para a “necessidade de se proceder a uma venda integral do Novo Banco”. E justifica:
“A venda que hoje foi anunciada é uma venda parcial e ainda por cima acarreta a possibilidade de os contribuintes poderem ter de assumir parte dos custos que estão associados a um processo de capitalização futura do Novo Banco”.
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Chegados ao ponto que chegámos, uma boa solução para o NB é impossível. As constrições das instâncias europeias, embora mais flexíveis hoje, não facilitaram o negócio, até porque a ideia é concentrar a atividade bancária numa meia dúzia de grandes bancos, dando a entender que os pequenos não têm direito a existir. E o NB tem em Portugal um quota de mercado de 20% e está voltado para as empresas. Por outro lado, o tempo que se perde em negociações, ao invés de jogar a favor, desgasta estas instituições, pois acumula desconfianças e incertezas sobre o futuro.
Quanto à reação do PSD, é de questionar como é que o Partido queria ver isto resolvido, sobretudo porque também não o fez em tempo, como será de questionar se queria a nacionalização do NB ou a sua liquidação, já que não terá reivindicado a possibilidade de as instâncias europeias deixarem que Fundo de Resolução permanecesse como detentor do capital do NB.
Além disso, deve dizer-se que Mário Centeno, sem grande jeito para o debate político, conseguiu o que outros não alcançaram: uma venda parcial, podendo o Estado ficar com a detenção de alguma parte do capital, tal como conseguiu a recapitalização da CGD nos moldes conhecidos e, embora ficasse mal na fotografia em todo o processo, conseguiu vencer o cerco que lhe foi movido por muitos com notória visibilidade dos socialdemocratas, incluindo o PR e o Presidente do TC – ambos agora apolíticos (!).
Devo dizer que a venda do NB, se for avante, apesar de não haver encaixe direto para o Estado, é melhor que a venda do BPN, do Banif e da criação do próprio NB. Porém, não creio na objetividade da declaração de António Costa sobre a ausência absoluta de “impacto direto ou indireto nas contas públicas” ou de novos encargos para os contribuintes”. Com efeito, o Fundo de Resolução tem capacidades limitadas e o Estado por si ou por uma empresa pública (scilicet, os contribuintes), direta ou indiretamente – dado ou emprestado – lá terá de acudir às necessidades reais ou factícias do Fundo de Resolução.
Entretanto, enquanto o pau levanta, folgam as costas.

2017.03.31 – Louro de Carvalho

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