quinta-feira, 23 de março de 2017

Francisco Marto e Jacinta Marto vão ser canonizados muito em breve

A Sala de Imprensa da Santa Sé anunciou hoje, dia 23 de março, pela manhã, que o Papa aprovou o milagre necessário para a canonização dos pastorinhos de Fátima, os beatos Francisco Marto e Jacinta Marto. Com efeito, no seu boletim diário, destaca-se o comunicado sobre a “Promulgação dos decretos da Congregação para as Causas dos Santos”, que refere:
Il Santo Padre Francesco ha ricevuto questa mattina in udienza Sua Eminenza Reverendissima il Signor Cardinale Angelo Amato, S.D.B., Prefetto della Congregazione delle Cause dei Santi. Durante l’Udienza, il Santo Padre ha autorizzato la Congregazione delle Cause dei Santi a promulgare i Decreti riguardanti”: […]
- “il miracolo, attribuito all’intercessione del Beato Francesco Marto, nato l’11 giugno 1908 e morto il 4 aprile 1919, e della Beata Giacinta Marto, nata l’11 marzo 1910 e morta il 20 febbraio 1920, fanciulli di Fátima”; […].
O Padre Carlos Cabecinhas, Reitor do Santuário de Fátima tinha dito, ainda ontem, que havia condições para, ao longo deste ano, surgirem novidades sobre a canonização dos beatos Francisco e Jacinta – algo parecido com o que a Irmã Ângela Coelho, postuladora da causa, afirmara em tempo, esperando novidades em ano de centenário. Explicava o Reitor:
“Pensamos que é expectável que haja novidades ao longo deste ano em relação ao processo de canonização dos beatos Francisco e Jacinta – em relação a Lúcia é diferente, só agora terminou o seu processo diocesano. É um processo complexo e não é expectável qualquer novidade ao longo deste ano. Em relação a Francisco e Jacinta, de facto há condições para que haja novidades. Se vai haver ou não, também estamos na expectativa”.
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O Bispo de Leiria-Fátima afirma que “o Centenário não estaria completo sem a canonização”.
Mal a notícia saiu das malhas da Santa Sé, a Comunicação Social passou a divulgá-la nos seus destaques habituais. Porém, o site do Santuário de Fátima e o da agência Ecclesia atrasaram-se um pouco. Entretanto, o Padre Manuel Barbosa, Secretário e Porta-voz da CEP (Conferência Episcopal Portuguesa), publicou uma nota em que sublinha que a CEP se congratula com “a aprovação pelo Papa Francisco do milagre necessário para a canonização dos Beatos Francisco Marto e Jacinta Marto”. Realça a “feliz coincidência com a celebração do Centenário das Aparições de Nossa Senhora do Rosário aos pastorinhos em Fátima”. E porfia que se aguarda “com serena expectativa a marcação da data e local para a respetiva celebração, na qual Jacinta e Francisco serão propostos como modelo de santidade para toda a Igreja”.
Além disso, evoca a recente Carta Pastoral dos bispos portugueses para o Centenário em que salientam que “a fama de santidade de Francisco e de Jacinta cedo se espalhou pelo mundo inteiro”, sendo as primeiras crianças beatificadas não mártires – afirmação também feita hoje pela Irmã Ângela Coelho, já mencionada.
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O Santuário de Fátima promoveu, a propósito, uma conferência de imprensa, com intervenções do Bispo de Leiria-Fátima, do Reitor do Santuário e da Postuladora da Causa.
Nela, relevam a assinatura do decreto que confirma o milagre atribuído à intercessão dos beatos Francisco e Jacinta Marto, falecidos em 1919 e 1920, respetivamente, que fora anunciada esta manhã no boletim diário da Sala de Imprensa do Vaticano, após uma reunião do Papa com o cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos.
Dom António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, disse ter acolhido com “enorme satisfação a notícia da aprovação do milagre”, apesar de “não ser uma surpresa”, porque já tinha afirmado “uma esperança confiável”, mas confessou ter sido apanhado de surpresa no que toca a data, não esperando “que fosse tão cedo”. E disse, com a simplicidade e singeleza que usualmente se lhe reconhecem:
“É uma alegria muito grande para mim como bispo, porque Fátima é mundial, mas os Pastorinhos são da diocese”.
O Prelado sublinhou que ainda “falta uma etapa, decisiva, que compete ao Santo Padre: escolher a data e o local da canonização”. E, questionado se a canonização poderá acontecer já no próximo 13 de maio, respondeu: “Nada é impossível, mas é competência exclusiva do Papa”.
No entanto, preferiu salientar o “momento de alegria para o povo católico de Portugal e para Portugal inteiro”, deixando “um louvor publico à postuladora pelo trabalho desenvolvido”.
Por seu turno, a Irmã Ângela Coelho partilha da “alegria do povo ao saber da aprovação do milagre”, sublinhando, como se entredisse acima, o facto inédito de Francisco Marto e Jacinta Marto “serem os mais santos jovens não mártires na história da Igreja”, e que nasceram “nesta diocese”. E exclamou: “Feliz coincidência esta canonização ser em ano do Centenário”.
No atinente ao milagre, referiu que “envolve uma criança, brasileira, através de uma cura”.
Também o Padre Carlos Cabecinhas manifestou o “grande regozijo que abre portas para a canonização das duas crianças que são parte integrante da mensagem e da história de Fátima”. E declarou:
“É a melhor das notícias no Centenário das aparições, vem sublinhar por esta via da santidade uma mensagem que mantém toda a atualidade”.
Mal soube da notícia, o Padre Carlos Cabecinhas apressou-se a declarar à Sala de Imprensa do Santuário de Fátima:
“Alegramo-nos com este passo decisivo para a canonização dos beatos Francisco e Jacinta Marto. Aguardamos agora com serenidade a decisão do Papa Francisco relativamente ao anúncio da data e do lugar para essa canonização.”.
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Francisco e Jacinta são os dois irmãos que, segundo o testemunho reconhecido pela Igreja, presenciaram as aparições da Virgem Maria na Cova da Iria e arredores, entre maio e outubro de 1917. São, igualmente os mais jovens beatos não mártires da história da Igreja Católica.
A canonização é a confirmação, por parte da Igreja, de que alguém é digno de culto público universal (no caso dos beatos, o culto é diocesano) e de ser dado aos fiéis como intercessor e modelo de santidade.
Nascidos em Aljustrel (com menos de dois anos de intervalo), morreram pouco tempo depois das Aparições, como Nossa Senhora lhes anunciara:
“A Jacinta e o Francisco levo-os em breve. Mas tu [Lúcia] ficas cá mais algum tempo” (13 de junho de 1917).
Francisco, cuja iconografia o representa de carapuço na cabeça e jaleca curta, com o cajado e o saco do farnel ao pescoço, nasceu a 11 de junho de 1908 e foi batizado a 20 de junho na igreja paroquial de Fátima. Com apenas 8 anos de idade, começou, com a sua irmã Jacinta, a pastorear o rebanho dos pais pela zona da Cova da Iria, local onde, com a prima Lúcia, viriam a testemunhar as Aparições, durante as quais podia apenas ver, sem ouvir ou falar. Porém, levado pelo desejo íntimo de consolar “Jesus escondido” e dar alegria a Deus, contristado com o pecado, Francisco viveu intensamente a oração contemplativa. Para isso, passava horas seguidas em oração frente ao sacrário, na igreja paroquial.
Pouco mais de um ano depois da última Aparição, em 18 de outubro de 1918, Francisco adoeceu, vítima da epidemia da gripe pneumónica que assolou o país. E, a 2 de abril de 1919, confessou-se e recebeu a comunhão, pela última vez, “com uma grande lucidez e piedade”, como escreveu o pároco de Fátima no Livro de Óbitos, ao registar a sua morte, em 4 de abril, que acrescentou: “E confirmou que tinha visto uma Senhora na Cova da Iria e Valinho”. Sepultado no cemitério de Fátima, os seus restos mortais foram exumados, em 17 de fevereiro de 1952, e trasladados para a Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima em 13 de março, seguinte, repousando no braço direito do transepto.
Jacinta, nascida em 5 de março de 1910, também em Aljustrel, não chegou a atingir os 10 anos de idade, ao falecer em Lisboa, igualmente vítima da pneumónica, em 20 de fevereiro de 1920, longe da família. Os sofrimentos que padeceu foram, contudo, sempre perpassados pela alegria da promessa da Mãe de Deus de ir para o Céu. Esta profunda devoção levou-a à oração intensa e a suportar sacrifícios pela conversão dos pecadores, como relembrou Lúcia nos seus escritos, onde recorda que a prima sofria com o afastamento da família e as saudades da mãe, chorando com fome nos períodos em que fazia jejum por compaixão pelos pecadores.
Como o irmão, adoeceu com a pneumónica em outubro de 1918, tendo sido internada pela primeira vez no hospital de Vila Nova de Ourém, de 1 de julho a 31 de agosto de 1919, já depois da morte de Francisco. No ano seguinte, ano da sua morte, voltou a ser internada, desta vez no Hospital de D. Estefânia, em Lisboa, a 2 de fevereiro. Foi operada, mas acabou por falecer em 20 de fevereiro, “com a maior tranquilidade, sem ter comungado”, apesar de ter pedido insistentemente que lhe dessem a comunhão, pois, dizia que “iria morrer em breve”, segundo o relato do Dr. Eurico Lisboa, o médico que a acompanhou.
O seu corpo foi levado para Vila Nova de Ourém, em cujo cemitério foi sepultado em 24 de fevereiro, no jazigo dos condes de Alvaiázere. Mas, a 30 de abril de 1951, os seus restos mortais foram identificados e trasladados para o braço esquerdo do transepto da Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima no dia seguinte, 1 de maio de 1951.
Um ano depois, a 30 de abril de 1952, o bispo de Leiria, Dom José Alves Correia da Silva, abriu os dois processos diocesanos sobre a fama de santidade e as virtudes dos dois irmãos.
Tendo seguido caminhos paralelos, a fase diocesana do processo de Jacinta foi encerrada em 2 de julho de 1979, contendo 77 sessões e 27 testemunhos; e a de Francisco, um mês depois, em 1 de agosto, com 63 sessões e 25 testemunhos. Dez anos depois, em 13 de maio de 1989, São João Paulo II decretou a heroicidade das virtudes de Francisco e de Jacinta, que passaram a ser considerados veneráveis, o que aconteceu pela primeira vez na História da Igreja Católica com crianças não mártires. A partir daqui os dois processos são unidos num só.
O passo seguinte no processo de beatificação de Francisco e de Jacinta ocorreu 10 anos depois, em 28 de junho de 1999, quando o Papa polaco promulgou o decreto sobre o milagre da cura de Emília Santos, obtido por intercessão dos dois pastorinhos, abrindo o caminho à beatificação, cuja celebração veio a acontecer, em Fátima, no ano seguinte, em 13 de maio.
O lugar previsto para a beatificação era Roma, mas por vontade do Papa, a celebração foi transferida para Fátima, onde São João Paulo II beatificou os beatificou e apresentou à Igreja e ao mundo como “duas candeias que Deus acendeu para iluminar a humanidade nas suas horas sombrias e inquietas”. Nesta celebração foi revelada a terceira parte do Segredo de Fátima.
O decreto pontifício concede que os veneráveis Francisco e Jacinta sejam considerados beatos, com festa litúrgica a 20 de fevereiro, data coincidente com a da morte de Jacinta. A partir de hoje, o galardão ganha universalidade.
Oxalá que, doravante, as catequeses ganhem novo influxo na vida das crianças a exemplo de Francisco e Jacinta!

2017.03.23 – Louro de Carvalho

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