A
TAP anunciou recentemente ter decidido a suspensão, a partir de 27 de março (Dia de
Páscoa), de quatro rotas com partida do aeroporto Francisco
Sá Carneiro para: Barcelona (Espanha), Bruxelas (Bélgica), Milão e Roma (Itália). Também vão ser suprimidas Gotemburgo
(Suécia), Hannover (Alemanha), Zagreb (Croácia), Budapeste (Hungria) e Bucareste (Roménia). São mais cinco carreiras.
A razão de
tais decisões prende-se, pelos vistos, com a falta de rentabilidade destas
rotas. Na verdade, a empresa justificou, no passado dia 18, que a suspensão foi
tomada “no âmbito da otimização da sua operação de forma a melhorar a
rentabilidade da companhia”, uma vez que estas nove rotas são deficitárias.
Em
contrapartida, a companhia decidiu criar 59 novas frequências, de que destaca:
Nova Iorque, Miami, São Paulo, Ilha do Sal, Casablanca, Marraquexe, Tânger,
Roma, Munique, Paris, Toulouse, Veneza e Ilha Terceira.
De
acordo com a edição de hoje, 20 de janeiro, do JN, a decisão da TAP de suspender quatro voos a partir do
Aeroporto do Porto suscitou uma onda de insatisfação e revolta entre autarcas e
empresários nortenhos e da Galiza, no pressuposto de que esta é uma medida “altamente
prejudicial para as empresas e para a economia” da região.
A este respeito, o Presidente da Associação Comercial do Porto, Nuno
Botelho, apontou o dedo à TAP:
“Mais uma
vez, ficamos a saber que não podemos contar com a erradamente chamada TAP
Portugal. Trata-se cada vez mais de uma TAP Lisboa e cada vez menos de uma TAP
Portugal”.
Do seu lado, o presidente da Associação de
Comerciantes do Porto, Nuno Camilo, lembra outro setor afetado: “O Porto não é só
uma cidade de comércio, é uma cidade de turismo e esse turismo traz capitais”.
Por seu turno, Eduardo Vítor Rodrigues, Presidente da
Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia declarou-se incomodado, pois, “não
estamos a falar de rotas para cidades escondidas no meio de duas montanhas”.
Ao contrário da TAP, que tem por “deficitárias” aquelas
rotas aéreas a partir do Porto, o eurodeputado do PSD Paulo Rangel e o
eurodeputado do CDS Nuno Melo entendem que aquelas rotas estão “invariavelmente
lotadas”. Rangel preconiza que “as forças vivas da região têm que tomar uma posição
e fazer valer a sua voz”. E Nuno Melo considera que “a TAP tem que dar
explicações”.
Hermínio Loureiro, Presidente do Conselho
Metropolitano do Porto, assegura que “não podemos aceitar que exista qualquer
enfraquecimento do Aeroporto Francisco Sá Carneiro”. E Ricardo Rio, presidente
do Eixo Atlântico, conclui que é “uma decisão que prejudica empresas e
população”. Do lado galego, o secretário-geral Xoan Mao chega a comparar sarcasticamente
a TAP aos Estaleiros de Viana do Castelo e denuncia uma “lógica de
favorecimento do lucro privado”.
Do seu lado, a ANIVEC (Associação Nacional das Indústrias
de Vestuário e Confeção) manifestou
a sua “grande preocupação” com a suspensão pela TAP daqueles quatro voos
regulares do Porto para cidades europeias, advertindo para o risco em que fica
a “atividade empresarial” do setor. O comunicado que difundiu a dar
conta daquela preocupação sustenta:
“A indústria de vestuário, confeção e moda assenta grande
parte da sua atividade na exportação dos seus produtos, cujos destinos
continuam a ser preferencialmente a Europa, um grande mercado de consumo de
moda. Ora, decisões comerciais desta natureza, a serem verdadeiras, colocam
indubitavelmente em risco a atividade empresarial da nossa indústria, que se
vê, assim, impossibilitada de um meio de transporte essencial ao
desenvolvimento das relações com os seus principais clientes”.
Em conformidade com
o referido no comunicado,
o presidente da ANIVEC, César Araújo, apela à “intervenção do poder político”, considerando
que a decisão da companhia aérea “poderá ter implicações, que podem até
repercutir-se diretas, na economia nacional e nas trocas comerciais com o
mercado europeu”.
***
Apesar da
avalanche de críticas, o autarca portuense, o Presidente da Câmara Municipal Rui
Moreira, garante não estar preocupado, uma vez que as cidades em causa “são ligadas através de outros
operadores”. Para este líder político nortenho, o importante é que se mantêm as
ligações transatlânticas. Guilherme Pinto, Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos,
concorda: “[A decisão] não terá um impacto significativo desde que sejam
reforçadas as ligações que mais interessam à região”.
E Paulo Rangel ressalva que, apesar da posição crítica, se mantém “totalmente a favor da privatização da
TAP”.
***
Parece
redundante que Nuno Melo exija uma explicação da parte da TAP, se a empresa já
veiculou uma explicação através ao mencionado comunicado. Certamente que não surgirá
outro tipo de explicação a não ser o da pequena rentabilidade. Provavelmente os
que têm opinião contrária é que deverão demonstrar as suas razões. TAP
privatizada fará serviço não rentável se o Estado, a nível central ou a nível
local, pagar.
Os autarcas independentes
(ou dissidentes) de Matosinhos e do Porto sentem-se confortados com o
serviço prestado por outros operadores. E, se estes também pensarem na
inviabilização das rotas, vão exigir da TAP privatizada que venha em auxílio do
Porto ou obrigam-nos a ceder porque terão maior capacidade de os domesticar?
Paulo Rangel
critica a medida determinada pela empresa privada. Porém, continua a defender a
privatização da companhia aérea portuguesa (de Lisboa?). Acha que as populações não se deveriam revoltar contra
o Estado porque o erário público não pode ser empobrecido (a greve só
era lícita em tese; na prática, não porque prejudica sempre). E quer que as forças vivas façam ouvir a sua voz
contra uma empresa ora privada. Rico conceito de legitimidade da propriedade privada!
Será que os compradores da TAP se vincularam a defender os interesses das populações
e a incentivar a economia regional? Isso não cabe ao Estado: zelar pelo
interesse público, promover o bem-estar das populações e corrigir as diversas assimetrias
regionais, sociais e económicas?
2016.01.20 – Louro de Carvalho
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