De acordo com os dados difundidos pelo Relatório “India Christian Persecution”, publicado
a 21 de janeiro pelo CSF (Catholic
Secolar Forum),
organização da sociedade civil indiana, e informado pela Agência Fides, foram
cadastrados, no ano de 2015, mais de 200 incidentes de violência anticristã na
Índia.
O relatório
sugere que uma das principais acusações aos cristãos é a de efetuarem
conversões forçadas com meios fraudulentos – o que levou o governo de Madhya Pradesh a modificar a chamada
“lei anticonversão”, endurecendo as punições.
Madhya Pradesh ou Madia
Pradexe é um dos Estados da Índia, que tem por capital a cidade de Bhopal, embora a sua cidade maior seja Indore. A sua língua oficial é o hindi. O Estado de Madhya Pradesh confronta com o Rajastão
e o Uttar Pradesh, a norte, o Chhattisgarh, a sudeste, o Maharashtra, a sul, e o Gujarate, a oeste. A maior religião do Estado
é o hinduísmo, com 57,8% dos habitantes, vindo a seguir o islamismo com 35,1%, o
cristianismo com 6,4%,o budismo com 0,2% e outras religiões com 0,5%.
Em conformidade
com o ambiente criado pelas novas disposições legais, sete pastores protestantes
e um leigo foram mortos, tendo as vítimas da violência antirreligiosa cristã
totalizado o número de cerca de 8 mil, número em que se incluem mulheres e
crianças. Em concomitância, muitas igrejas foram devastadas.
Segundo o mencionado relatório, em que vem analisada a
violência anticristã de que a Índia foi palco em 2015, os autores das violentas
perseguições são grupos fanáticos e extremistas de formações hinduístas que
promovem a ideologia designada por “Hindutva”
(hinduidade).
A “Hindutva”
preconiza a eliminação da Índia dos fiéis não hindus e é obra de grupos hostis
às minorias religiosas muçulmanas e cristãs, os quais lançam e mantêm defendem
uma acérrima campanha de ódio e difamação que origina uma onda alastrante de gestos
concretos de violência.
O Estado de Maharashtra
é, de acordo com o mencionado relatório, aquele onde a referida ideologia é mais
difundida, estando o Governo de Madhya
Pradesh no alto da lista por número de episódios de violência anticristã. A
seguir, vêm Tamil Nadu, Jharkhand, Chhattisgarh, Haryana, Odisha, Rajasthan, numa lista que inclui 23 estados da União indiana, entre
os seus 28.
O Estado do Maharashtra
fica no centro oeste da Índia. A sua capital é Bombaim, o centro económico do
país. A sua população, de mais de 96 milhões de habitantes, faz deste, que é o
terceiro em extensão, um dos Estados mais populosos da Índia. Apenas onze países
do mundo têm uma população maior. O Estado foi criado em 1 de maio de 1960 para satisfazer as demandas do
grupo linguístico marathi, que forma
o grupo étnico maioritário no Estado. O antigo Estado de Bombaim (que,
em 1956, tinha sido aumentado
para incluir porções de Marathi, Hyderabad, Madhya Pradesh e Gujarat) foi dividido dois Estados: Maharashtra e Gujarat.
As principais religiões presentes
em Bombaim, a capital do estado, são o hinduísmo com 68% da população, o
islamismo com 17%, o cristianismo e o budismo, com 4% cada, havendo ainda parses,
jainistas, siques, judeus e ateus.
***
O Relatório “India
Christian Persecution” apresenta como uma das principais acusações aos cristãos
a promoção de conversões forçadas com meios fraudulentos, como já foi referido.
O leigo católico Joseph Dias, responsável do CSF, reage advertindo que “a
conversão forçada não faz parte do horizonte da fé cristã: trata-se apenas de
deixar a liberdade de consciência e de religião, prevista na Constituição”. Esta
consigna a índole aconfessional e secularista da República da Índia.
Porém, têm aumentado as chamadas “cerimónias de
reconversão”, organizadas por grupos extremistas hindus em muitos estados
indianos, em que dalits e tribais
cristãos são convertidos em massa ao hinduísmo.
De entre os grupos autores de violências,
fortaleceu-se, em 2015, o RSS (Rashtriya
Swayamsevak Sangh), que
“reforçou seu papel no sistema político do país” – observa o texto do Relatório
em causa – que hoje conta mais de 15 milhões de militantes espalhados em mais de
50 mil células locais, tendo ingressado alguns dos seus membros na polícia, na
magistratura, na administração estatal.
Por outro lado, no campo institucional, a Índia não
renova regularmente o visto de estadia no país a missionários, religiosos e religiosas
que atuam estavelmente ao lado dos pobres e marginalizados.
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A
leitura dos dados do Relatório faz-me lembrar o caso recorrente de acusar os outros
daquilo que nós fazemos: com efeito, “dalits e tribais cristãos são convertidos em massa ao
hinduísmo”, mas são os cristãos os apontados como operando conversões forçadas
e por meios fraudulentos. Parece que só fala quem tem que se lhe diga! Depois,
que mal farão ao país e à República os missionários, religiosos e religiosas
que atuam estavelmente ao lado dos pobres e marginalizados? Num tempo em que os
Estados subscreveram a Declaração Universal dos Direitos do Homem que estipula
o princípio da liberdade religiosa, da liberdade de professar esta ou aquela
religião e da liberdade de não ter nenhuma, era de passar inequivocamente à prática
da tolerância e ao escrupuloso respeito da garantia da não discriminação por
motivos religiosos, rácicos, étnicos e de sexo.
Porém, infelizmente
a Índia não caso único. Dum lado, temos, por exemplo, a libérrima França, que
proíbe a burka, os minaretes e outros
símbolos religiosos nas escolas públicas e se dá ao desporto de ter um Charlie
Hebdo que ultraja a religião e ofende os crentes; do outro, temos países como a
progressiva Arábia Saudita, que proíbe a construção de igrejas e persegue ferozmente
os cristãos. Até quando e porquê?
Já passou o
tempo das conversões em massa, o de Clóvis e quejandos, em que o chefe se convertia
e obrigava os outros a converterem-se: conversão não por chamamento, mas por
coação ou conveniência! É o tempo da Dignitatis
Humanae, declaração do Concílio Vaticano II sobre a Liberdade religiosa.
2016.01.23 – Louro de Carvalho
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