sábado, 2 de janeiro de 2016

As orações marianas do Papa Francisco

A propósito da inauguração do ano novo com a solenidade litúrgica de Santa Maria Mãe de Deus, ocorre uma pequena reflexão sobre a índole mariana de Francisco, o qual logo no dia 14 de março de 2013, o dia seguinte ao da sua eleição para o Sumo Pontificado, visitou a Basílica de Santa Maria Maior, a considerada Salus Populi Romani. Depois, criou o hábito de a visitar antes e depois de cada uma das visitas apostólicas fora de Itália. Além disso, o Pontífice tem ido à Basílica, no dia 8 dezembro, dia da Imaculada Conceição e na Festa do Corpus Christi, bem como lá foi a 4 maio de 2013, para rezar o terço, e no primeiro de janeiro de 2014.
Desta vez, no início de 2016, deslocou-se ali para presidir à celebração da santa Missa e proceder à Abertura da Porta Santa no âmbito do Jubileu Extraordinário da Misericórdia.
Contam-se por umas 30 as vezes que Francisco ali se deslocou neste pontificado ainda breve.
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Porém, o dado mais relevante a nível do conteúdo mariano da devoção papal, para lá das recorrentes referências ao testemunho e à intercessão de Maria e ao seu poder de discípula e apóstola, é o que fica plasmado nas várias orações (mais de uma dezena) que o Pontífice compôs e recitou durante o exercício do seu ministério Petrino.
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Logo a 23 de maio de 2013, no final da Profissão de Fé com os Bispos da Conferência Episcopal Italiana, rezou a “Maria, Mãe do silêncio, da beleza, da ternura” e guardadora do mistério divino, numa perspetiva pastoral, para que purifique “os olhos dos Pastores com o colírio da memória”, fazendo-os voltar ao tempo do “vigor das origens, para uma Igreja orante e penitente”, e despertando-os da inércia, indolência, mesquinhez e derrotismo, eles descubram “a alegria de uma Igreja serva, humilde e fraterna” e edifiquem “a Igreja com a verdade na caridade”, o “Povo de Deus que peregrina rumo ao Reino”.
No fim da recitação do rosário, a 31 de maio de 2013, invocou Maria, a “Mulher da escuta, da decisão e da ação”. Pedia a abertura dos ouvidos e a sabedoria para a escuta da Palavra de Jesus e para “ouvir a realidade em que vivemos, cada pessoa que encontramos, especialmente quem é pobre e necessitado, quem se encontra em dificuldade”. Rogava a iluminação da mente e do coração para sabermos “obedecer à Palavra de Jesus, sem hesitações” e sem nos “deixarmos arrastar para que outros orientem a nossa vida”. E ainda implorava que as mãos e os pés “se movam apressadamente rumo aos outros, para levar a caridade e o amor de Jesus”, para levar ao mundo, como Ela, “a luz do Evangelho”.
A 29 de junho de 2013, na conclusão da Encíclica Lumen Fidei, dirigia-se a “Maria, Mãe da Igreja, Mãe da nossa féa fim de que abra “o nosso ouvido à Palavra, para reconhecermos a voz de Deus e a sua chamada”, semeie, “na nossa fé, a alegria do Ressuscitado” e nos ajude a “ver com os olhos de Jesus, para que Ele seja luz no nosso caminho”.
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Atos de Consagração
A 24 de julho de 2013, por ocasião da visita pastoral ao Brasil para a JMJ (Jornada Mundial da Juventude), emitiu o “Ato de Consagração a Nossa Senhora Aparecida”, consagrando-Lhe pessoalmente o entendimento, “para que sempre pense no amor que mereceis”; a língua “para que sempre vos louve e propague a vossa devoção”; e o coração, “para que, depois de Deus, vos ame sobre todas as coisas”.
A 22 de setembro de 2013, emitiu, em Cagliari o “Ato de Consagração a Nossa Senhora de Bonária”, consagrando-Lhe confiadamente todos e cada um dos seus filhos e pedindo-lhe pelas famílias daquela cidade e daquela região e, em especial, pelas crianças e jovens, pelos anciãos e doentes, pelos sós e pelos encarcerados, pelos famintos e pelos que não têm trabalho, pelos que perderam a esperança e pelos que não têm fé, pelos governantes e pelos educadores.
Por ocasião da Jornada Mariana, no fim da Missa na Praça de São Pedro, a 13 de outubro de 2013, emitiu o “Ato de Consagração a Nossa Senhora de Fátima”, unindo “a nossa voz à de todas as gerações que te dizem bem-aventurada” e celebrando nela “as grandes obras de Deus, que nunca se cansa de se inclinar com misericórdia sobre a humanidade, atormentada pelo mal e ferida pelo pecado, para a guiar e salvar”. Depois, deseja dela “o olhar dulcíssimo” e “a carícia confortadora do seu sorriso”. E implora:
“Guarda a nossa vida entre os teus braços: abençoa e fortalece qualquer desejo de bem; reacende e alimenta a fé; ampara e ilumina a esperança; suscita e anima a caridade; guia-nos a todos no caminho da santidade. Ensina-nos o teu amor de predileção pelos pequeninos e pelos pobres, pelos excluídos e sofredores, pelos pecadores e os desorientados; reúne a todos sob a tua proteção e recomenda todos ao teu dileto Filho.”.
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Na exortação Apostólica Evangelii Gaudium, a 24 de novembro de 2013
Recorda que Ela, “movida pelo Espírito”, acolheu “o Verbo da vida na profundidade da fé humilde, totalmente entregue ao Eterno”, “cheia da presença de Cristo”, levou “a alegria a João o Batista, fazendo-o exultar no seio de sua mãe”, “estremecendo de alegria”, cantou “as maravilhas do Senhor”, permaneceu “firme diante da Cruz com uma fé inabalável”, recebeu “a jubilosa consolação da ressurreição”, e reuniu “os discípulos à espera do Espírito para que nascesse a Igreja evangelizadora”. Chama-lhe “Virgem da escuta e da contemplação”, Mãe do amor”, Esposa das núpcias eternas”, “Estrela da nova evangelização”, “Ícone puríssimo do Evangelho”, “Mãe do Evangelho vivente, manancial de alegria para os pequeninos”.
Pede-Lhe: ajuda para dizermos “o nosso sim perante a urgência, mais imperiosa do que nunca, de fazer ressoar a Boa Nova de Jesus”; um “novo ardor de ressuscitados para levar a todos o Evangelho da vida que vence a morte”; a “santa ousadia de buscar novos caminhos para que chegue, a todos, o dom da beleza que não se apaga”; a intercessão pela Igreja, “para que ela nunca se feche nem se detenha na sua paixão por instaurar o Reino”; e a irradiação do “testemunho de comunhão, de serviço, de fé ardente e generosa, de justiça e de amor aos pobres, para que a alegria do Evangelho chegue até aos confins da terra e nenhuma periferia fique privada da sua luz”.
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À Imaculada Conceição na Praça de Espanha, a 8 de Dezembro
Em 2013, chama-Lhe a “Honra do nosso povo” e a “Guardiã solícita da nossa cidade”. Várias vezes repete o encómio “Toda sois Formosa, ó Maria!”, acrescentando um dos enunciados messiânicos: “Em Vós não há pecado”; “Em Vós Se fez carne a Palavra de Deus”; “Em Vós, está a alegria plena da vida beatífica com Deus”. E solicita: um “renovado desejo de santidade” de modo que, “na nossa palavra, refulja o esplendor da verdade, nas nossas obras, ressoe o cântico da caridade, no nosso corpo e no nosso coração, habitem pureza e castidade, na nossa vida, se torne presente a inteira beleza do Evangelho”; a permanência “numa escuta atenta da voz do Senhor”, para que “o grito dos pobres nunca nos deixe indiferentes, o sofrimento dos doentes e de quem passa necessidade não nos encontre distraídos, a solidão dos idosos e a fragilidade das crianças nos comovam, cada vida humana seja sempre amada e venerada por todos nós”; a perceção do “significado do nosso caminho terreno, a fim de que “a luz terna da fé ilumine os nossos dias, a força consoladora da esperança oriente os nossos passos, o calor contagiante do amor anime o nosso coração, os olhos de todos nós se mantenham bem fixos em Deus”, fonte da verdadeira alegria.
Em 2014, apresenta-Lhe a veneração do povo de Deus em festa, a homenagem da Igreja que está em Roma e no mundo inteiro. Mostra-lhe a consciência do conforto e da esperança por sabermos que sobre Ela “o mal não tem poder”, de modo que d’Ela haurimos a “fortaleza na luta diária que devemos travar contra as ameaças do maligno”. Suplica-Lhe “a materna proteção para nós, para as nossas famílias, para esta Cidade, para o mundo inteiro” e a intercessão para que “o poder do amor de Deus”, que A “preservou do pecado original”, “liberte a humanidade de qualquer escravidão espiritual e material e faça vencer, nos corações e nos acontecimentos, o desígnio de salvação de Deus”. Pede-Lhe que faça “com que também em nós”, seus filhos, “a graça prevaleça sobre o orgulho e possamos tornar-nos misericordiosos como é misericordioso o nosso Pai celeste”; e que, neste tempo que nos ao Natal de Jesus, nos ensine “a ir contracorrente: a despojar-nos, a abaixar-nos, a doarmo-nos, a ouvir, a fazer silêncio, a descentralizar-nos de nós mesmos, para dar espaço à beleza de Deus, fonte da verdadeira alegria”.
Em 2015, apresenta-Lhe “a homenagem de fé e de amor do povo santo de Deus, que vive nesta Cidade e Diocese”; apresenta-se “em nome das famílias, com as suas alegrias e fadigas; das crianças e dos jovens, abertos à vida; dos idosos, carregados de anos de experiência”; e, de modo especial como o que vem “da parte dos doentes, dos presos, de quem sente mais dificuldade no caminho”. Porém, sente “como Pastor” a necessidade de vir “também em nome de quantos chegaram de terras distantes em busca de paz e de trabalho”.
Acredita que, sob o manto de Maria, “há lugar para todos”, porque Ela é “a Mãe da Misericórdia”. E enaltece a ternura de que está cheio o coração da Mãe para com todos os filhos – a ternura de Deus, que de Ti tomou a carne e tornou-Se nosso irmão, Jesus, Salvador de todos os homens e mulheres”. E, através d’ Ela, reconhece “a vitória da divina Misericórdia sobre o pecado e sobre todas as suas consequências” e o reacender da “esperança numa vida melhor, livre de escravidão, rancores e receios”.
Evocando o Ano Jubilar da Misericórdia, declara ouvir “aqui, no coração de Roma”, a voz de mãe que a todos convida a porem-se a caminho “rumo àquela Porta, que representa Cristo”:
“Vinde, aproximai-vos confiantes; entrai e recebei o dom da Misericórdia; não tenhais medo, não tenhais vergonha: o Pai espera por vós de braços abertos para vos conceder o seu perdão e acolher-vos na sua casa. Vinde todos à nascente da paz e da alegria”.
E agradece-Lhe, “porque neste caminho de reconciliação” não nos deixa “ir sozinhos, mas acompanha-nos”, está “ao nosso lado” e “ampara-nos em todas as dificuldades”.  Por isso, formula o voto devocional: “Que tu sejas bendita, agora e sempre, Mãe”.
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Em Santiago de Cuba, no Santuário da Virgem do Cobre, a 21 de setembro de 2015
Francisco invoca Maria sob os títulos de: “Virgem da Caridade do Cobre”; “Padroeira de Cuba”; “Cheia de graça”; “Mãe e Senhora de Cuba”; “Santa Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe”; “Mãe dos fiéis e dos pastores da Igreja”;  “Modelo e estrela da nova evangelização”; “Mãe da reconciliação”; “Amada Filha do Pai”; “Mãe de Cristo, nosso Deus”; e “Templo vivo do Espírito Santo”.
Declara que Ela contém, no seu nome de “Virgem da Caridade”, “a memória do Deus-Amor, a recordação do novo mandamento de Jesus, a evocação do Espírito Santo: amor derramado no nosso coração, fogo de caridade enviado no Pentecostes sobre a Igreja, dom da plena liberdade dos filhos de Deus”.
Recorda que Ela veio “visitar” o seu povo e quis “permanecer connosco como Mãe e Senhora de Cuba, durante o seu peregrinar pelos caminhos da história”, ficando seu nome e imagem “esculpidos na mente e no coração de todos os cubanos, dentro e fora da Pátria, como sinal de esperança e centro de comunhão fraterna”.
Solicita: a intercessão de Maria por nós junto do seu Filho; a intensificação da fé, o reavivar da esperança, e o aumento e fortalecimento do amor; a preservação das famílias; a proteção dos jovens e das crianças; o consolo dos que sofrem; a congregação  do povo disseminado pelo mundo; e que faça da “Nação cubana uma casa de irmãos e irmãs a fim de que este povo abra a mente, o coração e a vida a Cristo, único Salvador e Redentor.
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São orações de louvor e homenagem, são orações intimistas e comunitárias, são orações que espelham a fé apoiada na doutrina, são orações apostólicas e missionárias, são orações pastorais, são orações de intercessão, são orações de testemunho face aos dramas da humanidade e aos fatores de iniquidade. Mas são orações de esperança certa no triunfo do amor e do bem, em consonância com as preocupações habituais do Pontífice!


2016.01.01 – Louro de Carvalho

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