Iniciado às 8,30 horas de hoje, 16 de fevereiro, com a receção dos participantes, está a decorrer
até amanhã, dia 17, na Gare Marítima da Rocha Conde de Óbidos (Lisboa, Doca de Alcântara), o CONGRESSO DO
TEJO III, onde são
debatidas e avaliadas as situações mais problemáticas que afetam o Tejo, entre
as quais o grave acidente
recente da espuma descontrolada, e outros
casos relacionados com a defesa e preservação do nosso maior Rio, tendo por
principal escopo encontrar e propor soluções para serem tidas em consideração
pelo poder político.
Trata-se duma
organização da “Tagus Viva – Confraria do
Tejo Vivo e Vivido”, associação cívica, sem fins lucrativos, de defesa do
Ambiente e do Património Cultural, Material e Imaterial do Tejo, bem como da
qualidade de vida das populações ribeirinhas, cujas origens remontam aos anos
sessenta do século passado.
O evento
conta com a presença do Ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, da Ministra
do Mar, Ana Paula Vitorino, e de diversos especialistas qualificados nas
diversas matérias que irão ser tratadas. Em comunicado enviado à Comunicação
Social, a comissão organizadora destaca:
“Este Congresso foi preparado cuidadosa e
criteriosamente para que consiga ser uma verdadeira ‘pegada’ no Tejo, com temas
e casos objetivamente selecionados para serem debatidos tendo em vista uma
avaliação com rigor das circunstâncias negativas e insuficiências com que o
Tejo se debate hoje, na presença de uma massa crítica significativa, de modo a
permitir que essa avaliação seja feita com realismo por especialistas
competentes nas diferentes matérias, na tentativa de procurarem encontrar e
propor as soluções para serem tomadas na devida consideração pela Assembleia da
República e pelas tutelas correspondentes, que leve a uma legislação adequada
que possibilite dar o início à construção do futuro sustentável e sustentado de
um Tejo Vivo e Vivido, para deixarmos Mais Tejo – Mais Futuro às novas gerações”.
Dos diversos
temas, relevam-se os seguintes: “Os Usos
da Água e Potenciais Conflitos”, “Administração
Pública e Participação” e “Planeamento
Estratégico e Desenvolvimento” – temas a desenvolver por diversos
especialistas, como adiante se discrimina.
O congresso termina
a 17 às 13 horas com a apresentação das conclusões, recomendações e proposta de
Carta de Lisboa.
***
De acordo com o programa, após a Sessão de Abertura – cuja mesa é constituída por João
Matos Fernandes, Ministro do Ambiente, Lídia Sequeira, Presidente da APL, Nunes
Correia (IST/UL), Presidente da Comissão
Organizadora, Carlos Salgado, da Comissão Organizadora, António Carmona
Rodrigues, da Comissão Organizadora, Manuel Ruano Lacerda, da Comissão
Organizadora, João Soromenho Rocha, da Comissão Organizadora e Relator do
Congresso, e Miguel Azevedo Coutinho, da Comissão Organizadora e Relator do
Congresso – são organizados quatro painéis temáticos seguidos de debate (três no
1.º dia e um no 2.º).
O 1.º Painel – “Presente e Futuro: Os Usos da Água e Potenciais Conflitos” – sob a moderação de José Bastos Saldanha (Tagus Universalis), desdobrou-se nos subtemas seguintes: “Agricultura e rega”, por Eduardo Oliveira e Sousa (CAP); “Abastecimento
urbano”, por José Sardinha (EPAL); “Produção de energia”, por Maria Clara
Mais (EDP Produção); “Atividade portuária e navegabilidade”, por Pedro Virtuoso (ETE); “Turismo”, por
Luís Mota Figueira (IPT); e “Valores ambientais e culturais”,
por Maria da Graça Saraiva (FA/UL).
O 2.º Painel – “Presente e Futuro: Administração Pública e
Participação” – sob a moderação de Pedro Santos Coelho (FCT/UNL), desdobrou-se nos subtemas: “Administração Central”, por António Sequeira Ribeiro (APAmbiente); “Riscos de cheias e secas”, por Rui Rodrigues (LNEC);
“Diretiva-Quadro da Água”, por António Gonçalves Henriques (LNEC); “Impactos Ambientais”, por Carla Antunes (U. Algarve); e “Participação pública”, por Lia Vasconcelos (FCT/UNL).
“Diretiva-Quadro da Água”, por António Gonçalves Henriques (LNEC); “Impactos Ambientais”, por Carla Antunes (U. Algarve); e “Participação pública”, por Lia Vasconcelos (FCT/UNL).
O 3.º Painel – “Presente e Futuro: Planeamento Estratégico e Desenvolvimento” – sob a moderação de João Ferrão (ICS/UL), desdobrou-se
nos subtemas: “Recursos hídricos”,
por Rodrigo Oliveira (IST/UL); “Ambiente”, por Fernando Santana (FCT/UNL); “Desenvolvimento regional”,
por António Manuel Figueiredo (FEP, Quaternaire);
e “Marketing Territorial”, por Manuel
Reis Ferreira (Cons. Turismo).
No 1.º dia, para lá dos painéis referidos, houve ainda lugar para a
mesa-redonda “conclusões e
recomendações” formuladas no 1.º dia, moderada por António Carmona Rodrigues (Comissão Organizadora) e em que intervieram os moderadores
dos painéis acima referenciados e os Relatores do Congresso João Soromenho
Rocha e Miguel Azevedo Coutinho. Seguiu-se o debate. E, no fim do dia, ocorreu a Sessão de Trabalho
para “Programa de
Ações e Preparação da Carta de Lisboa” sob a moderação de João Soromenho Rocha e em que intervieram os Moderadores
dos Painéis, Convidados e Relatores do Congresso”.
O Programa do 2.º dia será
preenchido pelo 4.º Painel – “Mais Tejo,
Mais Futuro”, sob a moderação de António Carmona Rodrigues e com intervenção de Pedro Santos
Coelho (FCT/UNL), Lídia Sequeira (Presidente
da APL),
José Manuel Félix Ribeiro (F.C. Gulbenkian), Augusto Mateus (Cons. Economia) e Luís Veiga
da Cunha (UNL).
Por fim, virá
a Conferência
de Encerramento – “Tejo, um Rio
Luso-Espanhol”, moderada por Francisco Nunes Correia (Presidente da Comissão Organizadora), com intervenção de Núria
Hernadez-Mora (FNCA-ESP), Pedro Serra (Cons. Hidr.) e Joaquim Poças Martins (FEUP) e a Sessão de Encerramento, com “Conclusões, Recomendações e Proposta de
Carta de Lisboa” e participação de Ana Paula Vitorino (Ministra do Mar), Lídia Sequeira (Presidente da APL), Francisco Nunes Correia (Presidente
da Comissão Organizadora),
os membros da Comissão Organizadora Carlos Salgado, António Carmona Rodrigues e
Manel Manuel Lacerda, bem como os relatores do Congresso João Soromenho Rocha e
Miguel Azevedo Coutinho.
Após o encerramento, haverá um Tejo de Honra.
***
O Congresso fica marcado por afirmações de Nunes
Correia e de João Matos Fernandes.
O antigo Ministro
do Ambiente do XVII Governo criticou a “queda dramática” na fiscalização e
monitorização dos rios, no que foi contrariado pelo atual governante, que
salientou a duplicação das ações inspetivas, enquanto as estações de controlo
passaram de quatro para catorze.
Nunes Correia,
antigo Ministro do Ambiente, apontou “fragilidades de instituições públicas”
que levam a que possam suceder acidentes, como o recente da poluição do Tejo,
em Abrantes, e disse serem preocupantes “as deficiências e ineficiências de
fundo acumuladas ao longo de muitos anos”. Segundo o especialista, nos últimos
anos, “têm sido dados sinais contraditórios” acerca da gestão dos recursos
hídricos, com mais de um milhão de euros investidos no Tejo, “ao mesmo tempo
que a monitorização e fiscalização caíram dramaticamente” e entidades como as
direções de hidráulica desapareceram.
Questionado
pelos jornalistas acerca daquelas críticas, o atual Ministro do Ambiente, Matos Fernandes, disse que, relativamente “à monitorização da qualidade da água dos
rios, essas queixas fazem todo o sentido” e deu o exemplo do Tejo: “quando chegámos aqui [ao Governo] havia
quatro estações. Hoje há 14”. Quanto às atividades de fiscalização, realçou
que “mais do que duplicaram em dois anos”.
E defendeu:
“Hoje conhecemos o rio e se não o
conhecêssemos, não podíamos agir tão depressa e com tanta convicção como
fizemos no episódio de poluição registado a 24 de janeiro, quando um manto de
espuma branca, com cerca de meio metro, cobriu o rio Tejo na zona de Abrantes”.
Matos
Fernandes considerou não necessitar de mais recursos, mas de “pôr a IGAMAOT [Inspeção-Geral
da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território] a fazer aquilo que faz melhor”, e o mesmo para
outras entidades da área, como a APA (Agência Portuguesa do Ambiente), as CCDR (Comissões de Coordenação e
Desenvolvimento Regional) ou o ICNF (Instituto de
Conservação da Natureza e Florestas). Assim, segundo
o Ministro, “conseguimos ir muito mais além do que o que fazíamos no passado”
e, se em 2015, as coimas ambientais ultrapassaram 4 milhões de euros, em 2017,
foram de mais de 12 milhões de euros.
No seu
discurso no Congresso, o Ministro realçou que “havia 4 estações para
monitorização de água do rio e neste momento há 14 e todas estão a funcionar”.
Porém, acrescentou que, reconhecendo que, ao final dum ano havia que fazer
mais, o Governo decidiu rever as licenças de descarga no rio Tejo e, até final
de março, o trabalho de avaliação estará concluído.
Os
jornalistas perguntaram o que se passará com as descargas da Celtejo, uma das
empresas de pasta de papel que lança efluentes no Tejo, após a imposição duma
redução devido ao baixo caudal e à poluição. E João Matos Fernandes sustentou:
“Quando esta limitação acabar, a Celtejo e
outras empresas terão novas licenças [nas quais] a probabilidade de existirem
fenómenos [como aqueles de poluição] é muitíssimo mais baixa”.
Referiu que
a carga orgânica que em 2013 chegava ao Tejo, no caso da Celtejo, “ultrapassava
as mil toneladas cada ano e chegou ao final de 2016 abaixo das 400 toneladas a cada
ano”. Contudo, advertiu que, mesmo “sendo a licença da APA um mau sinal, é uma
hipocrisia fazer qualquer relação entre a existência de mais carga orgânica e a
licença”.
***
Os autarcas
de Abrantes, Mação e Vila Velha de Ródão, que não aceitam que se considerem as
suas ETAR como o bode expiatório da poluição do rio, foram ao Parlamento
repetir o que denunciaram há 2 anos sobre a poluição no Tejo. Mas agora
acreditam num ponto de viragem.
Referem que,
no essencial nada se alterou nos últimos três anos na resposta aos problemas de
poluição no Tejo, ao invés, até se agravou em parte por causa da seca. Assim, as
declarações feitas então continuam “atualíssimas”, como sublinhou a autarca de
Abrantes, Maria do Céu Albuquerque, lembrando dois casos de grande mortandade
de peixes do Tejo em 2015, em Abrantes e Ortiga. Já o Presidente da Câmara Municipal
de Mação, Vasco Estrela, pergunta: “Quando é que ouviram alguém dizer bem do
Tejo?”. E
diz que as pessoas estão a fugir do rio por causa da poluição. Porém, apesar do
desencanto, comum aos três autarcas, a autarca de Abrantes tem a expectativa de
que desta é que é de vez. E o Presidente da Câmara Municipal de Vila Velha
Ródão espera que “esta situação
grave marque um ponto de viragem para o futuro porque, em relação ao passado
recente, pouco mudou”.
O Presidente
da Câmara de Mação pergunta ainda: “Será
que nos dias de hoje com a tecnologia e os académicos que temos não seria
possível chegar a uma conclusão e encontrar uma solução?”. E esta é a
interrogação que faz a deputada
do Partido Ecologista os Verdes, Heloísa Apolónia, que diz: “Só não chegamos lá porque não pusemos os
meios necessários no terreno”.
Para Carlos
Matias, do Bloco de Esquerda, os responsáveis estão identificados há anos e
estriba-se nas conclusões do relatório da comissão de acompanhamento sobre a poluição
no Tejo (novembro de
2016) e no relatório sobre a qualidade
da água no rio Tejo da APA (Agência Portuguesa do Ambiente) de março de 2017, que também é referido
pelo presidente da Câmara de Mação.
Vasco
Estrela assinala que agora o rio
está limpo, depois das medidas tomadas, uma das quais foi a redução em
50% das descargas da Celtejo, a celulose de Vila Velha de Ródão que tem sido
apontada como a principal responsável pelo excesso de carga orgânica no médio
Tejo.
Para Paulo
Constantino do movimento proTEJO, o que “foi diferente desta vez é que se
fizeram análises que detetaram serem as empresas de pasta e papel a origem do
problema ambiental.
Vasco
Estrela lembra que foram o próprio Ministro e o presidente da APA a sinalizar o
papel da Celtejo no mais recente episódio de poluição no rio. E sublinha que manter
esta nebulosidade, acaba por “inquinar a solução, porque coloca as pessoas
contra as empresas, as empresas contra as pessoas, as autarquias contra as
autarquias”. Mas, reconhecendo que ninguém estará interessado em diabolizar as
empresas, defende que a resposta passará por compatibilizar os interesses,
sendo, para isso, necessário perceber o que o rio aguenta com menos caudal e
lamenta que aquilo que era no passado uma mais-valia para estes concelhos seja
hoje um ónus e deixa os desabafos sobre os impactos negativos para a economia
da região.
Destacando a
dificuldade em atrair investimento e criar emprego num concelho como Vila Velha
de Ródão, Luís Miguel Pereira, autarca deste concelho, crê ser possível ter
essas empresas (de pasta e papel), de grande
dimensão e muito fiscalizadas, em
equilíbrio com as questões ambientais. E questiona o foco sobre a
Celtejo e o silêncio sobre outra empresa do concelho, com descargas muito mais
poluentes (referência à Centroliva). Elenca
igualmente todos os investimentos feitos pela autarquia e também pelas empresas
do concelho para melhorar o desempenho ambiental, destacando a nova ETAR da
Celtejo.
Paulo
Constantino do movimento proTEJO reconhece terem sido dados bastantes passos, mas
diz que já vamos em dois anos e era importante que fossem tomadas as medidas
necessárias e apontadas pela comissão de acompanhamento da poluição no Tejo (conhecidas
no final de 2016). É o caso
das alterações à legislação sobre crimes ambientais para facilitar a
penalização dos infratores e limitar a contestação judicial das ordens de
encerramento. E destaca a revisão das licenças das empresas de celulose para
parâmetros que permitam bom estado ecológico do rio.
***
É de saudar
toda esta movimentação académica e política em torno do futuro do Tejo. Lamenta-se
que seja necessário verificar tais desastres ecológicos – repetidos e de grande
dimensão – para se atuar. É grave o licenciamento não se tornar exigente no que
toca à obrigatoriedade de construção das infraestruturas necessárias e a
fiscalização não agir, suspeitando-se até de ser conivente como os desmazelos,
negligências e contraordenações. Depois, devem ser apontados todos os
prevaricadores e não apenas alguns. Por fim, esta movimentação em torno do Tejo
tem de se tornar extensiva a todas as unidades das bacias hidrográficas e
lacustres do país, bem como a todas as ETAR, lixeiras, aterros sanitários,
postos de combustível, viveiros, edifícios e logradouros ao abandono, uso de
pesticidas e de herbicidas.
Os congressos,
encontros, semanários e simpósios não podem ficar-se nas brilhantes conclusões
pespegadas nos papéis!
2018.02.16 –
Louro de Carvalho
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