quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Um ano de Paulo Macedo à frente da CGD

Passaram 365 dias desde que Paulo Macedo assumiu a liderança da CGD (Caixa Geral de Depósitos), tendo encontrado, pelos vistos, os piores resultados de sempre. Agora, parece que o banco público, depois de polémicas e desafios, está a caminho dos lucros.
Segundo os dados passados à Comunicação Social, os sucessores de António Domingues e sua equipa encontraram prejuízos de 1.859,5 milhões de euros, em resultado dum elevado montante de imparidades reconhecidas. Porém, a fatura, em vez de diminuir, aumentou, ascendendo a três mil milhões. Um ano depois, o cenário é diferente: após várias polémicas e desafios, como o encerramento dos balcões um pouco por todo o país e diminuição do número de funcionários por via da reforma e da rescisão por acordo mútuo, a CGD estará a caminho dos lucros.
O atual dirigente executivo máximo do banco do Estado fez o conveniente balanço, embora prematuro, quando visitou um dos balcões, apenas três dias depois de ter assumido funções:
 “O que se vê é que os clientes estão na Caixa, a Caixa mantém a sua liderança e, com certeza, quererá consolidá-la no futuro”. 
Depois da breve e turbulenta passagem de Domingues pela CGD (SMS e e-mails trocados com Centeno, obrigação ou não de declaração de rendimentos e património junto do TC…), os observadores dizem que o ex-ministro da Saúde arregaçou as mangas e pôs em prática o plano de reestruturação definido com Bruxelas ainda pela equipa anterior e cuja prioridade era a forte recapitalização do banco estatal. Macedo formulou cinco promessas: manutenção da confiança de clientes; reforço do papel decisivo da CGD junto das empresas; continuidade em serem os melhores no crédito à habitação; reforço da presença junto de segmentos de clientes muito importantes para a CGD, como os universitários e os seniores; e garantia da solidez e da reestruturação da Caixa em termos das políticas de risco e de crédito, que lhe permita avançar de forma sólida e rentável.
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A primeira polémica surgiu, como era de esperar, em torno do salário de Macedo. A este respeito, o Primeiro-Ministro, referindo que “os vencimentos estão fixados, a legislação está em vigor e não a vamos mudar”, garantiu que Paulo Macedo ia receber o mesmo salário de António Domingues, ou seja, 423 mil euros por mês – valor tornado possível depois de o Executivo ter alterado a lei, retirando a administração da CGD do estatuto do gestor público. Pelos vistos, a retirada da administração do banco do Estado do estatuto do gestor público reduziu-se ao aspeto salarial. E este aspeto foi um dos pontos da polémica, mesmo no debate parlamentar. O valor foi criticado pelo BE e pelo PCP, bem como pelo PSD e CDS, que apresentaram propostas no Parlamento. Porém, as críticas acabaram por ceder aos argumentos de Costa de que, apesar da impopularidade do vencimento dos gestores da CGD, não arriscava a sua má gestão.
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Depois, no final do mês de fevereiro, surgiu outra polémica, a decorrente do encerramento de balcões, previsto no plano de negócios definido com a Comissão Europeia e que permitiu que a injeção de capital público não fosse considerada ajuda de Estado. A este respeito, pedia Paulo Macedo, aquando da divulgação das contas de 2016:
Ninguém peça à CGD para ficar em todos os sítios onde os outros bancos não querem ficar. Se isso acontecesse, então a Caixa não saía dos seis anos de prejuízos que teve.”.
Não obstante, a implementação desta exigência, que inclui a cessação de funções de 2.200 trabalhadores e o enceramento de 180 agências, foi contestada pelo poder político local em razão do incómodo que trazia às populações, sobretudo as suas franjas mais fragilizadas.
E o caso mais polémico foi o de Almeida, entre promessas feitas e desmentidas. Desde o anúncio do encerramento da agência naquela localidade, a população da autarquia manifestou-se contra. Os protestos tiveram eco e levaram o Presidente da República ao diálogo com o presidente da autarquia, António Baptista Ribeiro, e com a administração da CGD, vindo esta, mais tarde, a admitir a prestação de serviços aos clientes “noutros moldes” – ou seja, a prestação dos diversos serviços bancários passaria a ser feita através da presença duma funcionária do banco público nas instalações da autarquia.
E, para responder aos protestos da população após o anúncio de que o banco estatal iria encerrar quase duas centenas de agências, o presidente da CGD decidiu criar um serviço móvel de balcões para servir as populações, ou seja, uma carrinha vai às zonas do país que não têm ou não vão ter uma agência da Caixa. Por este meio, prestam-se esclarecimentos, fazem-se simulações, procede-se a transferências e fazem-se operações bancárias, desde que não envolvam numerário. E Macedo justificava-se com o exemplo do que se fazia em Inglaterra e Espanha, sustentando que este “é um dos instrumentos para combater a exclusão financeira”.
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Porém, o banco liderado pelo ex-governante na área da Saúde tem de cumprir outras obrigações, entre as quais sobressai a necessidade de ir ao mercado para obter 500 milhões de euros através de títulos de dívida subordinada, condição imposta pela Direção-Geral da Concorrência para a concretização do aumento de capital do Estado em dinheiro fresco. E foi a esse teste em março do ano passado e com sucesso, pelo menos em termos de procura, pois, no roadshow, registou notório interesse da parte dos 120 investidores institucionais com que se reuniu. No entanto, o interesse do mercado não evitou o custo relativamente elevado desta operação. A taxa final foi de 10,75%, embora tenha baixado face aos níveis iniciais, acima de 11%. A Caixa terá de regressar ao mercado, no prazo de 18 meses, ou seja, até setembro deste ano, para obter os restantes 430 milhões de euros.
Por entre as polémicas surgidas a nível nacional ou local ou pelas obrigações que lhe impõe o poder político, nacional ou europeu, o CEO do banco estatal, frisou que há diariamente tentativas de politizar a Caixa ou de a trazer para o debate político e recordou que “a Caixa não faz a reestruturação da sua rede por capricho, faz porque a relação com a banca, da maioria das pessoas, mudou”. Isto disse-o numa altura em que a CGD estava a ser criticada devido ao encerramento de balcões um pouco por todo o país.
É natural que a CGD seja uma preocupação política, já que é o banco do Estado e este detém especiais responsabilidades pelo bem-estar das populações.
E mais polémicas resultam do aumento do número e do custo das comissões bancárias cobradas aos clientes. Macedo justifica-se dizendo que, “se a CGD não der lucro tem de ir pedir mais dinheiro aos contribuintes” (E diz que tem “uma ideia de qual será a resposta”), pois “tem de ser igual aos outros na rentabilidade porque as regras são iguais para públicos e privados”. E realçou que tem “a noção do que teria acontecido a um banco com sete anos seguidos de prejuízos se não fosse público”, vincando que “só com a reestruturação a CGD pode voltar aos lucros”. E Macedo garantiu que, apesar de a CGD ter aumentado as comissões, que a “Caixa tem as comissões mais baixas do mercado”. E não cobra qualquer valor, ao contrário dos outros bancos, nos serviços mínimos bancários (Era assim). A população mais vulnerável está abrangida por este segmento e, portanto, paga zero”. Mas isto já não é assim. E mais do que isso, induz os outros bancos a alinhar pelos seus preços, que dão jeito a todos e o público vai aceitando.
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Também um dos objetivos assumidos por Macedo quando assumiu a liderança da CGD foi a melhoria da rentabilidade. Mas, para isto acontecer, era (e é) necessário resolver o problema do peso do crédito malparado no balanço do banco. Para tanto, a CGD juntou-se ao BCP e ao Novo Banco – os três com níveis mais elevados destes créditos em incumprimento – e criaram uma plataforma para resolver os NPL (Non Performing Loans). E o líder do banco público salientou que estão “com valores [de malparado] muito acima dos nossos concorrentes europeus” e que “isto se reflete no rating dos bancos, cabendo-lhes trabalhar no sentido de minorar a situação (e os seis maiores bancos prometem cortar o rácio do malparado de 22% para 10% até 2021). Porém, apesar de considerar positiva esta iniciativa, Macedo, assim como os presidentes dos outros dois bancos, considera que há que resolver outra questão: as empresas com créditos em incumprimento têm de perder rapidamente esse “carimbo” para que os bancos possam voltar a conceder crédito. E isso depende da validação do Banco Central Europeu.
Por outro lado, o presidente da CGD salientou, numa conferência organizada pelo ISEG, em julho de 2017, que dali a seis meses, “todos os bancos vão precisar de mais capital”, pois as instituições financeiras têm mais exigências em termos regulamentares. Com efeito, o Banco de Portugal deu um ano aos maiores bancos para que constituíssem uma reserva adicional de capital. E este prazo acabou em janeiro (de 2017), quando as novas regras entraram em vigor, com o objetivo de garantir a estabilidade do sistema financeiro.
Mas, para Macedo, esta realidade não se reflete na concessão de crédito às empresas e a CGD volta ao serviço da economia, também pela via da concessão de mais empréstimos. Houve, de facto, redução do crédito, pois era isso o que se pedia ao país, às empresas e às famílias – o que não quer dizer que agora os “bancos não tenham capacidade para emprestar”. Ao invés, a Caixa “tem claramente liquidez que permite ter uma concessão de crédito” muito para lá do que tem.
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Se, quando Paulo Macedo chegou à liderança da Caixa, encontrou prejuízos de 1.859,5 milhões e a fatura subiu aos 3000 milhões, agora o cenário é diferente. Na apresentação dos resultados para os primeiros 9 meses de 2017, o gestor afirmou que os resultados dos últimos trimestres reforçam o cenário de que a CGD regressará aos lucros este ano. Vai apresentar os resultados referentes a 2017 já no dia 2 de fevereiro, depois do fecho do mercado. Estaremos atentos.
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Segundo o Jornal Económico, vêm aí subidas nas comissões da CGD. O agravamento de custos penalizará muitos jovens e empresas com operações no estrangeiro.
Os aumentos vão começar já no próximo mês de abril e vão afetar sobretudo os clientes com cadernetas e as empresas com operações no estrangeiro.
Os aumentos das comissões são uma das medidas da CGD para dar cumprimento ao plano de reestruturação negociado com Bruxelas, tendo em conta que o banco público “cobra menos comissões face aos concorrentes”, como mencionou o presidente executivo da instituição financeira, Paulo Macedo.
O mês de abril traz um agravamento dos custos na requisição e pagamento de cheques. A partir de dia 1, um bloco com cinco cheques vai passar a custar 11,50 euros, enquanto um de 11 módulos vai custar 25,30 euros.
Os levantamentos ao balcão com apresentação de caderneta continuam a ser possíveis, mas vão passar a custar um euro. Fora deste pagamento ficam os clientes com manifesta incapacidade de utilizar dispositivos automáticos, como invisuais, analfabetos e outros. Fonte da CGD explicou ao Jornal Económico:
Os motivos que permitem a isenção de comissão de manutenção privilegiam clientes com relacionamento com a Caixa, salvaguardando as situações de clientes com maior fragilidade económica e/ou social”,
Até aqui, clientes entre os 26 e os 29 anos titulares do Megacartão Jovem estavam isentos do pagamento de comissões. A partir de dia 1 de maio, vão pagar 4,95 euros por mês. A esse valor acresce a anuidade, que sobe de 12 para 14 euros. A CGD explica que “esta alteração alinha nos 26 anos em termos etários transversais a isenção da comissão de manutenção, em linha com as necessidades de integração na vida ativa dos clientes”.
Em junho, chegam novas mudanças nas comissões que vão atingir as empresas com operações no estrangeiro. Aumentará o custo com remessas de exportação e importação, créditos documentários e garantias bancárias.
A partir de julho, tanto os clientes com crédito pessoal ao consumo como os clientes com crédito automóvel vão passar a pagar 2,85 euros de comissões de processamento relativos às prestações mensais.
É bonito! Assim, também eu reestruturava…

2018.02.01 – Louro de Carvalho

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