domingo, 15 de outubro de 2017

Ainda o encerramento do Centenário das Aparições em Fátima

Por ocasião do encerramento do Centenário das Aparições, o Santo Padre, além da referência que lhe fez na audiência geral na Praça de São Pedro, no passado dia 11 de outubro, quis associar-se ao momento celebrativo da Eucaristia do encerramento das celebrações centenárias com uma videomensagem em que apelou: “Nunca deixeis o Rosário”. Falando de viva voz em espanhol aos peregrinos através da predita videomensagem transmitida pelos ecrãs espalhados no Recinto de Oração, Francisco disse abençoando, saudando, recordando e incentivando:
Queridos Irmãos, neste dia em que celebrais o encerramento do Centenário das Aparições da Santíssima Virgem em Fátima, quero enviar-vos a minha bênção e a minha saudação.
Trago ainda no meu coração a memória da viagem e as bênçãos que a Virgem me quis dar e dar à Igreja nesse dia. Nunca tenhais medo, Deus é muito melhor do que todas as nossas misérias; e gosta muito de nós.
Ide em frente. E nunca vos afasteis da Mãe. Como uma criança que está junto a sua mãe e se sente segura, assim também nós ao lado da Virgem nos sentimos muito seguros. Ela é a nossa garantia.
E, finalmente, quero-vos dar um conselho: Nunca deixeis o Rosário; nunca deixeis o Rosário, rezai o Rosário, como Ela o pediu. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. E rezem também por mim. Obrigado”.
O Bispo de Leiria-Fátima explicou que a mensagem papal fora gravada numa audiência privada concedida a responsáveis da diocese, a 30 de setembro, no Vaticano. E acrescentou:
Hoje, estamos aqui a viver um momento histórico e único, para Fátima, para a Igreja, para Portugal e para todos os peregrinos de Fátima, o encerramento solene do Centenário das Aparições”.
O prelado deixou uma palavra de saudação aos peregrinos, que são os genuínos responsáveis por manter a atualidade da mensagem de Fátima: “Fátima é sempre nova, não envelhece”.
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Por seu turno, o Presidente da República destacou Fátima como “lugar de projeção de Portugal” no mundo, elogiando a mensagem de paz e solidariedade que aqui tem sido transmitida. Com efeito, no início da sessão solene de encerramento do Centenário das Aparições, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, formulou o seguinte voto:
Que a mensagem de Fátima, a mensagem da paz, a mensagem da fraternidade, a mensagem da solidariedade, a mensagem da humanidade, a mensagem do amor em todas as suas dimensões possa inspirar-nos a todos, possa inspirar a sociedade portuguesa, possa inspirar a humanidade, no presente e no futuro”.
E o Chefe de Estado declarou:
É uma mensagem que, mesmo quando virada para o Alto, olha para cada um dos seres humanos e apela à paz, à fraternidade, à solidariedade, à atenção relativamente aos que mais sofrem, aos que mais necessitam, àqueles que tantas vezes se encontram nas periferias de que tantos outros tão depressa se esquecem”.
Marcelo Rebelo de Sousa, que estivera em Fátima por diversas ocasiões, designadamente em maio, aquando da visita do Papa, evocou Fátima como espaço de “projeção de Portugal no mundo e do mundo em Portugal”, recordando os milhões de emigrantes portugueses e o “mundo que chega” a Portugal e em Fátima “se encontra”. E observou:
É em nome de Portugal, de todo o Portugal, de todos os portugueses, de todos os crentes e não crentes, católicos, cristãos e não cristãos, de todos eles, que aqui está o Presidente da República, cumprindo uma missão nacional”.
Querendo sublinhar, “a duplo título”, o significado da sua presença enquanto Chefe de Estado e evidenciando o Centenário “devidamente celebrado”, frisou:
Um Centenário que assinala a presença de Fátima na história contemporânea de Portugal, ou mais genericamente na História de Portugal, pelo encontro ao longo de 100 anos de milhões de portuguesas e de portugueses, que aqui vêm agradecer pelas suas alegrias, chorar as suas dores, formular os seus pedidos, testemunhar a sua fraternidade”.
O Presidente sublinhou que Fátima foi “ponto de chegada” de sucessivos Papas, aludindo às visitas de Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI e Francisco “em momentos diversos da história de Portugal”, e acentuando a mensagem de paz que o Pontífice atual deixou, no dia 13, aos peregrinos na mensagem partilhada no final da eucaristia que encerrou a última grande Peregrinação Internacional do ano do Centenário.
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Já Dom António Marto, insistindo na ideia de que o Centenário permitiu viver um momento “histórico e único para Fátima, para a Igreja e para Portugal”, disse, naquela sessão, que a “incontável multidão” de peregrinos que, ao longo do ano, ali acorreu é “grata expressão de que o Santuário continua a ser lugar congregador das sedes e esperanças da humanidade”. Fátima é, segundo o prelado, um espaço de acolhimento incondicional de todos os homens e um oásis espiritual “onde as pessoas encontram a frescura capaz de regenerar a alma e a fé”. E frisou:
Ao longo de um século, Fátima confirma que a história definitiva, essa que tem horizontes largos e não se prende com nada de menor, se reza com a simplicidade dos humildes que estão dispostos a oferecer-se para bem dos demais”.
O Bispo fatimita falou ainda dos povos que “encontraram em Fátima o símbolo de esperança que alimentou a sua resiliência”, no último século. E acrescentou que este Centenário “toca as profundezas da humanidade, a verdade nua do mistério do homem”, pois, como sublinhou:
São muitos os caminhos que vêm dar a este lugar que guarda a memória da presença de Deus: os peregrinos chegam de todos os cantos do mundo e de todos os cantos da profundidade humana”.
A sessão solene da tarde do dia 13 encerrou um ciclo celebrativo de 7 anos, em resposta ao “repto” lançado a 13 de maio de 2010, na Cova da Iria, pelo Papa Bento XVI:
Possam os sete anos que nos separam do centenário das aparições apressar o anunciado triunfo do Coração Imaculado de Maria para glória da Santíssima Trindade”.
A este respeito, o Bispo de Leiria-Fátima falou num “itinerário de festa” para públicos variados, e num momento de ação de graças pelo facto de Fátima “se ter espalhado pelo mundo inteiro deixando um rasto de luz e de esperança”.
A sessão solene de encerramento das celebrações do Centenário, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, prosseguiu com o concerto da Orquestra e Coro Gulbenkian, dirigidos por Joana Carneiro. A primeira parte do programa integrou a estreia absoluta das obras ‘Salve Regina’ e ‘The Sun Danced’, de Eurico Carrapatoso e James MacMillan, respetivamente.
Além dos 400 convidados, puderam assistir ao concerto, através de ecrãs exteriores, os milhares de peregrinos que se encontravam em Fátima, nomeadamente nas colunatas do Recinto.
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Das celebrações do encerramento do Centenário das Aparições no estrangeiro, destaca-se a que decorreu em Paris sob a presidência do cardeal-patriarca de Lisboa, Dom Manuel Clemente, que tem estado em Paris até hoje, domingo dia 15, para esse efeito, e que sublinhou a importância da existência de um santuário português mariano na capital francesa. O cardeal-patriarca presidiu, no dia 12 à noite, a partir das 21 horas, à peregrinação no Santuário de Nossa Senhora de Fátima-Maria Medianeira em Paris XIXème, que celebra a “aparição” de 13 de outubro de 1917 – incluindo a recitação do terço, missa e procissão de velas. E hoje, dia 15, celebrou a missa, com a ministração do Sacramento da Confirmação, no mesmo Santuário de Nossa Senhora de Fátima-Maria Medianeira.
Em conferência de imprensa, o também Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa disse que “tinha de vir alguém de Portugal” celebrar o centenário e sublinhou que o Santuário Nossa Senhora de Fátima de Paris “tem um impacto muito grande, não só na cidade, mas além da cidade” e “não só na comunidade portuguesa, mas além dela”. E especificou:
É importante haver um santuário português aqui em Paris e é importante haver um santuário de Fátima em Paris. As coisas ligam-se muito bem não só pelo que Fátima é em Portugal, mas porque os portugueses que aqui se reúnem transportam aquilo que é tão próprio e identificativo do católico português que é esta expressão mariana”.
Para o cardeal Fátima acaba por ser e começa por ser um marco da identidade portuguesa, sendo hoje “um altar do mundo” porque “quem vai hoje a Fátima encontra ali o mundo todo”.
Na predita conferência de imprensa, Dom Manuel Clemente abordou vários assuntos da atualidade que a Igreja Católica acompanha, nomeadamente, o fluxo migratório para a Europa, lembrando que, quando se chegar “à metade deste século, a maioria da população da Europa não será autóctone”, algo que vê como positivo e com esperança. E referiu:
É positivo porque isto também pode tornar o nosso continente europeu num balão de ensaio de uma verdadeira globalização que parta daí, do encontro de pessoas, de povos, de culturas, de civilizações e que crie um mundo mais solidário. Essa é a nossa esperança”.
O cardeal-patriarca advertiu que “os movimentos radicais chamados jihadistas são um prejuízo” tanto para cristãos como para os muçulmanos, lembrando:
Os movimentos radicais que surgiram no campo islâmico têm muitas vezes como alvo os próprios muçulmanos que eles acham que não são suficientemente religiosos e que são os primeiros a sofrer”.
Considerando as contradições a que a corrupção do dado religioso dá lugar, disse:
Esta corrupção do religioso, transformada num aspeto que vai acirrar as diferenças étnicas, culturais, etc., em contradição com o outro, isto pode acontecer com todos. Eu julgo que dentro do próprio Islão há muita gente e há gente que sente esta problemática tal e qual como eu estou aqui a expressá-la e outros que são apanhados por conflitos interiores e exteriores que fazem da religião um pretexto para a violência. Mas isso é a contradição da religião.”.
Interpelado sobre a sua preocupação com a ameaça nuclear face à escalada de tensão entre os EUA e a Coreia do Norte, Dom Manuel Clemente disse “como ser humano” que “ao menos valha uma coisa: o instinto de sobrevivência”. E avisou:
Quando as coisas se podem tornar assim tão graves e até calamitosas com um potencial de destruição de que a humanidade nunca dispôs, mas de que hoje, infelizmente, alguns – muito poucos – dispõem em prejuízo de todos, ao menos que o instinto de sobrevivência faça pensar duas vezes e faça parar à beira do abismo porque isso poderá ser um caminho sem retorno”.
Na sua deslocação, de especial relevância para a comunidade portuguesa emigrante, o cardeal visitou também a delegação em França da Fundação Calouste Gulbenkian e o Consulado-Geral de Paris, onde teve um encontro sobre a emigração portuguesa.
A jornada do cardeal patriarca de 12 a 15 de outubro contou com a presença do Cônsul de Portugal em Paris, do capelão nacional dos Portugueses, do secretário-geral do Conselho das Conferências Episcopais da Europa e de representantes de algumas comunidades católicas e de associações portuguesas, entre outros.
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No rescaldo do encerramento das celebrações centenárias e para a vivência do Dia do Senhor, a Missa dominical no Recinto de Oração do Santuário de Fátima contou com a participação de 46 grupos provenientes de 16 países.

Na homilia que proferiu para a animação e consolidação da fé dos peregrinos, o reitor do Santuário, o Padre Carlos Cabecinhas, desafiou esta manhã os participantes na celebração eucarística a responderem “generosa e prontamente” aos sucessivos convites de Deus, imitando os pastorinhos “numa entrega ao seu amor sem condicionalismos”.
Partindo da perícopa do Evangelho – que narra a parábola do banquete nupcial aplicada ao Reino de Deus (Mt 22,1-14) – que, neste domingo, o 28.º do Tempo Comum no Ano A, é proclamado nas igrejas de todo o mundo, o Padre Cabecinhas, que presidiu à missa dominical no Recinto de Oração, frisou que o essencial do texto evangélico não é apenas o convite que Deus nos faz a todos sempre de forma amorosa e gratuita (a iniciativa é sempre de Deus), mas a qualidade da nossa resposta. E, nesse capítulo, a Mensagem de Fátima “é um desafio” porque nos apresenta “um modelo de entrega” protagonizado pelos pastorinhos.
Perante os milhares de peregrinos, o reitor alertou para dois perigos de uma vida cristã rotineira: a indiferença e a indignidade.
Sobre a indiferença, que alguns consideram como um lodaçal a eclipsar a vida da fé, disse:
A indiferença é a primeira forma de recusa ao convite de Deus. É a atitude de quem está demasiado ocupado consigo mesmo e centrado nos seus projetos;  demasiado centrado em si para prestar atenção a Deus e aos seus apelos e isto pode acontecer a cada um de nós.”.
Sobre a outra forma de negação – a  indignidade de quem aceita o convite de Deus, adere às suas propostas, recebe o batismo, mas tem uma vida diferente da proposta por Jesus, advertiu:
A parábola representa esta advertência: não basta entrarmos na sala do banquete, dizer que somos cristãos e batizados. É preciso um estilo de vida próximo de Jesus.”.
Lembrou o Padre Cabecinhas que a veste nupcial que somos convidados a vestir (e que é o próprio Deus que nos dá), da qual fala o evangelho, “é a de uma vida vivida, em sintonia com a palavra de Deus” – “é a nossa vida, os nossos valores, atitudes e comportamentos que mostram como aderimos ao convite de Deus”.
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No final da celebração, o Reitor do Santuário procedeu à bênção duma imagem de Nossa Senhora de Fátima, idêntica à da Capelinha das Aparições, com 70 cm de altura, oferecida pelo Santuário de Fátima ao velejador solitário Gonçalo Diniz e que será levada até ao Brasil numa viagem que demorará mais de um mês, com a qual o solitário navegador pretende assinalar, simultaneamente, os 100 anos das Aparições de Fátima e os 300 anos da Senhora da Aparecida. 
A partir de Fátima Ricardo Diniz cumprirá o primeiro de 6 dias a pé até Peniche, numa peregrinação pessoal de mais de 80 quilómetros que, no final do mês, o levará daquela localidade piscatória do distrito de Leiria até São Salvador da Baía, um percurso de cerca de 6.600 quilómetros, a solo, num veleiro com 20 metros, coberto de flores frescas. 
Ao aportar a São Salvador da Baía, o navegador solitário entregará a imagem de Nossa Senhora às autoridades eclesiásticas locais. 
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É assim. O Centenário marcará o início de uma nova etapa fatimita, repleta de iniciativas, de espiritualidade, de comunhão com outros santuários e com outras comunidades, acentuando o sentido e o dinamismo da peregrinação e a força da evangelização. Espera-se outrossim que o Santuário de Fátima satisfaça todas as exigências compaginadas na Carta Apostólica em forma de “Motu Proprio” Sanctuarium in Ecclesia do Sumo Pontífice Francisco, com a qual transferiu para o Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização as competências  sobre os Santuários, designadamente: o seu papel evangelizador e de incentivo à religiosidade popular; a promoção da pastoral orgânica do Santuário como centro propulsor da nova evangelização; a promoção de encontros nacionais e internacionais em prol da obra comum de renovação da pastoral da piedade popular e da peregrinação rumo a lugares de devoção; a promoção da formação específica dos agentes dos Santuários e dos lugares de piedade e devoção; a oferta aos peregrinos, nos lugares de passagem, de assistência espiritual e eclesial concreta que permita o maior fruto pessoal destas experiências; e a valorização cultural e artística do Santuário segundo a via pulchritudinis como modalidade de evangelização.

2017.10.15 – Louro de Carvalho

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