Depois
da consternação coletiva pela morte súbita de Dom António Francisco dos Santos,
Bispo do Porto, a seguir à grande jornada eclesial da peregrinação diocesana a
Fátima, que o deixou visivelmente feliz, dos diversíssimos testemunhos um pouco
de todos os quadrantes, de que se destaca a carta aberta do Arcebispo Primaz e,
sobretudo, da intensa e diversificada mobilização geral em torno das solenes
exéquias e de suas réplicas por toda a diocese e por outras comunidades que
tinham alguma relação com o prelado, a cidade e a diocese quiseram marcar o
30.º dia do seu passamento definitivo para Deus. E fizeram-no de várias formas:
a criação do ‘Prémio Dom António
Francisco dos Santos’; a celebração da missa do 30.º dia, sob a égide da
Virgem Maria,
Mãe da Santa Esperança, a que presidiu o Bispo Auxiliar Dom Pio Alves; uma
edição especial do semanário diocesano “Voz
Portucalense”; e a entrevista do Administrador Diocesano Dom António Maria
Bessa Taipa.
O ‘Prémio Dom António Francisco dos Santos’
O
‘Prémio Dom António Francisco dos Santos’ atribui anualmente 75 mil euros “a
pessoas ou consórcios de pessoas” – do país ou do estrangeiro – que possam
distinguir-se nas áreas adiante elencadas. É iniciativa da Irmandade da Torre
dos Clérigos, da Santa Casa da Misericórdia do Porto e da Associação Comercial
do Porto, que o apresentaram no próprio dia 11 de outubro.
Em
conferência de imprensa no Palácio da Bolsa, convocada para o efeito, o
Administrador Diocesano do Porto destacou a “justiça” do projeto, constituindo “uma
maneira particularmente interessante de homenagear a memória de Dom António
Francisco dos Santos”, recentemente falecido, e de “perpetuar os grandes
valores pelos quais ele se bateu”. E realçou:
“Antes de tudo, foi um homem muito grande, que serviu de base a um grande
padre e a um grande bispo”.
Da
parte dos promotores do novo galardão, o Padre Américo Aguiar, presidente da Irmandade
da Torre dos Clérigos, expressou o desejo de que o prémio “possa agregar outras
instituições da cidade” e servir “de incentivo a que outros e outras possam ser
arautos”, no plano nacional e internacional, de temas “tão necessários e
urgentes” como “o diálogo para a paz, os direitos humanos, a dignidade da
pessoa humana e o diálogo inter-religioso e ecuménico”. Trata-se, segundo os
responsáveis das três instituições, de áreas centrais na ação do Bispo que
estava em missão na Diocese do Porto desde 2014, depois de 8 anos ao serviço da
Diocese de Aveiro.
Nas
palavras de Nuno Botelho, presidente da Associação Comercial do Porto, a
criação do prémio “vinha sendo discutida e trabalhada há meses” e, através
desta iniciativa, “homenagear desta forma Dom António Francisco dos Santos é
algo devido e justo”. Com efeito, a morte do seu Bispo, no dia 11 de setembro aos
69 anos, deixou o Porto “mais pobre”. Todavia, “a cidade não se esqueceu dele
nem do seu legado, nem da forma franca, amiga e leal com que se relacionava com
todos”.
Para
António Tavares, provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, “numa época
onde se fala muitas vezes em crise de valores”, a vida e a personalidade de Dom
António Francisco dos Santos “pode e deve perdurar na comunidade e na memória
coletiva do Porto”. E referiu que a intenção deste prémio – o de maior valor
pecuniário em Portugal – é que o exemplo de Dom António Francisco dos Santos,
do seu “trabalho” e da sua “personalidade”, possa “frutificar nas comunidades”
e “servir de motor e alavanca para outros projetos” no Porto e noutros lugares.
Além
disso, o Padre Américo Aguiar explicou que o galardão tem como símbolo uma cruz
de que o Bispo “gostava particularmente”: a representação de uma cruz que
“tinha sido oferecida” ao bispo quando ainda estava na Diocese de Aveiro, um
presente no contexto da “missão jubilar” que decorreu naquele território. E, a
partir de agora, como frisou o presidente da Irmandade da Torre dos Clérigos,
“será o símbolo maior deste prémio, sem que isso signifique que vamos eliminar
pessoas ou candidatos que não confessem a fé cristã católica”.
Está
agendada a primeira cerimónia de entrega do Prémio para o dia 11 de setembro do
próximo ano. Segundo o provedor da Santa Casada Misericórdia, o regulamento
estará disponível em breve nas páginas das três instituições promotoras. Porém,
adiantou que as candidaturas poderão ser apresentadas entre 1 de março e 30 de
junho, de forma individual ou coletiva.
Missa da Virgem Maria,
Mãe da Santa Esperança
A razão de ser da
escolha desta Missa de Nossa Senhora para o 30.º dia da morte de Dom António
Francisco foi justificada pelo presidente da celebração na Sé Catedral, Dom Pio
Alves, Bispo Auxiliar, na breve, mas justa homilia que proferiu a propósito.
Esta
efeméride de saudade e de ação de graças liturgicamente coincide com a memória
litúrgica de São João XXIII (ao tempo, era a festa da Maternidade de Maria, ora celebrada
a 1 de janeiro como solenidade) e, na cidade do Porto, com a solenidade de Nossa Senhora de
Vandoma. E pressupõe o prelado que “falando humanamente (muito humanamente!), o
Senhor Dom António estará feliz com esta dupla coincidência”, porque, nos
tempos “de jovem estudante de Teologia conviveu com o ar fresco que trouxe à
Igreja o Bom Papa João”, pelo que “sintonizou com a sua espontânea bondade e
gastou a sua vida – seminarista, sacerdote, bispo – percorrendo os caminhos
abertos pelo Concílio Vaticano II”. Evocando a devoção à Virgem da parte do
Bispo falecido, explicitou:
“A Virgem Maria – de Vandoma, da Assunção, dos Remédios, de Fátima –
alimentou o seu mundo de afetos. Porque é Mãe de Jesus Cristo: Mãe de Deus.
Porque é a outra Mãe que amplia, de modo inefável, os laços que o prendiam, de
modo singular, à mãe que o deu à luz. As conhecidas circunstâncias familiares e
pessoais potenciaram esta espécie de sobreposição maternal.”.
Acentuando
que o prelado portuense escutara, de modo especial, em Fátima, no passado dia
13 de maio, o brado do Santo Padre, “Temos
Mãe! Temos Mãe!”, exclamou em jeito apostrófico e prosopopaico,
justificando a oportunidade da escolha deste formulário de missa:
“Sim, Senhor Dom António, agora sabe, com a certeza da visão e do amor,
que temos Mãe. Nós, por cá, continuamos a caminhar à luz da fé e movidos pela
esperança. Escolhemos, por isso, para a celebração do seu trigésimo dia, a
Missa da ‘Virgem Maria, Mãe da Santa Esperança’.”.
***
Mais
um gosto que Dom António teria de certeza era saber que a parte central da homilia
da missa de 30.º dia por si é uma pérola teológica e espiritual dedicada à Mãe
de Deus e dos homens sob o signo da Sabedoria. De facto, o presidente-celebrante
fez ressoar na Sé a Bíblia:
“O texto do Livro de Ben Sirá (24,14-16.24-31), da 1.ª leitura, procurou
as palavras mais belas e as comparações mais reconfortantes para falar da
Sabedoria: que não deixará ‘de existir por toda a eternidade’; e os que a ‘tornarem
conhecida terão a vida eterna’. Não é ousadia desmedida que a Liturgia da
Igreja tenha transposto este texto para o apropriar a Nossa Senhora. Com as
inevitáveis limitações de toda a linguagem humana, Maria, pela sua irrepetível
fidelidade aos desígnios de Deus, abre-nos as portas da esperança: no fim de um
caminho para uma eternidade feliz”.
E,
se o primeiro texto, do Antigo Testamento, é interpretado acomodaticiamente
para aplicação à Senhora Mãe de Jesus e dos homens, quase como a Deus e ao seu
Cristo, a perícopa do Evangelho de João (Jo 2,1-11), o episódio das Bodas de Caná mereceu uma
interpretação exegética e espiritual no seu melhor:
“De um modo discreto, sem palavras a mais, resume a dimensão missionária
e materna da sua condição de discípula: ‘Fazei tudo o que Ele vos disser’. E
fizeram.”.
Depois,
frisou, um pouco à maneira do cardeal Ratzinger em Fátima a 13 de outubro de
1996:
“O milagre resulta da convergência: de uma mediação (da Virgem Maria);
de uma dócil, generosa e efetiva obediência (dos serventes); da ação de Deus.
Um milagre que, como é óbvio, tem as marcas de Deus: a sobreabundância, a
qualidade, a surpresa, a felicidade. Os figurantes do relato do milagre abrem
espaço a diversificadas oportunidades de aprendizagem e crescimento.”.
Ousou
lançar um desafio possível, a nossa inscrição no grupo dos serventes:
“Podemos inscrever-nos, por exemplo, no grupo dos serventes. E
aprenderemos: a perguntar menos e a fazer mais; a levar ao limite a nossa
cooperação, enchendo até acima as talhas de pedra; a não nos autoatribuirmos a
condição de senhores dos milagres; a cultivarmos a alegria e a gratidão pelos
resultados visíveis dos dons de Deus nas vidas do próximo mais próximo. E tudo
isto levando à prática a discreta insinuação de Maria: ‘Fazei tudo o que Ele
vos disser’.”.
Depois,
vem a relação do que foi dito a propósito de Maria com o cerne do que o prelado
falecido porfiou em Fátima aquando da relevante peregrinação da diocese
portuense a Fátima no dia 9 de setembro e que Dom Pio Alves entendeu como a
súmula dum testamento espiritual:
“Muito do que há para fazer, e dos seus modos, está condensado nessa
espécie de testamento espiritual transcrito no verso da memória do falecimento
do Senhor Dom António: Igreja do Porto: Vive esta hora, que te
chama, guiada pelas mãos de Maria, a ir ao encontro de Cristo e a partir de
Cristo a anunciar com renovado vigor e acrescido encanto a beleza da fé e a
alegria do Evangelho. Viver em Igreja esta paixão evangelizadora é a nossa
missão. A vossa e a minha missão!”.
E,
sem se distender em perfis biográficos por entender que não era este o momento
nem o lugar, adiantou que “não é difícil descobrir na vida do Senhor Dom
António Francisco muitos dos traços que a celebração de hoje nos sugere”. Por
isso, exclamou ditando o desígnio desta celebração: “Damos graças a Deus pelo
estimulante exemplo de fidelidade que nos deixou” e dirigindo-se ao antístite
homenageado e sufragado, disse:
“Justificadamente, invocamos, para si, Senhor Dom António, e para nós, a
Virgem Maria, Mãe da Santa Esperança”.
***
A edição especial de “Voz Portucalense”
A
par da larga referência ao prelado recém-falecido, na sua edição especial de 11
de outubro, com esta edição, um mês após o
falecimento de Dom António Francisco dos Santos, o jornal “Voz Portucalense” publicou um Suplemento
Especial sobre a “Peregrinação Diocesana a Fátima”, a última grande etapa
do nosso bispo connosco, como se pode ler no site da diocese. Este suplemento tem como título “Movidos pelo Amor
de Deus” e pretende configurar “uma edição especial para um tempo novo” para
ler, refletir e guardar.
O jornal em si dedica ao homenageado o editorial, que refere a
pgs 4:
“Nos dias da véspera, na presença de uma comunidade que o acolheu no
cenário de uma celebração tradicional, ele recordava a sua vocação, o seu
percurso de formação e o seu percurso pastoral como membro do presbiterado de
uma pequena diocese, onde bebeu e inculcou a dinâmica de estar ao lado protetor
da gente simples e humilde, que fortalece o caráter e solidifica o espírito de
construir”.
E, mais
adiante, especifica:
“Foi este homem, bispo da Igreja, que falava de si como criança que
recebe os primeiros apelos de um chamamento, mas que se perfilava, na sua baixa
estatura, com uma estranha grandeza de alma, perante as figuras mais ilustres
da sociedade, em quem criava admiração e que acolhia com a simplicidade de quem
está a seu lado como quem dá e recebe, como quem partilha a vida na simplicidade
do coração, que granjeou a admiração dos que dele podiam aprender exemplarmente
o sentido do exercício simples do poder como um serviço”.
É de mencionar um
trabalho de Rui Saraiva, a pgs 2 e 3, sob o título “Obrigado, Igreja do Porto”,
em que destaca com gratidão quatro aspetos da ação do Bispo: o plano pastoral “Rumo a um sínodo diocesano”, através da proposta
de uma caminhada comum que viesse a culminar num “caminho sinodal aberto a
todos”; a Visita aos doentes, com um
conjunto largo e rico de episódios; a Visita da
Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima, a Senhora de quem o Bispo
dizia: “A Mãe do
Crucificado Ressuscitado entrou no santuário da misericórdia divina, porque participou
intimamente no mistério do seu amor”; e a Peregrinação
Diocesana a Fátima, “a última grande etapa de Dom António
Francisco na diocese do Porto antes de o seu coração o trair interrompendo o percurso iniciado em abril de 2014”. De facto, “com o seu falecimento na segunda-feira, dia 11 de setembro, dois dias depois da peregrinação a Fátima de sábado dia 9,
transformaram-se em objeto de
estudo os momentos, as palavras, as
reflexões e as emoções ali vividas”.
Merece especial destaque a
entrevista do Administrador Diocesano patente nas páginas centrais, de que se
tratará a seguir, e também, a pgs 13 a rubrica “À conversa com…” (Recordando / 2016), uma entrevista de André Rubim
Rangel a Dom António Francisco dos Santos sobre a Visita da Imagem Peregrina em que o Bispo responde a questões
pertinentes.
Uma delas é a da fixação das
pessoas nas imagens e Dom António dizia:
“Nossa Senhora atrai aqueles que têm uma fé esclarecida, bem formada e consciente.
Atrai para nos conduzir a Jesus, não atrai para si. E de Jesus ao Pai. Esta imagem
da misericórdia de que Jesus Cristo é o rosto e o Pai é testemunho e
fundamento. O amor uno e trino da Santíssima Trindade é de um Pai
misericordioso que espelha no seu Filho misericordioso, através da imagem terna
e materna da Mãe de Deus e da Mãe da Igreja. Mas, depois, atrai também todos
aqueles que só as mães atraem. Pela bondade e pela ternura nós precisamos deste
sentido da presença da Mãe de Jesus, que apresentou como mãe de João e mãe de
todos nós, que em Jesus somos seus filhos. Além de que nos ajuda a entender
como é que a Igreja deve ser: uma Igreja de olhar terno, de rosto materno e de
coração que aconchegue, que a todos receba e que vá ao encontro de todos. […].
Assim, por Maria vamos a Jesus e por Ele vamos ao Pai. E é este o trajeto da
Igreja. Por outro lado, também a
misericórdia de Deus – que através
de Cristo nos é oferecida – é-nos
espelhada na imagem da Mãe e ajuda a
Igreja a ser Mãe.”.
Por outro lado, o Bispo, sentindo
que lhe cabe viver em ligação estreita com a comunidade e também a colocar nas
mãos de Maria os pedidos que lhe são feitos, revela o teor dos principais:
“Concretamente, há muitas situações de desemprego; há muitas situações
de provação da doença, muita gente que sofre e há todo um desejo das famílias
viverem a alegria do amor, como fala o Papa, e de conseguirem educar os seus
filhos num futuro melhor, num país onde seja possível viver sem ansiedade, sem
vivermos amedrontados e com receio de não ter trabalho para todos, de não ter
casa para todos, de não ter respeito pela dignidade para todos. Isso é
fundamental.”.
***
A entrevista do Administrador Diocesano Dom António Taipa
Em síntese, o Administrador
Diocesano diz que “Dom António Francisco
era um homem profundamente discreto”, ou seja, “um homem que ninguém viu, mas que toda a gente viu”, porquanto “era um homem que estava com as pessoas, ia
ao encontro delas, sem ninguém ver, sem ninguém saber”.
Recordando
o último contacto com Dom António Francisco pouco antes de ele falecer, faz um
balanço sobre os três anos em que trabalhou com ele e apela à Igreja do Porto
para partir em missão, como tão convictamente ele pediu em Fátima.
Refere
que a última vez que falou com o Bispo foi um quarto de hora, vinte minutos
antes de ele falecer, quando o ora Administrador se deslocava a Fátima, tendo
notado de imediato que ele estava doente. Revela ser muito difícil dizer o que
sentiu, pois, além de ser auxiliar dele e de se conhecerem há muito tempo, eram
“muito amigos” e sintonizavam “muito na visão dos problemas, na visão das
coisas” e conversavam muito um com o outro. E confessa:
“Eu na altura ia para Fátima, ainda ia com todo aquele espetáculo da
peregrinação que tinha sido no sábado anterior… Foi uma coisa que eu entendo
que foi o top da ação dele no Porto, nestes três anos que esteve no Porto. Eu
penso que o senhor Dom António fez tudo, porque também deu tudo. Ele morreu ao
serviço. De maneira que é assim uma dor e um vazio que ninguém imagina. Por
várias razões e porque o senhor Dom António era um homem muito bom.”.
Sobre
o balanço da ação do Bispo, Dom António Taipa diz:
“O balanço está dito na peregrinação em Fátima e está dito aqui no
funeral dele. Em Fátima foi toda aquela multidão que toda a gente viu. E aqui
no funeral, quando nós saímos da Catedral e vimos aquela multidão de cabeças
que ali estavam a encher o Terreiro da Sé…”.
No
dia do funeral, Dom António Taipa interrogava-se:
“Como é possível que este homem junte tanta gente à volta dele? Este
homem, que nunca se pôs em bicos de pés, este homem a respeito de quem a
comunicação social nunca disse nada de especial. Um homem profundamente
discreto, eu diria: um homem que ninguém viu, mas que toda a gente viu. Era um
homem que estava com as pessoas e ali se viu. Ia ao encontro delas, sem ninguém
ver, sem ninguém saber. Eu até brincava com ele, lá com o GPS do automóvel, que
aquilo levava-o à casa de toda a gente que estivesse doente. O GPS dele
levava-o lá. Era um homem que ia visitar um doente ao hospital, uma pessoa
amiga que estava numa enfermaria com dez ou doze pessoas e ele visitava o amigo
e visitava os outros todos! Conversava, ouvia…”.
Como
episódio pessoal
que o tenha marcado, o Administrador Diocesano conta:
“Uma ocasião chegou aqui e disse-me: ‘Fui ao IPO e estive com uma
família da sua terra. Eu vinha embora no elevador com um casal novo, perguntei
se estava alguém doente da família e estava um filhinho doente. Então eu quero
ir ver o filhinho. E foi ver o filhinho e conversou e falou e por aí a fora.’ E
esta gente desta família da família depois falou comigo e disseram-me estar
encantados com a atitude dele. E era isto. O Dom António andava por aí no meio
das pessoas e era por isso que o Dom António depois trabalhava de noite e não
descansava.”.
E
conclui:
“O Dom António chegou à hora de morrer porque chegou ao pleno da sua
vida pastoral. Ele teve a diocese de volta dele em Fátima. Ele não imaginava: e
contava com metade das pessoas. Aquilo emocionou-o profundamente e isso também
teve que ver com o acidente que o levou. Mas, ele fez tudo… fez tudo. Fez tudo,
porque não podia mais e porque não podia mais, morreu. Foi para o Céu.”.
***
Porém,
o
Administrador Diocesano, questionado como assume este serviço, respondeu:
“Nós nunca nos preparamos. Mas assumi com a disponibilidade com que
assumi todas as missões que me confiaram durante a minha vida de padre e de
bispo. […] Agora, neste pouco tempo de administração, entendo muito mais que o
Dom António tenha morrido, entendo muito mais a pressão em que Dom António
viveu. Porque de facto isto é uma coisa muito grande, é uma diocese muito
grande e que tem problemas correspondentes e é preciso uma força psicológica
muito, muito grande. É preciso muita fé, é preciso muita esperança. São dois
milhões e meio… é muita coisa, muita gente e tem os problemas correspondentes.
Mas também tem muita gente a trabalhar e eu vou sentindo agora isso porque vou
vendo o que isso é. E é uma coisa muito simples: é estar a trabalhar e ter o
telefone permanentemente a tocar. E ter a porta permanentemente a ser batida de
alguém que procura. Elegeram-me para isto. Sou eu, foi a mim que elegeram.
Portanto, sou eu que vou responder como eu puder, com as minhas capacidades,
com as minhas habilidades, com as minhas aptidões, com os meus limites porque
eu sou como sou e não vou ser diferente por estar numa missão diferente. E dou
o que tiver de mim conforme as pessoas forem exigindo e a novidade dos tempos
for pedindo.”.
E
a mensagem que
deixa Dom António Taipa aos seus diocesanos é:
“Que todos os diocesanos leiam e respondam com a sua vida à grande palavra
do Dom António, palavra que é breve, mas que é uma síntese espantosa de
comunhão com a Igreja, de comunhão com a orientação dos últimos Papas, desde
João Paulo II, Bento XVI e Papa Francisco sobre a centralidade de Jesus Cristo
na vida e na pastoral. Que as pessoas leiam e tentem responder e não ponham de
lado. Ponham num sítio em que possam permanentemente estar em contacto com
aquele testamento. É uma grande mensagem, é um grande desafio quando ele diz: ‘Igreja do Porto: parte sob a bênção de Maria
ao encontro de Cristo e nele e dele ao anúncio aos homens’. É uma
maravilha, é a grande mensagem. Torná-lo presente na vida, torná-lo presente
nas iniciativas, torná-lo presente neste esforço pastoral da centralidade de
Cristo’.”
***
E,
por mim, acolhendo também o seu testamento pastoral, recordo Dom António
Francisco, o Chiquinho para os amigos, como o grande pregoeiro da gratidão
pessoal e da Igreja a todos os trabalhadores da vinha do Senhor. Para lá de
todas as preocupações e de toda a obra a que pôde pôr mãos – com dificuldades e
êxitos – e para lá de tudo o que a sua voz fez ouvir, este Bispo passou pelo
Porto a assumir-se como um de cada instituição, de cada cidade e de cada paróquia
e família (o nosso grupo, a nossa cidade, o nosso padroeiro…) e sobretudo como a voz da gratidão
aos padres e a todos os colaboradores na “vinha” e a Deus por eles.
2017.10.12 – Louro de Carvalho
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