Simão e Judas fazem parte do grupo dos apóstolos que
acompanharam Jesus durante a sua vida pública. Beda, o Venerável, pelo ano de
735, colocou os dois santos, Simão e Judas, no martirológio a 28 de outubro, o
que se mantém mesmo depois da reforma do calendário litúrgico determinada pelo
Concílio Vaticano II. Assim, ainda hoje os celebramos. Na antiga Basílica de
São Pedro do Vaticano havia uma capela dos dois santos, Simão e Judas, em que
se conservava o Santíssimo Sacramento.
Nicéforo Calisto diz que Simão pregou na África e na
Grã-Bretanha. São Fortunato, Bispo de Poitiers no fim do século VI, assegura
que Simão e Judas foram enterrados na Pérsia. Isto vem das histórias apócrifas dos
apóstolos; segundo elas e como rege o martirológio jeronimita, foram
martirizados por decapitação em Suanir, na Pérsia, a mando de sacerdotes pagãos
que instigaram as autoridades locais e o povo. Outros dizem que Simão foi
sepultado perto do Mar Negro, pelo que, na Caucásia, foi elevada em sua honra
uma igreja entre o século VI e o VIII.
Antiga
tradição diz que Simão se encontrou com o apóstolo Judas Tadeu na Pérsia e,
desde então, viajaram juntos. Percorreram as 12 províncias do Império Persa,
deixando o conhecimento histórico e religioso como foi encontrado num antigo
livro da época chamado “Atos de Simão e
Judas”, de autor desconhecido. Nele consta que, no dia 28 de outubro do ano 70, houve o assassinato dos apóstolos,
devido à preocupação pagã com a eloquência
das pregações, que convertiam multidões inteiras. Era Simão
apresentado com Nosso Senhor e foi crucificado por judeus da diáspora.
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Simão, que figura em undécimo lugar na lista dos
apóstolos, tinha o cognome ou denominativo de “Zelotes” ou de “Cananeu”, assim
chamado por Mateus e Marcos para se distinguir de Simão Pedro. “Cananeu” é uma
palavra hebraica que significa “zeloso”.
Dele sabe-se apenas que nasceu em Caná da Galileia e que tinha as denominações
referidas, supondo-se que pertencera ao grupo religioso dos zelotas, que
rejeitavam em absoluto a dominação romana, não tendo escrúpulos em pegar em
armas contra o Império sob o desígnio da recuperação da soberania nacional. Alguns
estudiosos cristãos, porém, entendem que este designativo de “cananeu” pode ser
uma referência a Canaã, a terra de Israel. Quando Lucas o chama de “o zelote”,
parece querer indicar que Simão pertencera ao partido judeu radical que tinha o
mesmo nome. Sabe-se que Simão, como todos os outros apóstolos dos primeiros
tempos do cristianismo, depois do Pentecostes, percorreu caminhos múltiplos (e alguns
inóspitos) a pregar o Evangelho sem nada
levar consigo. Operou muitos milagres, curou enfermos, leprosos e expulsou
espíritos maus.
Outros
relatos falam da pregação de Simão também no Egito, Líbia e Mauritânia. Segundo
Eusébio, idóneo e célebre historiador, Simão teria sido o sucessor de Tiago,
irmão do Senhor, na cátedra de Jerusalém, nos anos da trágica destruição da
Cidade Santa.
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Judas, de sobrenome Tadeu ou Lebeu (“de coração cheio”), filho Alfeu e irmão de Tiago, é o apóstolo que na
Última Ceia perguntou a Jesus por que razão Se manifestava aos seus discípulos
e não ao mundo (vd Jo 14,22). Apesar de
ser o apostolo mais desconhecido, atribui-se-lhe a última e uma das menos
extensas epístolas ditas católicas (menos extensas que esta só a 2.ª
carta e a 3.ª de João), porque
não dirigidas a uma comunidade específica, mas a destinatários indeterminados.
São Jerónimo interpreta-o como o homem de senso prudente.
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Temos, como já foi referido, uma epístola de Judas
“irmão de Tiago”, que foi classificada como uma das epístolas católicas. Parece
ter em vista convertidos e o combate seitas corrompidas na doutrina e nos
costumes. Começa com estas palavras:
“Judas,
servo de Jesus Cristo, e irmão de Tiago, aos chamados e amados por Deus Pai, e
conservados para Jesus Cristo: misericórdia, paz e amor vos sejam concedidos
abundantemente”.
Orígenes achava esta epístola “cheia de força e de graça do céu”.
Segundo São Jerónimo, Judas terá pregado em Osroene (região de
Edessa), sendo rei Abgar. Terá
evangelizado a Mesopotâmia, segundo Nicéforo Calisto. São Paulino de Nola
tinha-o como apóstolo da Líbia. Conta-se que Nosso Senhor, em revelações
particulares, teria declarado que atenderá os pedidos daqueles que, nas suas
maiores aflições, recorrerem a São Judas Tadeu. Santa Brígida refere que Jesus
lhe disse que recorresse a este apóstolo, pois ele lhe valeria nas suas
necessidades. Tantos e tão extraordinários são os favores que São Judas Tadeu
concede aos seus devotos, que se tornou conhecido em todo o mundo com o título
de Patrono dos aflitos e Padroeiro das causas desesperadas. Judas
é representado segurando um machado, uma clava, uma espada ou uma alabarda, por
sua morte ter ocorrido por uma dessas armas.
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Para não se
confundir com o Iscariotes, “apóstolo da perdição” e traidor de Jesus, foi
chamado nos evangelhos de Judas Tadeu. O nome “Judas” vem de “Judá” e significa
“festejado”, enquanto “Tadeu” significa coração cheio, peito aberto, destemido
ou, ainda, magnânimo.
Era, como se
disse, natural de Caná da Galileia, na Palestina, filho de Alfeu, também
chamado Cléofas, e de Maria Cléofas, ambos parentes de Jesus. O pai era irmão
de são José; a mãe, prima-irmã de Maria Santíssima. Portanto, Judas era
primo-irmão de Jesus e irmão de Tiago, chamado o Menor, também discípulo de
Jesus. Os escritos cristãos epocais revelam mesmo esse parentesco, uma vez que
Judas Tadeu seria, segundo alguns, um dos noivos do episódio que relata as bodas de Caná,
pelo que Jesus, Maria e os
apóstolos estariam lá.
Na Bíblia,
ele é citado pouco, mas de maneira importante. Assim, no evangelho de Mateus,
vemos que Judas Tadeu foi escolhido por Jesus. Enquanto na escrita de João ele
é narrado mais claramente. Na última Ceia, Judas Tadeu perguntou a Jesus: “Mestre, por
que razão deves manifestar-te a nós e não ao mundo?”. Jesus
respondeu-lhe que a verdadeira
manifestação de Deus está reservada para aqueles que o amam e guardam a sua
palavra.
Também faz
parte do Novo Testamento a pequena Carta de Judas, a qual traz os fundamentos
para perseverar no amor de Jesus e adverte contra os falsos mestres.
Após ter
recebido o dom do Espírito Santo, Judas Tadeu iniciou sua pregação na Galileia.
Realizou inúmeros milagres na sua caminhada pelo Evangelho. Depois, foi para a
Samaria e, próximo do ano 50, tomou parte no primeiro Concílio, em Jerusalém.
Em seguida, continuou a evangelizar na Mesopotâmia, Síria, Arménia e Pérsia,
onde encontrou Simão, passando a viajar juntos. A tradição conta que São Judas
Tadeu percorreu as doze províncias do Império Persa, nas quais pregou a Boa
Nova do Evangelho e converteu muitos pagãos. Ao certo, o que sabemos é que o
apóstolo Judas Tadeu se tornou
um mártir da fé, isto é, morreu por amor a Jesus Cristo. A sua
pregação e o seu testemunho eram tão intensos que os pagãos se convertiam. Os
sacerdotes pagãos, furiosos, mandaram assassinar o apóstolo, a golpes de
bastões, lanças e machados. Tudo teria acontecido no dia 28 de outubro de 70. Os
seus restos mortais, guardados primeiro no Oriente Médio e depois na França,
agora são venerados em Roma, na Basílica de São Pedro.
Considerado
pelos cristãos o santo
intercessor das causas impossíveis, foi a partir da devoção de santa Gertrudes que essa fama ganhou força no
mundo católico. Ela, em sua biografia, relatou que Jesus lhe
aconselhou invocar São Judas
Tadeu até nos “casos mais desesperados”.
Depois
disso, aumentou o número de devotos do seu poder de resolver as causas que
parecem sem solução. Conta a tradição que não se encontra um devoto que tenha
pedido sua ajuda e não tenha sido atendido.
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Sobre a
Carta de Judas, de um só capítulo com 25 versículos, a Bíblia dos Capuchinhos
refere que o autor se apresenta como “irmão de Tiago” (v. 1), e, por isso, também “irmão do Senhor” (vd Mt 13,55
par.). Todavia, hoje parece ter mais
peso a opinião de que este “irmão do Senhor” será distinto do Apóstolo Judas
Tadeu (Mc 3,18). Na verdade, os “irmãos do Senhor” não pertenceriam
ao grupo dos Doze, pois distanciaram-se de Jesus, não crendo nele durante a sua
vida terrena (vd Jo 7,5). E o autor
faz supor que não se situa entre os Apóstolos (v.17): Lembrai-vos das coisas preditas
pelos apóstolos de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Quanto ao
lugar e data da sua escrita, não se pode ir além de conjecturas. Embora não se
refira à parusia, são grandes as semelhanças com a 2.ª de Pedro (compare-se 2
Pe 2,1-18; 3,1-3 e Jd 4-19), sendo que
a 2.ª de Pedro parece depender da Carta de Judas, em virtude do maior e mais
ordenado desenvolvimento dos temas naquela. Por isso, terá sido escrita antes
de 2 Pe ou nos fins da vida de Pedro, ou ainda, como pensam alguns, depois da
sua morte, por volta do ano 80.
A pequena
extensão da Carta e a sua menor relevância doutrinal justificam ter sido menos
citada na antiguidade e ter havido dúvidas acerca da sua canonicidade, apesar
de já aparecer citada em Tertuliano e no Cânon de Muratori.
A Carta não
menciona os destinatários, mas supõe-se que seriam cristãos residentes fora da
Palestina, que correriam o perigo da sedução por vícios típicos do paganismo.
Entre esses destinatários haveria judeo-cristãos da diáspora; de outra maneira,
não fariam sentido as múltiplas e variadas alusões ao AT e literatura apócrifa
judaica, como o I Livro de Henoc, o 7.º descendente de dão, citado nos v.14-15,
e a Assunção de Moisés, pretensamente referida no v.9.
A linguagem
rica e cuidada, a que se alia grande vivacidade de estilo torna este escrito “uma
duríssima invectiva contra os hereges e uma vibrante exortação aos cristãos a
permanecerem firmes na fé e no amor de Deus, segundo o ensino dos Apóstolos”. A
maior parte desta pequena carta atinge os falsos mestres, que se tinham
infiltrado nas comunidades. E, nesta polémica, tem especial interesse a
influência da literatura apocalíptica judaica, de que se cita expressamente o
Livro de Henoc (v.4.6.14) e a
Assunção de Moisés (v.9).
Citam-se, a
título de exemplo, as recomendações dos vv 20-23:
“Vós, caríssimos,
edificando-vos a vós mesmos sobre a vossa santíssima fé e orando no Espírito
Santo, conservai-vos a vós mesmos no amor de Deus, esperando a
misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna. E tratai com
misericórdia os que vacilam, usando de discernimento: salvando alguns com temor, arrebatando-os do fogo e
outros tratando-os com misericórdia, mas com cautela, odiando até a túnica
manchada da carne.”.
E
termina com uma poderosa doxologia:
“Ora, àquele
que é poderoso para vos guardar de tropeçar e apresentar-vos irrepreensíveis,
com alegria, ante a sua glória, ao único Deus sábio, Salvador nosso, a glória e
majestade, domínio e poder, agora, e para todo o sempre. Ámen.” (Jd vv 24-25).
2017.10.28 – Louro de Carvalho
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