sábado, 28 de outubro de 2017

São Simão e São Judas Tadeu, colunas e fundamento da verdade do Reino

Simão e Judas fazem parte do grupo dos apóstolos que acompanharam Jesus durante a sua vida pública. Beda, o Venerável, pelo ano de 735, colocou os dois santos, Simão e Judas, no martirológio a 28 de outubro, o que se mantém mesmo depois da reforma do calendário litúrgico determinada pelo Concílio Vaticano II. Assim, ainda hoje os celebramos. Na antiga Basílica de São Pedro do Vaticano havia uma capela dos dois santos, Simão e Judas, em que se conservava o Santíssimo Sacramento.
Nicéforo Calisto diz que Simão pregou na África e na Grã-Bretanha. São Fortunato, Bispo de Poitiers no fim do século VI, assegura que Simão e Judas foram enterrados na Pérsia. Isto vem das histórias apócrifas dos apóstolos; segundo elas e como rege o martirológio jeronimita, foram martirizados por decapitação em Suanir, na Pérsia, a mando de sacerdotes pagãos que instigaram as autoridades locais e o povo. Outros dizem que Simão foi sepultado perto do Mar Negro, pelo que, na Caucásia, foi elevada em sua honra uma igreja entre o século VI e o VIII.
Antiga tradição diz que Simão se encontrou com o apóstolo Judas Tadeu na Pérsia e, desde então, viajaram juntos. Percorreram as 12 províncias do Império Persa, deixando o conhecimento histórico e religioso como foi encontrado num antigo livro da época chamado “Atos de Simão e Judas”, de autor desconhecido. Nele consta que, no dia 28 de outubro do ano 70houve o assassinato dos apóstolos, devido à preocupação pagã com a eloquência das pregações, que convertiam multidões inteiras. Era Simão apresentado com Nosso Senhor e foi crucificado por judeus da diáspora.
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Simão, que figura em undécimo lugar na lista dos apóstolos, tinha o cognome ou denominativo de “Zelotes” ou de “Cananeu”, assim chamado por Mateus e Marcos para se distinguir de Simão Pedro. “Cananeu” é uma palavra hebraica que significa “zeloso”. Dele sabe-se apenas que nasceu em Caná da Galileia e que tinha as denominações referidas, supondo-se que pertencera ao grupo religioso dos zelotas, que rejeitavam em absoluto a dominação romana, não tendo escrúpulos em pegar em armas contra o Império sob o desígnio da recuperação da soberania nacional. Alguns estudiosos cristãos, porém, entendem que este designativo de “cananeu” pode ser uma referência a Canaã, a terra de Israel. Quando Lucas o chama de “o zelote”, parece querer indicar que Simão pertencera ao partido judeu radical que tinha o mesmo nome. Sabe-se que Simão, como todos os outros apóstolos dos primeiros tempos do cristianismo, depois do Pentecostes, percorreu caminhos múltiplos (e alguns inóspitos) a pregar o Evangelho sem nada levar consigo. Operou muitos milagres, curou enfermos, leprosos e expulsou espíritos maus.
Outros relatos falam da pregação de Simão também no Egito, Líbia e Mauritânia. Segundo Eusébio, idóneo e célebre historiador, Simão teria sido o sucessor de Tiago, irmão do Senhor, na cátedra de Jerusalém, nos anos da trágica destruição da Cidade Santa.
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Judas, de sobrenome Tadeu ou Lebeu (de coração cheio), filho Alfeu e irmão de Tiago, é o apóstolo que na Última Ceia perguntou a Jesus por que razão Se manifestava aos seus discípulos e não ao mundo (vd Jo 14,22). Apesar de ser o apostolo mais desconhecido, atribui-se-lhe a última e uma das menos extensas epístolas ditas católicas (menos extensas que esta só a 2.ª carta e a 3.ª de João), porque não dirigidas a uma comunidade específica, mas a destinatários indeterminados. São Jerónimo interpreta-o como o homem de senso prudente.
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Temos, como já foi referido, uma epístola de Judas “irmão de Tiago”, que foi classificada como uma das epístolas católicas. Parece ter em vista convertidos e o combate seitas corrompidas na doutrina e nos costumes. Começa com estas palavras: 
Judas, servo de Jesus Cristo, e irmão de Tiago, aos chamados e amados por Deus Pai, e conservados para Jesus Cristo: misericórdia, paz e amor vos sejam concedidos abundantemente”. 
Orígenes achava esta epístola “cheia de força e de graça do céu”.
Segundo São Jerónimo, Judas terá pregado em Osroene (região de Edessa), sendo rei Abgar. Terá evangelizado a Mesopotâmia, segundo Nicéforo Calisto. São Paulino de Nola tinha-o como apóstolo da Líbia. Conta-se que Nosso Senhor, em revelações particulares, teria declarado que atenderá os pedidos daqueles que, nas suas maiores aflições, recorrerem a São Judas Tadeu. Santa Brígida refere que Jesus lhe disse que recorresse a este apóstolo, pois ele lhe valeria nas suas necessidades. Tantos e tão extraordinários são os favores que São Judas Tadeu concede aos seus devotos, que se tornou conhecido em todo o mundo com o título de Patrono dos aflitos e Padroeiro das causas desesperadas. Judas é representado segurando um machado, uma clava, uma espada ou uma alabarda, por sua morte ter ocorrido por uma dessas armas.
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Para não se confundir com o Iscariotes, “apóstolo da perdição” e traidor de Jesus, foi chamado nos evangelhos de Judas Tadeu. O nome “Judas” vem de “Judá” e significa “festejado”, enquanto “Tadeu” significa coração cheio, peito aberto, destemido ou, ainda, magnânimo.
Era, como se disse, natural de Caná da Galileia, na Palestina, filho de Alfeu, também chamado Cléofas, e de Maria Cléofas, ambos parentes de Jesus. O pai era irmão de são José; a mãe, prima-irmã de Maria Santíssima. Portanto, Judas era primo-irmão de Jesus e irmão de Tiago, chamado o Menor, também discípulo de Jesus. Os escritos cristãos epocais revelam mesmo esse parentesco, uma vez que Judas Tadeu seria, segundo alguns, um dos noivos do episódio que relata as bodas de Caná, pelo que  Jesus, Maria e os apóstolos estariam lá.
Na Bíblia, ele é citado pouco, mas de maneira importante. Assim, no evangelho de Mateus, vemos que Judas Tadeu foi escolhido por Jesus. Enquanto na escrita de João ele é narrado mais claramente. Na última Ceia, Judas Tadeu perguntou a Jesus: “Mestre, por que razão deves manifestar-te a nós e não ao mundo?”. Jesus respondeu-lhe que a verdadeira manifestação de Deus está reservada para aqueles que o amam e guardam a sua palavra.
Também faz parte do Novo Testamento a pequena Carta de Judas, a qual traz os fundamentos para perseverar no amor de Jesus e adverte contra os falsos mestres.
Após ter recebido o dom do Espírito Santo, Judas Tadeu iniciou sua pregação na Galileia. Realizou inúmeros milagres na sua caminhada pelo Evangelho. Depois, foi para a Samaria e, próximo do ano 50, tomou parte no primeiro Concílio, em Jerusalém. Em seguida, continuou a evangelizar na Mesopotâmia, Síria, Arménia e Pérsia, onde encontrou Simão, passando a viajar juntos. A tradição conta que São Judas Tadeu percorreu as doze províncias do Império Persa, nas quais pregou a Boa Nova do Evangelho e converteu muitos pagãos. Ao certo, o que sabemos é que o apóstolo Judas Tadeu se tornou um mártir da fé, isto é, morreu por amor a Jesus Cristo. A sua pregação e o seu testemunho eram tão intensos que os pagãos se convertiam. Os sacerdotes pagãos, furiosos, mandaram assassinar o apóstolo, a golpes de bastões, lanças e machados. Tudo teria acontecido no dia 28 de outubro de 70. Os seus restos mortais, guardados primeiro no Oriente Médio e depois na França, agora são venerados em Roma, na Basílica de São Pedro.
Considerado pelos cristãos o santo intercessor das causas impossíveis, foi a partir da devoção de santa Gertrudes que essa fama ganhou força no mundo católico. Ela, em sua biografia, relatou que Jesus lhe aconselhou invocar São Judas Tadeu até nos “casos mais desesperados”.
Depois disso, aumentou o número de devotos do seu poder de resolver as causas que parecem sem solução. Conta a tradição que não se encontra um devoto que tenha pedido sua ajuda e não tenha sido atendido.
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Sobre a Carta de Judas, de um só capítulo com 25 versículos, a Bíblia dos Capuchinhos refere que o autor se apresenta como “irmão de Tiago” (v. 1), e, por isso, também “irmão do Senhor” (vd Mt 13,55 par.). Todavia, hoje parece ter mais peso a opinião de que este “irmão do Senhor” será distinto do Apóstolo Judas Tadeu (Mc 3,18). Na verdade, os “irmãos do Senhor” não pertenceriam ao grupo dos Doze, pois distanciaram-se de Jesus, não crendo nele durante a sua vida terrena (vd Jo 7,5). E o autor faz supor que não se situa entre os Apóstolos (v.17): Lembrai-vos das coisas preditas pelos apóstolos de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Quanto ao lugar e data da sua escrita, não se pode ir além de conjecturas. Embora não se refira à parusia, são grandes as semelhanças com a 2.ª de Pedro (compare-se 2 Pe 2,1-18; 3,1-3 e Jd 4-19), sendo que a 2.ª de Pedro parece depender da Carta de Judas, em virtude do maior e mais ordenado desenvolvimento dos temas naquela. Por isso, terá sido escrita antes de 2 Pe ou nos fins da vida de Pedro, ou ainda, como pensam alguns, depois da sua morte, por volta do ano 80.
A pequena extensão da Carta e a sua menor relevância doutrinal justificam ter sido menos citada na antiguidade e ter havido dúvidas acerca da sua canonicidade, apesar de já aparecer citada em Tertuliano e no Cânon de Muratori.
A Carta não menciona os destinatários, mas supõe-se que seriam cristãos residentes fora da Palestina, que correriam o perigo da sedução por vícios típicos do paganismo. Entre esses destinatários haveria judeo-cristãos da diáspora; de outra maneira, não fariam sentido as múltiplas e variadas alusões ao AT e literatura apócrifa judaica, como o I Livro de Henoc, o 7.º descendente de dão, citado nos v.14-15, e a Assunção de Moisés, pretensamente referida no v.9.
A linguagem rica e cuidada, a que se alia grande vivacidade de estilo torna este escrito “uma duríssima invectiva contra os hereges e uma vibrante exortação aos cristãos a permanecerem firmes na fé e no amor de Deus, segundo o ensino dos Apóstolos”. A maior parte desta pequena carta atinge os falsos mestres, que se tinham infiltrado nas comunidades. E, nesta polémica, tem especial interesse a influência da literatura apocalíptica judaica, de que se cita expressamente o Livro de Henoc (v.4.6.14) e a Assunção de Moisés (v.9).
Citam-se, a título de exemplo, as recomendações dos vv 20-23:
Vós, caríssimos, edificando-vos a vós mesmos sobre a vossa santíssima fé e orando no Espírito Santo, conservai-vos a vós mesmos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna. E tratai com misericórdia os que vacilam, usando de discernimento: salvando alguns com temor, arrebatando-os do fogo e outros tratando-os com misericórdia, mas com cautela, odiando até a túnica manchada da carne.”.
E termina com uma poderosa doxologia:
Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, ante a sua glória, ao único Deus sábio, Salvador nosso, a glória e majestade, domínio e poder, agora, e para todo o sempre. Ámen.” (Jd vv 24-25).

2017.10.28 – Louro de Carvalho

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