O Santuário de Fátima,
no âmbito da celebração do Centenário das Aparições de Nossa Senhora a Lúcia e aos
seus primos, Francisco e Jacinta, os dois irmãos que o Papa canonizou em 13 de
maio, promoveu o “Jubileu Jovem. Fátima 2017”, para celebrar o
acontecimento e descobrir na Mensagem de Fátima uma proposta de espiritualidade
para os jovens do século XXI.
Pensava escrever sobre este acontecimento
memorável, de que tomei os devidos apontamentos. Porém, as reflexões sobre a
Peregrinação Diocesana do Porto a Fátima e, sobretudo, o falecimento prematuro
e inesperado do Bispo do Porto eclipsaram esta reflexão, eclipse de que
penalizo e que passo a fazer com intolerável atraso, dada a sua inquestionável
momentosidade.
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O JubJovem 2017 teve como
tema aglutinador “O segredo da paz, o caminho do coração”. Esta
peregrinação juvenil quis oferecer a cada participante a oportunidade de
descobrir algo do segredo de si mesmo que ainda não conhece e que só Deus lhe
pode dizer, para alcançar a paz consigo mesmo e com todos à sua volta, na casa
comum que todos partilhamos. Para chegar aí, há só um caminho, o do coração. Em
Fátima, há 100 anos, a Virgem Maria mostrou o seu coração imaculado e
ofereceu-o como lugar de encontro e de passagem para o coração de Deus, triste
com o sofrimento do homem e o mal no mundo.
O JubJovem 2017 propôs aos jovens uma
experiência eloquente pela palavra e pela ação e intensa pela densidade do
silêncio e da oração, para olhar o coração da Mãe de Jesus e Mãe de cada um de
nós, escutando no próprio coração a interpelação à conversão pessoal que Ele,
por Ela, dirige a todos e a cada um; e também propõe a celebração da gratidão
por tanto bem que Fátima fez e continua a fazer acontecer neste tempo da
história.
O JubJovem 2017 foi a festa para
a qual foram convidados todos os jovens, entre os 16 e os 35 anos, que
aceitaram abrir o seu coração e o seu futuro a novas raízes de alegria e de confiança.
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O ‘Fátima Jovem’, que o DNPJ (Departamento Nacional da Pastoral Juvenil) dinamiza anualmente,
este ano foi, em parceria com o Santuário de Fátima, um Jubileu
dos Jovens do Centenário das Aparições, nos dias 9 e 10 de setembro.
O DNPJ, os Secretariados
Diocesanos da Pastoral Juvenil e o Santuário de Fátima realizaram uma
grande festa dos jovens intitulada o ‘Segredo
da paz, caminho do coração’ no contexto do Centenário das Aparições (1917-2017).
Em razão da presença do Papa
Francisco na Cova da Iria a 12 e 13 de maio e da vontade dos jovens em participarem
nessas celebrações, o ‘Fátima Jovem’
foi adiado do primeiro fim de semana de maio, uma semana antes da visita do
pontífice argentino, para os dias 9 e 10 de setembro. E, assim, o Padre José Nuno Silva, o
responsável pelo Departamento da Pastoral Intergeracional, um novo setor no
Santuário, na respetiva reunião preparatória dos secretariados juvenis,
apresentou a proposta, “não imposta”, de programa para o jubileu. Foi
manifestada disponibilidade para “recolher sugestões” que pudessem “incorporar
e valorizar” o encontro, pois o objetivo era que o “grande acontecimento” fosse
potenciador de dinamismo nos jovens.
Com o tema ‘Segredo da paz, caminho do coração’ este Jubileu
dos Jovens do Centenário das Aparições pretendeu configurar uma peregrinação
internacional à Cova da Iria. Para que o evento se revestisse do “caráter
internacional próprio de Fátima e da Mensagem de Fátima” foram desenvolvidas
iniciativas junto de outros países.
O Padre José Nuno salientou
que o lema do JubJovem 2017 tem “três palavras fortes”, e o itinerário do encontro
desenvolveu-se em torno dessa temática com um programa temático
distribuído por quatros etapas ao longo dos dois dias: “preparar a paz”; “o
coração da paz”; “a paz do coração”; e “viver
a paz”.
O sacerdote fez questão de
afirmar que o “desafio” da intergeracionalidade “é um dos grandes da sociedade”
hoje e a Igreja não pode “correr o risco
de alinhar no movimento mundano de exclusão dos idosos, mas fazer tudo o que
estiver ao alcance para educar no tempo”. Neste âmbito, frisou que é preciso criar
cristãos conscientes da “necessidade de não criar hiatos entre gerações” e com
isso “vencer” o hiato que os “dinamismos sociais foram impondo”. E sustentou que o Departamento da Pastoral Intergeracional do Santuário de
Fátima terá sempre “propostas concretas para cada geração” – crianças,
adolescentes, jovens, famílias, idosos – mas deverá também desenvolver e propor
projetos e programas “de congregação das gerações”.
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O jubileu dos Jovens do
Centenário, em que se inscreveram mais de 3 mil jovens, começou oficialmente às 16,30 horas
de 9 de setembro, mas, a partir da manhã, existiram propostas para as
dioceses, grupos e movimentos com receção, acolhimento, ensaios e reuniões, no
parque junto ao Espaço Jovem Papa Francisco. Relevam-se as atividades que se
discriminam a seguir:
Encontro Temático 0: – Preparar a Paz [em vários lugares]; Sacramento da
Reconciliação; Adoração Eucarística; Catequese sobre o Rosário; Visita aos
Pastorinhos; Visita ao Carmelo; Visita à Exposição “As cores do Sol”; Percurso dos Murais; Visita à Casa das Candeias;
Visita às Casas dos Pastorinhos.
A peregrinação internacional
juvenil começou com a saudação a Nossa Senhora na Capelinha das Aparições. A
concentração fez-se na cruz alta e em peregrinação os peregrinos atravessaram o
pórtico do jubileu. E, às 18 horas, fizeram o sentido inverso rumo à Basílica da
Santíssima Trindade para, a partir da imagem de Nossa Senhora, viverem ‘O
Coração da Paz’, o Encontro Temático 1, sob a orientação da Irmã Ângela Coelho, médica
e religiosa da Aliança de Santa Maria, ex-postuladora da causa de canonização
de Francisco e Jacinta, que falou sobre a “Relação entre Maria e a Paz”.
Como é habitual no ‘Fátima Jovem’ a programação peregrinacional
inseriu-se nas atividades do Santuário e, por isso, às 21,30 horas, a
concentração foi na Capelinha para a participação no Rosário e na Procissão de
Velas – “Directa Pacis”.
A partir das 23 horas, decorreu
o festival ‘Para alcançar a Paz’ com
a participação de cantores profissionais (que executaram composições de António Zambujo e Miguel Araújo sobre a paz, que desafiados pelo
Santuário a “compor canções” sobre a paz), no parque junto ao Espaço Jovem Papa Francisco. A este
respeito, o Padre José Nuno Silva frisou que são artistas com “impacto junto
dos jovens” e intervenção cultural “compatível com o lugar” em termos de mensagem.
Naquele momento, ouviram-se testemunhos de jovens e de pessoas que em jovens
“tomaram decisões difíceis para alcançar a paz”: “testemunhos não piegas, mas
exigência de vida.”
A noite continuou e o programa
do Jubileu dos Jovens prosseguiu com ‘A Paz do Coração’, Encontro Temático
2,
no Calvário Húngaro, a culminar a Via-Sacra nos Valinhos, etapa “marcada pelo
silêncio”. E, às 5 horas, regressaram à Basílica da Santíssima Trindade
para ‘Viver a Paz’, o Encontro Temático 3, com três momentos
diferenciados: 1 – O Coração de Maria, caminho para a Trindade; 2 – A Palavra e a Eucaristia, apelo e
fonte de paz; e 3 – A Paz, dom e compromisso.
No dia 10, domingo, os jovens
reuniram-se às 10 horas na Capelinha das Aparições para rezarem o Rosário e,
uma hora depois, participaram na Missa no Recinto de Oração, presidida pelo Bispo de
Leiria-Fátima, Dom António Marto, a que se seguiu o rito de envio do JubJovem e a procissão do adeus e
aclamação a Nossa Senhora, Rainha Universal.
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Dom Joaquim Mendes, presidente da Comissão Episcopal do
Laicado e Família, elogiou a adesão dos mais novos à iniciativa desta proposta
de espiritualidade que assinala o Centenário das Aparições que explora uma
“cultura da noite”, diferente da discoteca, para “entrar no coração, para um
encontro com eles mesmos, com Deus”.
Os jovens, além dos números de reflexão e celebração
próprios, participaram nas atividades habituais do santuário.
Assim, o mencionado prelado esperava que esta constituísse
uma “experiência forte” para os participantes com “repercussões na sua vida”,
saudou os peregrinos num “momento particular” que procura ajudar os jovens a
familiarizar-se com a mensagem de Fátima, abrindo o coração “ao projeto de
Deus”, pois, como observou, “Deus não nos
tira nada”.
Também a este respeito, o Padre Eduardo Novo, diretor do DNPJ
declarou à agência Ecclesia:
“Este ano, inseridos no Centenário das
Aparições de Nossa Senhora em Fátima, decidimos com o Santuário celebrar e dar
vida a este Jubileu dos Jovens, esta Igreja viva, peregrina, alegre, que é
festa”.
O Padre Eduardo Novo falou num “desafio à interioridade” para
que a fé “contagie” e ajuda os jovens a “olhar o outro”. E considerou que os
jovens “não são superficiais” e é necessário desafiá-los com propostas de
profundidade, “para uma melhor identidade” cristã, comprometidos com “valores
mais altos”.
Por seu turno, o Santuário de Fátima informou que se
inscreveram jovens das dioceses portuguesas e de Espanha, Singapura e
Nicarágua; e explicou que este Jubileu visava “celebrar o acontecimento e
descobrir” na mensagem de Fátima uma “proposta de espiritualidade” para os
jovens do século XXI, como foi assaz referido.
Na sua homilia, o Bispo de Leiria-Fátima pediu aos jovens presentes naquele domingo no Santuário que
sejam “sentinelas da paz”, expressão similar (“sentinelas da madrugada”) da que o Papa Francisco
utilizara quando esteve em Fátima, em maio, e que se traduz em três posturas,
segundo Dom António Marto.
A primeira é serem sentinelas da conversão e da esperança.
Para o prelado, “a imagem da sentinela é muito sugestiva”, já que “está sempre
alerta, à escuta e de olhos abertos, dia e noite, observa o horizonte da
história e da alma humana, descobre os sinais do(s) tempo(s), isto é, os sinais
de esperança ou de perigo”. “Ao mesmo tempo,” salienta o Bispo, “adverte o povo”
de que, “se abandonar o seu Deus”, “caminhará para a ruína”. Por isso, “chama-o à conversão do coração, à
reconstrução espiritual e moral da vida”, pois somente “o que passa pelo
coração transforma a vida”.
A segunda postura é serem sentinelas da fraternidade, pois não
basta dizer expressões como “eu não mato, não roubo, não faço mal”; mas “é
preciso amar sempre”. Segundo o prelado, “a globalização atual quebra
distâncias, torna-nos mais próximos, mas não nos faz irmãos” e “a fraternidade recorda-nos que somos todos
filhos do mesmo Pai”.
Por outro lado, “face à cultura da indiferença e do descarte” que hoje
predomina, “é necessário promover a cultura do encontro.” Isto leva-nos a “ser os primeiros a amar, a ir ao encontro do
outro mais necessitado, a estender a mão, a partilhar a alegria e o sofrimento,
a acolher e a dialogar com todos, a estender pontes”.
Para Dom António Marto, “o que muda
muitas pessoas não são as grandes ideias ou pensamentos, mas o terem-se encontrado
com alguém que se aproximou em atitude de acolhimento e amizade e as ajudou a
renovar-se”.
Finalmente, serem sentinelas da reconciliação e do perdão,
pois Jesus, como salientou o prelado, “pede
que, no meio das tensões, conflitos, contendas e ofensas na vida quotidiana,
permaneça e prevaleça a busca da reconciliação e do perdão sobre a tentação de
vingança, de violência, de ódio, de rancor”. E acrescentou:
“Jesus pede que se faça todo o
possível para que quem se perdeu reencontre o caminho da vida e que quem
ofendeu o irmão reencontre o caminho da reconciliação e do perdão”.
Dom António Augusto dos Santos Marto terminou recordando que “Nossa Senhora
de Fátima veio lembrar aqui estes caminhos da paz, o segredo da paz” e exortou
os participantes da celebração a serem “sentinelas da paz”, a construí-la
“artesanalmente dia a dia na família, na escola, nos vossos ambientes”. Assim,
concluiu o bispo, “a paz não será uma miragem”.
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Registe-se que o “Espaço Jovem Papa Francisco” se localiza
na Avenida João XXIII e se destina ao acolhimento de grupos de jovens que
desejem aí realizar encontros de reflexão, retiros e atividades formativas, no
âmbito do aprofundamento da mensagem de Fátima, com programa próprio ou
proposto pelo Santuário de Fátima. E a Casa do Jovem, que se
propõe como um espaço de escuta e de diálogo, de oração e de
reflexão, vocacionado para os jovens, está localizada na colunata norte,
com acesso a partir do recinto de oração. Ambos os espaços procuram
proporcionar o encontro.
A Casa do Jovem proporciona o encontro com Deus
junto do Santuário. E o Espaço Jovem Papa Francisco –
com o ensejo do Encontro com Deus, consigo mesmos e com os outros por
meio da mensagem de Fátima – pretende proporcionar aos jovens, força
particularmente viva e dinâmica da Igreja, para quem foi pensado e criado. Dispõe
de capela, sala de audiovisual e sala de convívio, com livros, música e
atividades várias, onde os jovens podem simultaneamente sentir o acolhimento
próprio dum lugar mais reservado e a abertura para descobrir e partilhar
vivências e aprofundar a mensagem de Fátima junto da cidade dos homens.
O Papa
Francisco, cujo testemunho inspira este espaço e lhe dá nome, relança aos
jovens cristãos o desafio a uma vida marcada pela resposta às interpelações de
Deus, que chama à relação consigo e com os irmãos, marcada pelo “olhar de
Cristo, cheio de amor” (vd Mensagem aos jovens por ocasião das Jornadas
Mundiais da Juventude de 2015). É o olhar
a que convida a Senhora do Rosário, que nos faz ver a nós próprios e aos outros
segundo Deus, o Deus-amor.
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Para lá dos
muitos reparos que se lhe possam fazer, Fátima não para de surpreender crentes
e não crentes – pelo Evangelho, pela fé e pela paz!
2017.10.26 – Louro de Carvalho
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