quinta-feira, 26 de outubro de 2017

O “Jubileu Jovem. Fátima 2017” – a minha reflexão ao retardador

O Santuário de Fátima, no âmbito da celebração do Centenário das Aparições de Nossa Senhora a Lúcia e aos seus primos, Francisco e Jacinta, os dois irmãos que o Papa canonizou em 13 de maio, promoveu o “Jubileu Jovem. Fátima 2017”, para celebrar o acontecimento e descobrir na Mensagem de Fátima uma proposta de espiritualidade para os jovens do século XXI.
Pensava escrever sobre este acontecimento memorável, de que tomei os devidos apontamentos. Porém, as reflexões sobre a Peregrinação Diocesana do Porto a Fátima e, sobretudo, o falecimento prematuro e inesperado do Bispo do Porto eclipsaram esta reflexão, eclipse de que penalizo e que passo a fazer com intolerável atraso, dada a sua inquestionável momentosidade.
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JubJovem 2017 teve como tema aglutinador “O segredo da paz, o caminho do coração”. Esta peregrinação juvenil quis oferecer a cada participante a oportunidade de descobrir algo do segredo de si mesmo que ainda não conhece e que só Deus lhe pode dizer, para alcançar a paz consigo mesmo e com todos à sua volta, na casa comum que todos partilhamos. Para chegar aí, há só um caminho, o do coração. Em Fátima, há 100 anos, a Virgem Maria mostrou o seu coração imaculado e ofereceu-o como lugar de encontro e de passagem para o coração de Deus, triste com o sofrimento do homem e o mal no mundo.
JubJovem 2017 propôs aos jovens uma experiência eloquente pela palavra e pela ação e intensa pela densidade do silêncio e da oração, para olhar o coração da Mãe de Jesus e Mãe de cada um de nós, escutando no próprio coração a interpelação à conversão pessoal que Ele, por Ela, dirige a todos e a cada um; e também propõe a celebração da gratidão por tanto bem que Fátima fez e continua a fazer acontecer neste tempo da história.
JubJovem 2017 foi a festa para a qual foram convidados todos os jovens, entre os 16 e os 35 anos, que aceitaram abrir o seu coração e o seu futuro a novas raízes de alegria e de confiança.
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O ‘Fátima Jovem’, que o DNPJ (Departamento Nacional da Pastoral Juvenil) dinamiza anualmente, este ano foi, em parceria com o Santuário de Fátima, um Jubileu dos Jovens do Centenário das Aparições, nos dias 9 e 10 de setembro.
O DNPJ, os Secretariados Diocesanos da Pastoral Juvenil e o Santuário de Fátima realizaram uma grande festa dos jovens intitulada o ‘Segredo da paz, caminho do coração’ no contexto do Centenário das Aparições (1917-2017).
Em razão da presença do Papa Francisco na Cova da Iria a 12 e 13 de maio e da vontade dos jovens em participarem nessas celebrações, o ‘Fátima Jovem’ foi adiado do primeiro fim de semana de maio, uma semana antes da visita do pontífice argentino, para os dias 9 e 10 de setembro. E, assim, o Padre José Nuno Silva, o responsável pelo Departamento da Pastoral Intergeracional, um novo setor no Santuário, na respetiva reunião preparatória dos secretariados juvenis, apresentou a proposta, “não imposta”, de programa para o jubileu. Foi manifestada disponibilidade para “recolher sugestões” que pudessem “incorporar e valorizar” o encontro, pois o objetivo era que o “grande acontecimento” fosse potenciador de dinamismo nos jovens.
Com o tema ‘Segredo da paz, caminho do coração’ este Jubileu dos Jovens do Centenário das Aparições pretendeu configurar uma peregrinação internacional à Cova da Iria. Para que o evento se revestisse do “caráter internacional próprio de Fátima e da Mensagem de Fátima” foram desenvolvidas iniciativas junto de outros países.
O Padre José Nuno salientou que o lema do JubJovem 2017 tem “três palavras fortes”, e o itinerário do encontro desenvolveu-se em torno dessa temática com um programa temático distribuído por quatros etapas ao longo dos dois dias: “preparar a paz”; “o coração da paz”; “a paz do coração”; e “viver a paz”.
O sacerdote fez questão de afirmar que o “desafio” da intergeracionalidade “é um dos grandes da sociedade” hoje e a Igreja não pode “correr o risco de alinhar no movimento mundano de exclusão dos idosos, mas fazer tudo o que estiver ao alcance para educar no tempo”. Neste âmbito, frisou que é preciso criar cristãos conscientes da “necessidade de não criar hiatos entre gerações” e com isso “vencer” o hiato que os “dinamismos sociais foram impondo”. E sustentou que o Departamento da Pastoral Intergeracional do Santuário de Fátima terá sempre “propostas concretas para cada geração” – crianças, adolescentes, jovens, famílias, idosos – mas deverá também desenvolver e propor projetos e programas “de congregação das gerações”.
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O jubileu dos Jovens do Centenário, em que se inscreveram mais de 3 mil jovens, começou oficialmente às 16,30 horas de 9 de setembro, mas, a partir da manhã, existiram propostas para as dioceses, grupos e movimentos com receção, acolhimento, ensaios e reuniões, no parque junto ao Espaço Jovem Papa Francisco. Relevam-se as atividades que se discriminam a seguir:
Encontro Temático 0: – Preparar a Paz [em vários lugares]; Sacramento da Reconciliação; Adoração Eucarística; Catequese sobre o Rosário; Visita aos Pastorinhos; Visita ao Carmelo; Visita à Exposição “As cores do Sol”; Percurso dos Murais; Visita à Casa das Candeias; Visita às Casas dos Pastorinhos.
A peregrinação internacional juvenil começou com a saudação a Nossa Senhora na Capelinha das Aparições. A concentração fez-se na cruz alta e em peregrinação os peregrinos atravessaram o pórtico do jubileu. E, às 18 horas, fizeram o sentido inverso rumo à Basílica da Santíssima Trindade para, a partir da imagem de Nossa Senhora, viverem ‘O Coração da Paz’, o Encontro Temático 1, sob a orientação da Irmã Ângela Coelho, médica e religiosa da Aliança de Santa Maria, ex-postuladora da causa de canonização de Francisco e Jacinta, que falou sobre a “Relação entre Maria e a Paz”.
Como é habitual no ‘Fátima Jovem’ a programação peregrinacional inseriu-se nas atividades do Santuário e, por isso, às 21,30 horas, a concentração foi na Capelinha para a participação no Rosário e na Procissão de Velas – “Directa Pacis”.
A partir das 23 horas, decorreu o festival ‘Para alcançar a Paz’ com a participação de cantores profissionais (que executaram composições de António Zambujo e Miguel Araújo sobre a paz, que desafiados pelo Santuário a “compor canções” sobre a paz), no parque junto ao Espaço Jovem Papa Francisco. A este respeito, o Padre José Nuno Silva frisou que são artistas com “impacto junto dos jovens” e intervenção cultural “compatível com o lugar” em termos de mensagem. Naquele momento, ouviram-se testemunhos de jovens e de pessoas que em jovens “tomaram decisões difíceis para alcançar a paz”: “testemunhos não piegas, mas exigência de vida.”
A noite continuou e o programa do Jubileu dos Jovens prosseguiu com ‘A Paz do Coração’, Encontro Temático 2, no Calvário Húngaro, a culminar a Via-Sacra nos Valinhos, etapa “marcada pelo silêncio”. E, às 5 horas, regressaram à Basílica da Santíssima Trindade para ‘Viver a Paz’, o Encontro Temático 3, com três momentos diferenciados: 1 – O Coração de Maria, caminho para a Trindade; 2 – A Palavra e a Eucaristia, apelo e fonte de paz; e 3 – A Paz, dom e compromisso.
No dia 10, domingo, os jovens reuniram-se às 10 horas na Capelinha das Aparições para rezarem o Rosário e, uma hora depois, participaram na Missa no Recinto de Oração, presidida pelo Bispo de Leiria-Fátima, Dom António Marto, a que se seguiu o rito de envio do JubJovem e a procissão do adeus e aclamação a Nossa Senhora, Rainha Universal.
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Dom Joaquim Mendes, presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família, elogiou a adesão dos mais novos à iniciativa desta proposta de espiritualidade que assinala o Centenário das Aparições que explora uma “cultura da noite”, diferente da discoteca, para “entrar no coração, para um encontro com eles mesmos, com Deus”.
Os jovens, além dos números de reflexão e celebração próprios, participaram nas atividades habituais do santuário.
Assim, o mencionado prelado esperava que esta constituísse uma “experiência forte” para os participantes com “repercussões na sua vida”, saudou os peregrinos num “momento particular” que procura ajudar os jovens a familiarizar-se com a mensagem de Fátima, abrindo o coração “ao projeto de Deus”, pois, como observou, “Deus não nos tira nada”.
Também a este respeito, o Padre Eduardo Novo, diretor do DNPJ declarou à agência Ecclesia:
Este ano, inseridos no Centenário das Aparições de Nossa Senhora em Fátima, decidimos com o Santuário celebrar e dar vida a este Jubileu dos Jovens, esta Igreja viva, peregrina, alegre, que é festa”.
O Padre Eduardo Novo falou num “desafio à interioridade” para que a fé “contagie” e ajuda os jovens a “olhar o outro”. E considerou que os jovens “não são superficiais” e é necessário desafiá-los com propostas de profundidade, “para uma melhor identidade” cristã, comprometidos com “valores mais altos”.
Por seu turno, o Santuário de Fátima informou que se inscreveram jovens das dioceses portuguesas e de Espanha, Singapura e Nicarágua; e explicou que este Jubileu visava “celebrar o acontecimento e descobrir” na mensagem de Fátima uma “proposta de espiritualidade” para os jovens do século XXI, como foi assaz referido.
Na sua homilia, o Bispo de Leiria-Fátima pediu aos jovens presentes naquele domingo no Santuário que sejam “sentinelas da paz”, expressão similar (“sentinelas da madrugada”) da que o Papa Francisco utilizara quando esteve em Fátima, em maio, e que se traduz em três posturas, segundo Dom António Marto.
A primeira é serem sentinelas da conversão e da esperança. Para o prelado, “a imagem da sentinela é muito sugestiva”, já que “está sempre alerta, à escuta e de olhos abertos, dia e noite, observa o horizonte da história e da alma humana, descobre os sinais do(s) tempo(s), isto é, os sinais de esperança ou de perigo”. “Ao mesmo tempo,” salienta o Bispo, “adverte o povo” de que, “se abandonar o seu Deus”, “caminhará para a ruína”. Por isso, “chama-o à conversão do coração, à reconstrução espiritual e moral da vida”, pois somente “o que passa pelo coração transforma a vida”.
A segunda postura é serem sentinelas da fraternidade, pois não basta dizer expressões como “eu não mato, não roubo, não faço mal”; mas “é preciso amar sempre”. Segundo o prelado, “a globalização atual quebra distâncias, torna-nos mais próximos, mas não nos faz irmãos” e “a fraternidade recorda-nos que somos todos filhos do mesmo Pai”.
Por outro lado, “face à cultura da indiferença e do descarte” que hoje predomina, “é necessário promover a cultura do encontro.” Isto leva-nos a “ser os primeiros a amar, a ir ao encontro do outro mais necessitado, a estender a mão, a partilhar a alegria e o sofrimento, a acolher e a dialogar com todos, a estender pontes”.
Para Dom António Marto, “o que muda muitas pessoas não são as grandes ideias ou pensamentos, mas o terem-se encontrado com alguém que se aproximou em atitude de acolhimento e amizade e as ajudou a renovar-se”.
Finalmente, serem sentinelas da reconciliação e do perdão, pois Jesus, como salientou o prelado, “pede que, no meio das tensões, conflitos, contendas e ofensas na vida quotidiana, permaneça e prevaleça a busca da reconciliação e do perdão sobre a tentação de vingança, de violência, de ódio, de rancor”. E acrescentou:
Jesus pede que se faça todo o possível para que quem se perdeu reencontre o caminho da vida e que quem ofendeu o irmão reencontre o caminho da reconciliação e do perdão”.
Dom António Augusto dos Santos Marto terminou recordando que “Nossa Senhora de Fátima veio lembrar aqui estes caminhos da paz, o segredo da paz” e exortou os participantes da celebração a serem “sentinelas da paz”, a construí-la “artesanalmente dia a dia na família, na escola, nos vossos ambientes”. Assim, concluiu o bispo, “a paz não será uma miragem”.
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Registe-se que o “Espaço Jovem Papa Francisco” se localiza na Avenida João XXIII e se destina ao acolhimento de grupos de jovens que desejem aí realizar encontros de reflexão, retiros e atividades formativas, no âmbito do aprofundamento da mensagem de Fátima, com programa próprio ou proposto pelo Santuário de Fátima. E a Casa do Jovem, que se propõe como um espaço de escuta e de diálogo, de oração e de reflexão, vocacionado para os jovens, está localizada na colunata norte, com acesso a partir do recinto de oração. Ambos os espaços procuram proporcionar o encontro.
A Casa do Jovem proporciona o encontro com Deus junto do Santuário. E o Espaço Jovem Papa Francisco – com o ensejo do Encontro com Deus, consigo mesmos e com os outros por meio da mensagem de Fátima – pretende proporcionar aos jovens, força particularmente viva e dinâmica da Igreja, para quem foi pensado e criado. Dispõe de capela, sala de audiovisual e sala de convívio, com livros, música e atividades várias, onde os jovens podem simultaneamente sentir o acolhimento próprio dum lugar mais reservado e a abertura para descobrir e partilhar vivências e aprofundar a mensagem de Fátima junto da cidade dos homens.
O Papa Francisco, cujo testemunho inspira este espaço e lhe dá nome, relança aos jovens cristãos o desafio a uma vida marcada pela resposta às interpelações de Deus, que chama à relação consigo e com os irmãos, marcada pelo “olhar de Cristo, cheio de amor” (vd Mensagem aos jovens por ocasião das Jornadas Mundiais da Juventude de 2015). É o olhar a que convida a Senhora do Rosário, que nos faz ver a nós próprios e aos outros segundo Deus, o Deus-amor.
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Para lá dos muitos reparos que se lhe possam fazer, Fátima não para de surpreender crentes e não crentes – pelo Evangelho, pela fé e pela paz!

2017.10.26 – Louro de Carvalho

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