Santo
Evaristo ou Santo Aristo, cuja memória litúrgica facultativa se faz hoje, dia
26 de outubro, foi papa e mártir, sendo assim dois os títulos por que merece a
veneração dos fiéis como santo inscrito no respetivo catálogo.
Eleito no ano de 97, foi o 5.º Papa da História (o 4.º sucessor de São Pedro), sucedendo a São Clemente I,
exilado na Táurica e martirizado, e antecedendo Alexandre I.
Do início da era cristã encontram-se poucos registos. Porém, algumas
informações, entre as quais, emergem as contidas no antigo Liber Pontificalis, apontam para que Evaristo tenha nascido na
Grécia (pelo menos, era
de origem grega), no ano
50, com o nome de Aristus Desposyni. Ter-se-á formado em Antioquia e terá sido
eleito Papa graças à santidade de vida e ao dom de acender a fé no coração dos
cristãos.
Segundo
outras informações, Evaristo era filho dum judeu chamado Judas. O pai, nascido
em Belém, ter-se-á mudado para Antioquia quando ainda era adolescente. E
educou no quadro do judaísmo o filho, que desde cedo se manifestou aberto
à virtude. Tinha inclinação para as letras e para as ciências. O pai, ao
perceber esta aptidão, incentivou o filho, que se tornou homem de
grandes talentos.
Não se
sabe como nem a época exata em que Evaristo se tornou cristão, mas presume-se
que tenha sido em Antioquia e que, depois disso, tenha partido para Roma.
Sabe-se, porém que, em Roma, ficou logo conhecido pela santidade, pelo que
passou a ser membro das lideranças da Igreja, sendo-lhe percebido o dom de
acender a fé no coração dos cristãos, por dar belos exemplos de caridade cristã e
virtudes.
Por todas
essas qualidades, Evaristo foi eleito o 5.º Papa da Igreja. Sabe-se
que, a princípio, não queria assumir, alegando ser indigno, mas o clero e os
fiéis insistiram unânimes e ele acabou por aceitar a missão petrina. Por isso, governou,
como Sumo Pontífice, a Igreja durante 9 anos, sob o império de Trajano. Promoveu
ordenações, abriu o primeiro embrião do Colégio dos Cardeais e dividiu Roma em
dioceses e paróquias, com bispos e presbíteros próprios.
Assim
que assumiu a liderança da Igreja, passou a enfrentar dificuldades
externas que atacavam a Igreja e outras internas, bastante hipercríticas. De
fora, vinham as perseguições do imperador romano; de dentro da Igreja, vinham
as heresias ameaçando desvirtuar a fé. Muitos desses hereges eram verdadeiros
líderes de igrejas de outras localidades e reivindicavam que os seus erros
doutrinários fossem aceites como verdades de fé. Mas o Santo tinha consigo o
verdadeiro depósito da fé recebido dos Apóstolos e não deixou que a Igreja
caísse no erro. Mercê das suas intervenções, a Igreja manteve-se no rumo certo,
sem se desviar, conservando a fé pura.
Além
da sua forte luta contra as heresias, Evaristo
fez tudo para aperfeiçoar a disciplina da Igreja, criando regras bastante
prudentes e emitindo decretos. Foi o primeiro a dividir a cidade de Roma
em paróquias, entregues a presbíteros, e a Igreja de Roma e arredores em
dioceses, entregues a bispos. Estas paróquias não eram como são hoje. Eram
comunidades pequenas, mas que tinham a sua vida própria. E ele organizou-as.
Foi também ele quem determinou que o casamento se tornasse público e fosse
acompanhado por um sacerdote.
Cheio
de zelo, Evaristo fazia questão de ir visitar paróquias, procurando
sempre fazer com que as suas ovelhas mantivessem a fé pura, sem influências de
heresias. Preocupou-se com a formação das crianças e dos escravos, que eram
comuns à época, insistindo que os escravos tinham de receber o mesmo tratamento
que os livres e os libertos.
***
Trajano
era o imperador romano que reinava ao tempo. Dizem que pessoalmente não tinha
nada contra os cristãos, mas ouvia acriticamente os seus assessores pagãos, que
o influenciavam maliciosamente. E, estes, ao tomarem conhecimento do zelo de
Evaristo, do número crescente de fiéis cristãos e dos frutos do apostolado do Santo,
arderam em ódio e passaram a criar uma péssima imagem do Papa Evaristo diante
do imperador. Lutaram bastante até conseguirem que Trajano ordenasse que ele
fosse preso. Em seguida, forjaram um julgamento e obtiveram a condenação
oficial do Santo à pena capital. Os relatos atestam que Evaristo sentiu grande
alegria ao receber a sentença de morte por causa de Jesus Cristo. As
autoridades romanas ficaram estupefactas ao verem que o Papa não temia a morte
e se regozijava ao saber que daria a vida por causa de Cristo.
O Seu
testemunho serviu, na verdade, para a conversão de inúmeros cidadãos romanos ao
cristianismo, que viam no testemunho dos mártires a mais eloquente profissão de
fé, pois eles confirmavam com a própria vida a verdade eterna em que acreditavam.
Assim, condenado, o Papa Evaristo sofreu o martírio como os seus antecessores.
Foi morto no dia 26 de outubro de 107. A sua sepultura foi colocada na
necrópole do Vaticano e os seus restos mortais estão junto aos do Apóstolo São
Pedro.
Por
este Santo Evaristo, se ora a Deus para que sejamos sempre fiéis ao Papa e aos Bispos
a ele unidos.
***
O
dia 26 de outubro foi aquele em que o Cónego José Cardoso de Almeida, nascido
na paróquia de Vila da Ponte, a 8 de agosto de 1914, recebeu o Batismo na
igreja matriz de Sernancelhe, pelos vistos, mercê de desentendimento entre o
abade de Vila da Ponte e um dos progenitores – que levou ao protelamento do
Batismo do recém-nascido para outubro e para outra paróquia.
No
dia 25 de outubro de 1992, um domingo, véspera desse dia 26, a diocese de
Lamego esteve presente em celebração de homenagem e sufrágio por aquele sacerdote,
falecido a 30 de janeiro de 1984 e que teria feito, a 26 de julho daquele ano,
os 50 anos (bodas de ouro)
da ordenação sacerdotal celebrada na igreja paroquial de Vila da Ponte sob a
presidência do Bispo Dom Agostinho de Jesus e Sousa. Este ano, teria feito o
75.º aniversário de sacerdócio.
Como
já tive a ocasião de referir doutras vezes, foram ordenados de presbítero ali
naquele dia, além do Padre José Cardoso de Almeida, os Padres Armando Rodrigues
Silveira, Anselmo Fernandes de Freitas e Lucas Ribeiro Pedrinho. Também Joaquim
Mendes de Castro ali recebeu a Ordem de Diácono e António Ribeiro a de Subdiácono
(hoje
abolida).
Naquele
dia de outubro de 1992, estavam ali – com o Bispo da diocese, o Arcebispo-Bispo
Dom António de Castro Xavier Monteiro, inúmeros sacerdotes, os alunos do
Seminário de Lamego e muitos fiéis – os Padres Anselmo e Lucas e o Cónego
Mendes de Castro, ainda vivos ao tempo e agora falecidos.
A
celebração fora aprazada para este dia pelo facto de no mês de julho muitos
estarem de férias e outubro ser o mês das Missões, sendo que o Seminário de
Lamego no domingo anterior estava ocupado com as atividades inerentes ao Dia
Mundial das Missões. Foi antecedida de um tríduo de pregação a cargo do então
Padre Cândido de Azevedo, pároco de Sernancelhe e arcipreste, em que as pessoas
tiveram oportunidade de se aproximar do Sacramento da Reconciliação. A
Celebração principal foi a concelebração da Eucaristia sob a presidência do
prelado diocesano. Integrou o canto litúrgico de Vésperas e sermão proferido
pelo então reitor do Seminário, Padre João Augusto André Ribeiro, a pedido do
Arcebispo. O Seminário animou a liturgia ao nível do canto (sob
a direção do Padre Rui Botelho)
e da condução das cerimónias pelo Cónego Germano José Lopes. Após a missa,
rumou-se ao cemitério em romagem processional ao túmulo do Cónego José Cardoso.
Depois
das cerimónias religiosas, a maior parte dos participantes subiu a Sernancelhe
onde decorreu a sessão solene evocativa da memória do homenageado em termos do
seu perfil e ação, nas instalações da antiga Escola EB 2/3, a partir do ano
seguinte Escola Profissional de Sernancelhe. As diversas intervenções oratórias
foram entrecortadas por números musicais a cargo do orfeão do Seminário. O
orador convidado foi o Dr. Germano Duarte Cabral, professor da Escola Secundária
Latino Coelho, que bem conhecia a personalidade e obra de José Cardoso de
Almeida. Seguiu-se um briefing na
Igreja Matriz de Sernancelhe junto da Pia Batismal a cargo do Padre Cândido de
Azevedo (ainda
não tinha sido feito Monsenhor),
que leu o assento do Batismo de José Cardoso e, se bem me lembro, comentou que,
a exemplo do rei de França São Luís IX, que dizia chamar-se Luis de Poissy por ali ter sido
batizado, também o homenageado deveria ter sido chamado José de Sernancelhe por ter sido batizado na igreja daquela vila –
isto para lá da substanciosa lição de história de arte sacra com base nos
motivos artísticos daquele imóvel (arquitetura, pintura a
fresco e outras, esculturas, talha dourada, paramentaria e trabalho em
ourivesaria, prataria e outros metais, bem como desenhos de arte pararupestre). E a jornada terminou com um
jantar volante na Vila da Ponte com as pessoas de fora que conseguiram permanecer
até ao fim.
São
dignos de menção os factos de a Câmara Municipal ter assumido o encargo com a
parte mais complexa da logística, de os dois irmãos então sobrevivos (Maria
Augusta e Fernando) terem
assumido as despesas da refeição, sendo destinadas as sobras em dinheiro à
Biblioteca do Seminário de Lamego, e de muita, muita gente da diocese ter
respondido com a sua presença, sobretudo na missa, à notícia-pregão veiculada
dias antes pelo semanário diocesano Voz
de Lamego, dirigida pelo então Padre Armando dos Santos Ribeiro, sinal de
que a memória do Cónego José dos Rapazes
(como
alguns o apelidavam e ele assentia)
ainda mexia com as pessoas.
Do
muito que se podia dizer de José Cardoso de Almeida, digo pouco, mas em torno
dum facto parecido com o que tornou notório Santo Evaristo, a fama da entrega
às causas. Exercia o Padre José Cardoso de Almeida funções paroquiais em Vila
da Rua. Tornam-se conhecidas as suas lições de catequese com as crianças, com
linguagem adaptada a cada idade, bem como materiais que possibilitassem alguma
atividade e ilustrassem as verdades doutrinais com exemplos, esquemas e
desenhos. Além disso, suas palestras doutrinais aos adultos em linguagem simples
e muitas vezes a partir do que se via nas igrejas e capelas tornaram-se
notáveis. O próprio Bispo diocesano em passagem-surpresa pela igreja daquela
paróquia pôde verificar tudo isto.
Em
breve, o prelado o convidou para organizar a catequese na diocese e o Padre
José Cardoso foi o primeiro Secretário Diocesano da Catequese, funções que
manteve até ao fim dos seus dias (até aos 69 anos).
Sem
abandonar o catecismo formulário segundo as indicações de São Pio X, que
atualizava a doutrina da cartilha – conjunto de perguntas/respostas uniforme
para todos – crianças, adolescentes, jovens e adultos – o Padre José Cardoso
britou o monolitismo e a uniformidade da cartilha. Como? Fazendo o esforço de
explicação de tudo o que se ensinava em linguagens adaptadas às idades,
multiplicando materiais – livros, cadernos, esquemas, objetos, desenhos,
estampas, fotos e, mais tarde outros meios. Editou livros e mais livros
adequados aos diversos grupos etários, como se pode ver pela lista não
exaustiva constante em baixo.
Depois,
associou a si e associou-se com outros de outras dioceses e foram editados
catecismos para cada um dos 4 anos da catequese e da escola primária (uns
livros para a catequese e outros para a escola) segundo o sistema de: um pequeno catecismo por ano
de catequese ou de escolaridade, com lições de duas páginas para cada lição com
texto e gravuras em torno de um tema e com um pergunta e resposta de síntese,
para uso do aluno; e um guia com explicação detalhada de cada lição, para
estudo do/a catequista, e com sugestão de atividades e guião da aula, devendo
o/a catequista durante a lição usar o catecismo igual ao do/a aluno/a.
Obviamente que se começou pelos quatro anos de catequese / escola. Em cada
diocese organizaram-se grupos mistos de padres, freiras e leigos (sobretudo
padres a princípio) que
chamavam à cidade ou à vila ou se multiplicavam pelas freguesias para ministrar
cursos de catequistas, organizavam-se certames com prémios para quem
respondesse mais e melhor a perguntas de doutrina, congressos catequísticos ou
congressos eucarísticos com incidência catequística e publicaram-se revistas de
catequese. E José Cardoso começou a preparar livros para grupos de adolescentes
e grupos juvenis, bem como livros para formação de catequistas. E descobriu o
óbvio hoje: sem formação dos pais, a catequese infantil pouco adianta. Por
isso, incrementou a catequese de adultos e editou livros para os pais e aplicou-se
à Pastoral Familiar.
Enfim,
as suas obras principais são: A Liturgia Explicada às Crianças,
ed. autor, 1949; A Moral nas
Escolas com gráficos e exemplos, ed. Simões Lopes, Porto, 1955; A História do Domingo,
1957; Vive o Teu Baptismo,
1958; Jesus Perdoou Pecados,
1958; Catequista Missão Sublime
(1.ª ed.
1959, 2.ª ed. 1968); Caminhar para Cristo (1.ª ed. 1962,
2.ª ed. 1968); Na Escola de Cristo, 1964; Notas de Pastoral Catequética,
1966; Teatro Catequístico
(com outros), 1966; De
Mãos Dadas com Cristo, 1967; Catecismo
Formulário, 1967; Curso para
os Pais – Catequese Familiar, 1970; Vida de Santa Eufémia, 1970; As Grandes Linhas do Diretório Catequístico,1972; Profissão de Fé e seus Caminhos,
1972; História de Lamego Contada
às Crianças, 1974; Um Método para
os Pais (com Bento da Guia),
1975; A Família Reza,
1977; Pequeno Manual de
Catequese Familiar, 1979; Via-sacra
com a Virgem Maria, 1979; Alerta!...
pela Família, 1980; Paulo VI ante a Regulação dos Nascimentos (com outros), s/d; C. P.
B. – Curso de Preparação para o Baptismo (com Bouça
Pires), s/d; Novena da Senhora da Paz, s/d; Novena de Santa Helena, s/d.
Todas as publicações sem outra indicação foram editadas pelo Secretariado
Diocesano da Catequese de Lamego.
Postumamente,
a família editou, com o meu apoio, o último livro que saiu da pena de José
Cardoso, “Família – Energia Vital”, e em que mais se empenhou. Prestou bom
serviço à diocese e às grandes causas. “Que o livro faça bem – lê-se no
depoimento da família, em apêndice – a todos quantos o lerem e reverta para
glória de Deus e prazer espiritual de todos por quem o Cónego Zé labutou com
zelo pastoral e garra apostólica”.
2017.10.26 – Louro de Carvalho
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