quinta-feira, 1 de setembro de 2016

A 39.ª Semana Bíblica Nacional ou o Evangelho da Criação

O Secretariado do Movimento Bíblico, dos Franciscanos Capuchinhos, promoveu a realização, de 28 a 1 de setembro, na Casa do Verbo Divino em Fátima, da 39.ª Semana Bíblica Nacional, em torno do tema ‘O Evangelho da criação’, com o propósito de constituir uma “séria reflexão” que ajude a todos a contemplar o mundo com um olhar mais sapiente e franciscano.
O objetivo principal da Semana Bíblica deste ano é “descobrir” o sentido bíblico da criação e “as respostas da ciência e da fé aos problemas da ecologia” – referiu o frade Capuchinho Manuel Arantes da Silva, secretário do Movimento, num comunicado remetido à Agência ECCLESIA. Segundo este frade sacerdote a importância do tema “dispensa toda e qualquer justificação”, assinalando que as “transformações rápidas”, em todos os setores da vida, se repercutem também no planeta”.
O programa, que contempla “vários tempos de oração” com a Bíblia na mão, começou com a saudação do ministro provincial, frei Fernando Alberto Cabecinhas, às 21,15 horas do dia 28.
O predito comunicado destaca ainda os subtemas e conferencistas da 39.ª Semana Nacional de estudos bíblicos, este ano dedicada ao tema principal, o ‘Evangelho da Criação’, como: O que está a acontecer à nossa casa?, pela Doutora Helena de Freitas; A origem da vida à luz da ciência”, pelo Doutor Máximo Ferreira; O rosto do Deus criador” por frei Armindo Vaz, Carmelita Descalço; os “Salmos da Criação” por frei Herculano Alves, padre Capuchinho – no dia 29. No dia 30, destacou-se a mesa-redonda ‘Leituras do livro da criação’, a partir das 15 horas, que reuniu José Manuel Alho, na vertente científica, a engenheira florestal Margarida Alvim, da Fundação católica ‘Fé e Cooperação, na vertente da crença, e frei Acílio Mendes, da Ordem dos Capuchinhos, sobre o franciscanismo. Porém, não pode olvidar-se a pertinência dos subtemas abordados no mesmo dia, da parte da manhã: Os sem-terra, nos profetas”, por frei Bernardo Correia, Ordem dos Frades Menores; e “Do homem de terra ao homem Deus”, pelo Doutor José Carlos Carvalho.
O bispo de Lamego, Dom António José da Rocha Couto, apresentou no 31, uma reflexão sobre “Cristo, o primogénito de toda a criatura”, às 09,30 horas, seguindo-se: frei Lopes Morgado, Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, com “Para ‘uma Ecologia Integral’, com Francisco de Assis”; e frei Fernando Ventura, padre Capuchinho, que falou sobre “novos Céus e nova Terra”, pelas 15 horas.
No último dia, 1 de setembro, antes da Eucaristia de Encerramento, às 11 horas, o bispo auxiliar de Braga, D. Francisco Senra, apresenta o subtema “Da Pacem in Terris à Laudato Si”, pelas 9,30 horas, terminando o encontro com a Eucaristia de Encerramento, pelas 11 horas.
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A Semana Bíblica Nacional é a grande semana de estudo organizada pelo Secretariado Nacional de Dinamização Bíblica a lançar as sementes de reflexão do novo ano pastoral da Dinamização Bíblica. Alguns dos temas são refletidos nas semanas bíblicas de nível regional, diocesano e paroquial. Depois, a revista Bíblica / Série Científica, publica-os para apoio de outras iniciativas a realizar durante o ano, como cursos bíblicos, conferências, colóquios, etc. Os grupos bíblicos e outras pessoas aproveitam depois estas reflexões para a sua formação bíblica e cristã. Os 50 anos do Concílio Vaticano II, já transcorridos, deviam ter criado nos cristãos o necessário apreço pela Palavra de Deus, como pretende o documento conciliar em que é expressamente abordada a temática da Palavra de Deus, a “Dei Verbum”, onde se lê:
“O sagrado Concílio exorta com veemência de interesse todos os cristãos, mormente os religiosos, a que aprendam a maravilha que é o conhecimento de Cristo Jesus com a leitura frequente das divinas Escrituras, porque desconhecer as Escrituras é desconhecer a Cristo” (n.º 25).
Ora, para que estas palavras do Concílio não ficassem em música celestial, os Franciscanos Capuchinhos, durante estes 50 anos, não se têm poupado a esforços para colocar a Bíblia nas mãos dos fiéis, ensinando-os a ler e a alimentar-se da Palavra de Deus, através de edições bíblicas, semanas, cursos, retiros e conferências. Não obstante, depois destes mais de 50 anos, sentem que há ainda muito a fazer neste campo, pois, muitos cristãos ainda não conhecem as Sagradas Escrituras e, por outro lado, há pessoas e movimentos que fazem uma leitura fundamentalista da Bíblia, por não a saberem ler e interpretar. Urge, portanto, uma releitura da Bíblia, enquadrada no âmbito da Nova Evangelização, que ajude as pessoas a encontrarem-se com Jesus Cristo, lendo, escutando, meditando as Sagradas Escrituras e sentindo prazer espiritual quando a proclamação da palavra é feita publicamente.
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A segunda encíclica do Papa Francisco, em que se foca esta edição da Semana Bíblica Nacional, propõe “uma ecologia integral” como forma de combater a pobreza, as desigualdades e outras injustiças sociais, assente na pedagogia da maximização dos recursos e da sua distribuição equitativa, mas evitando que se descaraterize o planeta e até se destrua, pela anulação das condições de vida. É o bem comum – de todos e de cada um – que está em causa!
Já a encíclica Pacem in Terris de João XXIII, de 11 de fevereiro de 1963, antes de enunciar os direitos humanos cujo respeito e exercício, postulados pelo Evangelho, são a condição necessária para a paz no mundo, faz o enquadramento da matéria pelo Evangelho da criação.
Com efeito, a paz, anseio profundo dos homens, não se estabelece nem consolida senão no pleno respeito da ordem instituída por Deus (cf n.º 1), ordem maravilhosa que “o progresso da ciência e as invenções da técnica” veem reinar “nos seres vivos e nas forças da natureza”. Por outro lado, o homem, por força da sua dignidade, é “capaz de desvendar essa ordem e de produzir os meios adequados para dominar essas forças, canalizando-as em seu proveito” (cf n.º 2). Depois, ao invés do que muitos pensam, alegadamente escorados na ciência, “o avanço da ciência e os inventos da técnica demonstram”, “a infinita grandeza de Deus, criador do universo e do homem”, tendo sido Ele “quem tirou do nada o universo, infundindo-lhe os tesouros de sua sabedoria e bondade”. Por isso, o salmista enaltece a Deus: “Senhor, quão admirável é o teu nome em toda a terra” (Sl 8,1). “Quão numerosas são as tuas obras, Senhor! Fizeste com sabedoria todas as coisas” (Sl 104,24). E continua o texto pontifício:
“Foi igualmente Deus quem criou o homem à sua imagem e semelhança (cf Gn 1,26), dotado de inteligência e liberdade e o constituiu senhor do universo, como exclama ainda o Salmista: ‘Tu o fizeste pouco menos do que um deus, coroando-o de glória e beleza. Para que domine as obras de tuas mãos, sob seus pés tudo colocaste’ (Sl 8,5-6).”
Porem, a encíclica joânica denuncia a desordem (contrastante com a ordem estabelecida por Deus) recorrentemente reinante entre indivíduos e povos, “como se as mútuas relações não pudessem ser reguladas senão pela força” (cf n.º 4). Na verdade, o Criador imprimiu no íntimo do ser humano uma ordem, que a sua consciência manifesta e obriga peremptoriamente a observar, como afirma Paulo, “mostram a obra da lei gravada em seus corações, dando disto testemunho a sua consciência e seus pensamentos” (Rm 2,15), e o salmista, ao considerar que toda obra de Deus é um reflexo de sua infinita sabedoria, reflexo tanto mais luminoso, quanto mais essa obra participa da perfeição do ser (cf Sl 19,8-11) (cf n.º 5). Contra o que muitos julgam – que as relações de convivência entre os indivíduos e a sua respetiva comunidade política se regem pelas leis que as forças e os elementos irracionais do universo – o Papa afirmou que, “sendo leis de género diferente”, devem buscar-se “apenas onde as inscreveu o Criador de todas as coisas”, a natureza humana (cf n.º 6). Com efeito, mundo e homem, apesar de ambos serem criatura de Deus não se confundem: o mundo é para o homem.
Assim, as leis inscritas no coração humano, complementadas pela Revelação divina, é que “indicam claramente como regular na convivência humana as relações das pessoas entre si, as dos cidadãos com as respetivas autoridades públicas, as relações entre os diversos Estados, bem como as dos indivíduos e comunidades políticas com a comunidade mundial, cuja criação é hoje urgentemente postulada pelo bem comum universal” (cf n.º 6).
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O preâmbulo da Pacem in Terris cita efetivamente a maior parte dos textos dos livros da criação. De facto o texto típico da criação é o plasmado no Génesis: Gn 1,1,25, para a criação do mundo; Gn 1,26-31, para a criação do homem; e Gn 2,1-4a, para a criação do mundo e do homem. A narrativa, da tradição sacerdotal, parece de inspiração litúrgica pela sua configuração antifonal (“No princípio, Deus criou o céu e a terra”, in initio; “esta é história da criação do céu e da terra”, in fine), recitação a solo (a maior parte do texto) e refrónica (“Deus disse”; “houve uma tarde e uma manhã”). É um ato de louvor pela obra criadora de Deus, pela sua boa ordenação e pela sua conclusão.
Mostra que o mundo não é eterno nem se fez nem evolui sem a mão de Deus. Deus e mundo não se confundem: Deus fez e o mundo foi feito, não duma só vez, mas em permanência (ao longo dos dias). Deus não faz tudo; utiliza as causas segundas, sobretudo o homem: “Crescei e multiplicai-vos e dominai a terra” (cf Gn 1,28). O homem não é bem como o mundo: foi criado à imagem e semelhança de Deus (cf Gn 1,26.27) uno e plural (“façamos”), em comunidade e complementaridade, homem e mulher (cf Gn 1,27). Mas o homem está em relação com o mundo, faz parte do céu e terra criados por Deus com seu exército (cf 2,1). Mundo e homem não são coisa má: “e Deus viu que era bom”; “e tudo era muito bom” (Gn 1,25.31), porque corresponde ao que Deus tinha sonhado. Tudo está ordenado para o homem (cf Gn 1,29-30), como o homem para Cristo e Cristo para Deus (cf 1Cor 3,21-23). Criou (Barah) céu e terra e fez (‘a-sah’), realizou, levou a seu termo as coisas específicas do mundo. Tudo foi feito à sua ordem (faça-se).
O relato da criação, da tradição javista (cf Gn 2,4b-25), de feição antropomórfica, reconhece a condição similar de homem e mulher (Adão e Eva não são principalmente indivíduos, mas tipos humanos do masculino e do feminino), criados não como os demais seres, mas com uma vida insuflada de modo especial. Homem não suplanta a mulher, ela não foi tirada do calcanhar; mulher não suplanta o homem, não foi tirada da cabeça; são semelhantes, ela foi tirada do lado, são da mesma carne e dos mesmos ossos, são um para o outro – “ambos nus sem sentirem vergonha” (v. 25) – pelo que “o homem deixará pai e mãe para se unir a sua mulher e serão os dois uma só carne” (v.24).
O texto de Gn 1,1 – 2,4a toma-se como I Leitura da Vigília Pascal para dar graças pela obra criadora de Deus. E o tema da criação é recorrente nos salmos. A Pacem in Terris cita os salmos 8, 19 e 104. E poderia ter citado outros como, por exemplo:
Os salmos 33 (vv. 6-9.15), 65 (vv.10-14), 66 (vv.5-6), 89 (vv.12-13), 92 (vv.5-6), 93 (v.3), 95 (v.5), 100 (v.3), 111 (vv.7-8), 119 (v.73), 121 (v.2),136 (vv. 4-9), 139 (v.13) e 148, bem como Cl 3,16-17.
Os salmos e demais hinos que evocam a criação do universo e/ou do homem fazem-no em jeito laudatório, ora confessional ora invitativo e testemunhal. Exemplo deste estilo laudatório e testemunhal é o salmo 148, um convite a todo o universo a que se entregue ao louvor de Deus. Por isso, muitos dos versículos se iniciam com o imperativo “louvai”. Por seu turno, o salmo 150, que pressupõe a criação do mundo, da vida e do homem – ação inicial e permanente (em providência, guarda, cuidado…) – funciona como doxologia final do saltério. Daí, o seu início e termo em “aleluia”, o anafórico imperativo “louvai” e a solene acumulação de instrumentos musicais nesta vibrante apoteose final. A obra criadora e providente de Deus, a que Ele associa o homem, tudo merece!
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A Bíblia é uma coleção de livros de religião constitutivos da economia da salvação e seu testemunho. Apesar de muitos dos factos terem suporte histórico, não é livro de história no sentido técnico hodierno, muito menos de ciência no que ela possui de seguro ou falível. Baseada na linguagem comum das épocas em que se construiu, o seu escopo é a formação da fé do homem e da comunidade. Assim, livro da criação ou textos da providência não contrariam a evolução ou o papel do homem. Garantem é que nada aconteceu nem acontece sem a mão de Deus (que faz ou que permite no respeito das liberdades). Porém, apesar de ciência e religião terem versões diferentes para os mesmos factos e, em muitos casos, as teorias parecerem opor-se à Bíblia, recordo-me do que escreveram Werner Keller no seu livro “E a Bíblia tinha razão” (Ascona, 1978.) e David Limbaugh no livro “Jesus no banco dos réus” (Ed. Marcador: 2015).
Por outro lado, uma pesquisa encomendada pela NASA dá sentido ao v. 2 do cap. 1 do Génesis:
 “E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo”.
De facto, dados coligidos por satélite científico protoplanetário, que circunda o sistema estelar CoKu Tau 4, na constelação de Touro, concluem que planetas como a Terra se formam na escuridão de refugo e detritos da sua estrela central, coincidindo com a descrição do Génesis, que sustenta que o planeta era sem forma e vazio em seus estágios iniciais de desenvolvimento. Os cientistas da NASA afirmam ainda, segundo informações do PRNewsWire, que a descrição do Génesis é “incrivelmente precisa, tendo em vista o facto de que a palavra hebraica traduzida ‘dia’ (yom) pode significar vários períodos de tempo e não apenas um período de 24 horas”, o que coincidiria com o relato bíblico de que Deus criou o mundo em “dias”. Tais descobertas também revelam que, como um planeta amadurece dentro do seu casulo empoeirado de forma gradual, acaba por sugar toda a poeira existente entre ele e o sol, o que é compatível com o que o Génesis diz no v. 3 do capítulo 1: “Haja luz” – que a ciência considera “Luz difusa”.
Segundo o PRNewsWire, somente nos últimos estágios de formação do planeta, a luz do sol, já existente, a lua e as estrelas seriam visíveis da Terra: “Esta informação corresponde a Génesis 1,16 para o 4.º dia da criação, quando se olha pelo contexto da língua hebraica. ‘E Deus passou a fazer (‘a-sah’) os dois grandes luminares […] e também as estrelas’. A palavra hebraica ‘a-sah’ não significa criar, como barah, mas realizar ou levar a termo”, escreveu Paul Hutchins no portal. Assim, a Terra foi formada a partir de resíduos e detritos do sol e a luz surgiu lentamente em etapas, na forma exata descrita em Génesis, e tornando a passagem bíblica reconhecida como “cientificamente precisa quando lida no contexto do seu idioma original, o hebraico”.
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Porém, cabe à ciência e à religião fazerem o seu caminho, respeitando-se em prol do bem total.
2016.09.01 – Louro de Carvalho

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