A Associação de Retinopatia de Portugal (ARP), instituição particular de solidariedade social e pessoa
coletiva de utilidade pública, que tem como objetivo estatutário informar e
apoiar as pessoas afetadas e portadoras de retinopatias, está a desenvolver, de
23 de setembro a 15 de outubro, um programa de iniciativas para assinalar a Semana Internacional da Retina (o dia é a 29 de setembro) e o Dia Mundial da
Visão (13 de outubro). O programa
pretende ser um espaço de encontro, partilha de conhecimentos e experiências,
sensibilização e informação social, debate técnico e científico sobre várias
temáticas relevantes referentes à saúde e deficiência visual.
No quadro desse programa, assinala-se amanhã, dia 29 de
setembro, o Dia Mundial da Retina – ocasião propícia
para a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) alertar a população para a
importância da retina na acuidade visual, dado que as doenças da retina são a
principal causa de cegueira na população com idade mais avançada, e das doenças
da retina com maior impacto na acuidade visual, salienta-se a DMI (degenerescência
macular relacionada com a idade)
e a RD (retinopatia
diabética). Rita
Flores, médica oftalmologista e secretária-geral da SPO, em declarações ao
portal Atlas Saúde, referiu:
“A degenerescência macular relacionada
com a idade resulta numa afeção degenerativa da mácula, área da retina
responsável pela visão central (visão de leitura, reconhecimento de faces, pequenos objetos, etc.). Não tratada, a degenerescência
macular resulta numa perda progressiva de visão central, sendo que, de uma
forma geral, é poupada a visão ambulatória. Os sintomas iniciais desta doença
são a deformação da imagem (metamorfopsia) e a
dificuldade na leitura”.
E,
tornando-se a causa mais frequente de baixa de visão em doentes acima dos 50
anos nos países desenvolvidos, a DMI é uma doença silenciosa, sendo, muitas
vezes, percetível pelo doente só depois de envolver o outro olho. Por sua vez,
a RD é outra entidade muito importante no contexto das doenças da retina,
oferecendo-se como a causa mais frequente da cegueira de origem vascular e
surge no diabético secundário por lesão dos pequenos vasos da retina.
***
Também a edição de hoje, 28 de setembro, do DN e do JN inclui um suplemento Saúde
(dossier especial), alusivo à comemoração do Dia Mundial da Retina, em que emerge a relevância da DMI e a AOGER
(Associação de Oftalmologistas – grupo de estudos da retina), assinalando
este dia, refere ter convidado 21 oftalmologistas, seus associados, “que se
dedicam ao estudo, diagnóstico e tratamento das doenças daquela parte do olho”,
para responder a perguntas recorrentes dos doentes e seus familiares. O
trabalho de divulgação fica arrumado nos seguintes blocos: 1. alimentação –
suplementos e exercício; 2. aspetos clínicos – novas terapêuticas
antiVEGF e novidades disponíveis; 3.
conselhos – o que fazer em relação a
problemas oculares que possam ocorrer; 4.
hábitos e comportamentos – para
manter boa saúde ocular e proteger a visão; 5. Desporto e vida ao ar
livre – perguntas mais frequentes. Assim:
1. Suplementação
e exercício. Maria João Furtado,
depois de perspetivar a DMI, refere que, nas últimas décadas, estudos não randomizados
sugerem “um efeito protetor da suplementação da dieta com ácidos gordos ómega-3
no envelhecimento das células retinianas”, sendo “necessários novos estudos
randomizados” para melhor definir o efeito desta dieta “na prevenção das formas
avançadas de DMI”.
Sofia Fonseca, embora
reconheça que “a suplementação de vitamina D como forma de prevenir o
aparecimento ou a evolução da RD é um tema ainda não estudado”, entende ser de
recomendar “uma alimentação variada, que inclua peixe e atividades de exterior,
que não só promovam o exercício físico, mas também um exposição solar
adequada”.
Ana Fernandes
Fonseca refere que alguns estudos “demonstraram que o exercício
físico regular protege contra o desenvolvimento de cataratas” e que se
verificou, num estudo, que as pessoas que realizam exercício físico durante
pelo menos 30 minutos três vezes por semana têm 70% menos probabilidade de
desenvolver DMI e 25% probabilidade de vir a desenvolver glaucoma. Por isso,
sugere que se façam caminhadas, se subam escadas, se dance – pelo menos três
vezes por semana – para “prevenir e/ou controlar doenças cardiovasculares e
oculares”.
Helena Proença, constatando
que a RD é a principal cauda da diabetes mellitus (DM) e a maior causa de cegueira (nos
países desenvolvidos) em indivíduos dos 20 aos 65 anos, aponta, embora com
reservas, a irisina (proteína, assim
denominada evocando a deusa íris, mensageira entre o tecido muscular e os
outros órgãos), segregada pelo tecido muscular durante o exercício e
estimula a transformação do tecido adiposo branco em tecido adiposo castanho,
produzindo e libertando energia sob a forma de calor. Reduz o peso corporal e
aumenta a sensibilidade à insulina, contribuindo para o combate à obesidade e à
diabetes. Pelo que o exercício físico regular é de recomendar.
E João Chibante fala
da possibilidade de o oxigénio, essencial para a vida, se tornar tóxico para o
organismo devido a lesões criadas pelos ROS (espécies
reativas de oxigénio), que afetam tecidos com elevados gastos energéticos. Ora a
lesão oxidativa pode desempenhar papel relevante na patogénese das complicações
da DM e da RD. Assim, tem de se garantir o equilíbrio entre os oxidantes e os
antioxidantes. Porém, apesar de estes serem produzidos pelo organismo, só se
obtêm, na sua maior parte, pela alimentação ou pela suplementação. Aqui têm
papel fundamental a vitaminas C e a E (as
mais estudadas nesta ótica), bem como o zinco e o glutatião. A vitamina E converte os
ROS em formas menos ativas; e a vitamina C “é o mais potente oxidante
fisiológico que atua no meio aquoso do organismo”. Muitos e potentes
antioxidantes existem no alho, ameixa negra, nozes, uvas, cebola, funcho e chá
verde.
Ora, os antioxidantes levam “à inibição parcial das
alterações metabólicas da DMI”.
2. Aspetos
clínicos. Margarida Queirós diz
que a deteção da RD deve ser feita através de rastreio sistemático da
população. Nos pacientes com DM tipo 1, a primeira observação deve ocorrer
passado 5 anos após o seu início, com reavaliações anuais; nos de tipo 2, deve
ser feita aquando do diagnóstico da DM, com reavaliações anuais – ou bianuais
nos pacientes com DM de duração inferior a 10 anos com glicemias controladas e
rastreios prévios normais; e as mulheres em idade de procriar devem ser
observadas antes da gravidez ou até ao 3.º mês. Os doentes com RD devem ser
encaminhados para a consulta e adequado tratamento e vigilância.
Eliana Neto, depois de
explicar o que é a retina e como funciona, fala da utilização dos lasers
fototérmicos nas doenças vasculares da Retina, sobretudo a RD, mas também a
oclusão venosa e o macroaneurisma, e as doenças degenerativas da retina
periférica, que poderão ocasionar descolamento de retina, se não forem tratadas
convenientemente. Com a utilização dos lasers referidos, a energia luminosa
produzida é absorvida pelos tecidos oculares que contenham pigmentos endógenos
e convertida em calor responsável pela desnaturação proteica e de DNA (fotocoagulação). Vem, a seguir, o processo de reparação das células e
tecidos que deixam marcas esbranquiçadas e posteriormente pigmentadas no fundo
ocular.
Miguel Amaro sustenta que se
pode operar a diabetes ocular, mediante anestesia loco-regional e mesmo
anestesia geral, o que pode exigir internamento ou tolerar o regime ambulatório
e a cirurgia é feita diariamente nos serviços de oftalmologia do SNS (Serviço Nacional de Saúde), que estão bem equipados. A
recuperação varia entre uma semana e um mês e é necessário o acompanhamento
pós-operatório regular.
Miguel Ribeiro
Lume enumera alguns fatores de risco para a oclusão venosa retiniana (OVR), como hipertensão arterial, DM, glaucoma, dislipidemia, arteriosclerose
ou condições que promovem um estado de hipercoagulação (tabagismo, certas medicações, síndromes de hiperviscosidade e
outras patologias hematológicas e doenças inflamatórias). Ante uma OVR
em indivíduos menores de 50 anos e sem fatores de risco conhecidos, deve
proceder-se a um estudo etiológico das causas, em que é essencial a abordagem
pluridisciplinar.
E Sandra Barrão
fala de ponteiros laser e cegueira. É de destacar que só são autorizados
legalmente para uso público lasers com potência inferior a 5mW. Porém, devem
ser usados corretamente, para não provocarem a cegueira, e não são brinquedos
de crianças ou dispositivos para incomodar pessoas – o que deve ser tido em
conta por consumidores e, sobretudo, por encarregados de educação.
3. Conselhos.
Ana Ferreira recomenda que em caso de
perda de campo de visão se recorra a médico oftalmologista, que pode, além da
observação do doente, mandar proceder a exames complementares como: tomografia
de coerência ótica (OCT), perimetria
estática computorizada (PEC), angiografia
retiniana e ecografia ocular.
Belmira Beltrán refere não
haver propriamente uma abordagem clínica preventiva em caso de indivíduos com
antecedentes familiares com descolamento de retina. Porém, estes indivíduos
devem conhecer os sintomas e sinais de alerta e prestar-lhes com atenção. E,
quando necessário, devem submeter-se à observação dum médico oftalmologista
para um exame do fundo ocular ou fundoscopia, que também deve ser feito por
rotina a míopes com mais de 5 ou 6 dioptrias.
Bernardete
Pessoa diz que ver aranhiços e ter flashes
de luz podem fazer parte do mesmo processo ocular. Com o passar dos anos o
vítreo vai-se liquefazendo e qualquer lesão que possa dar entrada a nova
substância provoca tais efeitos e pode provocar a retração do vítreo e a sua
separação da retina, caso em que deve haver tratamento adequado para que não
redunde em descolamento da retina.
Filipe Mira refere que, no
caso de acidente como, por exemplo, uma bolada no olho, deve verificar-se se há
ferida sangrante ou deformação ocular e levar o doente a um serviço de
urgência. Não se verificando tal, é conveniente esperar um pouco, avaliar a
visão ocular, colocar gelo e ir verificando os sintomas oculares. No caso de
crianças o cuidado deve redobrar por causa da dificuldade de verbalização e, em
caso de dúvida, levá-las ao médico. O mais frequente é os acidentes deste tipo
darem origem a problemas retinianos que, se não forem controlados a tempo,
poderão ter graves consequências.
E Filomena Costa e
Silva fala do papel fundamental do médico de família na abordagem das
doenças oftalmológicas, em geral, e nas da retina, em especial. Deve, além de
fazer as adequadas observações de rotina, estar atento a quaisquer queixas
desta ordem, nomeadamente visão enevoada, baixa visual progressiva, etc., e
avaliar situações de doença que possam levar a perturbações do processo ocular,
como a hipertensão arterial (HTA) e a DM.
4. Hábitos e
comportamentos. Rui Carvalho
responde afirmativamente à questão se as crianças podem usar óculos de sol e afirma
que devem usá-los logo que tolerem o sol. Porém, as lentes devem ser de boa qualidade
de modo a proteger os olhos da radiação ultravioleta (UV), para evitar lesões nos olhos. Devem, pois, ter um filtro
de proteção UV-A e UV-B de 99 a 100%, idealmente também com filtro de luz azul,
sendo menos importante a cor das próprias lentes.
Rui Costa
Pereira adverte que, apesar de a oftalmologia ter avançado imenso, é
de todo conveniente ter em conta o aconselhamento médico para o pós-operatório.
Assim, após uma cirurgia penetrante em que seja necessária incisão no globo
ocular (como a catarata ou a vitrectomia), está
contraindicado durante uma semana molhar a cabeça no duche ou mergulhar na
piscina, como os esforços físicos e as viagens de avião. O uso de gás na
vitrectomia exige repouso e um determinado posicionamento prolongado,exigente e
difícil de cumprir.
Ricardo Faria diz que não se
pode dizer taxativamente que ver TV ou estar ao computador faça mal aos olhos.
No entanto, podem surgir complicações devido ao esforço prolongado de atenção,
como sucede com a leitura prolongada e intempestiva de um livro. Com efeito, ao
ver TV, estar ao computador ou a ler – durante muito tempo – faz com que pestanejemos
menos vezes. Ora o pestanejar favorece as pausas visuais e a lubrificação dos
olhos. Se estas falham, os riscos oculares aumentam.
E Marco Dutra Medeiros
aborda a questão dos efeitos do sol nos olhos. Na verdade, a exposição
demasiada ao sol ou a tentativa da sua fixação direta trazem consequências. Os
danos dos raios UV são cumulativos, isto é, quanto mais os olhos estiverem
expostos a eles, maiores serão os riscos de uma doença ao longo dos anos.
Todavia, uma adequada proteção solar é imprescindível para uma boa saúde
ocular.
5. Desporto e
vida ao ar livre. David Martins
responde à questão se um míope pode jogar futebol, dizendo que cada caso deve
ser avaliado por um oftalmologista e, sobretudo, no caso de miopia a
ultrapassar a 6 dioptrias, é preciso proceder à dilatação da pupila para
visualizar a retina e perceber se existem lesões que aumentem o risco de descolamento.
Durante a prática desportiva, deverão ser utilizados óculos especialmente
desenhados para o efeito, resistentes ao impacto, de forma a evitar lesões em
caso de queda ou de trauma (como uma bolada).
E Luís Gonçalves responde
a questões relacionadas com óculos de sol, úteis para todas as pessoas, mas sobretudo
crianças e adultos com dificuldade (sobretudo
se sujeitos à cirurgia da catarata). Começa por apontar a sua utilidade: visão mais confortável
em dias ensolarados (sobretudo entre as 10 e
as 16 horas) e proteção contra o vento e poeiras.
Os óculos de sol não são todos iguais. Porém, o objetivo
principal de todos é proteger os olhos dos raios UV (vd 4. o que disse
Rui Carvalho), sendo que “a utilização de óculos de sol com pouca
capacidade de filtrar raios UV é prejudicial para os olhos e são pior do que
expor os olhos ao sol sem proteção”. A cor das lentes tem importância na
aparência, mas o seu principal papel reside na oferta da visão de contraste e
na diferenciação das cores dos objetos. Dá- se preferência às cores cinza, castanha
ou verde. Face à diversidade de materiais utilizados no fabrico das lentes, aconselha-se
e para crianças e desportistas o poliuretano ou o policarbonato.
***
Enfim, com os olhos as precauções e o tratamento adequado!
2016.09.28 – Louro de Carvalho
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