sexta-feira, 13 de junho de 2014

Santo António, o santo do mundo todo

O modificador apositivo “o santo do mundo todo”, aplicado a Santo António, é a fórmula simpática e salomónica de Leão XII para dirimir a disputa da pertença do insigne Doutor da Igreja à lusa nação ou à italiana nação onde poisa a sede da Igreja Católica.
É óbvio que o santo é de Lisboa, porque nasceu em Lisboa, mas é de Pádua porque faleceu em Arcella, nas proximidades de Pádua. E poderia ser de Rimini, onde foi claramente rejeitado e violentamente hostilizado (posto o que terá decidido pregar aos peixes, já que os homens recusavam ouvi-lo), ou de Monpellier e Toulouse, cidades da região em que o santo foi considerado “o martelo dos hereges”. Quanto ao sentido de pertença, os portugueses também reivindicam, não sem razão, personalidades que, não tendo nascido no território nacional, mas que, por cá tendo passado e falecido, são consideradas como integrando o património hagiológico português, como, por exemplo, Isabel de Aragão, a santa esposa de D. Dinis; Francisco Xavier (nascido no Reino de Navarra), o apóstolo das Índias; e José de Anchieta (nascido nas Canárias), o apóstolo fundador de São Paulo (Brasil), com Manuel da Nóbrega.
Este santo merece, como adiante se verá, o apreço de todos pela santidade de vida, qualidades doutrinais e oratórias, defesa dos injustiçados, patrono das milícias e fautor do matrimónio.
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A Igreja Católica celebra, a 13 de junho, a festa litúrgica deste Santo, que nasceu em Lisboa no final do século XII e se tornou uma figura global da Igreja.
Em entrevista à agência Ecclesia, Frei Armindo Carvalho, reitor da igreja de S.to António, local do nascimento do santo, afirma que este religioso é “com toda a certeza o português mais conhecido, mais amado e mais espalhado pelo mundo inteiro”. E acrescenta que, no seu modo de ver, “é uma espécie de braço de Deus, permanentemente estendido, protegendo o seu povo, através desta amizade simples que lhes proporciona”.
O santo português, que morreu em Pádua, no ano de 1231, foi o primeiro professor de Teologia na ordem fundada por São Francisco de Assis. Lecionou nas universidades de Bolonha, Toulouse, Montpellier, Puy-en-Velay e Pádua, adquirindo grande renome como orador sacro no sul da França e na Itália. Ficaram célebres os sermões que proferiu em Forli, Provença, Languedoc e Paris.
O Papa Gregório IX canonizou-o apenas um ano depois da morte, em 1232, também após os milagres que se verificaram por sua intercessão. E Pio XII, em 1946, proclamou Santo António como “Doutor da Igreja”, atribuindo-lhe o título de “Doutor evangélico”.
Por seu turno, Frei Hermínio Gonçalves de Araújo, presidente da Fundação ‘Domus Fraternitas’ e responsável do Convento de Montariol (Braga), refere à mesma agência Ecclesia que “são incontáveis as iniciativas relacionadas com Santo António, o santo mais popular de Portugal, o português mais conhecido no mundo”. O religioso franciscano de Braga destaca o ‘Pão dos pobres de Santo António’ como gesto de solidariedade, que se estende a todos os que participam na festa. E deixa um apelo à contemplação e à ação solidária:
“Caso queira fazer parte desta nossa história, aceite o nosso convite: olhe para Santo António, olhe para o pão que ele tem na mão, símbolo da solidariedade; tal como ele, partilhe o pão”.
Ainda Frei Armindo Carvalho explica, que a igreja de S.to António em Lisboa foi construção “muito demorada” e que o serviço social começou com a vinda dos Franciscanos, há quase 9 décadas:
“O local de encontro é a cripta, com a igreja em cima. À entrada, temos esse serviço social há 87 anos, o chamado pão dos pobres de Santo António”.
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Santo António nasceu em Lisboa (Portugal) no dia 13 de setembro de 1191, segundo uns, e 1195, segundo outros. Com o nome de batismo de Fernando de Bulhões y Taveira de Azevedo, este filho de Martinho de Bulhões e Maria Teresa Taveira, reside frente à Sé Catedral de Lisboa, local onde hoje se encontra a Igreja de S.to António de Lisboa e onde permanece o quarto onde nasceu. Pensa-se que a sua era uma família nobre, oriunda da França, que no tempo das Cruzadas teria prestado grandes serviços a Afonso VI de Castilha contra os mouros ou tomado parte ativa na reconquista de Lisboa, em poder dos maometanos.
O jovem, que a partir dos sete anos de idade frequentou a escola – coisa rara ao tempo – em 1209, ingressou como noviço na Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, de São Vicente de Fora, em Lisboa. Ali ficou dois anos, após o que, porque eram tantas as visitas de parentes e amigos que lhe perturbavam a paz e vida de ascese, veio a solicitar a transferência para o Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, importante centro cultural, onde se dedica de corpo e alma ao estudo e à oração, pelo espaço de dez anos. Neste mosteiro, em Coimbra, estudou filosofia e teologia, fez a profissão religiosa e foi ordenado sacerdote, em 1219. Pouco depois, conhece os primeiros franciscanos, vindos de Assis, que ele recebe na portaria do Mosteiro e que o deixam impressionado pelo seu modo simples e alegre de viver.
Um ano depois, chegam a Coimbra os corpos de cinco mártires franciscanos. Fernando de Bulhões, até agora agostiniano, decide fazer-se franciscano como eles. Conforme seu desejo, é recebido na Ordem com o nome de Frei António e enviado para missões entre os sarracenos de Marrocos.
Ao chegar a Marrocos, em 1221, adoece gravemente, sendo obrigado a regressar à terra natal. Porém, uma tempestade desvia a embarcação arrastando-a para o Sul de Itália, o que o levou ao desembarque na Sicília. Em maio daquele ano, participa, em Assis, no capítulo das Esteiras, uma famosa reunião de cinco mil frades, onde conhece o fundador da Ordem, São Francisco de Assis. Terminado o capítulo, retira-se para o eremitério de Monte Paolo, junto dos Apeninos, onde passa 15 meses na solidão contemplativa e no trabalho braçal, não ficando ninguém a suspeitar da sabedoria de que é dotado este jovem frade português.
Chamado de improviso a falar, em 1222, numa celebração de ordenação sacerdotal, Frei António revela uma sabedoria e eloquência extraordinárias, que deixam a todos estupefactos. Começa aí sua epopeia de pregador itinerante. Uma vez descoberta a sua grande queda pela oratória e sua aptidão para o ensino, São Francisco de Assis, vendo a necessidade de proporcionar aos futuros missionários uma instrução que os colocasse à altura do ministério sagrado, encarrega-o da formação teológica dos irmãos em religião (nomeando-o “Lector” de Teologia), por meio de uma brevíssima carta a Frei António, em 1224, em que o chama cortesmente de “Frei António, meu bispo”.
Em 1225, depois de percorrer a região norte da Itália, passa a pregar no Sul da França, com notáveis frutos, sustentando disputas notórias com os hereges da região. Passa, no ano de 1226, a “custódio” na França e, um ano depois, a “provincial” dos frades no Norte da Itália.
O Capítulo Geral da Ordem, em Assis, em que ele participa, no ano de 1228, envia-o a Roma para tratar com o Papa de algumas questões pendentes. Convidado a pregar diante do Papa e dos Cardeais, causa tanta admiração pelo conhecimento que tem das Escrituras que Gregório IX o apelida de “Arca do Testamento”. Um ano depois, Frei António começa a redigir os “Sermões”, de que hoje se possuem impressos dois grandes volumes.
Pregou em Pádua, em 1231, a famosa quaresma, que foi entendida como o momento de refundação cristã da cidade. De todos os lados acorreram as multidões; houve prodígios e conversões. Mas Frei António, completamente exausto, sente aproximar-se o fim de seus dias. E, na tarde de 13 de Junho, mês do florescimento dos lírios, António morre às portas da cidade de Pádua, exclamando: “Estou vendo o Senhor”. As crianças são as primeiras a sair pelas ruas com o pregão: “Morreu o Santo”.
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O santo foi brindado por Deus com o dom da bilocação: durante um sermão contra os hereges, sem que houvesse qualquer interrupção presencial e/ou discursiva, apareceu em Lisboa a defender com êxito, qual excelente advogado, o pai, que fora injustamente condenado à morte de enforcamento sob a acusação de homicídio; e, em mais outras ocasiões de sua vida, se transportou de um lugar para outro, sendo visto contemporaneamente nos dois lugares.
Em Portugal, sua terra natal, e em outros países de língua portuguesa, nomeadamente o Brasil, a devoção ao santo atingiu tal intensidade que era invocado mormente em ocasiões de batalhas e guerras. Com isso, mereceu ser incorporado como soldado, intervindo em 1595, e promovido a capitão internido da Fortaleza da Barra (Salvador-Bahia) pelo governador da época D. Rodrigo da Costa, em 16 de julho de 1705 – promoção que foi confirmada por D. João V, em carta régia de 7 de abril de 1707. Mais tarde, o príncipe regente, D. João, futuro rei D. João VI, por decreto de 13 de setembro de 1810 e carta patente de 4 de fevereiro de 1811, promove o santo ao posto de sargento-mor, por atribuir à sua intercessão a proteção celeste recebida, abençoando seus esforços para “salvar a Monarchia da grande e difícil crise” a que esteve exposta, durante as invasões francesas em Portugal. Finalmente, a 25 de dezembro de 1814, D. João, ainda Príncipe Regente, assinou no Palácio da Real Fazenda de Santa Cruz (Rio de Janeiro) o decreto promovendo o sargento-mor Santo António ao posto de Tenente-Coronel de Infantaria. Em 22 de outubro de 1816, é expedida a carta patente da promoção do Santo a tenente-coronel, já assinada pelo Rei D. João VI, com o direito à respetiva remuneração ou soldo. E, em São Paulo, chegou mesmo ao posto de Coronel de Infantaria.
Quanto às razões do seu padroado dos namorados e do título de santo casamenteiro, é oportuno evocar o seguinte caso:
Havia, em Nápoles, uma bonita moça, cuja família não podia pagar o dote de casamento. Certa vez, ajoelhada aos pés da imagem do Santo, implorou com fé a sua ajuda, o qual, em resposta, lhe entregou miraculosamente um bilhete, mandando que o entregasse a um determinado comerciante. Pelo bilhete, Santo António pedia ao comerciante que desse à jovem uma soma de moedas de prata equivalentes ao peso do papel. O comerciante não se importou, achando que o peso daquela folheca era insignificante. Mas, para surpresa sua, foram necessários 400 escudos de prata para lograr o equilíbrio da balança. Foi aí que o comerciante se recordou de que outrora prometera 400 escudos de prata ao Santo, promessa que nunca havia cumprido. Percebeu, assim, que Santo António viera fazer agora a cobrança daquele modo tão discreto como maravilhoso. A jovem, assim, pôde casar-se de acordo com o costume da época e, a partir daí, Santo António recebeu – entre outros epítetos – o de “O Santo Casamenteiro”.
Dele dá João Paulo II testemunho, na alocução que proferiu em Lisboa a 12 de maio de 1982:
Nas primeiras experiências de franciscano aceita as contrariedades, fiel ao ideal, e responde com alegria aos desígnios divinos, numa entrega total de serviço generoso, pregando e ensinando teologia aos Frades, em atitude paciente, como o lavrador que aguarda, até receber a chuva temporã e a tardia, até se manifestar, de algum modo, o Senhor.
E, no dia 12 de setembro de 1982, por ocasião da visita à Basílica de Santo António, em Pádua:

Crentes, os mais pequenos e os menos defendidos sobretudo, sentem-no e consideram-no o seu Santo, um intercessor sempre pronto e potente em seu favor.

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