Uma das particularidades
comunicacionais deste campeonato mundial do mundo de 2014, organizado pelo
Brasil, conta-se, a par da entrada das equipas em campo com um número de
criancinhas equivalente ao dos membros da cada equipa, a série de conferências
de imprensa geridas por diferentes jogadores em regime de sucessividade. Isto sem
impedir que hic et nunc seja dada a
palavra a técnicos e jogadores em outras ocasiões. Tal é o poder irresistível da Comunicação Social para aliciar personalidades, dar uma ajudinha à sua promoção pública e satisfazer o seu ego pessoal e profissional.
Todavia, sem negar ou
desvalorizar o direito de alguém pegar num microfone, no quadro da inquestionável
liberdade de pensamento e de expressão, é de reconhecer que algumas pessoas não
dispõem da noção do justo equilíbrio quando são chamadas a gerir as
vicissitudes da capacidade técnica própria e dos seus semelhantes e ultrapassam
facilmente as marcas.
Tal parece ser o caso das declarações
prestadas por Cristiano Ronaldo após o fim da partida futebolística com os EUA,
que terminou empatada a duas bolas. O capitão da equipa de Paulo Bento falou à imprensa, mostrando-se
conformado com as duas más prestações na prova mundial em solo brasileiro, que
tem dispensado a melhor simpatia aso portugueses. O capitão da seleção nacional
remeteu o favoritismo do sucesso, que alegadamente nunca estivera do lado
português, para outras seleções congéneres e confessou que nunca acreditara no
triunfo da equipa das quinas.
“Temos
que ser humildes e saber a capacidade que temos. Neste momento, há melhores seleções
e melhores jogadores que os nossos. Somos uma equipa média, se calhar, sim.
Seria mentir se dissesse que éramos uma seleção de topo”. – Declarou o famoso jogador do
Real Madrid.
Escuda-se ele e seus admiradores na
justificação de que falara a título pessoal. Todavia, é muito difícil admitir
que passe para a opinião pública a ideia de que é possível tomar, numa circunstância
como esta, uma declaração de caráter meramente pessoal. Ninguém olha para o
considerado melhor jogador do mundo como se tivesse despido a farda de líder da
seleção de Portugal neste campeonato mundial, para classificar, a título
meramente pessoal, de equipa média um grupo que ultrapassou os escolhos que
encontrou para entrar no competitivo areópago mundial.
De facto, temos que ser humildes
e reconhecer a capacidade que temos e valorizar a capacidade dos outros. Porém,
não se afigura legítimo partir para um empreendimento desta envergadura sem fé
nas capacidades médias de si próprio, de cada companheiro e da equipa,
sobretudo se a sua coordenação depende do declarante. O próprio selecionador
deu a mão à equipa e concretamente a Ronaldo, sempre manifestando a capacidade
da equipa, a necessidade de trabalho e imputando a responsabilidade da primeira
derrota à equipa na sua globalidade e não especialmente a Ronaldo.
Também é certo que no âmbito do
futebol não é provável que haja milagres. Todavia, é interessante e pertinente
atentar nas palavras do Padre Vítor Melícias, que afirma que até os milagres
bíblicos operados por Cristo implicavam a fé. Ora, nestes termos, a primeira
condição para haver milagre disponível para Portugal nesta competição mundial é
que eles (jogadores e técnicos) acreditem, tenham fé desportiva.
Ora, Cristiano reconheceu que não visualizava Portugal como campeão do mundo:
“Portugal nunca foi favorito, nunca pensei que poderia ser campeão do
Mundo, sinceramente. Aliás, basta ver a qualificação e a necessidades dos jogos
com a Suécia, foi difícil desde o princípio”. – Justificou.
Embora o homem não possa
dispensar-se de dizer toda a verdade e só a verdade, é desejável que o líder
saiba gerir os momentos e as doses da revelação da mesma. Cristiano deveria, do
meu ponto de vista, ter atentado na gravidade da situação com que se depara a
equipa nacional, à qual, no quadro da responsabilidade de solidariedade e de liderança
que detém para com ela, deveria uma palavra de conforto e de estímulo para os
dias que se avizinham.
Com efeito, a seleção das quinas está com pé e meio fora do Mundial, depois de uma estrondosa derrota com a poderosa Alemanha e um empate comprometedor diante dos estranhos Estados Unidos da América, no ambiente quente e húmido de Manaus.
De calculadora ou de tablet nas mãos, como avisam os
observadores, os portugueses voltam a fazer mirabolantes contas, procurando uma
combinação milagrosa que lhes dê a passagem à fase seguinte. Para tal, torna-se imperioso vencer a seleção do Gana, condição essencial para se pensar em
resolver com o favor da sorte aquilo que não se soube até agora determinar exclusivamente
dentro das quatro linhas.
Assim, que ânimo pode o capitão Ronaldo
imprimir às suas “tropas” depois de ter badalado Urbi et Orbi o seu ceticismo sobre as capacidades de Portugal e de
ter oferecido ao mundo as afirmações de sua descrença ab initio, embora com o presunçoso remendo de que poderia ter
ficado pelas vitórias em campeonatos disputados pelo seu clube, mas afiançando
untuosamente que estava ali para ajudar, para colaborar, para fazer o seu
melhor. Era o que faltava estar ali para complicar ou para se exibir!
Valha-nos a declaração equilibradamente
crente do declarante que lhe sucedeu na Comunicação Social, jogador menos
visível, mas seguramente mais contido e, esse sim, mais humilde.
De resto, é necessário declarar
que aqueles que não têm jeito para gerir negócios públicos frente à comunicação
social, como o atual governo e os tugas
da bola, não devem privilegiar o uso indiscriminado dos briefings com jornalistas e fotógrafos. Como também é de recordar
que quem só sabe de futebol nem de futebol sabe. Ou seja, beber o chá do
equilíbrio e resistir à tentação do deslumbramento perante os fãs, aplicar-se
acurada e insistentemente nos objetivos e tarefas próprios da atividade, oportuna
e inoportunamente, com saber, entrega e atualização devem ser as marcas
fundamentais do profissional e do líder.
Se calhar, é de exigir ao
futebolista o saber académico, o saber desportivo, o saber profissional num
quadro de segura deontologia e humana solidariedade. Que pena o desporto ter-se
transformado no negócio dos grandes, na guerra dos interesses, na fonte de
dinheiro fácil, no esquema do vale tudo”, no vedetismo da áurea mediania!
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