domingo, 31 de dezembro de 2023

Viver na gratidão e na esperança cristã

 

Horas antes do início do ano novo de 2024, em Roma, o Papa Francisco encorajou as pessoas a viverem esta última noite do ano “de forma diferente de uma mentalidade mundana”, com a gratidão e a esperança cristãs que nascem da relação “com Deus e com os irmãos”.

Ao celebrar as I Vésperas da solenidade de Santa Maria Mãe de Deus e o Te Deum de ação de graças de fim de ano, na basílica de São Pedro, no Vaticano, o Santo Padre realçou que “a fé nos permite viver esta hora de forma diferente de uma mentalidade mundana”.

“A fé em Jesus Cristo, Deus encarnado, nascido da Virgem Maria, dá um novo modo de perceber o tempo e a vida. Eu resumi-lo-ia em duas palavras: gratidão e esperança”, declarou o Papa.

“Alguém poderia dizer: ‘Mas não é o que todos fazem nesta última noite do ano? Todos agradecem, todos esperam, crentes ou não crentes’. Talvez possa parecer que seja assim, e quem sabe o seja! Mas, na realidade, a gratidão mundana, a esperança mundana são aparentes; falta-lhes a dimensão essencial que é a da relação com o Outro e com os outros, com Deus e com os irmãos”, disse, fiel à preconização da fraternidade universal, que alguns movimentos cívicos celebram a 1 de janeiro.

Porém, a fraternidade de que o Papa Francisco se faz arauto e de que um falecido Bispo da Beira (Moçambique), D. Sebastião Soares de Resende, se fez paladino, querendo que o Concilio Vaticano II definisse como dogma “Todo o homem é meu irmão”, é uma fraternidade extensiva a todos (não só aos seres humanos do sexo masculino) e radica no cerne do Evangelho. Pressupõe que todos temos um mesmo Pai, Deus, que tem um rosto maternal de misericórdia.

Essa gratidão e esperança mundanas, disse o Papa, “estão focadas no eu, nos seus interesses e, assim, têm o fôlego curto, não vão além da satisfação e do otimismo”.

“Pelo contrário, nesta Liturgia, que culmina com o grande hino Te Deum laudamus, respira-se uma atmosfera completamente diferente: a do louvor, da admiração, da gratidão. E isto acontece, não pela grandiosidade da Basílica, não pelas luzes e cantos – estas coisas são, antes, a consequência –, mas pelo Mistério que a antífona do primeiro salmo assim expressou: ‘Oh admirável intercâmbio! O Criador do género humano, assumindo corpo e alma, quis nascer de uma virgem; e, feito homem, tornou-nos participantes da sua própria divindade’.”.

O Santo Padre disse que “a Liturgia nos faz entrar nos sentimentos da Igreja; e a Igreja, por assim dizer, aprende-os com a Virgem Mãe”.

“Pensemos em qual teria sido a gratidão no coração de Maria, enquanto olhava para Jesus recém-nascido. É uma experiência que somente uma mãe pode fazer, e que, todavia, Nela, na Mãe de Deus, tem uma profundidade única, incomparável”, considerou.

“Maria sabe, Ela sozinha junto com José, de onde vem aquele Menino. Mas está ali, respira, chora, tem necessidade de comer, de ser coberto, de que se Lhe prestem cuidados. O Mistério dá espaço à gratidão, que aflora na contemplação do dom, na gratuidade, enquanto sufoca na ansiedade de ter e de aparecer”. Esta é a grande Epifania de Deus, em que se tornam indissociáveis: o Natal, o anúncio do anjo aos pastores das cercanias de Belém, os cantares angélicos, a adoração dos magos e, mais tarde, o batismo no Jordão.   

O papa Francisco disse que “a Igreja aprende a gratidão da Virgem Mãe. E aprende também a esperança”.

O sentimento natalício de Maria e da Igreja não é otimismo, é outra coisa: é fé no Deus fiel às suas promessas; e esta fé assume a forma da esperança na dimensão do tempo, poderíamos dizer ‘em caminho’. O cristão, como Maria, é um peregrino de esperança. E, precisamente, este será o tema do Jubileu de 2025: Peregrinos de Esperança”, explicou o Bispo de Roma.

Referindo-se, em particular, ao Jubileu de 2025, que terá início com a abertura da Porta Santa da Basílica de São Pedro, em dezembro de 2024, o Papa encorajou as pessoas a trabalharem “cada qual no próprio âmbito”, para fazer de Roma “um sinal de esperança para quem nela vive e para quem a visita”. Com efeito, “uma cidade mais habitável para os seus cidadãos é também mais acolhedora para todos”, garantiu.

O Papa Francisco disse que “uma peregrinação, especialmente se for empenhativa, exige uma boa preparação”. “É por isso que o próximo ano, que antecede o Jubileu, será dedicado à oração. E que melhor mestra poderíamos ter do que a nossa Santa Mãe?”

“Aprendamos dela a viver cada dia, cada momento, cada ocupação com o olhar interior voltado para Jesus”, exortou.

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Também no último dia de 2023, o papa Francisco lembrou o seu antecessor, Bento XVI, que morreu há um ano.

Na mensagem depois da oração do Angelus, Francisco disse que, “há um ano, o Papa Bento XVI concluía o seu caminho terreno, depois de ter servido a Igreja com amor e sabedoria”.

“Temos por ele tanto afeto, tanta gratidão, tanta admiração. Do céu nos abençoe e nos acompanhe. E um aplauso para Bento XVI”, rogou.

Nascido a 16 de abril de 1927, na cidade alemã de Marktl, Joseph Aloisius Ratzinger foi eleito papa em abril de 2005, sucedendo são João Paulo II, ao lado do qual serviu durante muitos anos como prefeito da então Congregação (hoje Dicastério) para a Doutrina da Fé.

Durante o seu pontificado, publicou três encíclicas: Deus Caritas EstSpe Salvi e Caritas in Veritate.

Em 11 de fevereiro de 2013, aos 85 anos, Bento XVI tornou-se o primeiro papa a renunciar em 600 anos. Depois da sua renúncia, o Papa que é considerado um dos maiores teólogos da História da Igreja Católica, passou a morar no mosteiro Mater Ecclesiae, um pequeno convento situado no interior do Vaticano, dedicando a sua vida à oração e ao estudo.

Bento XVI morreu aos 95 anos de idade. A sua morte foi confirmada, a 31 de dezembro de 2022, pelo diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni: “É com tristeza que vos informo que o papa emérito Bento XVI morreu hoje, às 9h34, no Mosteiro Mater Ecclesiae, no Vaticano.”

Como foi revelado mais tarde, as suas últimas palavras foram em Italiano: “Signore, ti amo” (Senhor, eu te amo).

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Também neste dia se poderia celebrar São Silvestre, se não fosse domingo.

São Silvestre nasceu em Roma, foi eleito papa em 314, a um ano do edito de Milão, por meio do qual o imperador Constantino concedeu liberdade de culto aos cristãos.

No seu pontificado, viu aflorar-se uma perigosa agitação doutrinária, com origem na pregação de Ario, sacerdote alexandrino que negava a divindade da segunda Pessoa e, consequentemente, o mistério da Santíssima Trindade.

Diante disso, Constantino convocou bispos para abordar a questão. O Papa enviou os seus representantes Ósio, bispo de Córdova, e dois presbíteros.

Foi o primeiro Concílio Ecuménico (universal) – aliás, o segundo, porque o primeiro foi o de Jerusalém, no tempo apostólico – que reuniu em Niceia, no ano 325, mais de 300 bispos, com o próprio Imperador a presidir em lugar de honra.

Os padres conciliares (é a designação dos bispos em concílio) não tiveram dificuldade em fazer prevalecer a doutrina recebida dos Apóstolos sobre a divindade de Jesus Cristo, proposta, energicamente, pelo bispo de Alexandria, Santo Atanásio. A heresia de Ario foi condenada sem hesitação e a ortodoxia trinitária ficou outorgada no chamado Símbolo Niceno ou Credo, ratificado por São Silvestre.

Constantino também doou ao Papa Silvestre o palácio imperial de Latrão, que foi a residência papal até Leão XI. Junto a esse palácio, mais tarde, foi construída a Basílica de São João de Latrão.

Foi também no seu pontificado que se ergueu a antiga Basílica de São Pedro.

São Silvestre I morreu em 31 de dezembro de 335 e foi sepultado no cemitério de Priscila. Foi o primeiro papa que não morreu mártir, depois de 32 papas. Os seus restos mortais foram transladados por Paulo I (757-767) para a igreja erguida em sua memória.

Neste último dia do ano, agradeça-se a Deus pelo ano que passou e peça-se pelo que se inicia, por intercessão de são Silvestre, com esta oração:

“Deus, nosso Pai, hoje é o último dia do ano. Nós vos agradecemos todas as graças que nos concedestes através dos vossos santos. E, hoje, pedimos a São Silvestre que interceda a vós por nós! Perdoai as nossas faltas, o nosso pecado e dai-nos a graça da contínua conversão.

"Renovai as nossas esperanças, fortalecei a nossa fé, abri a nossa mente e os nossos corações, não nos deixeis acomodar em nossas posições conquistadas, mas, como povo peregrino, caminhemos sem cessar rumo aos Novos Céus e à Nova Terra a nós prometidos. Senhor, Deus nosso Pai, que o Vosso Espírito Santo, o Dom de Jesus Ressuscitado, nos mova e nos faça clamar, hoje e sempre: “Abba! Pai!” Venha a nós o vosso Reino de paz e de justiça. Renovai a face da Terra, criai no homem um coração novo! Amém."

2023.12.31 – Louro de Carvalho

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