sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Como Maria, acolher o dom de Deus com admiração e simplicidade

 

 

Na solenidade da Imaculada Conceição, a 8 de dezembro, às 12 horas, de Roma, o Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, destacando a admiração pelas obras de Deus e a fidelidade nas coisas simples como as duas atitudes que permitiram a Maria manter o seu coração livre do pecado.

Francisco voltou a rezar a oração mariana do Angelus a partir da janela do Palácio Apostólico, após duas semanas em que, por recomendação médica, a pronunciou a partir da Capela da Casa Santa Marta.

Aos fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro, o Pontífice destacou duas atitudes da Virgem Maria que lhe permitiram ter um coração totalmente livre do pecado.

Desde logo, a surpresa quando ouve ser chamada de “cheia de graça”: “É uma atitude importante saber maravilhar-se diante dos dons do Senhor, nunca os considerando como óbvios, apreciar o seu valor, alegrar-se pela confiança e ternura que trazem consigo.”

Sublinhando que “é também importante testemunhar esse maravilhamento diante dos outros, falando com humildade dos dons de Deus, do bem recebido, e não somente dos problemas cotidianos”, o Santo Padre convidou os fiéis a uma reflexão: “Podemos nos perguntar: eu sei maravilhar-me com as obras de Deus? Às vezes acontece comigo ficar maravilhado com isso e compartilhar com alguém?” 

Maria, enfatiza o Santo Padre, é “uma jovem, que, precisamente, graças à sua simplicidade, conservou puro aquele Coração Imaculado com o qual, pela graça de Deus, foi concebida”: “Para acolher os grandes dons de Deus, é fundamental saber valorizar os mais quotidianos e menos evidentes.” Pela simplicidade, a Virgem cultivou o imenso dom da sua Imaculada Conceição e acolheu as oportunidades de crescimento do seu tempo: a Palavra de Deus, a fé para a qual foi educada pelos pais, a generosidade e a prontidão com que se comportou. “Foi por meio da fidelidade quotidiana no bem que Nossa Senhora permitiu ao dom de Deus crescer nela; foi assim que Ela Se preparou para responder ao Senhor, para Lhe dizer “sim” com toda a sua vida”.

E, em sintonia com o discurso acerca de Maria, vem a interpelação papal: “Então perguntemo-nos: Eu acredito que o importante, nas situações de cada dia como no caminho espiritual, é a fidelidade a Deus? E, se acredito nisso, encontro o tempo para ler o Evangelho, para rezar, participar na Eucaristia e receber o Perdão sacramental, para fazer algum gesto concreto de serviço gratuito? São essas pequenas escolhas decisivas para acolher a presença do Senhor.”

Depois, formulou o voto: “Que Maria Imaculada nos ajude a maravilhar-nos com os dons de Deus e a responder-lhe com a fiel generosidade de cada dia.”

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Depois da recitação do Angelus, o convite do Papa a todos foi a que se unissem a ele na oração a Nossa Senhora, nesta Solenidade da Imaculada Conceição. “Peçamos paz, que os corações sejam pacificados, que haja paz!”. E o seu pensamento dirigiu-se também aos membros da Ação Católica e ao jubileu da Diocese de Quebec, a primeira do Canadá.

A melhora no seu quadro de saúde permitiu-lhe também sair do Vaticano, para rezar na Basílica de Santa Maria Maior e, a seguir, na na Piazza di Spagna, no centro de Roma. E, a este respeito, exortou: “Peço a todos, especialmente aos fiéis de Roma, que se unam espiritualmente a mim nestes gestos de entrega à nossa Mãe, rezando em particular pela paz, pela paz na Ucrânia, pela paz na Palestina e em Israel, e em todas as terras feridas pelas guerras. Peçamos a paz, que os corações sejam pacificados, que haja paz!”

Antes de anunciar a primeira Jornada Mundial da Criança, em maio de 2024, o Santo Padre saudou os fiéis da Diocese de Quebec, no Canadá, que no dia da Imaculada Conceição, sua padroeira, inauguram o Jubileu pelo 350.º aniversário da sua fundação: “Quebec foi a primeira diocese fundada no Canadá. Feliz Ano Jubilar e que a Virgem Maria vos acompanhe!”

O Pontífice, ao saudar afetuosamente os romanos e os peregrinos vindos da Itália e de vários países do Mundo, dirigiu o seu pensamento aos membros da Ação Católica, que renovam, nestes dias, a sua adesão. O incentivo é que todos os membros, “das crianças aos idosos”, possam ser “pedras vivas na Igreja e bom fermento na sociedade”.

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No tradicional ato de devoção à Virgem diante do monumento dedicado a Nossa Senhora, na Praça de Espanha, o Papa confiou à intercessão de Maria os povos oprimidos pela injustiça, pela pobreza, pela guerra; e rezou pelos povos da Ucrânia, da Palestina e de Israel, “mergulhados novamente na espiral da violência”. Porém, como previsto, parou na Basílica de Santa Maria Maior, onde prestou homenagem à Salus Populi Romani, rezando em silêncio, como o faz antes de partir em viagem apostólica, bem como no regresso, e oferecendo- Lhe a “Rosa de Ouro”, gesto que não era feito, há 400 anos, àquele venerado ícone mariano.

O Papa deixou o Vaticano na tarde deste dia 8. Primeiro, foi à Basílica de Santa Maria Maior para um momento de veneração diante do ícone de Nossa Senhora Salus Populi Romani, ocasião em que realizou um ato histórico: ofereceu a “Rosa de Ouro” à imagem da Virgem Maria, um gesto acompanhado em oração pelos fiéis, peregrinos, religiosos e religiosas presentes. Diante da imagem, o Pontífice rezou em silêncio e, em seguida, dirigiu-se à Praça de Espanha, para o ato de veneração à Imaculada Conceição.

A Praça de Espanha estava repleta de fiéis romanos e de turistas. O Papa foi recebido pelas autoridades municipais, entre elas o prefeito Roberto Gualtieri, e pelo vigário para a Diocese de Roma, cardeal Angelo Di Donatis. Na oração, feita aos pés do monumento dedicado a Nossa Senhora, após ser depositado um cesto de rosas brancas, Francisco dirigiu-se à Virgem, dizendo: “Nós dirigimo-nos a Ti com os nossos corações divididos entre a esperança e a angústia.”

Pedindo a Maria pelos povos oprimidos pela guerra, pela injustiça e pela pobreza, rezou: “Mãe, volta os teus olhos de misericórdia para todos os povos oprimidos pela injustiça e pela pobreza, provados pela guerra; olha para o atormentado povo ucraniano, para o povo palestino e para o povo israelita, mergulhados novamente na espiral da violência.

O Santo Padre, rogando pelas mães que, por diferentes motivos, em tantas partes do Mundo, sofrem pelos seus filhos, disse: “Mãe Santíssima, trazemos aqui, sob o teu olhar, tantas mães que, como te ocorreu, estão a sofrer. Mães que choram os seus filhos mortos pela guerra e pelo terrorismo. As mães que os veem partir para viagens de desesperada esperança. E também as mães que tentam libertá-los das amarras do vício, e as que os assistem numa doença longa e difícil.”

O olhar do Santo Padre voltou-se também para a situação de violência de que muitas mulheres são vítimas, confiando-as a Maria, como mulher, rezando: “Hoje, Maria, precisamos de Ti como mulher para Te confiarmos todas as mulheres que sofreram violência e aquelas que ainda são vítimas dela, nesta cidade, na Itália e em todas as partes do Mundo. Tu conhece-las uma a uma, conheces os seus rostos. Enxuga, pedimos-Te, as suas lágrimas e as dos seus entes queridos. E ajuda-nos a trilhar um caminho de educação e de purificação, reconhecendo e combatendo a violência que se esconde em nossos corações e mentes e pedindo a Deus que nos livre dela.”

E Francisco terminou a sua oração, pedindo à nossa Mãe Santíssima que nos mostre o caminho da conversão do coração: “Mostra-nos, novamente, ó Mãe, o caminho da conversão, pois não há paz sem perdão e não há perdão sem arrependimento. O Mundo muda, se os corações mudarem; e cada um deve dizer: ‘a começar pelo meu’. Mas somente Deus pode mudar o coração humano com a sua graça: a graça na qual Tu, Maria, estás imersa, desde o primeiro momento.”

Antes de deixar a Praça de Espanha, o Santo Padre deteve-se, por alguns instantes, a saudar alguns fiéis, peregrinos e turistas presentes, agentes das forças da ordem, voltando, em seguida, para o Vaticano.

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Não seria conveniente concluir este relato atinente à espiritualidade da Imaculada Conceição sem oportuna referência ao livro do cardeal Angelo Comastri, arcipreste emérito da Basílica Vaticana de São Pedro, “Maria, a mulher mais bela do Mundo”, publicado recentemente por Edizioni San Paolo e que fala da beleza física da Virgem Maria.

“Este título permite esclarecer o que é a beleza”, afirma o purpurado à Telepace, abordando uma questão significativa para a nossa contemporaneidade, à luz das muitas dinâmicas que giram em torno do corpo das mulheres. “A beleza de Maria começa pela alma, parte do coração e reverbera no rosto”, explica.

Para argumentar melhor, o autor recorda dois exemplos de mulheres: Marilyn Monroe e Madre Teresa de Calcutá. A primeira é, provavelmente, considerada por todos uma mulher muito bonita. “Todavia – diz Comastri – morreu aos 36 anos, por uso excessivo de barbitúricos e usou a beleza para seduzir e abandonar, portanto por dentro ela não era bela: era uma máscara, o que não é beleza”.

Já os olhos de Madre Teresa, pelo contrário, refletiam a beleza da alma. “Havia caridade vivida que transparecia no seu rosto”, observa o cardeal, relatando a resposta da religiosa a um fotógrafo que, por ocasião de uma celebração, perguntou qual era o segredo da beleza e da felicidade dos seus olhos. “Meus olhos, se você quiser, são belos e felizes, porque as minhas mãos enxugam tantas lágrimas”, afirmou Madre Teresa.

Até Pasolini ficou fascinado pela beleza de Madre Teresa, acrescenta Angelo Comastri, voltando ao tema central do livro. “Pode-se dizer que a Teologia tenha tido um certo pudor, ao abordar o tema da beleza de Maria, mas os artistas e os poetas falam sobre isso”.

De Botticelli a Petrarca, o livro analisa diversos casos que levam à reflexão sobre a devoção mariana. “Muitos disseram – explica – que a devoção a Nossa Senhora é tardia e que nasceu depois do Concílio de Éfeso, mas não é verdade”. Para Comastri, o primeiro devoto foi o Arcanjo Gabriel, quando anunciou a Maria que Ela seria a mãe do filho de Deus.

Portanto, o caminho devocional vem de longe: passa das palavras de Jesus ao apóstolo João, sob a cruz, junto com Nossa Senhora, para chegar até os nossos dias. São tantas as pessoas que continuam a recorrer à Virgem, especialmente nos momentos de dificuldade e de incerteza.

“É natural que uma criança confie na sua mãe e lhe peça ajuda, quando está em apuros”, diz Comastri, que partilha os seus pedidos pessoais. “Eu digo-Lhe sempre: Madonnina, Tu, que és modelo de fé, deixa-me ter, pelo menos, uma migalha de fé. Porque se a fé está viva, tudo fica mais vivo, tudo se ilumina”.

Refletindo sobre a Solenidade da Imaculada Conceição, o purpurado não hesita em afirmar: “8 de dezembro é um dia extraordinário: nunca havia acontecido que um dogma tenha sido confirmado pelo céu”. Di-lo em referência à aparição, em Lourdes, a 25 de março de 1858, quando Nossa Senhora revelou a Bernadete que era a Imaculada Conceição, confirmando o dogma proclamado pelo Papa Pio IX, a 8 de dezembro de 1854.

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Maria, a mulher cuja beleza começa por dentro, é realmente modelo de fé que gera beleza real.

2023.12.08 – Louro de Carvalho

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