quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Guerra na Ucrânia em “fase crítica”

 
Depois de a União Europeia (UE) ter aprovado um novo pacote de sanções à Rússia (o décimo segundo), o presidente ucraniano discursou na conferência de balanço do ano, agradecendo aos aliados e a países parceiros o apoio que têm dado ao seu país.
Volodymyr Zelensky admitiu que a guerra na Ucrânia está numa “fase crítica” e que a população ucraniana enfrenta muitas dificuldades, mas rejeitou a ideia de que Kiev está “gradualmente” a perder e assegurou que a Rússia “não conseguiu alcançar os seus objetivos”.
No balanço de final de ano, em Kiev, o presidente agradeceu à UE a aprovação de um novo pacote de sanções à Rússia, que abrange os diamantes russos, não deixando de lembrar que espera que, “dentro de pouco tempo”, o país possa pertencer ao bloco europeu.
A nossa bandeira azul e amarela é a nossa maior vitória. Acredito que vamos conseguir preservar não só a nossa bandeira, mas o nosso país todo. Essa será a nossa vitória, depois de tudo o que o nosso país está a enfrentar, todo o sofrimento que o nosso povo está a passar”, declarou o presidente, no discurso inicial, acrescentando: “Estamos a lutar pela nossa independência e pelo no tom de reflexão, Zelensky recordou que “toda a História da Ucrânia tem sido de luta”, mas que esta é, “possivelmente, a batalha mais importante” do país.
“Quero agradecer aos nossos parceiros pelo pacote [de apoio] muito significativo. Este ano muito difícil está a terminar”, repetiu, vincando que, a nível económico, o país enfrenta uma fase crítica e “as populações estão a sentir esta época difícil”. “Apesar disto tudo, conseguimos aumentar a economia da Ucrânia, neste ano, em 5%, o que é uma vitória para nós”, sublinhou.
Avaliando a situação de conflito que o país vive, o chefe de Estado não esconde que a guerra com a Rússia está “numa fase crítica”. Todavia, acreditando que a “vitória está próxima”, quis agradecer às Forças Armadas.
“A nossa vitória no Mar Negro está próxima”, disse acrescentando que esta “enorme vitória” do exército ucraniano sobre a Rússia permitiu estabelecer, desde agosto, um “corredor marítimo” para exportação de mercadorias.
“Isso está integrado na nossa operação no Sul”, prosseguiu o líder ucraniano, lembrando as ameaças russas de bombardeamentos e a suposta superioridade marítima da frota russa. “Nem sempre são notados os esforços do povo ucraniano para se defender das forças russas. Estamos a tentar defender o nosso mar, o Mar Negro, estamos a tentar defender o povo ucraniano, e a desbloquear a economia da Ucrânia, para conseguirmos evitar a destruição do nosso país. […] Fazemos tudo o que é possível”, porfiou, admitindo que a grande “meta” é libertar o Mar Negro das forças russas.
Zelensky aproveitou, ainda, para anunciar que a Ucrânia vai receber “diversos” novos sistemas antiaéreos Patriot.
Questionado sobre notícias que davam conta de avanços russos, nas últimas semanas, o presidente ucraniano assegurou que “neste ano, a Rússia não conseguiu atingir os seus objetivos”. E, sobre o eventual fim do conflito, assumiu não ter qualquer perspetiva. “Penso que ninguém sabe a resposta. Mesmo as pessoas respeitadas, os comandantes, os nossos ou os do Ocidente. Quando dizem que a guerra vai durar muitos anos, não sabem. Isso são opiniões. As opiniões diferem muitas vezes da realidade”, considerou, dizendo também que a Rússia não registou quaisquer ganhos, em 2023. “Não chegaram ao Donbass e a outros territórios e, por isso, não se pode falar de qualquer vitória.”
Interpelado por jornalistas presentes na conferência, Zelensky confirmou que o exército apresentou uma proposta para a mobilização de população civil para as forças de defesa, visando o plano o recrutamento entre 450 a 500 mil pessoas, para continuar a defender o país da invasão russa. Contudo, admite que ainda não tomou uma decisão sobre esta proposta e que precisa de mais “argumentos para ter apoio nesta decisão”, uma vez que esta é uma questão de segurança da população e que envolve gastos financeiros.
“Com este aumento, a Defesa da Ucrânia vai ficar muito mais forte, mas eu também me preocupo com o que acontece a estes rapazes que vão para a linha da frente”, argumentou. “Precisamos ainda de elaborar um complexo plano que inclua todos estes aspetos. Temos de dar uma resposta justa à população”, explicou.
O exército e o grupo de trabalho nomeado pelo governo, adiantou Zelensky, “já começou a trabalhar neste plano”. “Para mim, este é o assunto mais importante de todos, é a questão número um. E o mais importante é que o plano está a ser elaborado para equilibrar as forças que estão na linha da frente”, explicou, justificando que o objetivo é que os militares que têm estado a combater, nos últimos meses, possam ser temporariamente substituídos para descansarem.
Além das questões sociais que envolvem o recrutamento de civis, admitiu que é necessário também “apoio financeiro para implementar este plano”. A mobilização, referiu, poderá custar cerca de 12,5 mil milhões de euros.
A este ponto, haverá referência mais adiante.
A guerra na Ucrânia não está ganha e a população, como admitiu Zelensky, enfrenta vários problemas, incluindo uma crise económica. Mas o líder ucraniano acredita que estará “para breve” um novo acordo com os Estados Unidos da América (EUA) e que Washington dará o apoio necessário à Ucrânia, mostrando à UE que os aliados não estão a vacilar.
Aliás, a 18 de dezembro, John Kirby, conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, anunciou que a Casa Branca ia fornecer mais um pacote de ajuda à Ucrânia, ainda este mês, e apelou a que o Congresso norte-americano aprovasse mais financiamento a Kiev. Todavia, tal aprovação é passível de resistência da parte do Partido Republicano e até do Partido Democrata, a que pertence Joe Biden. A perspetiva das eleições norte-americana não favorece o apoio à Ucrânia  
Confrontado com a possibilidade de Donald Trump voltar à Presidência dos EUA, Zelensky não negou que “terá uma política diferente” do atual governo de Joe Biden, no atinente às relações com Kiev e à ajuda no combate à invasão russa. “Se as políticas do próximo presidente forem diferentes, seja ele quem for, se forem mais frias ou mais frugais, acho que esses sinais terão um impacto muito grande no curso da guerra na Ucrânia”, observou, resignando-se: “É assim que o mundo funciona: se uma parte forte cair, o mecanismo começa a desmoronar.”
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Entretanto, a 21 de dezembro, em entrevista à Welt TV, o ministro da Defesa ucraniano Rustem Umerov, sustentou que vão ser chamados cidadãos entre os 25 e 60 anos que estejam aptos para o serviço militar. “Ainda estamos a pensar no que fazer, se não vierem voluntariamente”, preveniu.
Ficámos, pois, a saber que a Ucrânia planeia “convidar” os Ucranianos residentes no estrangeiro a aliarem-se, no próximo ano, às tropas de Volodymyr Zelensky na guerra contra a Rússia. Porém, os que não comparecerem de livre vontade, nos gabinetes de recrutamento, podem ser sancionados. 
Segundo o Kjiv Independent, o presidente da Ucrânia informou, numa conferência de imprensa, no dia 19 de dezembro, que planeia mobilizar entre 450 mil e 500 mil novos soldados, tendo instruído Rustem Umerov e o comandante do Estado-Maior das Forças Armadas, Valerii Zaluzhnyi, a desenharem um novo procedimento para conseguirem um número tão elevado de pessoas quanto possível.
Mas, para o plano ser formalizado, Zelensky afirmou que será necessário ter em conta um conjunto de questões importantes, nomeadamente as formações das equipas, onde e quando vão servir e a desmobilização de tropas que combatem há quase dois anos, bem como recursos financeiros. “É uma situação delicada”, vincou.
Por seu turno, a BBC Ucrânia noticiou, em novembro, que cerca de 650 mil homens ucranianos em idade militar deixaram o país em direção a outros países da Europa, desde o início da invasão russa. Ora, de acordo com a lei marcial, é proibido que os homens, entre os 18 e os 60 anos, deixem a Ucrânia. 
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Enquanto se diz, com verdade, que a Ucrânia conseguiu abater 2900 dos 3700 drones Shahed que a Rússia lançou desde setembro de 2022, quando iniciou uma vaga de ataques com drones no país, como informou o porta-voz da Força Aérea ucraniana, Yuriy Ihnat, citado pela agência Reuters, um ataque aéreo da Rússia atingiu um território de minas de carvão em Toretsk, na região de Donetsk. “Duas bombas atingiram uma das minas em Toretsk”, confirmou Ihor Klymenko.
Na sequência do ataque morreram três pessoas e outros cinco civis ficaram feridos, segundo o ministro do Interior. O procurador-geral confirmou que as vítimas mortais têm 41, 42 e 45 anos.
Esse ataque provocou um corte de energia, tendo sido resgatados com sucesso 32 mineiros que estavam no subsolo foram resgatados com sucesso, e danificados edifícios e equipamentos cruciais para o funcionamento da cidade.
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É triste, em época natalícia, ter de se falar de guerra. Porém, os senhores da guerra só aprenderam a disputar território, não olhando a meios, para eliminar o inimigo: escudo humano, mortes, ferimentos, estropiamentos, migração forçada, destruição de património natural e de património edificado. Só querem a paz, quando não veem hipótese de continuar a guerra. Se veem que não terão vitória, tentam levar o inimigo a negociar, enganando-o; se o inimigo se rende, a negociação da paz será aviltante e o inimigo será explorado, ficando na situação de mísera dependência, a menos que interesses geoestratégicos ditem outro procedimento menos gravoso.    
É assim na Faixa de Gaza e na Ucrânia. Os EUA e a UE apoiam, quase incondicionalmente, o tido por agredido agressor. Decretam sanções económicas ao agressor, fornecem ao agredido armas e outro equipamento, dão ajuda humanitária (insuficiente e à dose), dão formação bélica – tudo em nome dos direitos humanos e dos valores ocidentais, mas não se incomodando que o dito agredido cometa as tropelias que o Ocidente condena. No caso de Israel, o agredido rapidamente passou a agressor.
Se a Ucrânia ganhar a guerra (o que será difícil – o objetivo é afastar a Rússia da Ucrânia e do Mar Negro, leia-se “Crimeia”), a Rússia passará a acalentar a esperança de vir, no futuro, a restaurar o império (já não o dos Czares) e a fazer vincar a sua hegemonia. Porém, se a Rússia ganhar a guerra – os EUA são mestres a abandonar o terreno, quando a permanência não lhes convém –, os EUA assobiarão para o lado e far-lhe-ão frente. Já a UE será fortemente penalizada, por ser useira e vezeira no estabelecimento de sanções, ou ficará dependente do incerto apoio norte-americano. Não obstante, a esperança é a última a morrer.

2023.12.21 – Louro de Carvalho

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