quarta-feira, 1 de junho de 2022

Papa vai criar o primeiro cardeal de Timor-Leste

 

A 29 de maio, após a recitação o Regina Coeli com os fiéis peregrinos e visitantes que ocupavam a Praça de São Pedro, no Vaticano, Francisco anunciou que, nos dias 29 e 30 de Agosto, haverá a reunião de todos os cardeais a fim de se refletir sobre a nova Constituição apostólica Praedicate Evangelium, para a reforma da Cúria Romana, os serviços centrais de governo da Igreja Católica, um projeto central do atual pontificado, mas que, antes, a 27 de agosto, realizará um Consistório para a criação de novos cardeais. É o 8.º Consistório para a criação de novos cardeais no pontificado do Papa Francisco e o primeiro desde finais de 2020.

Depois de referir todos os nomes dos novos purpurados, exortou à oração por eles, para que, “confirmando a sua adesão a Cristo”, ajudem o Papa no seu “ministério como Bispo de Roma para o bem de todo o Povo fiel de Deus”.

São 21 os novos cardeais: 16 eleitores e seis não eleitores. E dos seis não eleitores – que não podem participar num eventual conclave de eleição do Papa, por terem ultrapassado a idade de 80 anos – dois não são bispos.  

Os novos cardeais eleitores são: Arthur Roche (inglês), prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos; Lázaro You Heung-sik (sul-coreano), prefeito da Congregação para o Clero; Fernando Vérgez Alzaga, LC (Legionários de Cristo: espanhol), presidente da Pontifícia Comissão para o Estado da Cidade do Vaticano e Presidente do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano; Jean-Marc Aveline (francês), arcebispo metropolitano de Marselha (França); Peter Ebere Okpaleke (nigeriano), bispo de Ekwulobia (Nigéria); Leonardo Ulrich Steiner, OFM (Ordem dos Frades Menores: franciscano brasileiro), arcebispo metropolitano de Manaus (Brasil); Filipe Neri António Sebastião do Rosário Ferrão (indiano), arcebispo de Goa e Damão (Índia); Robert Walter McElroy (americano), bispo de San Diego (EUA); Virgílio do Carmo da Silva, SDB (Sociedade de Dom Bosco: timorense), arcebispo metropolita de Díli (Timor Leste); Oscar Cantoni (italiano), bispo de Como (Itália); Anthony Poola (indiano), arcebispo de Hyderabad (Índia); Paulo Cezar Costa (brasileiro), arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Brasília (Brasil); Richard Kuuia Baawobr, M. Afr. (dos Missionários de Africa: ganense), bispo de Wa (Gana); William Seng Chye Goh (singapurense), arcebispo de Singapura (Singapura); Adalberto Martínez Flores (paraguaio), arcebispo metropolitano de Assunção (Paraguai); e Giorgio Marengo, IMC (instituto missionário da Consolata: italiano), prefeito apostólico de Ulaanbaatar (Mongólia). São dois indianos, dois brasileiros e dois italianos.

Os não eleitores que Francisco unirá aos membros do Colégio Cardinalício são: Jorge Enrique Jiménez Carvajal (colombiano), arcebispo emérito de Cartagena (Colômbia); Lucas Van Looy SDB (sociedade de Dom Bosco: belga), arcebispo emérito de Gent (Bélgica); Arrigo Miglio (italiano), arcebispo emérito de Cagliari (Itália); padre Gianfranco Ghirlanda SI (Companhia de Jesus: italiano),  professor de Teologia; e Monsenhor Fortunato Frezza (italiano), cónego de São Pedro. São três italianos, dois não bispos.

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Entre os novos purpurados eleitores, conta-se Dom Virgílio do Carmo da Silva, SDB, arcebispo de Díli, Timor-Leste, na Igreja de um país com 20 anos de existência como Estado independente. Por isso, José Ramos-Horta, Presidente da República felicita o arcebispo pela sua nomeação cardinalícia, considerando-a uma grande honra para o país. Com efeito, em comunicado divulgado pela Agência de Notícias Timorense, Ramos-Horta refere que o anúncio papal “não só é um privilégio para o arcebispo Dom Virgílio”, mas também é “uma grande honra para Igreja Católica de Timor-Leste”. Segundo o chefe de Estado, a nomeação anunciada, este domingo, pelo Papa Francisco representa um marco histórico e “é saudada pelos católicos em Timor-Leste, que correspondem a 98% de toda a população”. “É ‘gaudium magnum’, uma grande satisfação para o rebanho de Timor-Leste”, acrescentou, falando do primeiro cardeal deste país lusófono como um homem “experiente, inteligente, simples e humilde”.

O Presidente timorense destacou o papel da Igreja Católica para “moldar uma identidade nacional que, juntamente com a língua tétum e a língua portuguesa, fazem de Timor-Leste uma nação mais distinta e coesa”. Realçou que Timor-Leste tem uma das comunidades religiosas mais coesas, já que é o país com maior percentagem de católicos comparativamente com outros países católicos cristãos em todo o mundo. Lembrou que o cristianismo em Timor-Leste se iniciou no século XVI com a chegada dos primeiros missionários dominicanos a Lifau (Oé-Cusse). Desde então, o papel da Igreja Católica no território tem sido o de moldar, através das línguas tétum e portuguesa, uma nação mais distinta e coesa. E, agradecendo ao Santo Padre por distinguir Dom Virgílio com o cardinalato quando o país celebra 20 anos de independência, promete, neste mandato presidencial, acompanhar o papel da Igreja Católica na educação, cultura, identidade e coesão nacionais.

Também Taur Matan Ruak, primeiro-ministro timorense, se mostrou satisfeito com a comunidade cristã e a Igreja Católica pela nomeação do arcebispo de Díli pelo Papa Francisco como primeiro cardeal do país.   

E, segundo uma nota divulgada online, o Parlamento de Timor-Leste aprovou, por unanimidade, no dia 30 de maio, o voto de congratulação 14/2022 pela nomeação como cardeal do arcebispo de Díli, Dom Virgílio do Carmo da Silva, anunciada pelo Papa este domingo. Considera o Parlamento Nacional que “a nomeação do primeiro cardeal timorense é um momento histórico para o país”, pelo que as bancadas parlamentares (os 51 deputados) “manifestaram o orgulho do povo de Timor-Leste, cuja maioria é católica”.

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Por sua vez, Dom Virgílio, de 54 anos, observa que se trata, da parte de Francisco, de “um reconhecimento à fé de uma terra onde o Evangelho chegou há 500 anos” e uma prenda nos 20 anos de independência deste povo, expressa numa púrpura entregue a um país pequeno com uma grande maioria católica, onde mais da metade da população é formada por crianças e jovens. Assim, diz ter “a convicção de que o Papa Francisco não queria oferecer esta púrpura a mim pessoalmente, mas à Igreja e ao povo de Timor-Leste”.

Foi nestes termos que o arcebispo de Díli comentou a inesperada escolha do Papa que, no domingo, anunciou o seu nome com os dos outros 20 novos cardeais a criar no Consistório de 27 de agosto. O prelado confessou o seu espanto numa declaração pública feita durante um encontro com o Presidente do país, José Ramos-Horta, reeleito há algumas semanas e que foi pessoalmente felicitar o primeiro cardeal na jovem história de Timor-Leste. E disse que “o povo e a Igreja de Timor Leste merecem esta graça e este reconhecimento de Deus, num país onde o Evangelho chegou há 500 anos e que celebrou o 20.º aniversário da sua independência no dia 20 de maio.

Dom Virgílio dirige a Igreja de Díli desde 2016. Aos 54 anos de idade, será um dos membros mais jovens do Colégio dos Cardeais, ao lado do vigário apostólico de Ulaanbatar Monsenhor Giorgio Marengo, que receberá a púrpura com apenas 48 anos de idade no próximo consistório.

O Papa já tinha mostrado em duas ocasiões a sua grande atenção para com Timor-Leste, uma terra onde 98% dos 1,3 milhões de habitantes são católicos (o único país junto com as Filipinas com maioria católica na Ásia), mas ainda severamente marcado pela pobreza e divisões internas, que atrasam o caminho para o desenvolvimento. Em setembro de 2019, Francisco decidiu elevar Díli a sede metropolitana, dando-lhe o estatuto de arquidiocese, com as sufragâneas Baucau e Mailana. E chegou a anunciar uma viagem a Timor-Leste para 2020, que foi adiada devido à pandemia.  

Consciente dos grandes desafios colocados pela pobreza num país em que mais da metade da população é formada por crianças e jovens, a Igreja Católica em Timor-Leste tem prestado especial atenção à dimensão educacional. Isto inclui a inauguração em 8 de dezembro em Díli da Universidade Católica João Paulo II, que – segundo o recém-anunciado cardeal Carmo da Silva na ocasião – terá que oferecer instrução de nível internacional em todas as áreas do conhecimento inspirando-se nas tradições intelectuais, morais e espirituais católicas”.

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O futuro cardeal, religioso salesiano, nasceu a 27 de novembro de 1967 em Venilale, Timor-Leste, então sob administração portuguesa, foi ordenado padre a 18 de dezembro de 1998; licenciou-se em Espiritualidade, na Universidade Pontifícia Salesiana de Roma; e foi formador de noviços (1999-2004), ecónomo da Casa de Formação em Venilale e vigário paroquial (2004-2005), diretor da Casa dos Salesianos e da ‘Don Bosco Tecnnical High School’, em Fatumaca, até 2015, quando foi nomeado provincial dos salesianos em Timor-Leste. A 30 de janeiro de 2016, o Papa nomeou-o bispo de Díli e, em setembro de 2019, criou a Província Eclesiástica de Díli, designando Dom Virgílio do Carmo da Silva como o primeiro arcebispo metropolita do território.

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Sim, Timor-Leste é bem uma das periferias políticas, sociais e económicas preferidas do Papa.

2022.06.01 – Louro de Carvalho

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