quinta-feira, 23 de junho de 2022

‘Sinodalidade nas Igrejas locais e na missão da Conferência Episcopal’

 

 

Foi o tema das Jornadas Pastorais do Episcopado que decorreram em Fátima, de 20 a 21 de junho, na Casa Nossa Senhora das Dores, do Santuário de Fátima, e em que participaram, além dos bispos de Portugal, dois representantes de cada diocese (sacerdotes, leigos e pessoas entregues à vida consagrada), bem como diretores dos vários Serviços da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), ao todo cem pessoas.

Os trabalhos começaram com duas reflexões, seguidas de debate: “Sinodalidade como interpelação às Igrejas locais e à colegialidade episcopal”, pelo Doutor José Eduardo Borges de Pinho; e “Sinodalidade: resistências e oportunidades”, pelo Padre Sérgio Filipe Pinho Leal.

Seguiu-se a apresentação, em dois painéis, das sínteses diocesanas de algumas dioceses no âmbito do exercício de escuta no processo sinodal que a Igreja católica tem em curso.

A terminar e após reflexões em 10 grupos, os participantes fizeram propostas concretas de sinodalidade, quer para as Igrejas locais, quer para a Conferência Episcopal.

A manhã do dia 22 foi ocupada pelos bispos numa Assembleia Plenária extraordinária (a sua 203.ª assembleia plenária), para aprovar o documento “Ministérios laicais para uma Igreja ministerial” e o rito da instituição de Catequistas. A Assembleia abordou, ainda, o processo sinodal e o processo de estudo sobre abusos sexuais na Igreja.

No final da Assembleia, foi divulgado um comunicado sobre os assuntos nela abordados e com as conclusões das Jornadas Pastorais do Episcopado.

O comunicado sublinha que o processo sinodal de escuta em curso, que ocorreu em grupos, formais e/ou informais, nas paróquias e nas dioceses, “constitui uma grande interpelação de ordem prática e operativa, de transformação de mentalidades e atitudes, de passagem das palavras aos atos, permitindo o aprofundamento da sinodalidade como o modo de ser Igreja”. Trata-se, pois, de ponto sem retorno, pelo que se impõe a sua continuidade e a extração das devidas consequências de ordem doutrina e pastoral.

A partir da apresentação de algumas sínteses da fase diocesana do processo sinodal, assinalaram-se fragilidades, oportunidades e desafios comuns deste processo sinodal. E, ao mesmo tempo, aponta-se para preocupações comuns: a desvalorização da condição batismal e o excessivo clericalismo de sacerdotes, consagrados e leigos; a dívida de escuta das pessoas mais frágeis e excluídas; a maior proximidade em relação a quem é diferente e a pessoas com deficiência; e a dificuldade em acolher e dialogar, em escutar os jovens e estar com eles, em promover a corresponsabilidade nos processos de decisão e de escolha de lideranças, em discernir e regulamentar os ministérios ordenados e na definição de estratégias de comunicação que permitam o anúncio do Evangelho na atualidade.

São fragilidades que desafiam a um repensamento com vista à mudança de mentalidades e atitudes, com vista a um novo modo de concretizar o ser Igreja e a sua ação pastoral.  

A consciência das fragilidades elencadas constitui-se em preocupação comum e é motivadora para a descoberta de novos pontos de encontro, para acolhimento de todas as ansiedades, na certeza da presença atuante do Espírito Santo, e para a gestão das expectativas que o movimento sinodal pode gerar.

Com vista à tomada de decisões concretas e indispensáveis que ajudem a enfrentar a complexidade da época em que vivemos, os participantes propuseram, em trabalhos de grupo, para o exercício da sinodalidade nas igrejas locais, sugestões, tais como:

Promover continuamente o exercício da escuta, nomeadamente junto dos jovens, retomando, nas comunidades, associações e movimentos, as sínteses e relatórios, para dar continuidade a este processo sinodal, com reflexos operacionais na definição de planos pastorais;

Criar grupos de acolhimento qualificados, de conhecimento da comunidade, promotores da amizade e da fraternidade;

Apostar na comunicação, interna e externa, e definir um plano de comunicação;

Promover a formação, de matriz sinodal, do clero e dos leigos;

Promover o papel da mulher na Igreja;

Trabalhar em rede e valorizar os órgãos sinodais e de participação paroquiais e diocesanos, enquanto espaços de discernimento, avaliando a pertinência de limitação de mandatos, sem burocratizar, e apostando na participação laical e na corresponsabilidade eclesial;

Implementar a obrigatoriedade dos conselhos pastorais;

Fomentar e alimentar a conversão espiritual e pastoral, animando a mudança de mentalidades de agentes pastorais, tornando a comunidade acessível a todos e partilhando boas práticas entre dioceses vizinhas; e

Valorizar o consenso que caminha para a verdade e que não compromete a unidade.

Acerca da sinodalidade na Conferência Episcopal, os 10 grupos de trabalho sugerem:

A melhoria a comunicação, interna e externa, cuidando a linguagem e definindo um plano de comunicação para a Igreja Católica em Portugal;

A continuidade ao processo sinodal, divulgando boas práticas, definindo próximos passos e operacionalizando as propostas sinodais desde as bases, nas comunidades e nas paróquias;

A vivência efetiva da sinodalidade entre as dioceses, entre os serviços da CEP e entre os bispos, criando redes de contactos, promovendo sinergias e propondo linhas orientadoras para todo o país ou mesmo um plano pastoral comum;

O estudo da criação de ministérios laicais, nomeadamente da caridade e do acolhimento;

O repensamento da sustentabilidade económica das estruturas da Igreja, promovendo a partilha de soluções, alargando equipas de assessores e cuidando a profissionalização dos serviços;

O incremento à mais célere nomeação de novos bispos, a acontecer num espírito de sinodalidade e com a participação da comunidade (Não se entende como estão, há tanto tempo, no regime de sede vacante três dioceses – Angra, Bragança e Setúbal –, aliás como estiveram outras);

O repensamento da formação nos seminários e da formação dos sacerdotes, em chave sinodal; e

A promoção de uma reorganização de serviços e setores da Conferência Episcopal inspirada na reforma da Cúria Romana, já em vigor, com maior participação laical.

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Uma das decisões da CEP, na continuação das jornadas, foi a nomeação dos membros da Equipa Sinodal da Conferência, que irá elaborar a síntese nacional a partir das sínteses diocesanas e ficará com a missão de acompanhar o processo sinodal a nível da CEP. O grupo é constituído por Carmo Rodeia, responsável da comunicação do Santuário de Fátima; Anabela Sousa, com igual cargo na Diocese de Setúbal; Isabel Figueiredo, diretora do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja; Paulo Rocha, diretor da Agência Ecclesia; Pedro Gil, responsável pela Comunicação do Opus Dei; padre Eduardo Duque, diretor nacional da Pastoral do Ensino Superior; e o padre Manuel Barbosa, secretário da CEP, que coordena.

Estiveram também na mesa de debate dos bispos os abusos sexuais: a assembleia definiu “procedimentos comuns” para o acesso aos arquivos diocesanos por parte do Grupo de Investigação Histórica (GIH) da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa. Ao mesmo tempo, a CEP divulgou um texto, que pretende ser pedagógico, com “doze perguntas e respostas sobre os arquivos das dioceses, segundo o direito da Igreja”. E foi igualmente informada acerca do documento “Base comum de atuação das Comissões Diocesanas para Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis”, aprovado pela equipa de coordenação das comissões diocesanas e homologado pelo conselho permanente da CEP.

Os bispos aprovaram, ainda, a versão final do documento sobre Ministérios Laicais para uma Igreja Ministerial, que diz respeito aos ministérios já instituídos de leitor, acólito e catequista.

“Sobre os outros ministérios, é um processo a continuar”, diz o comunicado, que remete para uma citação do documento agora aprovado: “A Conferência Episcopal Portuguesa propõe que, no âmbito do processo sinodal em marcha e depois de consolidada a prática dos ministérios oficialmente já instituídos, se abra um caminho de diálogo e de reflexão pastorais, com propostas bem concretas, em ordem ao reconhecimento e/ou à instituição de novos ministérios laicais”.

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Enfim, parece que a Igreja, em Portugal, não vai ficar para trás nem ao lado neste processo sinodal. Mas é preciso que as mentalidades, as atitudes e as estruturas deem a volta necessária. Que Deus ajude e as pessoas o queiram e estejam disponíveis para a mudança, que tem de ser radical.

2022.06.23 – Louro de Carvalho

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