Foi o tema das Jornadas
Pastorais do Episcopado que decorreram em Fátima, de 20 a 21 de junho, na Casa Nossa Senhora das Dores, do Santuário de Fátima, e em que participaram, além dos
bispos de Portugal, dois representantes de cada diocese (sacerdotes, leigos e pessoas
entregues à vida consagrada), bem como diretores dos vários Serviços da Conferência
Episcopal Portuguesa (CEP), ao todo cem pessoas.
Os trabalhos começaram com duas reflexões, seguidas de
debate: “Sinodalidade como interpelação às Igrejas locais e à colegialidade
episcopal”, pelo Doutor José Eduardo Borges de Pinho; e “Sinodalidade:
resistências e oportunidades”, pelo Padre Sérgio Filipe Pinho Leal.
Seguiu-se a apresentação, em dois painéis, das sínteses
diocesanas de algumas dioceses no âmbito do exercício de escuta no processo
sinodal que a Igreja católica tem em curso.
A terminar e após reflexões em 10 grupos, os participantes
fizeram propostas concretas de sinodalidade, quer para as Igrejas locais, quer
para a Conferência Episcopal.
A manhã do dia 22 foi
ocupada pelos bispos numa Assembleia Plenária extraordinária (a sua 203.ª assembleia plenária), para
aprovar o documento “Ministérios laicais para uma Igreja ministerial” e o rito
da instituição de Catequistas. A Assembleia abordou, ainda, o processo sinodal
e o processo de estudo sobre abusos sexuais na Igreja.
No final da Assembleia, foi
divulgado um comunicado sobre os assuntos nela abordados e com as conclusões
das Jornadas Pastorais do Episcopado.
O comunicado sublinha que o processo sinodal de escuta
em curso, que ocorreu em grupos, formais e/ou informais, nas paróquias e nas dioceses,
“constitui uma grande interpelação de ordem prática e operativa, de
transformação de mentalidades e atitudes, de passagem das palavras aos atos,
permitindo o aprofundamento da sinodalidade como o modo de ser Igreja”.
Trata-se, pois, de ponto sem retorno, pelo que se impõe a sua continuidade e a extração
das devidas consequências de ordem doutrina e pastoral.
A partir da apresentação de algumas sínteses da fase
diocesana do processo sinodal, assinalaram-se fragilidades, oportunidades e
desafios comuns deste processo sinodal. E, ao mesmo tempo, aponta-se para preocupações
comuns: a desvalorização da condição batismal e o excessivo clericalismo de
sacerdotes, consagrados e leigos; a dívida de escuta das pessoas mais frágeis e
excluídas; a maior proximidade em relação a quem é diferente e a pessoas com
deficiência; e a dificuldade em acolher e dialogar, em escutar os jovens e
estar com eles, em promover a corresponsabilidade nos processos de decisão e de
escolha de lideranças, em discernir e regulamentar os ministérios ordenados e
na definição de estratégias de comunicação que permitam o anúncio do Evangelho
na atualidade.
São fragilidades que desafiam a um repensamento com
vista à mudança de mentalidades e atitudes, com vista a um novo modo de
concretizar o ser Igreja e a sua ação pastoral.
A consciência das fragilidades elencadas constitui-se
em preocupação comum e é motivadora para a descoberta de novos pontos de
encontro, para acolhimento de todas as ansiedades, na certeza da presença atuante
do Espírito Santo, e para a gestão das expectativas que o movimento sinodal
pode gerar.
Com vista à tomada de decisões concretas e
indispensáveis que ajudem a enfrentar a complexidade da época em que vivemos,
os participantes propuseram, em trabalhos de grupo, para o exercício da sinodalidade
nas igrejas locais, sugestões, tais como:
Promover continuamente o exercício da escuta, nomeadamente junto dos
jovens, retomando, nas comunidades, associações e movimentos, as sínteses e
relatórios, para dar continuidade a este processo sinodal, com reflexos
operacionais na definição de planos pastorais;
Criar grupos de acolhimento qualificados, de conhecimento da comunidade, promotores
da amizade e da fraternidade;
Apostar na comunicação, interna e externa, e definir um plano de
comunicação;
Promover a formação, de matriz sinodal, do clero e dos leigos;
Promover o papel da mulher na Igreja;
Trabalhar em rede e valorizar os órgãos sinodais e de participação
paroquiais e diocesanos, enquanto espaços de discernimento, avaliando a
pertinência de limitação de mandatos, sem burocratizar, e apostando na
participação laical e na corresponsabilidade eclesial;
Implementar a obrigatoriedade dos conselhos pastorais;
Fomentar e alimentar a conversão espiritual e pastoral, animando a mudança
de mentalidades de agentes pastorais, tornando a comunidade acessível a todos e
partilhando boas práticas entre dioceses vizinhas; e
Valorizar o consenso que caminha para a verdade e que não compromete a
unidade.
Acerca da sinodalidade na Conferência Episcopal, os 10
grupos de trabalho sugerem:
A melhoria a comunicação, interna e externa, cuidando a linguagem e
definindo um plano de comunicação para a Igreja Católica em Portugal;
A continuidade ao processo sinodal, divulgando boas práticas, definindo
próximos passos e operacionalizando as propostas sinodais desde as bases, nas
comunidades e nas paróquias;
A vivência efetiva da sinodalidade entre as dioceses, entre os serviços da
CEP e entre os bispos, criando redes de contactos, promovendo sinergias e
propondo linhas orientadoras para todo o país ou mesmo um plano pastoral comum;
O estudo da criação de ministérios laicais, nomeadamente da caridade e do
acolhimento;
O repensamento da sustentabilidade económica das estruturas da Igreja,
promovendo a partilha de soluções, alargando equipas de assessores e cuidando a
profissionalização dos serviços;
O incremento à mais célere nomeação de novos bispos, a acontecer num
espírito de sinodalidade e com a participação da comunidade (Não se entende
como estão, há tanto tempo, no regime de sede
vacante três dioceses – Angra, Bragança e Setúbal –, aliás como estiveram
outras);
O repensamento da formação nos seminários e da formação dos sacerdotes, em
chave sinodal; e
A promoção de uma reorganização de serviços e setores da Conferência
Episcopal inspirada na reforma da Cúria Romana, já em vigor, com maior
participação laical.
***
Uma das decisões da CEP, na continuação das jornadas, foi a
nomeação dos membros da Equipa Sinodal da Conferência, que irá elaborar a
síntese nacional a partir das sínteses diocesanas e ficará com a missão de
acompanhar o processo sinodal a nível da CEP. O grupo é constituído por Carmo
Rodeia, responsável da comunicação do Santuário de Fátima; Anabela Sousa, com
igual cargo na Diocese de Setúbal; Isabel Figueiredo, diretora do Secretariado
Nacional das Comunicações Sociais da Igreja; Paulo Rocha, diretor da Agência Ecclesia; Pedro Gil, responsável
pela Comunicação do Opus Dei; padre
Eduardo Duque, diretor nacional da Pastoral do Ensino Superior; e o padre
Manuel Barbosa, secretário da CEP, que coordena.
Estiveram também
na mesa de debate dos bispos os abusos sexuais: a assembleia definiu
“procedimentos comuns” para o acesso aos arquivos diocesanos por parte do Grupo
de Investigação Histórica (GIH) da Comissão Independente para o Estudo dos
Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa. Ao mesmo tempo, a CEP
divulgou um texto, que pretende ser pedagógico, com “doze perguntas e respostas
sobre os arquivos das dioceses, segundo o direito da Igreja”. E foi igualmente
informada acerca do documento “Base comum de atuação das Comissões Diocesanas
para Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis”, aprovado pela equipa de
coordenação das comissões diocesanas e homologado pelo conselho permanente da
CEP.
Os bispos
aprovaram, ainda, a versão final do documento sobre Ministérios Laicais para uma Igreja Ministerial, que diz respeito
aos ministérios já instituídos de leitor, acólito e catequista.
“Sobre os outros ministérios, é um processo a continuar”, diz
o comunicado, que remete para uma citação do documento agora aprovado: “A
Conferência Episcopal Portuguesa propõe que, no âmbito do processo sinodal em
marcha e depois de consolidada a prática dos ministérios oficialmente já
instituídos, se abra um caminho de diálogo e de reflexão pastorais, com
propostas bem concretas, em ordem ao reconhecimento e/ou à instituição de novos
ministérios laicais”.
***
Enfim, parece que a Igreja, em Portugal, não vai ficar para
trás nem ao lado neste processo sinodal. Mas é preciso que as mentalidades, as
atitudes e as estruturas deem a volta necessária. Que Deus ajude e as pessoas o
queiram e estejam disponíveis para a mudança, que tem de ser radical.
2022.06.23
– Louro de Carvalho
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